20 - Conversas necessárias
— Então quer dizer que veio até aqui, porque deu um beijo no seu amigo... -Kenny diz sorrindo antes de levar um pedaço de sanduíche de peito de peru até a boca.
Ela e meu tio ficaram felizes por me ver, mas também preocupados e surpresos com a visita repentina.
Como a cidade onde eles moram fica a mais ou menos duas horas de distância, não é bastante comum que eu apareça assim do nada, sem avisar antes.
— Não sei o que fazer, tia. Benjamin disse que gosta de mim e e-eu não sei se sinto o mesmo por ele. -Sussurro nervosa. — Além do mais, o garoto resolveu me contar o motivo de ter sumido e apesar de querer saber durante muito tempo, agora que ele finalmente disse a verdade, é como se eu preferisse não saber de nada. Por que tudo tem que ser tão confuso na minha cabeça? -Esfrego o rosto com as mãos, sentindo minha pele queimando de vergonha.
— Querida, se você não gostasse dele, não estaria aqui para começo de conversa. Não sabe como neguei meus sentimentos pelo seu tio... -Sorri perdida nas memórias.
— Mas é diferente... vocês não se conheciam da vida toda. -Resmungo mais para mim mesma do que para ela.
Suas mãos sobrepõem as minhas e seus dedos acariciam minha pele carinhosamente, como sempre. Observo a tatuagem de abelha que cobre quase todo o dorso da mão direita e respiro profundamente.
— Sempre gostei dela, sabia? Desde a primeira vez que a vi. -Aponto para o desenho colorido que parece ganhar vida quando ela se mexe.
— Eu lembro disso. Você não parava de me perguntar o significado. -Seus lábios se curvam em um sorriso travesso. — As abelhas representam lealdade, sacrifício, ordem...
— E amor. -Completo a frase que escutei tantas vezes que já sei de memória.
— Exatamente. O amor não é algo bonito e mágico como vemos nos filmes e livros, meu bem. Ele dói algumas vezes, demanda sacrifícios, paciência e compreensão. E força. Muita força. -Seus dedos agora escorregam pela minha bochecha, limpando uma lágrima solitária.
— E se ao dar uma chance para ele, a gente acabar estragando tudo? Apesar de ter ficado brava com seu sumiço e ter dificuldades em perdoá-lo, não quero que ele se afaste de novo. -Sussurro surpresa com a revelação. Eu senti tanta falta dele, que a raiva acabou me cegando.
— Benjamin antes de tudo, é meu amigo e eu... gosto disso. -Confesso me sentindo mais leve. Não fazia ideia de como essas palavras pesavam dentro de mim, até colocá-las para fora.
— Você não pode tomar um risco sem estar disposta a aceitar as consequências. E se ficar nessa dúvida para sempre, nunca vai saber se poderia ter dado certo ou não. É melhor se arrepender por ter feito alguma coisa, do que por não ter feito nada. -Seus olhos se apertam sabiamente e não me resta outra alternativa senão balançar a cabeça.
Sua última frase fica gravada na minha mente como se tivesse sido forjada com ferro e fogo.
Mordo o meu próprio sanduíche e mastigo lentamente para ganhar tempo.
Não sei o que responder. Ela tem razão, mas mesmo assim ainda tenho medo.
Por um lado, se eu decidir manter as coisas como estão, sei que Benjamin e eu temos uma chance de voltar a ser amigos como antes. Mas por outro lado, cada vez que lembro de como é a sensação dos seus lábios nos meus e das suas mãos apertando minha pele, fico com vontade de mais, como se todos os beijos do mundo não fossem suficientes.
Mudamos de assunto sem nem perceber e quase duas horas depois, meu tio chega em casa acompanhado dos gêmeos que correm até pular no meu colo quase me derrubando de cima do sofá.
— Violet? O que está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa? -Sou invadida por uma enxurrada de perguntas e lanço um olhar desesperado para Kenny em um pedido silencioso por ajuda.
— Ela precisou vir para fazer um trabalho da faculdade, não é mesmo, Vi? -Balanço a cabeça rapidamente e meu tio me puxa para um abraço ainda desconfiado.
