10 - A festa
— Mas até que enfim achei vocês dois! -A voz de Brenda produz um eco dentro da minha cabeça oca e me afasto rapidamente, percebendo tarde demais, que estava a ponto de fazer algo que provavelmente me deixaria louca. — Espero que já tenham acabado com a aula, porque eu preciso começar a me arrumar já! -Minha amiga continua e tanto Benjamin quanto eu nos levantamos em silêncio.
— Já acabamos sim, Brenda. Até a próxima, Benjamin. -Murmuro sem coragem de olhar para ele e caminho até parar do lado da loira que nos observa com olhos de águia.
Puxo seu braço tentando escapar o mais rápido daqui.
— Violet? Acho que está esquecendo isso... -Benjamin sussurra depois de alguns segundos, se aproximando rapidamente das duas.
Ele levanta minha bolsa com os dedos e coloca a alça no meu ombro, outra vez me deixando estática.
O que está acontecendo comigo?
— Oh, obrigada. Hã... adeus. -Meus pés se movem por vontade própria e uma vez que estamos a uma distância segura do garoto, Brenda que estava calada até o momento, resolve dizer algo.
— Será que eu cheguei em um mal momento? -Questiona batendo levemente o dedo indicador nos lábios carnudos.
— O quê? Claro que não...
— Amiga, vocês estavam tão perto que não dava pra saber quem era quem. -Zomba e dou um tapa no seu braço.
— Quer saber, vamos para o meu apartamento logo antes que eu mude de ideia com essa festa. -Ameaço e ela cai na risada segurando meus ombros e olhando nos meus olhos antes de falar.
— Violet, só você não enxerga a tensão que há entre os dois. Não adianta fugir do amor, querida. Uma hora ou outra ele vai te atropelar e você não verá nem de onde ele surgiu. -Beija meu rosto e arregalo os olhos.
— Que loucura é essa que está dizendo? Eu e Benjamin somos... éramos amigos e nada mais.
— Isso é o que você pensa, Foxy, isso é o que você pensa. Agora chega de filosofia barata e vamos que estou ansiosa para a festa. Só preciso entregar isso ao meu pai. -Diz levantando um envelope marrom e balanço a cabeça em concordância.
— Tudo bem, vamos. -Acompanho seus passos até a reitoria e agora estou curiosa.
Brenda vai até a porta do reitor e dá batidinhas suaves na madeira aveludada.
— O que está fazendo? -Sussurro assustada.
O reitor aparece segundos depois e Brenda abraça o seu corpo animada.
— Mamãe te mandou isso, me disse que era urgente. Estou saindo com a minha amiga Violet, estamos indo até uma festa e vou voltar de táxi, não precisa se preocupar. -Diz tudo de uma vez.
— Tudo bem, querida, por favor se cuidem e não façam nenhuma besteira. Violet, é um prazer finalmente lhe conhecer. -O homem sorri e estende sua mão para mim que balanço-a levemente.
— O prazer é todo meu, senhor. -Engasgo nervosa e ele sorri ainda mais.
— Muito bem, adeus papai, nos vemos amanhã! Beijinhos! -Brenda me arrasta para fora e as engrenagens na minha cabeça não param de girar.
— Você deveria ter me dito que o reitor era seu pai! -Murmuro para não chamar a atenção e a loira apenas balança a mão em um gesto descontraído.
— Para ser sincera, poucas pessoas sabem disso. Não quero ninguém se aproximando de mim só porque ele é meu pai. -Explica como se realmente fizesse sentido.
— Eu jamais faria isso, Brenda. -Me sinto levemente ofendida com o seu comentário, mas ela me pega de surpresa ao sorrir abertamente para o meu comentário.
— Eu sei, foi por isso que te apresentei ele. -Dá de ombros e continua andando normalmente ao contrário de mim que fico parada no mesmo lugar sem entender bulhufas.
— Vamos garota, que ainda tenho que me maquiar e maquiar você. -Grita e pisco rapidamente voltando a mim.
Ela sobe atrás de mim na moto e segura apertado meus ombros durante todo o caminho até o apartamento.
Não fui tão rápido como estou acostumada para não assustá-la e no momento em que estaciono e retiro a chave da ignição, a garota só falta desmaiar.
— Por acaso tem medo de andar de moto, Brenda? -Provoco risonha.
Seu rosto está pálido e por um segundo fico realmente preocupada com ela.
— Eu... AMEI! -Grita batendo palmas e pulando igual uma criança.
— Pois não pareceu não.
— Me desculpa é que foi a primeira vez que andei de moto! No começo fiquei com muito medo, mas depois foi tão legal... você vai ter que me dar carona mais vezes. -Brinca.
