15 - Descobertas III
— Merda, merda, merda! Mil vezes merda! -Grito a plenos pulmões no segundo em que fico sozinha.
Por que ele fez isso comigo?
O que o levou a bagunçar tudo dentro da minha cabeça desse jeito?
Eu estava indo tão bem no meu plano de odiá-lo e bastou apenas um beijo para que eu virasse uma enorme bola de gelatina sob suas mãos perigosamente quentes.
Maldito Benjamin Saito!
E o pior de tudo é que sequer posso culpá-lo inteiramente, pois eu correspondi. A maior vergonha foi admitir que não tive forças para impedir que ele continuasse, empurrar seu corpo para longe e mandá-lo sumir da minha vida outra vez.
Agora preciso juntar minhas coisas e ir para casa com um enorme sorriso no rosto como se nada tivesse acontecido, e para ser sincera, não sei se vou conseguir realizar essa façanha.
Tudo o que me vem à mente é como seus lábios são macios e como eu gostei de tê-los sobre a minha pele.
Durante todos esses anos, jamais me passou pela cabeça que o garoto pudesse ter algum tipo de sentimento além da amizade e confesso que algo dentro de mim se acendeu ao escutá-lo dizer que sou linda.
— Não seja burra, garota! -Murmuro enquanto guardo meus pertences na pequena mochila. — Ele só estava te provocando, é isso. -Resmungo sem parar.
Lembro dos seus olhos castanhos e de como eles se incendiaram ao me ver quase pelada. O fogo nas suas pupilas dilatadas era muito real, por mais que eu não queira aceitar.
A intensidade com que ele me atraiu para si foi tanta que por alguns minutos eu esqueci até de onde estava.
— Droga! -Atiro uma almofada até a porta de vidro que dá acesso à pequena sacada. — Eu sabia que não deveria ter confiado nele. Eu sabia.
Decido tentar parar de pensar no bendito beijo e corro para casa com a cabeça a mil apesar dos meus esforços.
O caminho é extremamente longo e demoro quase meia hora para chegar, graças ao trânsito caótico do final de semana.
Alunos que assim como eu, voltam para seus lares, famílias aproveitando a folga para passear e algumas caravanas vindas de fora para conhecer a cidade e todas as suas atrações.
Ao chegar na frente do edifício, observo o ambiente ao redor depois de estacionar e sorrio ao ver várias crianças brincando no parquinho. Sem querer, minha mente viaja para o passado, onde eu e Benjamin passávamos praticamente o dia inteiro no mesmo balanço, escorregando no mesmo escorregador e nos escondendo atrás das enormes árvores.
— Chega de pensar nesse idiota, Violet! -Grunho ficando séria no mesmo instante. Algumas pessoas me lançam olhares estranhos e me apresso a entrar. — Olhe só para mim, falando sozinha. Desse jeito vou acabar ficando maluca. -Suspiro contemplando as portas do elevador se fechando lentamente.
Antes de adentrar no apartamento, respiro fundo incontáveis vezes e coloco uma expressão neutra no rosto para tentar dissimular o que aconteceu mais cedo.
— Mãe, pai, cheguei! -Grito jogando a mochila no sofá.
— Na varanda, querida! -Mamãe responde e vou até ela.
Todos os meus esforços de parecer natural se vão por água abaixo ao ver Lucy sentada em uma das cadeiras, desfrutando de uma xícara de café fumegante.
— Oh por Deus, Violet! Há quanto tempo não te via, está tão linda... -A mãe de Benjamin se levanta rapidamente e me abraça apertado como sempre.
— Olá, tia Lucy. Como está? -Digo baixinho.
Agora só falta o pai do garoto me chamar de linda para estarmos completos.
— Estou ótima, querida. Senti muito sua falta, sabia? -Seus dedos apertam meu queixo suavemente.
— Eu também, tia... -Não estou mentindo. Adoro Lucy e a pior parte de brigar com o seu filho, foi ter que me afastar dela também.
Não que eu realmente tenha querido isso, é só que antes eu praticamente ia todos os dias na sua casa e agora... nada.
Nos vimos poucas vezes depois do acidente e tenho a leve impressão de que ela não queria estar no meio de todo o meu drama com Benjamin, embora ela e mamãe sejam muito amigas e -graças aos céus- sua amizade não tenha se afetado por nossa culpa.
— Meu amor, estamos tomando um café da manhã. Não sei se já comeu, mas caso queira algo, tem mais pãezinhos no forno. -A oferta vem do meu pai que está ao lado da esposa com os braços ao redor da sua cintura.
