• | epilogue: time of your life
1968, Londres, Inglaterra;
Ela esteve presente desde o início, ela viu tudo.
Mas houve o tempo em que não havia nada aqui. Era um terreno abandonado, um matagal consumido pela vastidão verde da natureza. Até um homem, de condições humildes levantar um pequeno casebre com tijolos vermelhos e armar uma cerca precária. Sua primeira forma, fora a de uma fazenda, o homem vivera ali na companhia de seus animais, sem mais entes queridos, apenas prosperando, plantando e exportando para toda Londres. Até o dia em que caiu em sua velhice e não acordou mais.
O terreno fora recolhido, devolvido ao governo e por muitas décadas dado ao abandono. Até a chegada de um americano, de sorriso fácil e maneiras impecáveis. Um nobre, porém yankee. O governador Reed trouxe toda a sua elegância e desenvoltura para a terra tradicional da rainha. Seu orgulho não o permitia simplesmente viver em casas prontas que já pertenceram a homens maiores do que ele, durante uma cavalgada numa noite aleatória, encontrou o lugar, não muito distante do Tâmisa.
Decidiu que ali ergueria o seu castelo e assim o fez.
Em 1912 a mansão Reed foi construída, seguindo os típicos padrões vitorianos, mas levando consigo a extravagância americana, com torres altas de tetos pontiagudos, paredes externas de pedregulho verde escuro, cortinas roxas, lustres obscenos de tão chamativos, portões de ouro e moitas aparadas em formas de animais. O homem se vangloriava de sua bela e admirável obra, dando festas para a sociedade britânica, colocando seu nome em alta e sendo apreciado por todos, mas seu único amigo. Amigo de verdade, fora um pequenino garoto hiperativo e grosseiro, que conseguia vez ou outra vir na companhia de sua mãe, aproveitando enquanto a mesma trabalhava para ir atrás do governador que se deleitava com a companhia do jovem Louis, até o dia em que teve de lhe dar adeus quando o garoto partiu para a França. Reed permaneceu na casa, ao lado de sua esposa, onde morreu suficientemente velho.
Quando explodira a segunda guerra, a mansão fora usada como base de comando, esconderijo e abrigo para aqueles que não tinham para onde ir.
Sem um senhorio ela foi sendo entregue ao abandono, todos os móveis finos foram envelhecendo, o assoalho coberto de poeira e os cupins tomando conta das paredes, a mansão fora perdendo as esperanças de um dia servir de lar a alguém, novamente. Foi quando suas portas longas e pesadas foram empurradas e uma moça a adentrou, com ela vieram as mudanças, as cores vibrantes deram lugar a algo mais sóbrio e discreto, novos móveis mais resistentes foram trazidos, cada centímetro rigorosamente limpo e no quarto principal, ao invés da caminha antiquada e velha do governador, colocaram um grande dossel com lençóis vermelhos para comportar o corpo frágil que fora colocado sobre eles. Ela o reconheceu como sendo aquele menino de tantos anos atrás.
Por tempos tudo ficou um tanto vago, como se faltasse algo, então foi a vez de cabelos cacheados e brilhantes olhos verdes chegarem. Com ele vieram mais mudanças do que aquela mansão jamais imaginara, tempos difíceis e lágrimas constantes sendo derramadas, mas por mais difícil que parecesse, eles conseguiram alcançar a sua felicidade. Então quando aquelas portas tornaram a se abrir um pequeno embrulho com um biquinho mimado e uma franjinha loira entrara nos braços do rapaz.
O primeiro bebê que havia estado naquela mansão. Que logo fora seguido por outro e então, sem que se dessem conta aquela casa que um dia fora um terreno baldio, abrigo para desesperados e entregue a Deus dará, acabou por se tornar um lar. O lar dos Tomlinson.
A casa sempre estava atenta ao que acontecia em seu interior, principalmente as travessuras que eram recorrentes da mesma pessoa. Era até mesmo nostálgico, a forma como os olhos azuis iam escurecendo até alcançar um tom âmbar, os cabelos caramelo esvoaçantes se alongando e clareando, tornando-se dourados como fios de ouro, mas era a exata carinha arteira enquanto ela deslizava pelas longas escadas, deitada de bruços em cima de um madeirite, que tinha o costume de quebrar e fazê-la rolar pelos degraus, chorando e reclamando quando precisava fazer os curativos.
Entretanto, Melanie nunca se lembrava disto quando estava com o coração acelerado pela adrenalina, gritando uma série de uhull sem parar. Esse seria o seu melhor tempo se o madeirite não tivesse se partido, como sempre, e ela rolasse os dois últimos degraus conseguindo se apoiar nas mãos antes que caísse de cara no chão.
- Merda, foi quase... - Resmungava para si mesma, esfregando os olhos e sentindo seu coração errar a batida quando encontrou um par de botas prateadas. Por favor, não, seu subconsciente implorou, enquanto ia erguendo o rosto e encontrando as calças escuras e cheias de listras, camisa branca, óculos escuros, cabelos cacheados e um vinco entre as sobrancelhas do pai, denunciando a sua irritação - Bom dia, papai. Está muito bonito está manhã.
Embora não pudesse ver pelos óculos, ela sabia que Harry revirava os olhos naquele momento.
- O que eu te disse sobre usar a escada como escorregador? - Ele pergunta mantendo as mãos nos bolsos.
- Q-que não pode. - Melly se levanta, ignorando o latejar em seu joelho pela queda.
- Então porquê continua fazendo? Melanie, você já tem nove anos, é uma mocinha, tem que ser mais cuidadosa.
- Mas eu gosto de brincar assim. - Eleva a voz naturalmente baixa, esticando o pescoço para poder olhar para Harry que parecia infinitamente maior do que ela.
- Isso não é brincadeira. É perigoso, numa dessas você pode quebrar o pescoço, é isso que você quer? - Harry pergunta, sabendo que assusta-la é sempre a melhor estratégia, embora detestasse ver a carinha culpada que ela fazia sempre que se dava conta do perigo que estava correndo.
- Desculpa. - Sussurra culpada, afastando a franja dos olhos e arriscando um pequeno sorriso - Não faço mais, prometo. - Oferece o dedo mindinho para Harry, afim de selar com sua promessa que mesmo desconfiado aceita.
- Okay, agora vá se arrumar, quero você bem bonita para a festa da Scarlett.
Melly torce o nariz ao ouvir aquilo.
- Ela disse que não estou convidada.
- Claro que está, não seja boba. - Harry retruca, passando a mão por seus cabelos. Que perderam em demasia os cachos desde de que haviam crescido ao ponto de passar seus ombros, durante aquela aposta idiota que fizera com Mitch anos atrás e que vergonhosamente perdeu. Agora, os fios eram bem mais lisos, com apenas algumas ondulações nas pontas, mas essa não fora nem de longe a sua maior mudança.
O Harry que chegara nesta casa, há dez anos atrás em nada se parecia com o atual. Se naquele tempo, Louis o chamava de girafa por ser dois centímetros mais alto que si, atualmente ele nem sequer comentava o fato de Harry ser dez centímetros mais alto, seu corpo miúdo deu lugar a ombros largos, braços fortes, tórax rijo e toda uma musculatura que chegava a ser estranho comparar com o seu velho eu, seu estilo também mudou bastante, à partir do momento em que Tomlinson cumpriu sua promessa de lhe dar um terno chamativo, o estilo de vestuário, digamos, excêntrico o conquistou. Além do fato de que ostentava um anel em especial, entre tantos que marcavam presença em seus dedos, o de doutor. Ele havia se formado e em parceria com Nick e Adam construiu o seu próprio hospital, especializado em atender casos de Mpreg e oferecer a todos o suporte para levar a gestação adiante com total segurança - já que infelizmente o homossexualismo, tal como a gravidez masculina persistiam sendo considerados crimes com sentença de morte. Por isso, para todos de fora Harry permanecia como sobrinho de Louis, casado com Clare com quem havia tido suas duas filhas. Não era o que ele tinha imaginado, mas ao menos podia ajudar, fazer um pouco de diferença. O que de fato acontecia, desde que as retaliações e exibições dos bebês "anormais" não mais aconteciam em Londres, graças a segurança que lhes era oferecida dentro do hospital.
Cujo qual não só atendia os rapazes, como também aqueles que não tinham condições de pagar um plano particular e sofriam com os hospitais públicos, ele estava disponível para todos que precisassem de ajuda. No início fora tudo bancado por Louis, mas a ideia de fazer aquilo com o dinheiro do marido não agradava Harry que resolveu recorrer ao método de Charlotte e Tommy, que era o de atrair patrocinadores.
O que não era nada difícil, uma vez que por estarem tão desesperados para ganharem pontos com Tomlinson assinavam cheques para Harry sem nem saber do que se tratava, embora ele já tivesse criado uma fachada dizendo se tratar de ex militares feridos em batalha e não para atender pessoas caçadas. Mas era notável que a maior mudança não fora em questão de aparência ou carreira e sim na sua personalidade em geral, Harry tinha perdido aquela característica submissão e receio quanto a tomar atitudes, pois ele dominava aquela mansão, assim como seu hospital e a vida de cada um dentro daquele lugar. Não era mais tão dócil ou gentil, na maior parte do tempo estava estressado, irritado com alguma coisa ou com alguém e preferia se isolar a passar um tempo com sua família que parecia ser a maior fonte de seu nervosismo, todos próximos a Harry atribuíam mudanças tão significativas a uma única coisa: O acidente de carro que sofrera durante sua última gravidez, quando esperava pelos gêmeos, Billie e Scarlett.
Era uma noite como outra qualquer quando ele resolveu dar uma volta de carro, como fazia quase sempre, até parou em um drive-in para apreciar seus adorados filmes mudos, porém no caminho um motorista bêbado atingiu seu carro.
Mais tarde descobriram que aquele motorista se tratava de Anthony Murdoch que acabou morrendo durante a batida violenta.
Por sorte, o destino não havia reservado o mesmo fim para Harry que teve leves escoliações e quebrou uma perna. Porém, lhe pareceu bem mais cruel do que a morte acordar e saber que só havia um bebê, Billie não resistiu. O que o afetou de modo severo, ele ficou intolerante a si mesmo, se culpava pelo ocorrido e se tornou tão superprotetor quanto seus pais. Melanie e Scarlett jamais colocaram os pés além dos limites da residência, as únicas pessoas com quem tinham contato era a família e as crianças do abrigo St. Lydia. Elas tinham professores particulares, que não estavam autorizados a falar absolutamente nada que não fosse a respeito da matéria. Desta forma, as prendeu em um casulo, seguro o suficiente para que nada nem ninguém pudesse tocar em um fio de cabelo delas, mas o que lhe deixava possesso era que a filha mais velha parecia tentar loucamente arruinar seus planos e atentar contra a própria vida com suas desculpas de estar brincando.
Melanie era, sem dúvida, a sua maior fonte de estresse. Toda a ligação que eles tiveram um dia não mais existia, eram como dois estranhos que se confrontavam constantemente, mas ela sempre tentava amansar a fera. Piscando aqueles olhinhos e sorrindo com a língua entre os dentes, sem saber que seu lindo rostinho meigo trazia recordações de um certo alguém por quem o pai só nutria mágoa.
- Podia me ajudar a escolher uma roupa.
- Mel... - Sua fala é cortada pelos gritos agudos e exasperados vindos do quarto térreo, para onde Louis e ele haviam se mudado há anos, quando Tomlinson perdeu a perna. Foi uma estratégia para que ele se sentisse menos dependente, sem precisar que sua cadeira de rodas fosse carregada todos os dias. Alerta a qualquer som que vinha do quarto, Harry marcha sem hesitação até o marido, seguido por Melanie que herdara o mesmo instinto protetor que ele.
- Sua cretina pervertida! - O coronel berrava tacando toalhas ao vento, tentando alcançar a mulher que o chamava de louco.
- O que está havendo aqui? - A voz rouca e grossa de Harry se fez presente, mas Tomlinson permanecia lançando as toalhas como se fosse ferir alguém com aquilo.
- Essa desalmada tentou abusar de mim.
- Senhor Tomlinson, faz parte das minhas obrigações lhe auxiliar no banho.
- Me poupe, eu sei que você estava querendo o meu... - Nesta hora, como já era de praxe quando Louis começava a falar besteiras, Melly colocou as mãos no ouvido e começou a cantarolar alguma música até que a senhora atravessasse a porta e só restasse ela e seus pais.
Louis estava sentado na cama, com os cabelos pingando, molhando todo o seu tronco nu visivelmente tremendo, ela não se demorou em pegar uma das toalhas que ele jogou para ir até o pai e começar a secar seus cabelos cuidadosamente.
- Obrigado, Girafinha Jr. - Louis sorri, virando o rosto para deixar um beijo em sua bochecha.
- Então, mais uma cuidadora tentou te molestar? - Harry instigou, exausto da mesma cena de sempre, enquanto dava um jeito naquela bagunça. O marido sempre encontrava uma forma de colocar quem quer fosse para fora da casa a pontapés e olha que agora ele só tinha um.
- Uhum.
- Eu acho que você está sendo implicante, Lou.
- Humpf, claro que não, Hazza. Eu sou sexy demais, é impossível de se resistir.
- Menos.
- Hey, Melly, diga a ele que eu sou muito mais bonito do que ele.
- Vocês dois são muito bonitos, papai.
- Puxa-saco! - Bufa, levantando os braços para que Harry possa lhe vestir uma camisa, aproveitando a concentração do outro, o puxa pelos quadris, fazendo com que ele caia em cima de si, que consequentemente cai em cima de Melanie. A garota grita antes de escapar do esmagamento certo, rindo quando o pai começa a espernear.