— Tudo bem, desde que não aperte tanto meus ombros, quase arrancou minha pele. -Esfrego por cima da jaqueta e ela fica levemente envergonhada.
— Me desculpa.
Sua voz sai em um sussurro e passo o braço pelo seu pescoço guiando-a até a entrada.
— Não se preocupe, para isso é essa belezinha. -Aponto para a jaqueta de couro e ela sorri outra vez.
Subimos até o meu andar e entramos no apartamento conversando sobre o que vamos vestir e como ela vai pintar meu rosto.
Não gosto de me maquiar, para dizer a verdade tenho preguiça, no entanto, sei que não vou conseguir convencê-lo do contrário então decido seguir o caminho fácil e aceitar a derrota.
Deixo que ela tome banho primeiro e se arrume enquanto eu tomo meu banho um pouco mais demorado.
Coloco uma calça preta em um material que parece couro e uma camisa vermelha simples antes de sair do quarto até a sala para a sessão de maquiagem.
Brenda balança a cabeça ao me ver e cruzo os braços sabendo que a tortura está por começar.
— A calça está ótima, mas essa blusa? Não mesmo. -Aponta para o meu corpo e suspiro pesado.
— Realmente não me importo com isso. -Dou de ombros, mas ela não parece nem um pouco intimidada.
De repente ela começa a fuçar na sua pequena mala que trouxe e retira várias peças de roupa de dentro.
— Aqui, achei! -Ela praticamente me joga uma blusinha na cor vinho de alças toda de renda e levanto a peça enrugando o nariz.
— Não vou colocar isso, Brenda, é praticamente transparente. -Reclamo.
— É só você pôr um sutiã da mesma cor que a blusa que quase não dá pra ver nada, vai por mim. -Insiste e suspiro pela milésima vez em um lapso de dez minutos, porém acabo fazendo o que ela pede e sou obrigada a admitir que a peça de roupa ficou muito bonita no meu corpo.
— Está vendo? Benjamin vai enlouquecer quando te ver. Agora senta aqui que precisamos fazer uma maquiagem leve, porém que realce esses olhos e essas sardas lindas que você tem! -Exclama empolgada.
— Para começar, não estou me vestindo assim para ninguém e como sabe que Benjamin vai estar na festa? -Tento não parecer interessada e acabo falhando miseravelmente.
— Porque basicamente ele é convidado para todas as festas. -Explica simplista.
— Se você diz. -Me sento na cadeira e ela começa a pintar meu rosto de imediato.
Meu estômago se contorce de ansiedade, ainda mais depois de saber que ele provavelmente vai estar lá também.
Não consigo entender o motivo de tudo isso.
Eu o odeio.
O odeio.
Quase meia hora se passa até que ela finalmente termina o trabalho.
Ao me olhar no espelho, quase não me reconheço.
Ela realmente quase não usou base na minha pele. Meus párpados estão pintados com uma sombra em um tom de pêssego e ela conseguiu fazer um delineado de gatinho perfeito, algo que nem em um milhão de anos eu seria capaz de reproduzir. Para finalizar, meus cílios estão bem maiores graças ao rímel e meus lábios pintados com um batom claro quase no mesmo tom da sombra com um pouco de gloss labial.
— Eu sou uma maldita gênia. -Toco o meu reflexo e concordo com a cabeça. Ela com certeza sabe o que faz. Me sinto tão diferente, mas é um diferente bom, não como quando eu não conseguia andar direito e todos me olhavam com pena ou diversão.
Dessa vez eu me sinto poderosa, capaz de tudo.
— Caramba, já são quase nove horas. Vamos... -Brenda junta todos os seus pertences e guarda dentro da mala em uma velocidade impressionante.
Seu celular, documentos e carteira são guardados dentro de uma bolsa pequena que ela deixa pendurada no ombro.
Pego minhas chaves, celular e também algo de dinheiro e coloco-os na minha própria bolsa.
Por sorte hoje o clima está bastante quente, então não vou precisar colocar a jaqueta.
Tranco tudo e vamos caminhando até a casa onde vai ser a festa.
Ainda bem que não é longe e eu coloquei um par de sapatos confortáveis, caso contrário iríamos demorar o dobro do tempo para chegar, mesmo estando a apenas três quadras.
Conforme vamos nos aproximando, o barulho da música estridente e gritos de pessoas bêbadas vai aumentando, nos servindo como uma espécie de guia até a multidão animada.
A casa está lotada e precisamos nos espremer entre algumas pessoas para conseguir enfim entrar, indo direto para a parte de trás, onde um enorme jardim e uma enorme piscina são o palco de uma típica festa adolescente.
Escolhemos um lugar para nos acomodar e encostamos em um pilar de cimento para observar o movimento.