Segundos depois ele me solta e me lança um olhar enigmático.
— Ayden e Lily sabem desse trabalho? -Cruza os braços com a sobrancelha levantada e nego suspirando baixinho. Droga, esqueci desse detalhe.
— Foi muito rápido, não tive tempo de avisá-los. -Minto sem nem uma gota de vergonha na cara. — Mas por favor, não diga nada ou eles vão ficar preocupados à toa. -Murmuro rezando para que ele compre essa mentira deslavada.
— Tudo bem, eu não direi, mas eles não vão achar estranho quando você não chegar em casa? Já está escurecendo.
Explico para os dois que agora estou morando em um apartamento perto da universidade, portanto meus pais não vão nem ficar sabendo que eu vim até aqui. Isso se meu tio não abrir a boca como prometeu.
— Obrigada tio. Estava morrendo de saudades de vocês, foi até bom ter vindo. -Abraço os gêmeos e de repente, todos estamos praticamente deitados no enorme sofá.
Vemos um filme depois de muita insistência de Olivia e Jonathan e sou praticamente obrigada a dormir no quarto de hóspedes. Segundo meus tios, seria muito perigoso voltar para casa tão tarde da noite, então não me resta outra alternativa senão obedecê-los.
Tomo um banho rápido e visto um pijama emprestado de Kenny que fica meio apertado já que ela é um pouco menor do que eu, no entanto, terá que servir por hoje.
Antes de dormir, dou boa noite para os dois sapecas que estão elétricos de animação pela minha visita.
Já estou deitada na cama, quando escuto algumas batidinhas na porta.
— Posso entrar, Vi? -Meu tio sussurra baixinho do outro lado.
Respondo positivamente e ele entra, sentando-se na beirada da cama.
— Não pense que acreditei nessa balela de trabalho. -Começa, direto como sempre. — Kenny me proibiu de te importunar, mas eu só quero que saiba que o que quer que esteja acontecendo, estamos do seu lado, ok? -Afirma e balanço a cabeça emocionada.
— Obrigada... -Sussurro. — Você definitivamente é meu tio preferido. -Brinco lhe arrancando um sorriso convencido.
— Sou o seu único tio, garota. -Exclama fingindo estar ofendido. — Não vá embora sem se despedir da gente, tudo bem? Quero que tomemos um café da manhã juntos. -Beija minha testa e suspiro em concordância.
Seus enormes braços tatuados envolvem meu corpo em um abraço carinhoso e me seguro para não chorar e deixá-lo mais preocupado.
— Boa noite meu anjo. Durma bem. -Diz antes de caminhar para fora, me deixando sozinha outra vez.
Jogo meu corpo no colchão macio e deixo que algumas lágrimas escorram livremente pelo meu rosto, levando consigo toda essa tensão do dia de hoje.
Estou quase pegando no sono, quando escuto um zunido irritante, como uma vibração ou algo assim, proveniente da poltrona onde deixei minha bolsa.
Me levanto resmungando e procuro a origem do barulho que não me deixa dormir e conforme vou chegando mais perto da bolsa, acabo descobrindo do que se trata: é meu celular que está tocando sem parar. Tinha esquecido completamente que o deixei no modo vibrar durante o dia inteiro. Pego o aparelho de dentro da bolsa e me surpreendo ao ver dezenas de chamadas perdidas. Todas dele. O telefone começa a vibrar outra vez na minha mão e quase deixo-o cair no chão com o susto. Observo a tela com o cenho franzido, como se Benjamin fosse se materializar ali mesmo na minha frente.
Minha intenção não era atender a ligação, mas sem perceber, acabo deslizando o botão verde e levando o aparelho até o ouvido apenas para escutar a voz do garoto que não deixou de me atormentar até agora.
— Vi pelo amor de Deus, me diz onde você está! Te liguei o dia inteiro e você não me atendeu, pensei que tivesse acontecido algo... -Benjamin ressopra preocupado do outro lado da linha e suspiro me sentindo levemente culpada por escapar daquele jeito.
— Estou na casa dos meus tios, não precisa se preocupar. -Explico nervosa e obtenho apenas o seu silêncio como resposta durante alguns minutos.