Abraço os dois antes de escapar até a cozinha com a desculpa de que vou querer sim algo para comer. Mal sabem eles que o dia apenas começou para mim, mas foi bem mais movimentado do que a semana inteira.
— O que eu faço agora? -Suspiro esperando que a chaleira termine de esquentar a água para um chá.
Preciso de algo para me acalmar ou vou acabar explodindo de nervosismo.
Coloco três sachês de camomila dentro da xícara e volto para a varanda com os nervos à flor da pele.
Me sento na cadeira entre Lucy e minha mãe e permaneço calada, bebericando o chá, usando-o como desculpa para não entrar na conversa animada das duas.
Elas falam sobre tantas coisas que é quase difícil acompanhar o seu papo, e estou tão aérea que quase não presto atenção no que elas falam, até que...
— ...Então Lily, meu bebê está crescendo e não sei como lidar com isso. Acredita que ele não dormiu em casa essa noite? -Lucy reclama e ao escutar sua última frase, começo a tossir me engasgando com o chá, meus os olhos tão arregalados que minhas pálpebras e garganta começam a doer.
— Meu Deus, Violet, você está bem? O que aconteceu? -Mamãe dá alguns tapinhas nas minhas costas ao mesmo tempo em que Lucy retira a xícara das minhas mãos e passa um paninho nas minhas pernas para limpar o chá que nem tinha percebido que tinha derrubado.
— E-estou bem, só esqueci que estava quente essa porcaria. -Gaguejo, me recuperando do susto.
— Deve ter mais cuidado, querida, pode acabar se queimando. -Papai aconselha, me lançando um olhar tão enigmático, que tenho quase certeza de que ele não está se referindo apenas ao chá.
Concordo com um movimento de cabeça e os três continuam conversando, esquecendo rapidamente o que acabou de acontecer.
Em determinado momento, papai se despede de nós três para ir resolver um problema que surgiu no trabalho e mamãe desce até o lobby com ele, deixando a mim e a Lucy sozinhas.
Isso era o que eu mais temia.
— Violet, será que podemos conversar? Vai ser rápido, prometo. -Ela pede educadamente.
Eu sabia que aqueles dois estavam tramando algo.
Meus pais jamais perderiam essa oportunidade.
— Claro, tia. -Me endireito na cadeira. Suas mãos descansam no seu colo e seus olhos me observam atentas.
— Eu sei que você e meu filho estão distanciados e que provavelmente deve pensar que ele fez isso porque quis. -Começa nervosa e concordo suspirando.
— Estou muito brava com ele, para ser sincera. -Confesso sem perceber.
— Não tiro sua razão, querida, mas gostaria que soubesse que ele não teve escolha. -Seus ombros se contraem como se pensassem uma tonelada.
Franzo o cenho lembrando que Benjamin me disse a mesma coisa.
— Eu adoraria entender o que aconteceu, o que o levou a desaparecer, porém ele não me diz nada e espera que mesmo assim eu o perdoe. E-eu não consigo, tia, me desculpe.
— Tudo bem, meu amor. Eu compreendo, pode acreditar que sim. Mas... -Seus dedos apertam os meus em um gesto carinhoso.
— Você também não vai me dizer nada, não é mesmo?
— Eu até poderia, mas devo respeitar as decisões de Benjamin. Se ele não te contou até agora, tenho certeza que deve estar com medo da sua reação e não posso fazer isso com ele. -Explica pacientemente.
— Ok... -suspiro- só por favor, não diga a ele que conversou comigo. -Peço sinceramente e ela balança a cabeça em concordância.
— Pode ficar tranquila. E não pense que eu estou passando a mão na cabeça do meu filho, porque não é assim. Eu também fiquei muito brava com ele no começo, mas com o tempo eu percebi que não podia deixar que o que aconteceu continuasse me afetando. Benjamin não é perfeito, Violet, porém ninguém nesse mundo é e isso nos faz humanos. Espero que vocês possam voltar a ser amigos como eram antes, e se isso não acontecer, quero que saiba que eu jamais vou te culpar. Sempre te amei como minha própria filha e esse sentimento vai permanecer, não importa o que aconteça. -Desliza os dedos pela minha bochecha limpando algumas lágrimas teimosas que insistiram em se derramar.
— Obrigada tia Lucy. -Puxo-a para um abraço e ela afaga meus cabelos carinhosamente.
— De nada, meu bem. Agora, antes que sua mãe volte, me conte, como foi a festa? Beijou muito? -Seus olhos brilham animados e quase começo a tossir de novo, mas dessa vez não teria como colocar a culpa no chá.
— Na verdade, eu fui embora cedo. A festa não estava tão boa. -Minto descaradamente. Se ela soubesse que seu filho não foi para casa porque dormiu na minha...