Em certo ponto, começo a me sentir demasiado consciente diante de tantas pessoas sorridentes até que um copo de cerveja aparece bem diante dos meus olhos, como em um passe de mágica.
— Pode beber, eu mesma que servi. -Brenda afirma e cheiro desconfiada o líquido amargo antes de beber tudo sem cerimônia.
E nesse momento, me lembro de como era estar com pessoas da minha idade, beber bebidas que supostamente não tenho idade legal para consumir e sorrir de coisas que não tem a menor graça.
Os minutos vão se transformando em horas e a cada gole que bebo, vou ficando mais e mais solta. Esqueço todos os meus problemas e atuo como uma garota normal.
Danço de qualquer jeito, abraço pessoas que sequer conheço e digo coisas que não fazem nenhum sentido.
Até que tudo começa a ficar nublado na minha cabeça e decido que é melhor me sentar um pouco para não acabar vomitando ou passando alguma vergonha.
Brenda se joga ao meu lado e me abraça tentando manter seu corpo longe do chão.
— Caramba, fazia tempo que não me divertia assim! -Grita com a voz arrastada e concordo de olhos fechados.
— Você estava errada, sabia? - Enrolo a língua sentindo algo de dificuldade para falar.
— Sobre o quê, Foxy?
— Benjamin não apareceu, no final das contas. -Observo e ela passa o olho pelo lugar tentando localizá-lo.
— É bem capaz que ele venha mais tarde. Os populares nunca chegam cedo. -Murmura pensativa e nego veementemente.
— Ele não virá. -Sussurro convicta e ela se levanta de repente.
— Vai ver que sim. Agora se me der licença, irei atrás de outra bebida que estou me sentindo sóbria já. -Resmunga e se afasta me deixando sozinha em segundos.
Fecho os olhos e respiro profundamente sentindo o cheiro de cerveja quente misturada a suor e talvez alguma erva.
Várias coisas passam pela minha cabeça. Imagens de toda a minha vida se reproduzem na minha mente como um filme bonito que acaba se transformando em terror ao chegar na parte do acidente. Engulo seco tentando não deixar que isso estrague minha noite.
— Uma garota tão bonita quanto você não deveria ficar sozinha em uma festa como essa. -Alguém diz ao meu lado e abro os olhos depressa, me assustando com a aproximação repentina.
— E o que te faz pensar isso? -Pergunto para o desconhecido que sorri com as minhas palavras.
— Você tem cara de que precisa se divertir, já sabe dançar, beijar e quem sabe fazer algo mais... recreativo. -Responde deslizando os dedos pela minha coxa.
Abaixo meu olhar e levanto uma sobrancelha fitando sua mão em cima de mim como se me conhecesse da vida toda.
O que tem de errado com esses caras?
— É sério isso? -Solto uma gargalhada. Ele me olha sem entender nada. — Acha mesmo que assim vai conseguir algo comigo? -A pergunta sai bem mais prepotente do que eu pretendia e acaba fazendo com que ele se irrite com a aparente rejeição.
— Qual é garota, quem você pensa que é? -Seus olhos estão carregados de fúria agora e ele se levanta ficando praticamente em cima de mim.
Acabo me levantando junto por puro instinto e me coloco diante dele, sentindo o álcool deixando meu corpo pouco a pouco.
— Escuta aqui cara, eu definitivamente não estou atrás desse tipo de diversão que você quer, então por favor procure outra pessoa que esteja realmente afim, não perca seu tempo comigo. -Digo sincera, mas em vez dele me deixar em paz, parece que isso acaba colocando ainda mais lenha na fogueira.
— Não deveria se permitir escolher, gata. Existem muitas garotas bem mais... interessantes que você nessa festa.
— É mesmo? Então por que caralhos veio falar comigo, seu idiota? -Grito alterada. Uma raiva me invadindo juntamente com a coragem proporcionada pelo resto de álcool que ainda deve correr pelas minhas veias.
— Mas é uma piranha mesmo! -Agora os dois estamos gritando e sinto meu sangue fervendo e uma vontade enorme de lhe dar um tapa.
Até chego a levantar a mão na sua direção e estou a ponto de lhe bater, quando uma mão segura meu punho e me puxam para trás, me fazendo colidir com um peitoral musculoso.
— Mas o que...?
— Cristian dê o fora daqui e não se atreva a se aproximar dela outra vez. -Benjamin rosna autoritário e giro meu corpo ficando de frente para ele.
— Por que fez isso? Eu ia dar uma lição nesse babaca! -Grito estapeando seu torso.
— E o que acha que ganharia com isso? Não pensou na possibilidade dele revidar, Violet? -Ele responde irritado e revirou os olhos diante da sua preocupação.