- Louis, me solta, você está molhado. - Harry diz, balançando suas pernas longas no ar, tentando escapar do aperto firme de Tomlinson que apenas ri.
E são apenas em momentos como esse que toda a armadura de Harry se mostra ineficaz. Louis o desarmava com uma facilidade assustadora.
- Melly, amorzinho, vá se trocar para a festa. - Louis dá um empurrãozinho na menina que lança um sorrisinho astuto para os dois, antes de deslizar para fora da cama.
- Vocês vão fazer bebês? - Pergunta já na porta.
- Não! - Harry grita.
- Sim! - Louis retruca.
Ela fica na ponta dos pés para segurar a maçaneta e puxar a porta devagar, sorrindo consigo mesma enquanto observa os pais se beijarem ao que se sente muito sortuda por eles serem tão apaixonados.
Xx
- Faz uma cara fofa. Eu disse, fofa, Melly. Isso não é fofo. - Clare dizia para a menina que ia totalmente contra as suas orientações arregalando os olhos pequenos e abrindo um sorriso quase maníaco que expunha todos os seus dentes - Colabora, filha.
Melanie suspirou, olhando para os seus pés.
- É a única cara que eu tenho, é pegar ou largar.
- Eu sei que pode fazer melhor que isso, só está sendo teimosa.
- Teimosa, eu? Onde? - Pergunta com deboche, colocando a mão no peito, ofendida.
Então é a vez de Clare suspirar, acabando por ficar de joelhos, cansada de estar curvada há minutos tentando captar uma boa fotografia.
- Fala.
- Eu não gosto de festas. Tem muita gente aqui. - Seus olhos varrem o jardim enfeitado, com faixas, balões, brinquedos, mesas cheias de doce e todas as crianças do abrigo correndo de um lado para o outro.
- Eles são seus amiguinhos.
- Não tenho amiguinhos. Eles gostam da exibida, não de mim. - Franze os lábios, torcendo o nariz para as taças de suco próximas a si - Esse negócio tem cheiro de remédio, é nojento.
- Você é nojenta! - Uma voz estridente exclama as suas costas, por seu corpo ser bem menor do que o da mais velha é difícil enxerga-la, então Scarlett não tarda em dar um chute na canela de Melanie para abrir caminho - Dá licença, é a minha vez de tirar fotos. - Rosna, se colocando em frente a câmera, abrindo seu sorrisinho angelical e ajeitando os fios castanhos sobre os ombros.
- Ouch, não me chuta, ridícula! - Melanie a empurra, fazendo a irmã tombar para o lado que devolve com a mesma força.
- Sai. É a minha festa.
- Ninguém liga.
Então as duas estão se engalfinhando como sempre e em situações normais Clare nem sequer interviria por saber que eram medrosas e fracotes demais para machucarem uma a outra, mas amigos importantes de Harry estariam presentes hoje e ela lhe deu a palavra de que faria as garotas se comportarem.
- Chega! - Bateu o pé, se levantando, fazendo a sua melhor cara de brava que nem era boa, porque ela se encaixara bem mais como a tia descolada do que como a mãe severa, mas na certidão de nascimentos delas havia seu nome e elas a chamavam de mãe desde sempre, o que lhe dava a responsabilidade de botar ordem de vez em quando - Já estão grandes demais para briguinhas.
- Mas foi ela que começou... - Scarlett acusou rapidamente, sem querer levar a culpa, ajeitando as anteninhas em sua cabeça e batendo as asas na cara de Melly, porque ela havia feito questão de usar sua fantasia de borboleta justamente hoje. Só pra garantir que seria o centro das atenções - , você não vai ficar brava comigo, não é, mamãezinha? Nem vai contar pros meus papais? Eles disseram que se eu fosse má não ia ganhar meu presente e eu quero muito ele. - A essa altura Scarlett já estava com seus enormes olhos azuis cheios de lágrimas, até mesmo dando alguns soluços pra dar mais veracidade a sua interpretação de arrependida.
Não foi novidade quando Clare caiu feito um patinho, tentando acalmar a menina dizendo que tiraria quantas fotos ela quisesse. Para Melanie o problema de Scarlett era justamente esse, todos caiam no seu teatrinho e a mimavam sem parar e por ela ser a preferida de todo mundo, não valia a pena tentar discordar.
- Dane-se. - Deu de ombros, chutando pedrinhas durante o caminho todo, ficando cada vez mais carrancuda quando alguma garota vinha até ela perguntar porque usava bermuda e camiseta ao invés de um vestido de princesa como elas. Porque eu não sou uma princesa, era o que tinha vontade de dizer, mas não gostava de ser rude com ninguém e sabia que elas não faziam por mal.
Com Scarlett posando no centro do jardim, fazendo caras e bocas e agindo como a miss universo ninguém deu bola para a outra que preferiu ficar de braços cruzados apoiada em uma árvore querendo saber se seus pais já tinham terminado de fazer bebês para que ela fosse atrás de Louis o ajudar no seu perfume secreto.
Detestava admitir, mas era duro ser excluída apenas por não ser a mais bonita ou bem vestida. E se não fosse ruim o bastante, Scarlett era obviamente a preferida de Harry, que adorava ter a sua cópia por perto, com os cabelos cor de chocolate, covinhas profundas nas bochechas e todos os seus traços e o gosto por roupas esquisitas, ela parecia ter saído de um sonho do pai, ele a mimava e ela o mimava. Melly se sentia diabética na presença dos dois. Ela tinha Louis e todos os outros que moravam na mansão a amando incondicionalmente, mas não parecia ser o suficiente, havia um pedaço seu faltando. Desde sempre ela se sentia incompleta.
Talvez as coisas fossem diferentes se Billie estivesse aqui. Ele não a deixaria de lado como Scarlett faz, ele seria seu amigo.
Tudo o que ela queria era um amigo.
- Oi. - Foi arrancada de seu transe, ao se assustar com a voz animada do pequeno ser de olhos claros e uma densa cabeleira loira. Era seu primo mais novo, Theo - Porque está sozinha aqui?
Melanie sorriu pequeno, dando de ombros.
- Só tem gente chata.
- Eu não sou chato!
- Você não, eu tô falando da abelha rainha ali. - Apontou para a menina miúda que mandava um beijinho por cima do ombro para a câmera - Garota idiota.
- Não, a Scar é ótima e tão bonita. - O menino diz com seus olhos brilhando e a voz denotada de uma paixão precoce e esquisita demais ao ver da prima que bufa sonoramente.
- Diz isso porque é apaixonadinho por ela.
- Não sou não.
- É sim. - Retruca -Tanto faz, estou entediada.
- Podíamos fazer alguma coisa legal? - Theo sugere, ajeitando sua gravata borboleta vermelha.
- Não quero brincar de carrinhos. - Ela avisa de antemão e a expressão do garoto cai automaticamente o que lhe rende uma ideia interessante quando olha na direção dos estábulos - Tenho uma sugestão muito melhor.
- Qual?
Ao invés de responder, Melanie resolve segurar a mão do primo e guia-lo secretamente até o estábulo, onde convence Lola - sua égua Clydesdale que ganhara de Louis há dois anos quando se tornou uma amazona completa - a se abaixar para que pudesse colocar a cela e montar, segurando firmemente nas rédeas e tendo o pequeno Theo consigo. Nos primeiros passos tranquilos do animal o garoto já mordiscava os lábios e olhava assustado de um lado para o outro.
- A mamãe não vai gostar disso.
- A tia Gem não é surtada que nem o meu pai. Relaxa, não há ninguém que monte melhor do que eu em toda a Inglaterra. - Diz com um sorriso convencido, incitando Lola a galopar com um pouco mais de velocidade, querendo chamar a atenção de todos ali que olham para sua irmã como se ela fosse o próprio sol. E por falar nisso o primeiro a notar Melanie é Sun, o velho e fiel cão da família, ele corre com pouca disposição até eles latindo, num aviso de que ela está agindo mal, mas que serve para atrair os olhares das crianças.
Dúzias de olhos curiosos e brilhantes se voltam para a dupla e ela vê nesta a chance de se exibir. Com um simples comando a égua trotar de verdade, fazendo com que os cabelos ondulados voem contra o vento e seu corpo se incline para a frente com a rédea bem presa entre seus dedos esguios, Theo está atrelado as suas costas, apavorado.
- Melly, eu quero descer! - Choraminga o menor.
- Não seja um bebê chorão, Theo. A diversão nem começou. - E dito isto faz aquilo pelo qual era tão elogiada em suas aulas de equitação, fazendo o animal saltar por cima dos bancos longos de madeira, arrancando gritos e palmas das crianças.
O reconhecimento a faz ficar ainda mais animada, cavalgando como uma legítima amazona com o maxilar apertado e um sorriso ladino provocando o despontar de uma covinha na bochecha direita e os olhos escuros faiscam com uma ideia pouco ortodoxa ao que vê Scarlett fazendo bico por não estar mais sendo o grande destaque. Clare não está junto dela e está parecia ser a ocasião perfeita para tentar algo. Cavalgando com ainda mais fervor e ignorando os choramingos do garoto covarde agarrado a ela, enxerga apenas um objetivo. A égua de sedosos pelos negros galopa obedientemente em direção ao pequeno ser de expressão emburrada e asas gliterizadas.
Melanie tinha certeza que conseguiria fazer Lola saltar por cima da cabeça de Scarlett.
O campo longo e esverdeado, estreitado pelas altas árvores seria o cenário magnífico para o seu salto perfeito, se não fosse por aquele mesmo corpo alto se colocando em seu caminho, ela precisou segurar com extrema firmeza as rédeas para que Lola não atropelasse Harry.
O pai nem ao menos lhe olhou no rosto, indo até suas costas e pegando Theo e o colocando no chão, o menino correu desesperado em direção a mãe que o esperava na companhia dos outros dois bobalhões com gravatas vermelhas e calças curtas. Sua tia Gemma era uma grande fofoqueira, não era à toa que ela preferia Niall.
- Desce. Agora. - Harry ordena com a voz impassível. Antes que ela pense em saltar das costas de Lola, percebe o estremecer visível no rosto de seu pai por ainda não ter superado o tombo que Melanie havia levado há alguns meses e que tinha lhe rendido semanas na cama sem saber se voltaria a andar - Com cuidado.
- Okay.
Liam surge assim que ela pisa no chão, acalmando Lola que ainda se encontra enérgica pela corrida.
- Liam, ligue para aquele rancho em Bradford, acho que está na hora de dar à Lola um novo lar.
- O quê? Não pode estar falando sério! Não vai mandar ela embora! - A menina grita se agarrando a crina da égua que relincha.
- Sim, eu vou. Você obviamente não sabe montar, além de se colocar em perigo ameaça a segurança dos outros. O seu primo ficou apavorado.
- Ficou apavorado porque é um bebezão.
- Ele só tem sete anos e do jeito que você monta até eu fico assustado.
- Eu posso ir devagarinho, por favor. - Implorou juntando as mãos em frente ao peito e tentando sua cara mais meiga, que acabou não dando muito certo.
- Não. Liam, leve o cavalo! - Ordenou impassível e mesmo não gostando de fazê-lo, Payne puxou a rédea de Lola em direção aos estábulos, deixando uma Melanie arrasada as suas costas.
- Eu te odeio! - Grita da boca pra fora, encarando Harry que não faz nada além de dar de ombros.
- É pro seu bem. Você uma hora iria acabar se machucando feio.
- Eu não sou uma boneca, não vou quebrar só de cair no chão.
Uma sensação estranha subiu pela garganta de Harry ao ouvir aquela palavra tão conhecida saindo da boca de Melanie. Não importa, ele é o pai e sabe o que é melhor pra ela, sempre fará a melhor escolha que ela não faria. Então decidido, a pega pelo braço e a arrasta de volta para casa. As crianças estão atentas, parando de devorar os doces e brincar para fixar os olhos em Melanie sendo o maior bebê do mundo esperneando e arranhando o pulso de Harry enquanto grita pela égua. Nem mesmo Mitch tagarelando no caminho, faz com que Harry interrompa o passo até que eles estejam atravessando o hall de entrada e Melly sendo mandada para o castigo em seu quarto.
- Mas...
- Calada! Quero que vá para o seu quarto e não saia de lá até o jantar, entendeu? - A instruiu impaciente, colocando as mãos nos quadris e bufando de raiva pelo dia que deveria ter sido agradável e produtivo e ele acabou por ter que ficar vigiando Melanie, quando ela era pequena era bem mais comportada do que agora.
Harry tinha medo de imagina-la na adolescência.
- Você está sendo muito injusto!
- Eu? Injusto? Você é quem fica se colocando em perigo a cada cinco minutos.
- Esse é o único jeito de você me notar, porque quando estou me comportando você só tem olhos pra Scarlett. Até parece que só existe ela no mundo. Deve se odiar por não ter conseguido se livrar de mim como fez com o Billie. - Melanie explodiu, expondo todo a sua mágoa de anos. Contudo, assim que as palavras saíram de sua boca ela se arrependeu terrivelmente delas.
Ele não disse nada, apenas lhe lançou um olhar inquieto que a fez se sentir pior.
- Credo, quanta gritaria! O que houve suas girafas barraqueiras? - Era Louis Tomlinson e toda a sua sagacidade e bom humor, embora, tivesse perdido a perna e vivesse em uma cadeira de rodas ele já não era mais tão irritadiço e traumatizado. Harry e as meninas já agitavam demais a mansão, então ele resolveu que era hora de se tornar a pessoa calma e de bem com a vida dentro daquela família. Só não superava Charlotte que tinha virado budista com o marido e os seis filhos adotivos com quem vivia em Roma desde que o teatro de Tommy atingiu um novo patamar.
