03 - Surpresa!
Meus pais cantarolam baixinho uma música qualquer que soa pelos auto falantes do carro. Papai segura a mão da copiloto e cai na risada cada vez que ela erra a letra. Os dois sempre fazem isso quando pensam que ninguém está olhando e sinceramente eu acho que é a coisa mais fofa. O amor entre eles é quase... tangível.
Meu celular está no silencioso, no entanto, as mensagens de Benjamin pedindo, quase implorando para que eu não demore a chegar estão começando a me irritar.
Insisti para que minha mãe me levasse, mas como sempre, Ayden Cross é o chefe. Ele queria averiguar se haveria álcool e apesar de não ter dito explicitamente, drogas. Porque claro, ele nunca se embebedou quando era adolescente. Pelo que eu ouvi e investiguei, o passado do meu pai não foi digamos... tranquilo. E sei que ele tem muito medo de que eu possa seguir o mesmo caminho, só que eu jamais faria isso com ele e muito menos com mamãe. A única razão pela qual resolvi ir até essa festa idiota, é porque o maluco do meu amigo disse que tinha que me dizer algo urgente, e vergonhosamente, deixei que a curiosidade me vencesse, pelo que aqui estamos em caminho à casa do meu amigo que fica quase do outro lado da cidade.
Uma leve chuva cai pelo para-brisas e as luzes estão um pouco tremidas e franzo o cenho como se estivesse prevendo algo.
Um barulho de pneus freando se sobrepõe ao ruído do carro e de repente uma luz está bem na minha frente, em cima de mim, por todos lados.
Abro minha boca para gritar, mas não sai nenhum som. O que está acontecendo? Tento outra vez e... nada.
Várias pessoas se juntam perto de mim, elas falam entre si, murmuram coisas que não entendo, pegam objetos que não conheço e fazem sinais que não tem nenhum sentido.
Grito de novo... e de novo... e de novo.
— Ei amor, está tudo bem! Estamos aqui, você está bem! Você está bem...Shhh. -Dois pares de braços me envolvem e me embalam suavemente.
— O-o que aconteceu? -Arranho minha garganta seca e papai aparece com um enorme copo de água nas mãos.
— Você teve um pesadelo meu amor. Aqui, beba tudo. -Sussurra acariciando meus cabelos embaraçados.
Os dois se sentam ao meu lado na cama e me observam calados até que eu termine todo o líquido transparente do copo.
— Me desculpem, não queria acordá-los. -Murmuro envergonhada.
— Não precisa se desculpar, filha. Você está tomando os remédios que a doutora te passou? -Papai segura meu rosto delicadamente e olha nos meus olhos à espera de uma resposta sincera. É a sua maneira de saber se estou dizendo a verdade ou não, e sempre funciona.
— Não...
Eles não dizem nada por alguns minutos e posso sentir a decepção dos dois. Tenho quase certeza que dessa vez eu vou levar uma bronca.
Odeio tomar essas coisas que minha psicóloga passa e para ser sincera, não estava tendo mais pesadelos há um bom tempo, foi só... ele aparecer que esses sonhos idiotas voltaram.
Mamãe balança a cabeça e um sorriso carinhoso se forma nos seus lábios.
— Teimosa igual o pai. -Brinca beijando minha bochecha e suspiro aliviada. — Sabe que tem que seguir o tratamento, meu amor. -Acaricia meus ombros e balanço a cabeça resignada.
— Esses remédios me deixam sonolenta, fico com medo de pilotar. -Minto. No início eles realmente tinham esse efeito em mim, mas uma vez que meu organismo se acostumou com a bomba química, foi como se estivesse ingerindo balinhas com um sabor amargo.
— Tem certeza?
— Sim...
— Muito bem, na sua consulta de amanhã eu pedirei para que te prescrevam outro mais suave. -Pelo visto não sou a única que é teimosa como meu pai.
Mamãe quando põe algo na cabeça ruiva como a minha, é praticamente impossível fazê-la mudar de ideia.
Vamos até a cozinha e preparo um chá de camomila para ver se consigo dormir o que me resta das oito horas de sono.
Preciso estar na faculdade às nove da manhã para a primeira aula e por mais que seja algo emocionante, não me sinto assim. E o motivo de tudo isso tem nome e sobrenome: Benjamin Saito.
Vê-lo depois de tanto tempo reacendeu uma chama dentro de mim que há meses estava apagada.
E embora eu ainda esteja muito brava com ele por ter desaparecido, não vou mentir e dizer que não sinto saudades dele.
Nossa amizade sempre foi diferente de todas as outras. Era como se houvesse algo mais, algo que até hoje eu não consigo desvendar e na noite do acidente, ele parecia muito nervoso pelo telefone.
A cada gole do chá, meu corpo se relaxa um pouco, meus músculos se soltam e os batimentos cardíacos voltam ao normal.
— Obrigada, amo vocês, mas preciso acordar cedo amanhã. O trânsito é horrível até mesmo para minha moto. -Bocejo e meus pais se entreolham com uma expressão suspeita. — Okay, o que está acontecendo? -Murmuro com medo.