— Isso não seria da sua conta! Além do mais eu sei me defender muito bem, obrigada. -Puxo meu braço que ainda estava sob o seu aperto e me afasto desejando ficar o mais longe possível dele.
Não consigo pensar quando estou embriagada e ainda mais na sua presença.
Benjamin parece pensar o contrário, já que me alcança em questão de segundos.
— Vi, não faz isso! -Diz ofegante.
— Fazer o quê, Benji ?
— Não escape de mim...
A frase sai em um sussurro e olho ao redor para ver se alguém escutou. Solto uma risadinha ao perceber que estamos na entrada da casa, mais especificamente no enorme gramado bem cuidado.
Reduzo a distância entre nós dois com passos furiosos e aponto o dedo para o seu rosto.
— Essa é a sua especialidade, Benjamin, não a minha. -Cuspo as palavras e aquela mesma sensação estranha me invade ao vê-lo expressar nada mais do que tristeza nos olhos cansados.
— Quer saber, cansei dessa merda, estou indo embora. Aproveite a porcaria da festa. -Começo a andar em direção à minha casa e novamente seus dedos seguram meu pulso me impedindo de continuar.
— Não vou permitir que pilote nesse estado. -Declara e solto uma gargalhada debochada.
— Eu vim andando, idiota. -Volto a caminhar e ele suspira nervoso.
— Está maluca? Você mora praticamente do outro lado da cidade Violet! É perigoso voltar sozinha a essa hora.
— E desde quando você liga para mim, heim?
As palavras escorregam pelos meus lábios graças à enorme quantidade de bebida e sequer me importa o fato de parecer afetada pela sua presença na festa.
— Caramba, por que tem que ser tão teimosa? Vem comigo, vou te levar para casa. -Ele me pega no colo de repente e não sei se grito ou se lhe dou uns tapas pela sua falta de noção.
— Me coloca no chão agora, Benjamin! Estou falando sério.
— Não posso fazer isso.
— Eu vou te bater, sei defesa pessoal e não tenho medo de usar meus conhecimentos. -Ameaço e ele ri abertamente.
Chegamos no estacionamento improvisado e ele abre a porta do carro me colocando lá dentro sem nenhuma dificuldade, fechando a porta em seguida que se tranca automaticamente.
Ele entra no lado do motorista e coloca a chave na ignição ao mesmo tempo em que tento desesperadamente sair de dentro dessa maldita prisão de ferro.
— Me deixa sair, Benjamin, é sério. -Digo com dificuldade sentindo o ar deixando meus pulmões lentamente.
Ele apenas nega com a cabeça sem dizer nada.
Meus olhos se enchem de lágrimas e minha visão começa a ficar turva de repente, as imagens do acidente me golpeiam como flashes e minha boca fica seca, me fazendo engolir em seco várias vezes.
— Benjamin! Me deixa sair dessa merda! Eu... não... consigo... respirar... -Engasgo ofegante e nesse momento ele parece perceber que estou falando sério.
— Meu Deus, Vi! O que está acontecendo? -Seus dedos seguram meu rosto, as lágrimas descem desenfreadas e ele retira o cinto de segurança, descendo do carro e abrindo minha porta me puxando para fora de uma forma tão brusca que acabo caindo em cima dele.
— Está tendo um ataque de pânico? -Pergunta suavemente.
Confirmo com um movimento de cabeça ainda sem conseguir falar e ele beija minha testa com uma expressão arrependida.
Encostamos no carro e ele embala meu corpo junto ao seu.
— Me desculpa por favor, eu não sabia... me desculpa. -Pede várias vezes e abraço seu peitoral tentando me acalmar com as batidas aceleradas do seu coração.
— E-estou bem... -Sussurro contra sua pele e ele me aperta ainda mais.
— Como você veio andando de tão longe, Violet?
— Eu estou morando aqui perto, em um apartamento na zona universitária. São apenas três quadras. -Explico e ele solta um praguejo.
— Deveria ter me avisado antes.
— Você sequer me deu escolha. -Agora é minha vez de praguejar.
— Consegue se levantar? Vou te acompanhar até o apartamento. Está ficando frio e não quero que acabe pegando um resfriado.
Ele ergue seu corpo e estende a mão me ajudando a fazer o mesmo.
Sinto um calafrio quando seus dedos se enroscam nos meus e tento me convencer de que é apenas o frio da noite.
— Tudo bem, vou te deixar me levar até a porta e nada mais.
NOTA DO AUTOR
Como prometido, a segunda parte!
Espero que tenham gostado e se preparem pq os próx. capítulos serão
de tirar o fôlego ;)
Nos vemos na quarta!
Não se esqueçam de votar e comentar,
Amo vcs 😍
Bjinhosssss BF 💜💜💜
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