- Papai... - Melanie pretendia se jogar nos braços de Louis e pedir para que ela não deixasse Lola ser expulsa, mas Harry a conhecia muito bem e antes que ela tomasse alguma atitude foi até o marido.
- A sua filha estava cavalgando daquele jeito de novo. - Ele disse se colocando atrás da cadeira de Louis, parecendo a madrasta malvada das princesas, aos olhos de Melly.
- Filha, o que eu te disse sobre isso? É perigoso! - Tentou se fazer de bravo, mas ele sabia que Melanie montava exatamente como ele tinha ensinado e talvez para os padrões rigorosos do marido isso era demais.
Um novo fato sobre Louis é que ele detestava conflitos, muito menos quando estes envolviam Melanie. Ela parecia o elo mais fraco ali dentro e não seria a primeira vez que ele desconfiava que Harry e Scarlett tinham algum tipo de complô contra a menina, quando a mais nova entrou, marchando como se não tivesse apenas um metro de altura.
Se Melanie era a vitima incompreendida, Scarlett Joanne Tomlinson era um verdadeiro predador. Sempre se aproveitando de sua meiguice e fala doce para conseguir o que queria.
- Onde vocês estavam? Está na hora do parabéns! - Perguntou emburrada, cruzando os braços - Você não vai se trocar?
- Eu já me troquei. - Melanie bufou, subindo as escadas em direção ao seu quarto.
Uma pequena bola de pelos brancos e caramelo entrou, tentando escapar do corpo grande e pesado de Sun que vinha logo atrás, em uma velocidade deveras inferior.
- Scar, quem te deu nosso presente antes da hora? - Louis indagou, quando ouviu os latidos agudos do pequeno Akita.
- Minha mãe, eu insisti. - Respondeu - O Sun está atrás dele.
- Nosso velho Sunshine enfim se interessou por alguém, antes bem tarde do que nunca. - Tomlinson riu, dando um tapinha no estômago de Harry.
- Os dois são machos, não vão poder fazer filhotes.
- Pelas minhas experiências eu diria que você está errada.
- Argh, eu não quero o meu Loki perto dessa coisa velha. - Scarlett disse com escárnio, recolhendo seu cãozinho e dando língua para o rottweiler que só queria brincar com o novo amigo.
- Não fale assim do Sun! - Melanie partiu em sua defesa, chamando-o e ele prontamente foi para junto de sua atual dona.
- Ele deveria estar em um canil.
E assim se iniciou uma longa e repetitiva discussão, onde Scarlett expressava o seu desejo de dar adeus ao cão, enquanto Melanie o defendia fervorosamente como uma mãe. Harry e Louis já estavam mais do que acostumados com esse tipo de confronto, então raramente davam atenção.
- Querido, você deveria ter colocado um cinto. - Harry dizia, ajeitando as calças de Louis que estavam folgadas em seus quadris.
- Estou numa cadeira de rodas, não é como se alguém fosse notar, além disso estamos no fim dos anos 60 e ninguém mais usa cintos. Eu quero ser descolado.
- Você já tem quarenta, não importa o que vista vai continuar sendo velho.
- Olha só quem fala, você não está muito longe dos trinta, Peter Pan.
- Faltam quatro longos anos, Coronel. - Retrucou, apoiando o queixo no topo da cabeça de Tomlinson que estava prestes a dizer algo quando a briga das filhas lhes chamou a atenção.
- Isso deve ser resultado do sangue ruim do seu pai verdadeiro.
Seus pais arregalaram os olhos ao ouvir Scarlett gritar aquilo, sem um pingo de remorso.
- Sua bastarda! - Em questão de segundos toda a fúria de Melly havia caído por terra com aquilo.
Ela sabia que não era filha biológica de Louis, mas até aquele momento ninguém nunca tinha lhe dito algo assim tão diretamente.
Bastarda. No fim das contas era o que ela era.
- Scarlett... - Louis começou com a voz alterada.
- Agora não, discutiremos isso depois. - Harry interveio, empurrando a cadeira do marido em direção a rampa que dava para o jardim. Mandou que Scarlett viesse com ele e Melanie fosse direto para o quarto.
- Não vai fazer nada com ela? - A garota de cabelos loiros perguntou ao pai, antes que ele partisse.
- Às vezes as pessoas dizem coisas duras, acostume-se. - Foi sua resposta antes de lhe dar as costas e ir embora.
Xx
Melanie passou o restante da tarde trancada em seu quarto, rabiscando em seu caderno com a letrinha miúda e arredondada, estava cansada de se sentir como uma intrusa naquela família desde que a irmã havia nascido. Ela queria entender que o cuidado extremo que Harry tinha com ela era por consequência do acidente e que havia sido um erro terrível ter acusado-o daquela forma.
Ela tinha o magoado e queria poder fazer as pazes, só não sabia como.
Durante o jantar escapuliu para o quarto da mãe, onde Clare havia levado biscoitos amanteigados, os seus prediletos e enquanto comiam e tagarelavam, expressou o seu desejo de fazer algo legal para o pai e a mulher a aconselhou a criar um álbum de fotografias.
Então seria isto. Um álbum com todas as lembranças da família Tomlinson, porém, ela não sabia a onde ficavam as fotos e depois de muito pensar chegou a conclusão de que só poderiam estar no escritório, onde ficava basicamente tudo o que havia de importante. Melanie não tinha autorização para entrar lá, por isso precisou se certificar de que o local estava vazio. O escritório de Harry era muito parecido com a biblioteca, só que as prateleiras estavam repletas de livros de medicina, reportagens sobre mpreg e as papeladas referentes a empresa de Louis que ela não entendia nem um pouco.
Com medo de aumentar ainda mais a bagunça foi até a mesa comprida de mogno, onde repousava um porta retratos com uma foto de Louis, Harry, Scarlett e ela, de pelo menos três anos atrás. Aquele havia sido um dia feliz e naquele tempo Scar era legal com ela. Era só uma foto, precisaria de muito mais.
Se jogou na poltrona, confortável de couro que costumava ficar na sala de estar, que deixava apenas a pontinha de seus pés tocando o chão e começou a revirar as gavetas. Na maior parte eram apenas mais papéis irrelevantes, até que se deparou com uma caixinha amarela, onde resolveu se aventurar, nela se encontravam mais outras dúzias de papéis, alguns desenhos que se recordava de ter feito em datas comemorativas e um ou dois bilhetinhos escritos com letras garranchadas. Até se deparar com um envelope branco, com as bordas desgastadas, tinha até selo.
Não pretendia invadir a privacidade do pai, mas não foi capaz de conter a curiosidade quando sentiu que havia algo mais do que papel ali dentro. Então o abriu, sorrindo consigo mesma ao encontrar um colar com um pingente em formato de uma boneca de cabelos cacheados e vestidinho rosa.
Era lindo e ela não hesitou em colocá-lo no pescoço, presenteando a si mesma e como já havia aberto o envelope, de qualquer forma, não pareceu tão absurdo dar uma olhada na carta, onde de imediato reconheceu a grafia de Harry ao ler o início:
22 de agosto de 1958;
Querido Zayn,
Você deve ter ficado confuso com a minha partida repentina, pensei em lhe deixar um bilhete, mas...bem, eu estava tão aborrecido pelo que vi de você e a Srta. Edwards que optei por não fazê-lo. Fiquei realmente chateado, contudo, nunca foi estabelecido nenhum tipo de exclusividade entre nós, o que não me dá o direito de sentir ciúmes.
Mas eu quero que saiba que eu lutei muito para não ir até você me despedir. Eu sabia que não seria forte o bastante para fazer o que é preciso se o visse uma última vez.
Tem algo que preciso te contar. Não consigo dizer cara a cara, tampouco por um telefonema - Nem sei se teria tempo para tal, já que estou indo, não para Eton, mas para a casa de um senhor rico que perdera a visão durante a guerra. Acredito que não será um grande desafio.
O motivo real de minha partida é que eu estou grávido. Isso mesmo, espero um filho seu...
Sei que irá surtar ao ler este trecho, mas peço que não se preocupe. Estou indo para Londres, afim de me livrar deste problema. Nenhum de nós quer ter nossas vidas destruídas por um ocorrido inconveniente como este. Ainda tenho receio quanto a um aborto, então a melhor alternativa é deixar que a gravidez siga, enquanto cuido do cego, e quando nascer será imediatamente entregue a uma instituição de adoção e eu poderei voltar livre para Holmes Chapel, para minha família, meus amigos e principalmente você.
E toda esta confusão será esquecida.
Gostaria de lhe falar mais um pouco, porém a tempestade cessara e poderemos enfim sair da estação e o trem seguirá viagem.
Em breve o terei de volta, meu querido.
Com todo o meu amor, H.
Ao terminar a leitura, Melanie não sabia dizer o que sentia. Quer dizer, ao longo dos anos soube o básico sobre a história que antecedera seu nascimento. Harry tinha apenas dezesseis anos quando engravidou de um namorado da adolescência, porém o mesmo não os quis por estar noivo e à espera de um filho legítimo. Então, Harry que já trabalhava como cuidador de Louis, se apaixonou e eles ficaram juntos e Louis se tornou o seu pai.
Ela imaginava que não havia sido o tipo de gravidez planejada como aconteceu com os irmãos, mas ainda assim nutria aquela fantasia de que o pai a quis desde o início, já que o tal Zayn Malik nunca quis saber dela, pelo menos Harry deveria amá-la incondicionalmente, mas não era o que parecia naquela carta. Ele tinha o plano de abandona-la.
Ele não a queria.
Talvez não queira até hoje, mas a suporta por Louis.
As ideias começaram a borbulhar em sua mente enquanto, em todas com a sua baixa estima reforçando o fato de ser indesejada e um grande estorvo na vida do pai. Ouviu o som de passos se aproximando e se adiantou em guardar a caixa de volta na gaveta e esconder a carta dentro do bolso do pijama, assim como cobrir o pingente com o cabelo.
- Aí está você. - Harry suspirou, ao abrir a porta. Melanie engoliu suas paranóias e sorriu para ele, girando na cadeira - Hora de dormir, senhorita Tomlinson.
- Okay. - Bocejou, deixando que ele fosse até ela e a carregasse. Agarrou-se firmemente nele, enterrando o rosto em seu pescoço e alisando os cachinhos que só se formavam em sua nuca. Ela o amava tanto, porque ele não podia amá-la de volta? Talvez fosse por sua rebeldia, mas ela não tinha culpa de se sentir excluída e querer chamar a atenção de qualquer jeito.
Era só desespero, porque ela o amava demais e não sabia como demonstrar.
- Agora, você precisa me soltar. - Nem havia se dado conta de que estava em seu quarto, aquele que um dia havia pertencido à Harry, o do lado antes de Louis, era ocupado por Scarlett que precisava do quarto maior, naturalmente.
- Desculpa. - O soltou, indo para debaixo de suas cobertas e sorrindo quando Sun entrou para se acomodar no tapete ao lado da cama.
- Eu nunca vou entender porque ele prefere todos ao invés de mim.
- Ele gosta de pessoas cegas.
- Você não é cega e não pense que não percebi que o seu óculos está abandonado no closet.
- Não gosto de usar óculos.
- Mas precisa. Boa noite. - Diz, abaixando e afastando sua franja para deixar um beijo na testa. Quando ele faz menção de partir ela segura sua mão - O que foi?
- Nada. - Mente, sentindo um nó na garganta, enquanto toca com a ponta do dedo o anel de rosa. Volta a encarar os olhos verdes preocupados e sorri timidamente - Boa noite, papai.
- Certo. Bons sonhos. - Harry diz, antes de apagar a luz e sair porta a fora. Checando se Scarlett já dormiu e então também apaga a luz de seu quarto, sabendo que Louis também está adormecido há horas ele se permite respirar aliviado pela primeira vez naquele dia.
Datas comemorativas como estas sempre o deixavam, ainda mais, ansioso e nervoso que o normal. Ele tinha medo que algo desse errado, que as meninas se machucassem ou Louis começasse a sentir dor em algum lugar ou até mesmo que a polícia os descobrissem e levassem os quatro pra cadeira elétrica. Era exaustivo pensar nisso o tempo todo e com apenas vinte e seis anos, Harry sentia que precisava de férias longas e relaxantes.
Arrastou-se pelos degraus, bocejando e coçando a cabeça se lembrando que um dos sobrinhos tinha feito o favor de jogar areia em seus cabelos. A casa estava de cabeça pra baixo, uma verdadeira zona, desde que Sarah se mudou com Rose para o Canadá, onde a perseguição era bem menor e elas poderiam começar uma família. Harry ficava feliz por ela, mas não podia negar a imensa falta que ela fazia, desde que Charlotte se mudou era Sarah quem mantinha as meninas sob controle, já que Clare estava tendo uma crise dos quarenta e ia para clubes todas as noites e vivia de ressaca.
E era justamente ela quem estava saindo na calada da noite, bem arrumada e com o perfume que poderia ser sentido a quilômetros de distância.
- Sério? Três noites seguidas? - Perguntou boquiaberto, quando ela passou o braço por seu ombro o incentivando a acompanhá-la até a porta.
- Eu passei o dia inteiro com umas sessenta crianças. Preciso relaxar.
- Então vai dormir.
- Não, eu preciso beber e dançar como se não houvesse, esse é o meu jeito de relaxar. - Declarava enquanto saía, se deparando com Mitch e Liam sentados na escada - Olá, queridos. Bem, olá e tchau. Beijinho, marido. - Deixa uma beijo estalado na têmpora de Harry e puxando os cabelos dos outros dois ao passar por eles. Harry se junta a eles, jogando conversa fora e fumando mais do que deveria até o cansaço vencer e se despedirem, cada um indo para seus quartos.