— Violet, não íamos te contar até o final de semana, mas não vejo mais motivos para isso. Você está dormindo mal por ter que acordar tão cedo para ir até a faculdade desde que começamos com todo o processo, quem sabe esse seja o motivo dos pesadelos e não queremos que se prejudique por isso. -Oh não, eles vão voltar com as aulas virtuais. Eu sabia! — É por isso que decidimos alugar um dormitório perto do campus para que você fique durante a semana.
Arregalo tanto os meus olhos e abro a boca algumas vezes tentando encontrar as palavras corretas, só que elas parecem ter resolvido tirar umas férias espontâneas.
— Claro que você voltará para cá nos finais de semana e nada de fazer coisas que não deve porque conheço o segurança. -Papai completa com um sorriso experiente no rosto ao mesmo tempo em que passa um olhar pelo corpo da esposa.
— Primeiro: eca vocês dois! E segundo: por quê?
— Filha, nós sabemos como é difícil essa etapa e qualquer minuto de sono é precioso. Caso não queira o aluguel, é só nos avisar. Ainda não assinamos o contrato. -Mamãe explica e sou abraçada pelos dois.
— Definitivamente eu vou querer esse aluguel. Não aguento mais viver com dois adolescentes presos nos corpos de adultos. -Brinco e eles caem na risada. — Vocês são os melhores do mundo e eu amo os dois. Boa noite papai, boa noite mamãe. Obrigada de novo.
Dou um beijo estalado em cada bochecha e deixo-os sozinhos na cozinha.
Depois do pesadelo, não consegui mais pegar no sono e como consequência disso, chego na faculdade parecendo um zumbi.
Papai quase não me deixou vir pilotando hoje e me fez prometer de que eu avisaria quando chegasse, o que acabo de fazer.
Guardo o celular na bolsa e caminho pela mesma calçada de ontem, só que dessa vez espero não topar com nenhum dos três idiotas novamente.
Apesar de não ter chegado a conhecer o tal Beck, posso assumir que se ele anda com os dois babacas, ele deve ser igual a eles.
— E você me surpreende a cada dia. Uma moto Violet? Sério? Por favor, me diz que você sabe sei lá disparar uma arma ou... ou bater em marginais! -Brenda grita animada ao meu lado.
Essa garota está tão enérgica todos os dias. Será que é um robô que carrega a sua bateria todas as noites enquanto nós mortais tentamos dormir?
— Para dizer a verdade, sim. Eu sei disparar e também sei defesa pessoal. -Confesso e nesse momento Brenda arregala tanto os olhos que sua expressão de surpresa me arranca uma gargalhada sonora.
— E-eu estava brincando. C-com quem você aprendeu tudo isso?
— Aprendi a lutar com meus tios e a disparar com o tio da minha tia. É uma história longa, mas saiba que se precisar quebrar a cara de alguém, é só me avisar. -Pisco um olho e continuo caminhando, deixando uma Brenda agora assustada para trás.
Ela me alcança rapidamente e de uma hora para a outra, sou invadida por uma enxurrada de perguntas sobre a minha família mafiosa.
— Okay, chega de interrogatório e vamos logo, não quero me atrasar na primeira aula de verdade que vou ter. -Puxo seu braço e a arrasto até a nossa sala.
Graças ao tour que Brenda me deu no dia anterior, já conheço basicamente todo o lugar.
O campus é dividido por blocos. Os blocos A, B, C e D são salas de aula, os F e G são laboratórios de química e biologia e no H ficam o auditório, a biblioteca e do lado o restaurante.
Nossa primeira aula é de Direito Civil no bloco D. Por incrível que pareça, nenhum dos blocos está em ordem alfabética, tanto que a biblioteca, auditório e restaurantes ficam na entrada.
Nos sentamos em uma das cadeiras nas filas de cima.
A sala é no estilo auditório de cinema, onde cada degrau contém uma fila de mais ou menos dez cadeiras.
No total a sala tem uma capacidade para mais ou menos cem alunos.
O lugar vai enchendo conforme o horário da aula se aproxima e quando o relógio aponta para as nove em ponto, um homem robusto vestido com um terno caro passa pela porta.
Seu olhar é aterrorizante e o som do silêncio é o único que se escuta.
— Bom dia, como todos já me conhecem, darei início à nossa aula. -Sua voz ecoa pelo espaço e todos abrem seus cadernos sem dizer uma só palavra.
Quem é esse cara?
Brenda puxa os materiais da bolsa e faço o mesmo. Tenho uma memória relativamente boa, mas como sempre dizem, anotar nunca é demais.
O professor começa a dar sua aula e apesar de parecer um carrasco, ele explica surpreendentemente bem. Tanto que várias vezes esqueço de anotar por estar tão concentrada no que ele está explicando.
No momento em que a aula termina, quase peço para que ele continue sua aula, no entanto, precisamos ir para a próxima sala.