— Não faça mais isso, por favor... não me assuste desse jeito, Violet. -Diz em um engasgo.
— Me desculpe, não era minha intenção... -A vergonha se apodera de mim só de lembrar em como fugi dele como se fosse uma menininha.
Ambos ficamos em silêncio, mas sem coragem de encerrar a ligação. Caminho inquieta pelo quarto, sem tirar o celular do ouvido por um segundo sequer. Abro e fecho a boca várias vezes para dizer algo, no entanto, não faço ideia do que falar. O engraçado é que sou quase capaz de sentir Benjamin fazendo exatamente o mesmo.
— Vi...-Ele sussurra baixinho de repente e se detém antes de continuar, me fazendo prender a respiração em expectativa. — Boa noite, nos vemos amanhã. Tenha cuidado ao voltar por favor.
-Bufo irritada sem saber direito o porquê.
O que queria que ele dissesse? Que está com saudades? Ou que quer repetir a sessão de amassos naquela maldita praça?
Argh.
— Até amanhã, Benjamin. -Murmuro segundos antes de desligar o telefone e jogá-lo de qualquer jeito de volta dentro da bolsa.
— Eu sou uma idiota. -Digo para mim mesma ao mesmo tempo em que deito outra vez na cama.
A música irritante do despertador do meu celular toca sem parar e acordo com uma leve dor de cabeça. Me levanto xingando a tudo e a todos, e depois de lavar o rosto com água fria, troco de roupa, pego minha bolsa e vou até a sala dando de cara com meu tio ainda de pijama preparando o café da manhã.
— Bom dia tio. -Murmuro com a voz ainda rouca de sono e ele se vira me olhando com a sobrancelha levantada.
— Caiu da cama por acaso? -Brinca sorrindo.
— Não posso faltar na faculdade e tenho um longo caminho ainda por percorrer. -Explico me sentando em uma das banquetas na frente do balcão.
— Muito bem. Kenny está arrumando os gêmeos para ir ao colégio, quer me ajudar com o café?
Balanço a cabeça em concordância e paro ao seu lado fazendo tudo o que ele pede. Sempre fomos muito unidos. Angel é quase como um segundo pai para mim e por isso eu o respeito e considero como tal, assim como minha tia.
Os dois são um exemplo de família e cada vez que converso com eles ou os visito, desejo ter o mesmo para mim.
Alguém que me ame incondicionalmente, apesar das dificuldades.
Terminamos de arrumar a mesa bem a tempo do resto da família aparecer.
Todos nos sentamos e nos fartamos enquanto conversamos sobre qualquer aleatoriedade.
Os dois adultos se entreolham várias vezes e sei bem que estão conversando em código, provavelmente decidindo quem vai ser o responsável de me dar o sermão.
Engulo meu pão amanteigado com certa dificuldade, já que o bolo na garganta causado pela apreensão está quase me fazendo engasgar de nervoso.
Acabamos de comer
— Amor, pode ir descendo com Livy e Jhonny e nos esperem lá embaixo, não vou demorar para me trocar. -Meu tio diz depois de alguns minutos.
Arregalo os olhos e bebo um longo gole do suco de laranja sentindo um frio na barriga.
— E-eu vou com vocês, tia. -Tento escapar da bronca, contudo, meus esforços são em vão.
— Nada disso, mocinha. Você fica. -Ele diz e Kenny se segura para não cair na risada. Traidora.
— Tudo bem... -Aceito minha derrota e ajudo-os a limpar a mesa em silêncio antes de ser deixada sozinha.
O irmão do meu pai definitivamente é sua cópia. Consigo até imaginar os dois me dizendo exatamente a mesma coisa.
Ele vai até o quarto e volta minutos depois com uma calça e uma blusa de moletom.
Me sento no sofá e ele ocupa o lugar ao meu lado, puxando uma respiração longa e profunda antes de começar a falar.
— Querida, eu sei que algo está acontecendo, mas que você não quer me contar porque provavelmente devem ser coisas de garotas e por isso recorreu à sua tia. -Segura minha mão e abaixo a cabeça com vergonha de olhar nos seus olhos.