Quando Harry deitou-se ao lado de Louis naquela noite e adormeceu em questão de segundos, jamais suspeitaria que passos cuidadosos estavam sendo dados, acompanhados por patas silenciosas. Melanie usava uma lanterna para poder se virar na escuridão, vestindo um casaco grosso com capuz, ela apertava o envelope em seu bolso e escapava para fora da mansão com um plano em vista.
Tudo estava resolvido, ela iria até Holmes Chapel, encontrar Zayn Malik e descobriria o que havia de errado com ela e caso fosse algum mal irreparável, não voltaria mais. Por isso também tinha aquela foto de sua família reunida consigo, apenas para manter a recordação. Mas quando estava no portão ouviu uma vozinha chata e estridente chamando por ela.
- Onde pensa que está indo a essa hora? - Era Scarlett, enfiada em um grosso casaco de peles vermelho e o cabelo todo bagunçado por debaixo de uma boina.
- Tenho uma coisa importante pra fazer em Holmes Chapel.
- Holmes Chapel? Coisa importante? Você nem sabe atravessar a rua! Para de graça e volte pro seu quarto antes que eu chame nossos pais. - Bateu o pé, autoritária.
- Não adianta bancar a mandona, eu vou até lá. Preciso resolver uma coisa. - Melanie chamou Sun e continuou andando.
- Está indo atrás daquele imprestável que te deu as costas? Que tipo de ingrata é você? O meu pai te criou sem...
- Ele é meu pai também. - Elevou o tom de voz, girando nos calcanhares para encarar a menor - Não te interessa, volta pra dentro.
- Não posso, agora eu sou cúmplice.
- Hein? Quer saber, dane-se, preciso ir e voltar antes que eles acordem. - Melanie voltou a lhe dar as costas e marchar até o portão tirando um molho de chaves do bolso.
- Como conseguiu isso?
- Eu peguei do papai quando ele me colocou pra dormir.
- Oh. - Ela destrancou o portão e quando passou por ele, Scarlett a acompanhou.
- Você vai vir comigo?
- Alguém precisa impedir que você morra no caminho.
- Hum, tudo bem, eu acho. - Fechou o portão se vendo do lado de fora da mansão, pela primeira vez em muito tempo - Eu fui pra estação com o Liam quando o tio Mitch viajou pra Manchester, não é muito longe.
- Urgh, trens parecem tão nojentos.
Mesmo com Scarlett reclamando sem parar e falando sobre um artigo que leu onde falavam sobre doenças transmitidas no transporte público. Elas chegaram sãs e salvas até a estação de trem, fazendo careta quando precisaram dar as mãos para não se perder no tumulto de corpos, até conseguir alcançar a bilheteria onde a mulher de olhos moribundos mascando chiclete se negou a vender os bilhetes para as garotas por serem fedelhas mimadas que deveriam voltar para a mamãe.
Depois da décima tentativa Melanie se jogou num banco, chorosa. Scarlett parou ao seu lado revirando os olhos.
- Droga! Porque não dá certo?
- Porque está muito na cara que temos dinheiro. Tem alguns garotos invadindo o último bagageiro.
- Eu não vou viajar em um bagageiro!
- Ótimo, então vamos voltar pra casa.
- Não, não, tudo bem, mas eles não vão nos aceitar vestidas desse jeito. - Scar concordou, levando até a irmã o seu plano, então alguns minutos depois, duas meninas se exibiam com casacos de pele caríssimos e Melanie e Scarlett tentavam se acostumar com os vestidinhos esfarrapados que tinham conseguido na troca. Os novos modelitos serviram para que pudessem se enturmar com os órfãos que fugiam de Londres de forma ilegal. Mais de dez crianças se expremeram no cubículo apertado e abafado, Scarlett ficou entortando o nariz na maior parte do caminho, mas deixou que algumas meninas mais jovens fizessem trancinhas em seu cabelo e Melanie que era bem mais retraída conversou durante toda a viagem com um garoto sorridente, de fala alta e uma bandana quase tão esfarrapada quanto suas vestes, o chamavam de cabelo de fogo pelas madeixas vermelhas e bem armadas. Porém seus sorrisinhos e conversinhas foram interrompidos quando Scarlett arrumou briga com um outro grupinho que as expulsou em uma das paradas e assim elas acabaram na estrada, em meio a lugar nenhum com o sol começando a nascer.
- Que ótimo, agora estamos só Deus sabe onde. - Melanie reclamou jogando os braços para o ar em um gesto exagerado.
- Nós não devemos estar longe da cidade. Além disso aquelas meninas eram umas bobas, apenas pegue o mapa e vamos seguir viagem. - Scarlett disse com a voz mais alta se alongando depois de passar tanto tempo encolhida.
- Mapa?
- É, você não trouxe um mapa?
- Er... Não? - Os olhos da menor se levantaram, encontrando os culpados de Melly.
- Meu deus, Melanie, como você pode ser tão burra?
- Eu não sou burra!
- É claro que é e graças a isso estamos perdidas para sempre. Sua girafa idiota.
- Cala a boca, anã.
- Do que você me chamou?
- A-N-Ã. Entendeu? - Com isso Scarlett pulou em seu pescoço e elas brigaram e se engalfinharam até terem os cabelos embaraçados pelos puxões e arranhões nos braços e rostos, chegaram ao acordo de que sem um mapa para seguir teriam de andar reto até encontrarem, para seu alívio, a placa de: Bem vindos a Holmes Chapel. Mas ainda precisariam descobrir como encontrar Zayn Malik.
Durante sua jornada Melanie não pôde deixar de notar que Scarlett deixava uma moeda nas canecas dos moradores de rua e lacrimejava ao ver um cãozinho ou gatinho abandonado no meio fio. Talvez ela tivesse coração, afinal.
Após mais algum tempo de caminhada encontraram uma igreja. Não era muito grande ou elegante como aquelas que viam na TV, era pequena e simples, com uma fachada modesta, mas muito bem arrumada com os bancos brilhantes e flores frescas na entrada. Ambas estavam paradas do lado de fora, sem coragem de dar o primeiro passo, por conta de um medo antigo. Certa vez um professor, um dos únicos que vieram a saber que elas tinham dois pais, ele disse que era uma brincadeira, mas elas nunca esqueceram o que lhes foi dito aos risos: Não podem colocar o pé dentro de uma igreja nunca, senão irão queimar na hora.
No dia seguinte o homem não foi dar aula pra elas e nenhum outro dia também, quando perguntaram para os pais apenas deram de ombro e um novo professor surgiu. Esse não fazia brincadeiras.
Elas não tinham interesse em lhe dar ouvidos, mas aquele receio permanecia, talvez papai do céu não as quisesse lá dentro e caso elas entrassem, bem, ser queimada viva não parecia nada bom.
- Podemos tentar em outro lugar. - Melanie sugeriu.
- Você viu o que aconteceu, graças às nossas roupas eles pensam que somos pedintes e só nos expulsam esse é o único lugar no qual podemos conseguir alguma informação.
- Eu tenho medo.
- Eu também, mas lembra o que nossos pais disseram?
- Papai do céu nos ama?
- Papai do céu nos ama. - Scarlett garantiu, estendendo a mão para a irmã que a segurou e em um acordo silencioso entraram ao mesmo tempo, esperando pelo pior que não veio. Nada aconteceu. Elas estavam dentro de uma igreja e não queimaram - Viu?
Melly assentiu sorridente, olhando para Sun que tinha entrado há muito tempo e a esperava no altar.
- Precisamos ser rápidas, vou ver se acho alguém.
- Certo. - Ela anuiu, enquanto Scarlett entrou em uma porta lateral, Melly achou que seria prático ajudar e ao lado de Sun começou a vasculhar o lugar que parecia vazio com excessão de uma minúscula saleta. Pela fresta da porta encontrou uma menina do seu tamanho, sentada em um banco com um violão no colo, com um sério problema em marcar as notas o que a fazia errar toda vez.
Depois de mais algumas tentativas ela suspirou cansada e o lançou no chão, saindo pelo outro lado. Sun e Melly trocaram um olhar cúmplice antes de adentrar o recinto, com cuidado foi até o violão, olhando se não havia sido quebrado e por sorte estava tudo certo. Desde muito pequena ela descobriu o seu amor pela música, quando Clare a ensinou a tocar piano e Mitch o violão, mas isso não parecia suficiente e pediu aos pais que tivesse aulas de música. Eles contrataram professores para todo tipo de instrumento e alguns para que ela praticasse o canto, onde ela também tinha um talento nato. Muito diziam que Melly teria uma carreira brilhante na música e por isso estudava o máximo que podia. Além de adorar ser muito boa em algo que Scarlett era péssima, embora Louis e Harry tivessem vozes divinas a filha mais nova tinha uma voz péssima. Ela era tão desafinada que doia os ouvidos e um dia Louis disse isso pra ela, foi hilário.
Sun se sentou a sua frente e ela se sentou em posição de lótus, colocando o violão no colo e dedilhando as cordas de nylon. Bastou um assovio para que o cão latisse animado, a espera de uma música para ele.
- Quer que eu cante pra você, meu neném? - Perguntou aproximando o rosto dele até que seu nariz encostasse no focinho, ele estendeu a língua comprida lambendo seu queixo e ela tomou distância - Argh, nojento!
- O que está fazendo aqui? - Voltou os olhos em direção a menina que retornara.
- Desculpa, eu não pretendia rouba-lo.
- Não estou falando do violão. Você não pode ficar aqui. - A garota parecia assustada, olhando para a porta como se temesse que alguém mais entrasse.
- Porque não?
- Você é burra?
- Não, só não entendo porque não posso estar aqui, quer dizer, igrejas são abertas pra todo mundo. Pelo menos é o que me disseram.
- Sim, mas aqui não é o seu tipo de igreja. - As sobrancelhas retas de Melly se estreitaram ainda mais, enquanto ela não fazia ideia do que a menina com um longo vestido branco e os cabelos puxados para trás queria dizer. Foi quando a impaciência a abateu e puxou Melanie para perto da janela onde vários homens e mulheres entravam, todos muito bem vestidos e sorridentes, mas não podia negar que algo lhe causou estranheza - Essa é a igreja dos negros.
- Igreja dos negros?
- Sim, tem uma igreja de gente branca lá pra frente. É onde a sua mamãe alemã deve estar.
- Minha mãe é daqui e ela é meio japonesa, na verdade.
- Tanto faz, seu lugar é com os outros brancos, não aqui.
- Eu não me importo com isso. Meu pai diz que cor não é importante, é só mais uma coisa que as pessoas usam para se distanciar. - Soprou ar quente na janela para poder desenhar uma carinha sorridente com x's no lugar dos olhos como Louis fazia pra ela.
- Seu pai é bobo.
- Não é não, ele sabe muita coisa e se quer saber mais eu tenho outro, eles se gostam muito e não ligam pro que os outros dizem sobre ser errado. Amar é sempre certo, no fundo nós somos todos iguais e eu devo ser boa e gentil com todas as pessoas que eu encontrar. O meu lugar não é a onde estão as outras pessoas brancas, o meu lugar é a onde eu decido estar. - Quando Melanie terminou de falar Sun estava latindo, como se sentisse orgulho de sua amiga - Obrigado, Sunshine, você é muito doce.
- Isso é estranho. - A garota diz, pela primeira vez não olhando para Melanie como se ela fosse a criatura mais idiota da face da terra - Mas seria legal se as pessoas pensassem como você.
- Talvez eu me torne padre e ensine isso aos outros.
- Mulheres não podem ser padres.
- As mulheres podem ser o que elas quiserem. É o que os meus pais dizem.
- Seus pais parecem ser legais.
- Eles são, a propósito, meu nome é Melanie Abigail Tomlinson, é um prazer te conhecer. - Ofereceu a mão para a menina que a apertou.
- Eu sou Jasmine Graham. - Ela sorriu pequeno, os olhos eram azuis e a pele cor de café e Melanie não podia deixar de lembrar da descrição de Louis sobre a sua irmãzinha, Abigail. Será que Abby era parecida com Jasmine? - Você sabe tocar isso?
- Sei. - Melly voltou a se sentar, pegando o violão - Eu vi você tocando.
- Sou péssima.
- Não, você só tem que treinar mais a marcação de notas. Vamos, tente marcar enquanto eu toco.
Jasmine concordou, sentando-se ao lado de Melanie, ela segurou o braço do violão marcando as primeiras notas ditas pela garota e por um instante Melly não sabia o que tocar, até voltar os olhos para as esferas amendoadas e brilhantes de Sun.
Ele era uma criatura tão doce.
Com esse pensamento fixo ela toca os primeiros acordes:
- Sweet creature, had another talk about where it's going wrong , but we're still young we don't know where we're going... But we know where we belong and oh we started, two hearts in one home, it's hard when we argue we're both stubborn i know, but oh sweet creature, sweet creature, wherever I go, you bring me home, sweet creature, sweet creature, when I run out of road, you bring me home... - Melanie arqueou as sobrancelhas para Jasmine indicando que ela devesse acompanhá-la durante os ooo's, o que ela fez muito bem por ter uma voz linda - Sweet creature we're running through the garden oh, where nothing bothered us... But we're still young i always think about you and how we don't speak enough and oh we started two hearts in one home i know, it's hard when we argue we're both stubborn i know, but oh sweet creature, sweet creature wherever i go, you bring me home, sweet creature, sweet creature... When i run out of road, you bring me home... - Melanie cantava sempre sendo acompanhada pela outra garota fazendo uma espécie de coro que funcionava muito bem e sem que ela se desse conta estava tocando violão até o fim da música - Parabéns, você foi muito bem. Tente praticar mais um pouco nesta parte e será tão boa quanto um profissional.