— Oh, que pena. Mas não se preocupe, ainda terão muitas festas para você ir. -Brinca e suspiro desanimada.
Se todas as festas que eu resolver ir, acabarem como a de ontem, não sei onde vou parar.
Mamãe aparece de volta para o meu alívio, e elas engatam em outra de suas longas conversas.
Aproveito a deixa para tomar um banho quente e descansar no meu quarto.
Me surpreendo com a quantidade de mensagens deixadas por Brenda e respondo-a antes que a garota tenha um infarte.
Ela me conta que ficou com Beck e não consigo evitar que um sorriso se forme no meu rosto.
Eu gosto dele. Ao contrário de Matt, Beck parece ser um cara legal, só espero que não esteja me enganando.
Depois de quase uma hora trocando mensagens, meus olhos pesam e resolvo tirar uma pequena soneca antes do almoço.
Só espero que certa pessoa não invada meus sonhos.
O final de semana passou tão rápido que não me deu sequer tempo de pensar em como farei para evitar Benjamin.
Acordo cedo para ir direto para a faculdade, minhas mãos apertam o guidom da moto com tanta força que sinto minha pele ardendo com a fricção.
O pior de tudo, é que terei que me encontrar com ele nas tutorias. Se pelo menos tivesse uma forma de trocar de tutor...
Combinei com Brenda de encontrá-la na entrada, e como sempre, a garota está atrasada.
Avisto Matt, Beck e Benjamin parados no mesmo lugar de sempre e meu coração galopa no peito aumentando ainda mais a velocidade das batidas quando seus olhos se prendem nos meus. Mesmo na distância, não consigo desviar o olhar e isso lhe dá a impressão errada, já que imediatamente suas pernas começam a se mover, trazendo-o para perto de mim.
Quero correr para longe, me enfiar em um buraco e não sair mais, mas simplesmente não consigo fazer isso. Estou paralisada.
Observo aterrorizada como ele se aproxima lentamente, caminhando como se fosse dono do lugar.
— Oi Vi... como foi o seu final de semana? -Diz em um sussurro ao ficar perto o suficiente como para ser ouvido.
— Não faça isso, Benjamin. -Grunho apertando a alça da mochila.
— Não fazer o que?
— Vir falar comigo como se nada tivesse acontecido. -Minha voz sai mais ríspida do que pretendia.
— Okay... eu só... queria me desculpar. -Seus dedos escorregam pela sua nuca e ele me lança um olhar envergonhado.
— Pelo quê? Por ter dormido na minha casa, ou por ter me beijado? E-eu realmente não entendo o que está acontecendo, Ben. -Ambos ficamos em silêncio ao perceber que usei o apelido que costumava chamá-lo.
— Se eu te disser que me arrependo, estaria mentindo. -Sussurra de repente me pegando completamente de surpresa.
— Que diabos isso significa?
Agora sim meu coração vai escapar pela minha garganta e sair correndo pelo estacionamento.
O garoto abre e fecha a boca várias vezes e quando penso que ele vai dizer algo, seus lábios se apertam em uma linha fina, me tirando do sério.
— Pelo visto as coisas vão continuar como estão. Quando resolver criar coragem para me dizer o que está acontecendo, espero que não seja tarde demais, Benjamin. -Me afasto rapidamente, deixando-o sozinho diante dos olhares curiosos de vários alunos.
Com os dedos tremendo e a respiração acelerada, envio uma mensagem para Brenda. Explico onde vou estar para que ela vá ao meu encontro.
Me sento em um dos bancos espalhados pelo interior da universidade e aperto as pálpebras tentando me acalmar.
Ainda de olhos fechados, percebo uma presença ao meu lado e dou graças aos céus.
— Por que demorou tanto? -Reclamo abrindo os olhos lentamente e levando um susto ao ver uma pessoa totalmente diferente da minha amiga me encarando.
— Ele te mandou vir até aqui, não foi? -Cruzo os braços.
— Na verdade, ele quase me bateu para que eu não viesse. -Beck sorri mostrando as covinhas que só o deixam ainda mais bonito.
— O que você quer então?
— Olha, nós não nos conhecemos e tenho certeza que você não quer ter essa conversa comigo. Só preciso que saiba que Benjamin é um dos meus melhores amigos, mas até mesmo eu não sei tudo o que aconteceu com ele no passado.
— Ótimo, mais um para defender o idiota. -Resmungo irritada.
A risada do garoto me confunde ao mesmo tempo em que me deixa levemente hipnotizada. Caramba, agora entendo Brenda.