— Caramba, o senhor Carlson estava de bom humor hoje. -Brenda sussurra ao meu lado enquanto caminhamos até o bloco B.
— Se isso era bom humor, não quero imaginar quando ele estiver de mau humor. -Brinco e ela solta uma risada anasalada.
— Não queira mesmo!
Sorrio cúmplice justo antes de entrar na outra sala.
Diferentemente do primeiro professor, esse é mais jovial e interage com os alunos de uma maneira mais direta. E assim depois que sua aula termina, partimos para a próxima e repetimos o processo incansavelmente.
A manhã passa voando e meu estômago ronca indicando para todos que já é hora de almoçar.
Tenho que confessar que a comida da faculdade é muito boa e me surpreendi ao saber que meus pais abriram uma conta para que eu pudesse comer o que quisesse sem me preocupar. Eles provavelmente esqueceram de me avisar, mas no momento em que apresentei minha carteirinha de estudante, a moça do caixa verificou meu nome no sistema e me informou da conta ilimitada.
Peço uma lasanha de frango e um suco de laranja.
Comemos rapidamente para não perder a última aula e no caminho para a sala, recebo uma mensagem da secretária.
"Boa tarde senhorita Violet Cross, essa mensagem é para lhe informar que o seu tutor já foi designado, seu nome é Jonah Higgins e ele pediu para avisar de que estará esperando-a na biblioteca às duas da tarde."
Releio várias vezes o texto tentando entender porque o tal Jonah não me enviou pessoalmente a mensagem.
— Ela não está autorizada a dar seu número para ninguém sem o seu consentimento. -Brenda explica como se conseguisse ler minha mente.
— Okay... acho que já tenho um tutor, Jonah Higgins. -Mostro a tela do aparelho e Brenda sorri.
— Jonah é um fofo, você vai amá-lo. Agora vamos, ou a senhora Oliver vai nos comer vivas, ela odeia atrasos. -Corremos, ou melhor, minha amiga corre, eu manco até a sala e chegamos justo a tempo.
Eu também odeio atrasos. Espero que a aula acabe a tempo para que eu possa encontrar com meu mais novo tutor.
Não vou mentir, estou ansiosa com toda essa experiência nova. Estudar em casa definitivamente não se compara com vir até uma universidade, ter contato com pessoas reais, ver rostos e poder conversar com eles.
Curiosamente eu gostei mais dos professores mais rígidos do que os mais liberais. Talvez seja porque eles se parecem um pouco comigo. Ou deve ser que eu realmente fiquei maluca depois do acidente.
Somos liberados da aula e vou o mais rápido que consigo até a biblioteca. Não quero causar uma primeira impressão ruim. Como disse, odeio atrasos.
Para a minha surpresa, não encontro nenhum Jonah e depois de procurá-lo até entre as prateleiras, me sento em uma das cadeiras para esperá-lo.
Me distraio vendo alguns vídeos no celular por pelo menos vinte minutos até que escuto meu nome sendo sussurrado e levanto a vista dando de cara com a última pessoa que desejo ver.
— Você só pode estar de brincadeira comigo. -Rosno me levantando em seguida.
— Violet, o Jonah não vai poder ser o seu tutor, ele teve alguns problemas e eu me ofereci no lugar. -Benjamin explica sem nenhuma gota de culpa no rosto ridiculamente bonito.
— Conta outra, Saito. Vou conversar com a secretaria e pedir outra pessoa.
Pego minhas coisas e caminho até a porta ou pelo menos é o que tento fazer, já que sou impedida pelos seus dedos que seguram meu pulso com uma delicadeza que há meses atrás me era familiar.
— O que pensa que está fazendo? -Murmuro nervosa olhando fixamente para o lugar em que seus dedos encontram minha pele arrepiada.
— Você não pode mudar de tutor. Já estamos no sistema, só é possível fazer uma troca, Violet. -Ele explica engolindo seco e puxo meu braço do seu aperto.
Suas mãos caem pesadas ao lado do seu corpo e respiro fundo.
Não arrebente a fuça desse babaca, não vale a pena ser expulsa por isso.
— Muito bem, Benjamin, mas não pense que eu vou deixar as coisas fáceis para você. -Não consigo tirar meus olhos dos seus e suspiro ao perceber uma faísca percorrendo suas orbes castanhas.
— Definitivamente essa é a Violet que eu conheço. -Ele solta engasgado e saio do transe quase que imediatamente.
— Pois sinto lhe informar que essa Violet que você conhece não existe mais.
NOTA DO AUTOR
Helloooo amores! Estou de voltaaaaa....
Como deixei avisado no meu muro, não publiquei sexta pq (graças a Deus) vacinei contra
o covid e fiquei de repouso e graças a Deus (de novo) não tive nenhuma reação kkkkk
As postagens voltam normalmente, podem ficar tranquilos!
Não se esqueçam de votar e comentar,
Amo vcs🥰
Bjinhosssssssssss BF💜💜💜💜
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