Foi quando ela sentiu um pressão leve e ligeira em seus lábios e então Jasmine se afastava, com os olhos vidrados e a mão tapando a boca. Aquilo tinha sido um beijo? Um beijo de verdade?
- D-Desculpa, eu não sei o que deu em mim, é só que eu fiquei tão encantada, você cantou tão bem e é a menina mais linda que eu já vi. - Ela se atrapalhava com as palavras, olhando para todos os cantos menos para os olhos da menina que só conseguia absorver uma única coisa.
- Você me acha linda?
- Uhum, muito. Você não está brava?
- Não... Eu estou bem feliz, na verdade. - Ela murmurou sentindo as bochechas queimarem e preferindo encarar o chão - Então... gostou da música?
Jasmine balançou a cabeça, sorrindo genuinamente e ela também era linda.
- Isso foi incrível! Foi você quem escreveu essa música?
- Sim, para o Sun.
- Escreveu uma música para o cão?
- Ele não é apenas um cão, ele é a minha casa. - Melanie lhe entregou o violão para poder abraçar seu companheiro que parecia cada vez mais cansado. Ela sabia que em breve seria hora de se despedir.
- Não entendi, como assim casa?
- Ele é o meu melhor amigo, meu porto seguro, com ele eu me sinto segura, feliz e amada. É onde o meu coração está, ou seja, a minha casa.
- Quantos anos você tem mesmo? - Então as duas riram, conversando um pouco mais até Scarlett chutar a porta e ter um vinco profundo entre as sobrancelhas.
- Quem é você e o que faz perto da minha irmã? - Perguntou com a voz raivosa, apertando os punhos minúsculos, mas Melanie sentiu na pele a estupidez que é se desfazer dela pelo tamanho.
- Está é Jasmine, ela é minha amiga. - Informou com um pouco de receio, contudo, a garota sorriu e até a abraçou de lado - Jasmine, essa é a minha irmã mais nova, Scarlett. - Scar apenas acenou fraco e a outra riu pela carinha emburrada que lhe era dirigida.
- Então, amiga da minha irmã, poderia nos dizer onde encontrar Zayn Malik?
- Zayn Malik? Esse nome não me é estranho. Hum... Oh, ele é casado com a senhorita Perrie, ela tem uma confeitaria no centro. Minha mãe sabe o endereço, o culto já vai começar, posso pegar com ela.
- Isso seria ótimo.
- Certo, esperem aqui, eu já volto. - Diz antes de se levantar e ir de volta para o salão. Scarlett suspirou, dando um peteleco na orelha de Sun antes de se sentar em uma cadeira, encarando Melly.
- Espero que isso não acabe mal.
- Eu também, eu também. - Melanie murmurou girando o pingente entre seus dedos.
Xx
Louis estava acordado há muito tempo. Na verdade seu sono nunca foi dos mais longos ou profundos, então sempre acordou antes que o sol raiasse, antigamente ele aproveitaria esse tempo para cavalgar, praticar sua mira ou beber algumas doses em frente a sua lareira, mas não podia fazer tais coisas com total liberdade e autonomia desde que tivera sua perna amputada e se recusado veemente a usar a prótese, que era uma grande porcaria pouco resistente que só havia lhe rendido tombos lendários que faziam as filhas rirem por horas. Sendo assim, se restringiu a cadeira de rodas, muito raramente usava as muletas, mas estas só quando tinha alguém para auxília-lo.
Scarlett tinha medo do escuro e toda vez que acordava no meio da noite e percebia que Harry havia apagado as luzes corria para o andar de baixo para se enfiar entre eles, por isso tinha criado o hábito de espera-la, enquanto ela roncava baixinho se remexendo mais que um peixe ele se distraia mexendo em seus cabelos, que segundo o que diziam era parecido com os seus. Ele gostava de tentar fazer cachinhos, iguais os que haviam nas pontas dos cabelos de Melanie, porém, nesta madrugada a ausência da filha foi muito sentida.
Ele esperou e esperou e ela não apareceu em momento algum. Não ouviu seus passinhos, tampouco a voz sussurrada perto de seu rosto enquanto ela tentava escalar os cobertores com uma mão por estar segurando algum ursinho. Talvez tivesse conseguido dormir uma noite inteira, isso seria bom, ou quem sabe ela não tinha mais medo do escuro. Isto também seria ótimo, mas uma coisa era certa, Louis estava entediado.
E quando ele estava entediado ficava inquieto. Deitou de barriga pra cima, batendo com o punho fechado no tule das cortinas do dossel, assobiou todas as músicas que conseguiu lembrar, tagarelou com ele mesmo, saiu da cama e sentou em sua cadeira de rodas conseguindo chegar ao banheiro e tomar um banho, não foi o melhor do mundo, mas satisfatório e pelo menos não se matou, então retornou para a cama. Fodido da vida pelo despertador ainda não ter tocado o que significava que ainda era muito cedo, e se não estivesse enganado hoje era um domingo e Harry dormia por horas a fio nos domingos.
Louis corria um sério risco de morrer de tédio se ninguém surgisse em seu auxílio.
A menos que... Ele encontrasse algo bom o bastante para entrete-lo, como por exemplo chegar seu corpo para perto de Harry que, como sempre, estava de costas para ele e totalmente pelado. Se isso não era um sinal divino, Louis não saber dizer o que era.
Dedilhou o quadril dele, com extrema delicadeza sentindo a pele macia na ponta de seus dedos, ele adorava cada centímetro daquele corpo delicioso. Que sempre, sempre e sempre seria o seu calcanhar de Aquiles. Acariciou as gordurinhas nas laterais de sua cintura que ele vivia reclamando, até chegar a curvatura mínima, roçando suas unhas por ali, deslizando-os até seu estômago sentindo a pele morna contra a palma de sua mão, por Harry sempre dormir com um dos braços rente ao peito alcançar seus mamilos era uma missão impossível por isso Louis optou por deixar que sua mão seguisse um caminho mais para baixo, apalpando a coxa grossa e musculosa, não resistindo em apertar com demasiada força, arrancando um grunhido dolorido do outro que se remexeu, acidentalmente fazendo com que seu pênis tocasse o dorso da mão de Louis, que se surpreendeu bastante ao sentir que o marido estava duro. Era meio estranho, já que Harry não era mais aquele garoto repleto de hormônios e tesão à flor da pele, ele tinha ficado bem mais relaxado nesse quesito. Louis sabia que a culpa não era dele, mesmo estando na casa dos quarenta continuava absurdamente lindo, então considerava o maior culpado pela mudança de Harry, em todos os departamentos, o estresse e preocupação constante.
Ele só tinha vinte e poucos anos e um casamento de quase dez anos com um homem que não podia ver ou andar, duas filhas que viviam em pé de guerra, uma casa, um hospital, uma empresa de perfumes, problemas não resolvidos com o pai e Zayn, saudades da mãe que morrera logo depois de seu acidente onde ele também perdeu um bebê. Era coisa demais, problemas constantes e ele nunca parava pra simplesmente chorar por isso.
Não lhe sobrava tempo para ser ele mesmo, mas Louis não se culpava mais por isso. Ele sabia que em algum momento Harry aprenderia a administrar a sua vida de adulto sem que precisasse virar uma máquina impessoal e sem sentimentos. Tinha certeza disso, mas até lá Louis se divertiria um pouco, então afastou a mão do membro do outro, afinal, lhe masturbar nunca foi uma opção. Passou os dentes superficialmente pelo ombro pálido de Harry para conter um ofego ao que agarrou sua bunda, escorregando os dedos entre ela e podendo sentir sua entrada na ponta dos dígitos. Se ele soubesse o quão gostoso o cacheado viria a ficar, jamais teria cogitado morrer, jamais.
Então, enquanto o acariciava intimamente passou a bombear seu próprio membro. Gemendo o mais baixo que podia, movendo a mão cada vez com mais agilidade e sentindo o pré-gozo escapando com abundância pela fenda e foi quando uma ideia o abateu e ele encaixou apenas a cabeça de seu pau entre as nádegas de Harry, nunca ousando se afundar nele, apenas desfrutando do calor que aquele corpo grande e macio emanava e continuou a masturbar o restante. Com sua mão livre massageava a barriga dele, as vezes fincando as unhas no quadris e soltando ruídos cada vez mais necessitados ao que sentia seu ápice se aproximar.
- Porra! Você é tão fodidamente gostoso, caralho... - Grunhiu beijando desde o ombro até a nuca de Harry, onde esfregou o nariz em seus cabelos reconhecendo o odor que emanava dele e sem querer movendo o quadril, o que naturalmente fez Harry acordar num átimo com a pequena invasão que sofrera e por reflexo bateu com o cotovelo no nariz de Louis que o empurrou.
Foi quando o despertador tocou. Anunciando o início do dia para o casal, onde Harry se encontrava nu e estatelado no chão e Louis encolhido na cama rolando de dor com um nariz ensanguentado.
Harry ainda em estado de choque, recolheu alguns lenços que viviam no criado mudo, tentando conter o sangramento mínimo de Louis.
- Qual é o seu problema? Virou lutador de boxe e não me disse nada? Que porra! Você quebrou o caralho do meu nariz, filho da puta. - Despejou o seu arsenal de palavrões, apertando os olhos ao sentir a ardência enquanto Harry tentava dar um jeito em sua própria bagunça.
- Não quebrou, só machucou um pouquinho. - Respondeu, dizendo para Louis continuar segurando o lenço e fazendo pressão. Logo notando a ereção entre as coxas de Tomlinson e entendendo tudo - Seu pervertido! Você estava se aproveitando de mim enquanto eu dormia.
- Pervertido uma ova, nós chegamos ao acordo de que tudo bem desde que não houvesse penetração, babaca.
- Ora, mas era justamente o que você estava tentando fazer quando me acordou.
- Eu não queria te foder, deixe de ser ridículo. - Louis disse ofendido, tentando jogar um travesseiro em Harry, mas este já tinha se levantado e ido para o banheiro escovar os dentes e tomar uma ducha para limpar a sujeira que Louis tinha feito em seu corpo.
Poucos minutos depois ele voltou usando jeans justos e procurando alguma camisa dentro das gavetas, já que hoje era um dos seus almejados dias de folga.
- Então o que pretendia? Pensei ter sido claro com você.
- Ah, sim, a sua greve idiota. Sabe, eu sou um homem, com necessidades.
- Que não me interessam contanto que não sejam realizadas na minha bunda. - Falou encontrando uma camisa social preta e ficando em frente ao espelho, resolveu colocar por cima um sobretudo com estampa de leopardo. Não era porque ele estava em casa que deveria ficar mal vestido.
- Eu quero que você e a sua bunda murcha vão para o inferno.
- Minha bunda é linda e você é apaixonado por ela.
- Sua bunda não existe se comparada a minha.
- Agora podemos falar sobre a Lady Bunda, Tomlinson?
- Um dia eu vou te asfixiar quando você estiver dormindo. - Louis ameaçou, abandonando o lenço quando se certificou que o sangramento havia cessado - Você andou fumando de novo.
- Eu não fumo. - Engoliu em seco, entrando no closet e tentando escolher um sapato para o dia de hoje.
- Fumou sim e foi bastante, até o seu cabelo estava fedendo.
- Bem, talvez eu tenha fumado um, mas a parte do cabelo foi pelo Mitch ficar soltando a fumaça em mim.
- O que eu disse sobre cigarros, Sr. Tomlinson?
- Mas você também fuma. - Harry voltou para o quarto, se sentando na poltrona enquanto calçava as botas.
- Eu cheirava cocaína treze vezes ao dia, o que não te dá o direito de usar isso como desculpa. Harryzinho, eu não quero você tendo esse tipo de vício nojento.
- Okay, eu vou tentar parar. - Apesar de estar fazendo uma promessa, colocou um novo maço no bolso do casaco antes de voltar para o espelho e arrumar os cabelos rebeldes - Está se sentindo bem?
- Está ficando cada vez mais difícil de respirar a noite. - Ele se arrastou até a borda da cama, tocando o pé no chão frio e passando a mão direita pela coxa até onde fora amputado, poucos centímetros acima do joelho, onde costumava ficar sua ferida incurável. Atualmente Louis era saudável, tirando as ocasionais dificuldades para respirar, resultado do dano no pulmão que sofrera em seu último tratamento, fora isso, tudo certo. Mas se ele gostava de ter apenas uma perna? An, não!
- Deveria falar com o seu médico.
- Ele não resolve nada, só passa mais remédios. - Passou a mão pelos cabelos, puxando-os para trás, que se encontravam longos o suficiente para sentir algumas mechas roçando em seus ombros.
- Se não gosta dele podemos encontrar outro.
- Não, chega de médicos, deixe-me morrer em paz, mas se quiser arranjar um santo milagreiro para me dar uma poção que te faça abrir as pernas seria ótimo.
- Louis...
- Que foi? Já fazem séculos! Você pode ser frígido, mas eu ainda tenho muita lenha pra queimar e se não for com você terei que recorrer ao meu antigo caderninho preto.
- Você não é nem louco.
- Sabe que sexo não é só pra fazer bebês, seu homem das cavernas? Eu tenho saudade dos velhos tempos.
- Você não faz nada porque não quer. - Harry rebateu com a voz transbordando de ironia.
- Eu até faria, mas preciso de ajuda para encontrar o caminho. - Tomlinson retrucou com seu humor ácido.
- Precisa de um mapa? Pensei que tivesse decorado.