— Nada disso. Às vezes também quero socar sua cara até que ele me diga tudo, porém infelizmente não posso fazer isso. Ele me dirá quando quiser e respeito sua decisão.
— O problema, Beck, é que toda essa situação já está ficando chata. Eu e ele não nos conhecemos a apenas alguns meses e toda essa sua falta de coragem só me deixa ainda mais chateada. Mas isso realmente não é da sua conta, então... -Dou de ombros e o garoto sorri amavelmente.
Ele conversa comigo sobre várias coisas e confesso que é fácil falar com Beck.
Sua aura tranquila acaba me contagiando e em questão de minutos, estamos dando risada como se fôssemos melhores amigos.
— Finalmente te achei, Foxy. -Brenda resmunga parando bem na nossa frente.
Seu olhar recai sobre a minha companhia e posso jurar que consigo ver um brilho nos olhos dele.
— Olá, Beck, tudo bem? -Indaga com os braços na cintura.
— Melhora agora, B. -A resposta não me surpreende. Pelo que Brenda me contou, ambos desfrutaram bastante um do outro enquanto eu voltava para casa com Benjamin no dia da festa. — Okay, agora eu preciso ir. Mais tarde te ligo para combinarmos de ver o filme. -Diz beijando a bochecha da loira que não move um músculo sequer. — Até logo Violet. -Se despede finalmente, nos deixando sozinhas.
— Caramba, se vocês não transarem logo eu vou vomitar. -Brinco e ela se joga do meu lado.
— Não precisa nem pedir duas vezes. Meu Deus, que homem é esse... -Suspira com a mão no coração e caio na risada.
Brenda é tão dramática que chega a ser divertido.
— Agora, preciso saber o que aconteceu na festa, já que você se recusou a me contar. -Reclama.
Durante alguns minutos não digo nada. Organizo todas as palavras na minha cabeça para não acabar passando a impressão errada sobre eu e Benjamin.
Apesar de que Brenda é exagerada e provavelmente vai levar tudo para o lado que ela quiser.
— Eu vou te contar, só me prometa que não vai surtar e muito menos sair gritando pelo campus, ok?
Ela balança a cabeça repetidamente e aperta os lábios com força, me arrancando um sorrisinho já me arrependendo por antecipado.
Respiro fundo para criar coragem e conto tudo, desde o momento em que ela foi procurar algo para beber até o dia posterior, incluindo o beijo.
A garota realmente não diz nada o que me surpreende até que ela solta um gemido animado.
— Meu Deus! Eu sabia que tinha uma tensão sexual entre vocês dois! -Sussurra batendo palmas.
— Querida, coloque uma coisa nessa sua cabeça loira: não há tensão nenhuma. Benjamin não deveria ter feito aquilo e só para que saiba, eu ainda estou brava com ele. -Seus olhos adquirem uma expressão astuta e sombria ao mesmo tempo, me deixando curiosa.
— Violet, é sério, não acha que já é hora de deixar toda essa mágoa para trás? Benjamin errou? Sim. Mas ele está tentando consertar tudo. Dê uma chance dele se explicar!
— Caramba, você e Beck são um para o outro mesmo! A culpa não é minha. Quem não me diz nada é ele, Brenda. E o pior de tudo é que sempre que lembro dele, também acabo lembrando do acidente e isso me faz perder o controle de tudo. Você não faz ideia de como é se sentir assim, nesse limbo sem saber como agir, o que fazer. -Esfrego a testa sentindo uma dor de cabeça se formando e minha amiga segura minha mão livre, apertando-a suavemente.
— Vi... eu sei muito bem como é essa sensação. -Sua voz baixa ativa um sinal de alerta dentro de mim e me endireito sentindo uma ansiedade dominar meu corpo de repente.
— O que quer dizer com isso? -Minha boca seca e tento passar saliva pela minha garganta. Não estou gostando nada do rumo dessa conversa.
Seus dedos agora apertam o apito pendurado no pescoço e minha pele inteira se arrepia.
— Lembra que te contei sobre isso aqui? -Não consigo dizer nada, mas mesmo assim ela continua presa nas próprias lembranças. — A garota que assediaram fui eu.
NOTA DO AUTOR
Okay, o capítulo era para ter saído mais cedo, só que meu
computador simplesmente resolveu não colaborar hoje!
Qualquer coisa, reclamem com a HP kkkkkkk
Bom, o capítulo como sempre ficou enorme e por isso será dividido (de novo), porém dessa vez eu vou postar a segunda parte só sexta e vocês já vão entender o motivo.
Espero que tenham gostado, não se esqueçam de votar e comentar!
Amo vcs, 😍
Bjinhosssss BF 💜💜💜
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