— Tio...
— Espera, me deixa continuar. -Me interrompe sorrindo. — Não quero falar sobre isso. Kenny me garantiu que não é algo pelo que deva me preocupar e confio nela. -Continua. — Eu queria apenas pedir para que você tenha cuidado, meu amor. Já pensou se acontecia algo no caminho? Ninguém saberia onde está. Da próxima vez que quiser nos visitar, nos avise, e também aos seus pais. Não quero ter Ayden arrancando minhas bolas tão cedo. -Brinca e solto uma gargalhada.
— Tem razão, tio. Não vai mais acontecer, prometo. -Nos abraçamos apertado e ele solta um suspiro baixinho.
— Quando você passou de ser aquela criancinha birrenta a uma quase adulta, heim? -Diz alisando meus cabelos. — Se algum garoto estiver te importunando, é só você me avisar que vou correndo dar uma surra no idiota. -Resmunga e acabo rindo ainda mais alto.
— Sei que jamais faria isso, mas obrigada pela oferta. Além do mais, se alguém tiver que bater nele, essa serei eu. -Assevero e recebo um olhar cheio de orgulho.
— Essa é a minha garota. -Beija minha bochecha antes de nos levantarmos até a porta.
Ao chegar no térreo, não consigo evitar sorrir ao ver os gêmeos disputando entre si para ver quem vai se despedir primeiro de mim.
Como eu amo esses dois.
— Vi, você quase não ficou com a gente! Quando vai voltar? -Olivia diz emburrada e me abaixo para ficar na sua altura.
— Prometo que vou tirar um fim de semana só para visitar vocês e a gente vai poder brincar bastante, o que acha?-Ofereço apertando sua bochecha rosada e ela assente satisfeita.
Faço a mesma promessa para o seu irmão e logo após, meu tio os leva para o carro, colocando cada um na sua cadeirinha.
— Tenha cuidado na volta, meu anjo. E por favor, nos envie uma mensagem quando chegar, ok? -Kenny pede, me abraçando apertado.
— Pode deixar, tia. Obrigada pelo asilo político.
— Sabe que pode vir quando quiser, só não esqueça de nos avisar.
Sacudo a cabeça rapidamente para não ter essa conversa outra vez.
Abraço os dois e espero até que seu carro desapareça na avenida movimentada antes de subir na minha moto e pegar o caminho de volta para casa.
A estrada até que está meio vazia, pelo que não tenho nenhum inconveniente durante toda a viagem.
Um misto de medo e animação me invade quando avisto a placa de boas vindas da minha cidade.
Preciso tomar um banho e trocar de roupa já que basicamente estou vestindo o mesmo que o dia anterior, então decido passar no apartamento antes de ir para a faculdade.
Aproveito a parada em um semáforo para avisar Brenda de que provavelmente chegarei tarde e guardo o celular assim que a luz muda de vermelho para verde. Não quero ganhar uma multa ou ser xingada por atrasar o trânsito.
Chego na entrada do meu condominio em questão de minutos e preciso me controlar para não cair da moto ao ver Benjamin sentado na escada com a cabeça apoiada nas mãos e quando ele percebe minha aproximação, ele se levanta e me lança um olhar carregado com angústia.
Estaciono de qualquer jeito e caminho a passos rápidos até parar bem na sua frente.
— Benjamin, o que está... -Antes mesmo que eu consiga acabar de falar, seus braços me puxam para si e seus lábios se colam nos meus, com urgência, desespero e um sentimento que não consigo distinguir.
NOTA DO AUTOR
E a semana começa como???? Com babadoooooooo kkkkk
O que vocês acham que Benjamin foi fazer no ap da Violet?
Deixem aqui suas apostas >>>>>>>
E deu pra matar a saudade de Anjinho e Kenny pelo menos um pouquinho,
não é mesmo???
Uma ótima semana a todos, nos vemos na quarta!
Espero que tenham gostado do capítulo, não se esqueçam de
votar e comentar, heim?
Amo vcs, 😍
Bjinhosssssss BF 💜💜💜
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