- Sim, sim, eu tinha, daí você cresceu e tudo mudou de direção, eu fico perdido.
Ele riu e o maior revirou os olhos aborrecido.
- Eu não tenho tempo pra isso. - Harry suspira, passando por Louis que agilmente o enlaça em seus braços e o puxa pela cintura, o fazendo cair seu colo - Me solta.
- Não, agora que eu te peguei, só vou soltar quando esse rostinho lindo estiver coberto de gozo e você gemendo o meu nome. - Sorri, mordendo o queixo de Harry que tenta escapar de seu aperto, inutilmente, não importa o quanto ele cresça Louis sempre será o mais forte.
- Não tenho tempo pra isso agora.
- Você nunca tem tempo pra nada. Muito menos pra mim. - Fez bico, mas acabou soltando Harry e se jogando de volta na cama, fechando os olhos e sentindo que tinha começado o dia maravilhosamente bem.
Até ouvir um grito. Seguido de outro e mais outro, ou Sun tinha feito cocô nos sapatos de Harry de novo ou algo realmente ruim tinha acontecido. Puxou seu roupão e as muletas, resolvendo se arriscar a andar até às escadas de onde pôde ouvir uma conversa entre o esposo e Liam.
- Não, pensei que elas estivessem dormindo. - Payne dizia.
- Elas não estão no quarto, nem em lugar nenhum, Sun também sumiu. - Harry respondeu, audivelmente desesperado - Chame o Mitch e quero que procurem em cada canto desse lugar, chamem os outros guardas e vasculhem também o bosque.
- Sim, farei isso imediatamente.
Em momentos de tensão como esse Louis odiava não poder ver o que acontecia, mas logo Harry estava se dirigindo a ele.
- Louis, eu não sei o que aconteceu. Eu coloquei as duas para dormir ontem e hoje desapareceram. Meu deus e se alguma coisa aconteceu? E s-se o Anthony voltou pra se vingar, ele as pegou. - A voz dele estava ficando mais alta e apavorada o que servia como indício quando ele começava a ficar histérico. Pelo cessar de passos, Louis suspeitava que ele tivesse sentado em um dos degraus e então caminhou até Harry.
- Anthony Murdoch morreu há seis anos, amor.
- Então foi o Zayn, sim, foi ele. Ele fez isso para exigir um resgate depois. - Agora Louis arriscaria o palpite que Harry estaria agarrando os cabelos e puxando-os de uma maneira muito doloroso.
- Malik não tem inteligência para isso e conhecendo Scarlett Tomlinson como eu conheço ninguém a pegaria a força antes de levar no mínimo três mordidas e um chute no saco. É impossível que alguém as tenha raptado.
Ele não pretendia dizer aquilo em voz alta, mas não era de hoje que suspeitava de uma possível fuga, mas sempre da parte de Melanie, não fazia muito sentido que Scar tivesse ido junto. A não ser que um gesto de irmandade tenha acontecido.
- Então elas foram embora porque quiseram? Eu sou um pai tão ruim que preferiram fugir do que ficar comigo? - Era meio difícil de entende-lo em meio aos soluços, porém, isso era definitivamente um Harry histérico.
- Bebê...
- Oh, meu deus, o que eu fiz?! Eu estraguei tudo! Os meus bebês estão sozinhos por aí, com fome, com frio e se alguém machuca-las? Não, não, não... - Louis jogou suas muletas se sentando ao lado de Harry e encontrando ambas as mãos do marido sobre o coração, o mesmo coração doente e sensível a situações extremas como está.
- Hey, Hazza, respira...
- Não dá. - Chorou se encolhendo ainda mais em sua bolha de pavor.
- Claro que dá, você só está assustado, mas precisa se acalmar.
- Se algo acontecer...
- Não vai acontecer, elas são espertas, jamais sairiam daqui sem um plano. - Tomlinson o puxou para o peito, abraçando-o com força, pelos anos de prática sabia que quanto mais segurança passasse melhor seria para Harry voltar ao normal - Respira, amor. - Esfregou suas costas, beijando os cabelos dele até que os espasmos e soluços foram diminuindo.
Minutos depois Harry foi capaz de falar novamente.
- O que fazemos agora?
- Vamos buscar nossas filhas.
Xx
Perrie Malik era uma ótima mulher, muito simpática e bonita que andava de um lado para o outro balançando seus cabelos loiros e sorrindo largo para as duas que estavam sentadas em seu sofá de camurça em frente ao garoto falastrão e rochonchudo que tinha comido quase o bolo inteiro. Melanie sabia que aquele menino, Gregory, era seu meio-irmão, ele não era muito educado e errava muitas palavras, então não entendia o que ele tinha de melhor que ela.
- Não sabia que a tia de Zayn estava na cidade, muito menos que ela tivesse duas filhas tão lindas. - Perrie as elogiava pela milésima vez, trazendo uma nova travessa de bolo.
- Pois é. - Scarlett sorriu, achando hilário que um adulto tivesse caído em uma de suas mentiras - Ele vai demorar muito?
- Não, ele trabalha a noite. O bar deve estar fechando a esta hora. - Depois de mais um sorriso voltou para a cozinha, deixando-nas com Gregory que não tardou em enfiar um pedaço generoso do doce na boca.
- Tão gostoso. - Cantarolou de boca cheia.
- Então, Greg, você tem algum talento? - Melanie começou como quem não quer nada.
- Como assim?
- No que você é bom?
- Sei lá.
- Suas notas são boas?
- Dão pra passar.
- Sabe tocar algum instrumento? Aptidão para artes? Esporte?
- Não para todas, prefiro ficar em casa vendo TV.
- E pelo que posso ver você não é muito bonito. - Comentou o olhando de cima a baixo, com os lábios torcidos em desgosto.
- Melanie, o que está fazendo? Desde quando você é grosseira? - Scarlett a cutucou.
- Só estou tentando entender.
- Entender o quê?
- O que ele tem de melhor do que eu.
- Hum, eu gostei do seu colar. - O garoto apontou para o pingente que dependurava para fora da gola de seu vestido - Minha mãe tem um igual. Oh, mãe, vem aqui.
- O que foi, querido?
- Ela tem um colar igual o seu, olha. - Perrie se aproximou, de primeira sorrindo, mas ao tocar no pingente e dar uma boa olhada nos rostos a sua frente algo se acendeu em sua mente e ela recuou.
- Que coincidência, eu vou pegar mais alguns doces para vocês, crianças.
Scarlett estava atenta, ficando cada vez mais desconfortável com a forma que Melanie tratava o menino, o diminuindo o tempo inteiro apenas por despeito. Tá que ele era um mala, mas não era culpa dele que Zayn a tivesse abandonado e ela teria dito isso se não tivesse visto Perrie falando no telefone e olhando estranho na direção delas. Algo estava errado.
- Precisamos ir.
- Porquê? - Melanie cochichou, não tendo tempo de ouvir uma resposta antes que a Sra. Malik estivesse de volta com uma nova bandeja, lhes oferecendo mais doces. Scarlett já tinha voltado a ficar de pé e ela resolveu seguir os instintos da menor - Desculpe, mas precisamos ir agora.
- É, nós combinamos de encontrar a mamãe na igreja. Só queríamos dar um oi mesmo, voltamos outra hora, sabe... Com ela. - Sorriu de forma adorável, sabendo que a mentira já havia caído por terra e o melhor seria correr, ela segurou a mão de Melanie que apesar de bem maior, era totalmente frágil e quase desmaiou quando Perrie subitamente largou a bandeja de prata no chão, causando um som estridente. Greg a questionou e ela o mandou ir para o quarto, assim que ele se foi, empurrou Scarlett para poder puxar Melly para perto - Tire suas mãos da minha irmã.
- Calada, fedelha. - Rosnou, segurando o rosto da mais velha, apertando seu queixo enquanto examinava com atenção cada detalhe de seu rosto - Não acredito nisso, então as minhas suspeitas sempre estiveram certas... Aquela vadia do Styles realmente fez isso. Desgraçado. - Conforme falava, suas unhas cavavam as bochechas da menina, que tentou se afastar.
- Para, você está me machucando.
- Estou te machucando? - Perrie gritou, extravasando sua raiva contra a menina que não era acostumada a esse tipo de reação e foi ficando cada vez mais apavorada - Você não deveria nem ter nascido, sua aberração!
- Não chame ela assim. - Scarlett vociferou, bem menos frágil do que Melanie, empurrando a mulher.
- Não toque em mim, anormal! - Tornou a empurrar a menina que caiu sentada no chão, batendo com as costas na mesinha - Vocês vão ter o que merecem. - Ameaçou, levantando a mão.
- Não! - Melanie gritou, antes de tudo ficar escuro.
Scarlett estava gritando, parecia um som distante, mas Melanie sabia que precisava alcança-la. Precisava chegar até a sua irmã caçula e descobrir o porquê dela estar gritando. Ela esfregou os olhos, encontrando puro breu, onde estavam não haviam janelas, nem portas. Era uma espécie de porão, abandonado, com alguns buracos no alto da parede por onde o ar entrava. Parafernálias inúteis espalhadas por todo canto que a fazia tropeçar a cada passo dado, mas mesmo que a sua cabeça latejasse ela precisava encontrar Scarlett.
Foi quando um novo tropeço se deu e por sorte não era em mais um caixote e sim o corpo encolhido, praticamente minúsculo da menina de cabelos castanhos que chorava de soluçar.
- O que houve?
- P-pegaram a gente. Um h-homem apareceu na casa e nos trouxe pra cá, ele disse q-que nós seríamos julgadas pelos nossos pecados. - Conseguiu dizer antes de voltar a se degulhar em lágrimas - Eu sabia, eu vi ela no telefone. Eles matam gente como nós.
Melanie concordou, sem saber o que dizer, sentou-se ao lado da outra.
- Ela bateu em mim? - Scarlett anuiu e um longo silêncio se instaurou - Desculpe... Desculpe por ter te arrastado pra isso. Eu não queria que acabasse desse jeito, eu só estava... Só não queria continuar sendo a sua sombra, queria saber o que há de errado comigo.
Scarlett levantou o rosto vermelho, seus cabelos estavam armados e lágrimas gordas rolavam por sua bochecha. Melly se atreveu a seca-las com um lencinho que tinha mantido no bolso, o que a fez sorrir breve.
- Não tem nada de errado com você.
- É claro que tem, o papai não me suporta e esse tal de Zayn, ele não me quis. Nunca. Eu tenho que ter algo de errado, que possa explicar isso.
- O problema não pode ser o Zayn? Ele é só mais um idiota, igual a esposa dele. A culpa não é sua e quer saber? Não importa, ele nunca fez falta e nunca vai fazer! Você já tem dois pais, uma irmã, mãe, tias e tios e primos, você tem tanto, porque vir atrás dele?
- Porque... - Ela começou, mas logo parou para respirar fundo - , eu sinto como se tivesse faltando. Eu não sei o que é, essa sensação não vai embora.
- Eu sinto isso também. - Scarlett murmurou, com a voz um pouco mais firme - Por causa do Billie. Eu penso nele, sabe, penso como seria se ele estivesse aqui, se...se iria gostar de mim. Sei lá, é tão estranho, nós estivemos juntos por tanto tempo e de repente ele morreu e eu nasci e é como se eu estivesse incompleta, como se precisasse dele pra ficar inteira. E uma parte de mim insiste em dizer que você preferiria que ele tivesse sobrevivido e não eu. - Confessou a última parte baixinho.
- De onde tirou isso?
- Você não gosta de mim.
- Porque você não gosta de mim.
- Alô, eu vim atrás de você, arriscando o meu pescoço e você ainda acha que eu não gosto de você, Melanie Abigail, você é tão lesada.
- É por isso eu não gosto de você, garota maldosa. - Melanie retrucou, dando uma risadinha que fora acompanhada por Scar.
- Estou com medo. Você a-acha que nós vamos morrer?
Melanie varreu os olhos pelo lugar e aparentemente não havia escapatória, mas ela precisava tentar. Então começou a procurar por uma saída, procurou, procurou e procurou. Não achando nada e teve de voltar para perto de Scarlett que não parecia mais tão destemida o que a fez lembrar do pavor da garota pelo escuro.
- Eu não quero morrer. - Choramingou se jogando contra Melanie, escondendo o rosto em seu pescoço.
- Não vai, eu estou aqui. Vou cuidar de você, não confia na sua irmã mais velha? - Ela a abraçou apertado e começou a rezar baixinho, pedindo por um milagre.
Um milagre que veio em forma de um buraco debaixo da escada de onde uma cabeleira vermelha saiu.
- Hey, meninas, é melhor virem por aqui se não quiserem uma corda no pescoço. - Era o garoto com sotaque engraçado e sorrindente com quem Melanie havia feito amizade no trem.
- Ah, meu deus, como nos achou?
- Estamos salvas! - Scarlett a soltou para correr até o menino, Melly foi logo atrás, o deixando ajudá-la a passar pelo buraco subterrâneo que os levou para o lado de fora de um prédio grande e acizentado. Ele as incentivou a seguir atrás dele, saindo dos domínios daquela espécie de presídio, apenas quando haviam alcançado uma distância segura e podiam avistar lojas e carros passando eles ousaram parar - Obrigada, você nos salvou. - Scarlett o abraçou pela cintura, muito mais afetiva que o normal.
- Não precisa agradecer, sabia que iriam se encrencar quando saíram daquele trem, por isso as segui. - Ele declarou, ajeitando a bandana em sua testa e sorrindo torto - Desculpe, eu fiquei preocupado. Espero que não tenham ficado chateadas.
- Se não fosse por você estaríamos mortas. Muito obrigada. - Melly também o abraçou, sentindo as bochechas quentes do menino contra seu rosto e ao se separar constatou que ele estava muito vermelho - Você tem para onde ir?
- An, eu só ando por aí.
- Tem uma casa, em Gloucestershire, é logo na entrada da cidade. Ela é gigante e amarela, não tem erro. Vá até lá e diga que Melanie Tomlinson quem o mandou. Se chama St. Lydia.
- E que tipo de lugar é esse?
- Pode ser seu lar, se quiser. Eles irão cuidar muito bem de você... - Foi quando ela se deu conta de que não sabia o nome dele.
- Benjamin, mas eles me chamam de Ben. - Ele sorriu e ambas tinham certeza de já terem visto aquele sorriso em algum lugar. Depois de Scarlett lhe dar algumas libras para a viagem e se despedirem, Ben partiu e eram apenas as duas soltas em Holmes Chapel, mais uma vez.
- Hora de voltar pra casa. Nossos pais já devem ter acordado e estão loucos atrás de nós. - Diz Scarlett, ajeitando os cabelos, ansiosa para dar o fora daquela cidade estranha.
- Não, eu vou até a casa de Zayn Malik.
Ela sentiu seu pescoço estralar quando virou para encarar Melanie que a olhava séria.
- Fazer o quê?
- Preciso falar com ele.
- Deixa de ser idiota. Isso não vai servir pra nada, vamos embora e esquecer disso.
- Eu não posso, Scarlett! Preciso fazer isso, pelo menos uma vez na vida eu tenho que olhar pra ele e dizer...
- Dizer o quê? Que você é uma ingrata e egoísta? Que está dando as costas para as pessoas que te amam de verdade por conta de um capricho? Ele não se importa com você, Melanie. Nunca se importou e não vai mudar nada falar ou não com ele.
Sabia que a irmã tinha total razão, mas era algo que ela simplesmente sabia que precisava fazer. Seus dedos se apertaram com força na carta em seu bolso e suspirou:
- Eu vou!
- Certo. Se você quer isso, tudo bem. Mas eu cansei, isso não é problema meu, vou voltar para a minha casa onde os meus pais estão. - Scarlett bufou, sentindo o coração apertado enquanto dava as costas para Melly e se afastava rapidamente.
Scarlett sabia que tinha visto um ponto de táxi em algum lugar, por isso continuava caminhando em direção contrária da onde havia deixado Melanie. Aquilo não era problema seu e ela não estava interessada em continuar arriscando seu pescoço por um capricho idiota, então iria voltar para casa junto dos seus pais, já que ela não tinha problemas de abandono ou coisas do tipo.
Ela foi o mais legal que pôde, mas tudo tem limites.
Então avistou o ponto do outro lado da rua, por uma boa quantia eles a levariam de volta para Londres num piscar de olhos. Parou na calçada, esperando os carros pararem para que pudesse atravessar, contudo a demora a fez se distrair e foi quando ela dobrou o pescoço, notando o cemitério de Holmes Chapel que se estendia as suas costas. Os carros pararam para que os pedestres passassem, mas Scarlett já estava caminhando em direção ao cemitério, passando pelo portão e olhando atentamente para as lápides, a procura de uma em especial, era um nome pouco familiar para ela, mas o reconheceu de primeiro.
Styles.
Então lá estava a lápide de sua avó Anne. Ela se ajoelhou, admirando a fotinha acima de seu nome. Gostaria de ter podido conhecer suas avós e tias, porém elas partiram antes que ela viesse ao mundo, ainda assim seus pais se importaram em fazer uma junção dos nomes de suas mães para nomear Scarlett Joanne. Isso a fazia se sentir um pouco próxima de Anne, ela sabia como o pai amava a mãe e Scar também a amava muito.
Por isso resolveu enterrar sua pulseira ali, para que Anne tivesse algo para se lembrar dela. No instante em que desprendeu a jóia de ouro a mesma foi arrancada de seus dedos por um garoto bem maior, um adolescente que ria enquanto balançava a pulseira no ar.
- Olha o que eu achei, Steve. - Gritou para mais outros dois garotos que reviraram os túmulos alheios, chutando os vasos e jogando terra em cima dos nomes.
- Aí sim, Josh.
- Isso é meu! - Scarlett se colocou de pé, tentando pegar a pulseira, mas não conseguia alcançar.
- Dá o fora, nanica. - Ele disse, esmagando as flores no túmulo de sua avó e a empurrando para fora do seu caminho, indo até os amigos e lhe dando as costas. O sangue quente que herdara de Louis não era exatamente uma virtude, muito menos quando ela resolvia tacar uma pedra nas costas de alguém com o dobro do seu tamanho e com companhia.
- Me devolve, idiota! - Berrou furiosa, todavia essa fúria tornou-se pavor, quando os garotos se viraram para ela muito, muito irritados. Scarlett começou a correr de imediato, mas não demorou até que o tal Josh a agarrasse pela cintura e a jogasse nos ombros rindo enquanto ela gritava e se debatia.
- O que fazemos com a nanica abusada aqui?
- Podemos jogar no rio e brincar de afunda ou não-afunda?
- Gostei, vamos.
Por um momento a menina chegou a acreditar que estava muito ferrada, se ao menos ela tivesse o seu arco e flecha aqui, as coisas poderiam ser muito diferentes. Porém, o garoto que a segurava caiu, ela rolou no chão junto com ele, conseguindo se levantar a tempo de encontrar um velho corpulento, usando uma farda militar e empunhando uma bengala como se fosse uma espada.
- Que porra é essa, seu velho...! - Um deles rosnava até que o homem o acertou bem no nariz com a bengala.
- Dêem o fora daqui, seus vagabundos! Xó! - Dizia, batendo com sua bengala neles, os rapazes tentavam escapar, no entanto ele era extremamente preciso e rápido - Parem de atazanar os mortos.
- Você vai pagar por isso, seu merda. - Eles gritaram antes de sair correndo, mancando pelas pancadas. Scarlett ria de suas desgraças, parando assim que sentiu os olhos do homem sobre ela.
- Oi? - Arriscou um sorriso.
- Como...? Você é idêntica. - O senhor deixou que sua bengala caísse e os olhos a miraram vidrados - Melanie?
- Melanie? - Indagou confusa, da onde aquele homem conhecia sua irmã? - Eu sou Scarlett, ela é a minha irmã mais velha.
- Irmã? São duas?
- Sim, senhor. - Afirmou, correndo para ele assim que o mesmo caiu de joelhos com a mão no peito. Scarlett o segurou pelos ombros - O senhor está se sentindo mal? Eu não sou médica, mas o meu pai é. Sei um pouquinho de primeiros socorros.
- Eu não acredito nisso. Não acredito.
- Tudo bem, eu estou aqui. Vou cuidar do senhor.
- Desmond, o meu nome é Desmond. - Diz com a voz trêmula, pegando a pulseira que o garoto havia roubado de Scarlett e lhe entregando - É sua.
- Não, era pra vovó. Queria que ela tivesse uma lembrança minha.
- Ela teria gostado de te conhecer. Era uma mulher muito amável e doce, ela teria te mimado. - Pela forma que ele olhava para o túmulo e os olhos brilhavam, aquele era o seu avô.
Antes que ele começasse a chorar ela o abraçou apertado e o surpreendendo.
- O que...?
- Tudo bem, vovô. Tudo bem. - Dizia, deixando um beijinho em seu rosto até avistar seu pai do outro lado do cemitério - Papai! - Gritou e Harry correu em sua direção, ela fez o mesmo para poder pular em seus braços e o abraçar cheia de saudades - Você me achou papai!
- Claro que sim, meu amor, você me assustou tanto. - Harry a apertou com força até que ela reclamasse. Louis tinha sido um gênio com seu palpite certeiro sobre elas terem ido para Holmes Chapel.
- Harry. - Uma voz rouca e envergonhada chamou por seu nome. Os olhos verdes se arregalaram ao ter o pai diante de si, depois de tudo.
- Oh, eu achei o vovô também. Ele me salvou de uns garotos maus que queriam me jogar no rio, imagina só, eu nem sei nadar. - Scarlett tagarelava alheia ao choque que pai e filho enfrentavam ao se encontrarem após quase uma década.
- Você salvou a minha filha? - Foi a primeira coisa que Harry perguntou, as palavras pareciam faltar neste momento. O momento que ele tinha fantasiado milhares de vezes ao longo dos anos, em todos ele jogaria na cara do pai como tinha se virado muito bem sem ele, mas já haviam se passado muitos anos e sua mãe não estava mais aqui. Ele sentia saudades, apenas isso.
Desmond engoliu o bolo em sua garganta, antes de se levantar e recolher sua bengala, os anos haviam levado sua vitalidade e severidade, assim como havia trazido o arrependimento pelas atitudes do passado que o levaram a se tornar sozinho e distante de seus filhos e netos.
Ele esperava desprezo e ódio da parte de ambos, mas quando Scarlett voltou para o chão ela correu para abraçar suas pernas.
- É tão legal ter um vovô! Papai, o vovô pode nos visitar?
Harry deu alguns passos vacilantes, com a respiração pesada.
- Se ele quiser, Scar.
- Você não me odeia? - Desmond sussurrou para o filho.
- Nunca. - Garantiu, deixando que as lágrimas rolassem por seu rosto - Tudo o que eu quero é que você faça parte das nossas vidas.
Eles baixaram os olhos para a garota de olhos brilhantes e sorriso genuíno que oferecia sua pulseirinha para o avô. Ele a pegou sem conseguir mais segurar o choro, pegando a menina no colo e puxando Harry, abraçando os dois.
- Será uma honra.
Sorriu verdadeiramente, sabendo que Harry havia se tornado um grande homem, como Louis, ou até maior.
Xx
Melanie estava balançando os pés no ar, com as costas coladas no banco de madeira há um bom tempo. Sem coragem de andar mais uma quadra e encontrar a casa de seu "pai". Ela queria ir até lá e dizer algo, mas toda a coragem e disposição inicial tinha se dissipado e ela só conseguia olhar os carros passando, enquanto ocasionalmente cutucava o pingente em seu pescoço, até perceber que alguém bem familiar se sentara na outra ponta.
- Vejo que encontrou o seu presente. - Harry falou ao perceber o colar que lhe fora jogado com tanta delicadeza por Zayn. Ele não queria aquilo no pescoço de Melanie e se arrependia de não ter jogado aquela merda no lixo ou ter feito Zayn engolir, a última opção era muito tentadora.
Ela não respondeu, escolheu o silêncio ao invés de palavras. Este que se arrastou por mais alguns minutos até ser rompido pela mesma voz lenta:
- Hoje de manhã, quando eu fui até o quarto de vocês não as encontrei. - Harry disse primeiro, girando um dos anéis em seus dedos, se sentindo estranhamente tímido ao lado de Melly. Ele não sabia porque, mas perto dela ele sempre acabava vulnerável, como se não fosse ele o pai ali - Na hora eu pensei que... Q-que alguém tivesse as levado, no entanto, o seu pai me fez perceber que era mais provável que vocês tivessem saído por conta própria. Então eu encontrei a sua irmã e ela me disse que veio atrás de você, porque você é quem estava fugindo.
- Ela não mentiu. - Respondeu com a voz distante, preferindo continuar a olhar a pra frente.
Harry olhou para a filha, mesmo que a distância entre eles fosse de poucos centímetros pareceram anos luz porque ele simplesmente não conseguia alcança-la. Não como o pai rabugento e protetor, mas como o verdadeiro Harry ele poderia ter uma chance.
- Quando eu tinha a sua idade eu chorava todos os dias em que acordava, ver o sol nascer e ouvir o canto dos passarinhos me causava mais tristeza do que perder um ente querido, porque aquilo significava que teria de viver mais um dia. Só que eu não queria isso. Durante os três primeiros anos da minha vida o meu pai esteve fora, lutando na Segunda Guerra e quando ele voltou estava muito cansado, exausto de verdade e por isso minha mãe instruiu a mim e a sua tia Gemma que deveríamos ser bons e garantir que o papai ficasse sempre feliz. Afinal, ele era um herói e nos salvou. Era o mínimo que nós podíamos fazer, mas a Gem não conseguia fazer isso o tempo todo, os nossos pais eram incríveis, porém distantes, eles só se preocupavam com o exterior. Nunca perguntavam como nos sentíamos, se estava tudo bem, se tínhamos feito um colega novo na escola ou se... Bem, como ela era a rebelde indômita eu precisei me tornar o garotinho perfeito, porque queria que eles fossem felizes e sentissem orgulho de mim, mas tem vezes em que você só quer um abraço ou um "eu te amo" no lugar de "o que esse F faz no seu boletim". Eles queriam que eu fosse perfeito e eu queria ser, só que com o passar do tempo percebi que tinha o defeito que eles mais repudiavam e isso começou a me matar por dentro. Doía ouvir na mesa de jantar que achavam que pessoas como eu iriam queimar no inferno e que se eu fosse um deles teriam a compaixão de meter uma bala na minha cabeça. Então só me restou viver uma farsa e essa farsa acabou corroendo o Harry de verdade. Eu queria morrer porque me sentia sozinho, abandonado e sabia que ninguém podia me alcançar no fundo do poço, então quando conheci o Zayn, o achei divertido. A farsa funcionava pra ele ainda, eu sabia que nós nunca nos casariamos e viveríamos um feliz para sempre, mas gostava de me iludir com ele, fiz dele o meu refúgio e absolutamente tudo o que ele me pediu eu dei sem pestanejar, pensando que era amor quando não passava de desespero. A ânsia de ser amado, aceito, mesmo que no fundo soubesse que estava apenas sendo usado. Eu me entreguei de bandeja e me atrevi a ficar chocado quando soube que teria um bebê, quando soube que você existia. - Pela primeira vez a expressão centrada de Melanie vacilou, revelando que ele estava no caminho certo.
- Eu achei isso. - Disse bem baixinho, deslizando pelo banco a carta que tinha guardado com cuidado durante toda a sua aventura - Eu sei o que você pretendia.
Harry não precisava lê-la. Se lembrava bem do que havia escrito enquanto estava naquela estação, tremendo de frio e medo, batendo os dentes ao rabiscar uma carta que nunca teve a coragem de enviar.
- Eu não queria você. Queria poder abortar, mas isso me entregaria e por mais deprimido que eu fosse, não queria ser assassinado, então resolvi fugir para Londres onde eu iria te dar pra adoção e voltaria livre para a minha vida anterior.
- Eu te atrapalhei.
- Não. Você me salvou. Porque se eu tivesse voltado, teria encontrado Zayn casado com outra e um antigo amante casado com a minha irmã... Eu teria morrido, sim, definitivamente teria me jogado do prédio da escola ou cortado os pulsos dentro de uma banheira. As possibilidades eram inúmeras, mas o meu fim seria esse. - Ele se interrompeu, tempo suficiente para que ela estranhasse e o encarasse preocupada - Só agora eu me toquei...
- De quê?
- Não fui eu, não foi o Louis, nem a sua maldita perna. - Harry riu e Melly teve certeza que o pai havia enlouquecido.
- Do que está falando?
- Foi você, sempre foi você. - Sorriu, sem se importar com as lágrimas que manchavam seu rosto - Eu nunca dei valor suficiente pra você, eu não fui o pai que devia e todos estes anos eu tenho deixado que você fizesse isso, que me salvasse como uma princesinha em apuros. Vou te contar um história, uma história sobre uma garota que fez muita diferença na vida de tanta gente... Seu nome era Melanie, mas antes mesmo que tivesse um nome ela fez com que o idiota que foi abençoado em carrega-la fugisse para Londres, onde conheceríamos um homem amargurado e tão triste que espantava qualquer um. Ele era realmente perigoso e teria matado o garoto idiota se não fosse pela pequena Melly, ela salvou o pai naquele dia e pouquíssimo tempo depois seria o que impediria aquele homem ranzinza de se matar. Aquele bebezinho, involuntariamente criou um elo entre os dois, que viria a ser amor, mas antes disso eles foram rejeitados por um garoto ainda mais idiota que achou que ela não valia a pena. Coitado! Aquele bebê era mágico e ajudou todos a sua volta, porque se a pequena Melly não tivesse conquistado o coração do homem ranzinza ele não teria ido aquele baile e conhecido o rapaz irlandês que aconselhado por ele roubou a irmã do garoto idiota usando um cavalo ridículo. Se não fosse por aquele bebê mágico, uma gentil cozinheira nunca teria realizado o seu sonho de se casar, ou uma resmungona teria ficado mansa como um gatinho e até dado um beijinho no idiota, até atraído de volta um falastrão charmoso que pôde se aproximar do seu antigo amor. Se aquele bebezinho não existisse nada teria acontecido, não teria havido história porque todos os personagens teriam se perdido. Melanie você salvou tantas pessoas, eu acho que errei na escolha do seu nome, você é quem deveria ser Sun, porque você foi e é o sol que nos iluminou e nos manteve aquecidos.
Quando ele terminou de falar, os olhos dela estavam menores ainda por conta das lágrimas e ainda assim ela sorria com covinhas e língua entre os dentes porque a semelhança entre ela e Malik não parecia mais tão importante.
- Essa foi a melhor historinha que você já me contou.
Ele também sorriu largo, mostrando também suas covinhas e deslizou a mão pelo banco esperando que ela a tocasse.
- Eu não quero ser uma ingrata, nem egoísta, mas eu sinto que...
- Que tem um capítulo em aberto.
- É. Eu queria saber porque ele me abandonou, o que tem de errado em mim pra que eu possa concertar e impedir que vocês também vão embora.
- Você teme ser abandonada?
- Uhum.
- Eu também, eu tenho medo que você perceba que é boa demais pra mim e vá embora.
- Não. - Diz rapidamente e coloca a sua mão sobre a dele - Eu te amo, eu te amo muito. Pra sempre.
Ele abaixa os olhos para suas mãos, virando a palma para poder segurar a dela e enfim puxa-la para o seu colo. Tinha se esquecido de como era bom abraça-la, Melanie podia ser gigante perto das demais crianças, mas em seus braços ela continuava o mesmo bebê que adorava cuidar dos pássaros doentes. Harry, sem perceber, era esse pássaro doente que foi curado pelas mãos amorosas de Melly.
- Eu te amo e é por isso que eu vou estar com você quando fechar esse capítulo.
- Mesmo? - Concordou, encostando seu nariz no dela e sorrindo porque enfim se sentia ele mesmo - Mas antes... - Ergueu os olhos lacrimejantes encontrando o verde - , me conta a sua história com Zayn.
Xx
O coração da garota batia acelerado e ela estava nervosa como nunca enquanto subia os degraus da varanda, até estar diante da porta dos Malik, de onde tinha a fresca recordação de ter se dado muito mal. Mas algo a impedia de simplesmente dar as costas e voltar para a sua família. Havia aquela sensação que subia por sua garganta, algo estava inacabado. O momento de acabar com isto era agora.
Até agora não sabia o que dizer quando visse Zayn, no entanto, depois de ouvir toda a história de Harry, as palavras haviam encontrado seu rumo em sua mente e não houve hesitação quando pressionou a campainha, torcendo internamente para que Perrie não atendesse. Foi quando a porta foi aberta e por sorte não era a moça loira, mas um homem de cabelos escuros, olhos âmbar e assustadoramente parecido com ela, ou seria ao contrário. Não importa, o que importa é que a prova de seu laço sanguíneo está mais do que exposto. Não era à toa que Perrie a descobriu apenas com um olhar mais apurado.
- O que você quer? - Perguntou, rude, enquanto passava a mão pela barba escura. Melanie ousou encara-lo por mais tempo do que considerava educado, mas ela precisava disso. Precisava olhar de verdade para aquele homem pelo menos uma vez.
Ele usava roupas sociais, desalinhadas e grandes demais para o seu corpo magro, os olhos estavam fundos e ele aparentava estar exausto. Ela não pretendia amola-lo mais do que o necessário.
- Eu me chamo Melanie, Melanie Tomlinson. - Se apresentou, um tanto ansiosa, apertando as mãos em frente ao corpo.
- Tomlinson? Esse nome me é familiar.
- Você o conheceu no baile dos militares em 58.
A memória do homem pareceu se clarear com isso e ele riu divertido, cruzando os braços e escorando o corpo na soleira da porta.
- Claro, o cego. - Comentou com escárnio, baixando os olhos para a menina - E o que a cria daquele merda faz aqui?
Melanie revirou os olhos, Malik tinha falado pouco, mas fora o suficiente para saber que não tinha perdido nada em não tê-lo como pai. Algumas pessoas simplesmente não servem pra isso e este parece ser o seu caso.
- Bem... Ele é o meu pai "adotivo", na verdade eu sou filha de Harry Styles com...
A forma repentina e até sinistra com que o rosto de Zayn perdeu a cor e os olhos miúdos, tão semelhantes aos seus, dobraram de tamanho a fez arquear as sobrancelhas.
- Não pode ser! Eu não acredito que aquele porra fez isso. - Gritou, dando um soco com o punho fechado na porta que fez a menina saltar. Os dentes do moreno massacraram seu lábio inferior antes que ele voltasse a se dirigir a ela: - Agora eu vejo, você não puxou nada dele. É a minha imagem cagada e cuspida. Bem feito, aquele idiota vai se lembrar de mim toda vez que te olhar, a menos que... Não inventou de fugir pra morar comigo, não é?
Não seja ridículo, ela quis dizer, mas ao invés disso comprimiu os lábios e apertou os dedos para não fazer uso de seus conhecimentos em karatê. Como ele se atrevia a falar dos seus dois papais daquele jeito?
- Não, na verdade eu vim aqui te agradecer.
Um vinco se formou entre suas sobrancelhas e algumas vozes se fizeram presentes do lado de dentro da casa, eram Perrie e o filho resmungando de Malik, coisas como "Inútil, incompetente, não tem a capacidade nem de me dar uma casa melhor" "É culpa do papai nós vivermos nesse lugar horrível" e "Eu deveria ter me casado com Luke Hemmings ao invés deste traste." O fizeram olhar sem graça para ela.
- Do que está falando, menina?
- Você é feliz? - Perguntou repentinamente.
- O quê?
- A sua família, a sua vida, o fazem feliz? Seu filho e esposa te amam? - A voz de Melanie se elevou um pouco, transparecendo suas emoções ao que entoava aquelas palavras - Acham que eles enfrentariam tudo, mesmo que estivessem sujeitos às punições? Acha que eles escolheriam perder um membro a viver sem você? Acha que eles engoliram todas as suas desavenças apenas pra te seguir e proteger?
Um silêncio quase palpável se instaurou entre eles, enquanto Zayn a encarava perplexo. Ele nunca imaginou que Harry teria a ousadia de colocar uma criança no mundo, tampouco que a mesma viveria tempo o bastante para bater a sua porta, quando chegou em casa e ouvira a história da boca da esposa a considerou uma louca. Perrie tinha dessas, era completamente descontrolada, mas agora percebia que ela não mentia e que a tal Melanie viera e estava bem aqui, depois de quase uma década lhe fazendo perguntas sem sentido.
A resposta para todas era bem óbvia.
- Claro que não!
- Eu sei. - Ela sorriu pequeno, sentindo o nervossismo se esvair, ao ouvir as reclamações do lado de dentro ficarem mais altas ao ponto de Zayn não suporta-las e dar um passo para fora, fechando a porta as suas costas visivelmente perturbado - É por isso que eu estou aqui, sabe, eu sei que você provavelmente não se importa, mas soube que... Que Louis Tomlinson não era o meu pai biológico quando eu tinha cinco anos, na época eu não entendi direito.
Ela ainda se lembrava bem de suas palavras:
- Eu já te disse que eu fugi quando era pequeno?
- Sério? Pra onde você foi?
- Fui atrás do meu pai. - Respondeu, deixando-a confusa por um momento - Quando minha mãe era mais nova ela teve um namorado que a abandonou quando ela engravidou, então quando eu tinha dois anos ela conheceu outro homem, que além de me dar seu nome, se tornou meu pai. Apesar de ser incrível comigo, eu me sentia deslocado, como se fosse menos filho dele do que a Lottie e a Fizzy. Era um sentimento ruim que não passava, fazia com que eu tivesse medo que ele fosse embora por minha culpa, que o espantasse assim como eu fiz com o meu pai biológico. Conforme cresci comecei achar que ninguém podia me amar, se o cara que me fez não me amou, quem amaria? Foi quando eu parei de criar teorias e fui atrás dele, ele morava em Doncaster, estava afogado na bebida, batendo carteira do outro lado da cidade e quando eu disse que era filho dele, ele disse "Legal, agora me dê dez libras" e foi neste momento que eu percebi. Eu não queria o reconhecimento, muito menos o amor que ele provavelmente nem tinha pra oferecer para mim... Ele era um lixo, não meu pai. Mark Tomlinson, esse sim era o meu pai. O homem quem me protegeu quando criança, me ensinou os valores da vida, me ensinou a ser um homem de verdade coisa que eu nunca aprenderia com Troy. Eu sei que não é fácil, que haverão momentos em que uma palavra idiota como bastarda irão te ferir mais do que mil espadas, mas quero que se lembrem que eu te amei desde que você era desse tamainho. - Louis levantou os dedos, deixando uma distância minúscula entre o polegar e o indicador - Não importa que você tenha vindo de outro homem ou que não tenha meu sangue, porque isso não é nada, Zayn não é e nunca será o seu pai. Ele é só um doador de sêmen sem relevância. Você tem dois pais, Harold e eu, porque mesmo sendo uma dupla de idiotas nós sempre estivemos com você, e é isso que importa. Você é minha filha e quem ousar dizer o contrário merece um tiro na testa.
Ainda era chocante que ele tivesse lhe dito a última parte com apenas cinco anos, mas seu pai era assim e era por este e tantos motivos que o amava.
- Quer dizer, ele estava lá comigo, me chamando de filha, dizendo que me amava e me colocando pra dormir todas as noites, como ele podia não ser meu pai? Então, eu ouvi o seu nome pela primeira vez e isso me assombrou. O fato de vir de outra pessoa que não ele sempre me perturbou e eu nunca entendi porquê você não me quis. Por mais que minha vida fosse boa e eu tivesse uma família ótima essa foi uma dúvida que esteve presente desde aquele dia e com o passar dos anos só aumentou. Por isso eu fugi de casa e vim até Holmes Chapel perguntar pra você o que havia de errado comigo, mas daí eu percebi que você não podia me responder isso porque você nem ao menos se deu o trabalho de me conhecer, você escolheu o caminho mais fácil, a garota rica, ao invés do Garoto que você amava. - Os olhos escuros vacilaram ao que ela disse aquilo e o sorriso da menina despontou em seus lábios - Eu achei isso enquanto revirava as coisas do meu pai. - Melly tirou o colar do pescoço, se aproximando cuidadosamente de Malik e virando o pingente onde algumas palavras haviam sido cravadas "Eu te amo, minha boneca", ele olhou do pingente para ela e apertou o maxilar, sendo pego desprevenido - Acho que ele nunca viu isso e é ótimo, porque depois de você rejeita-lo ele enfim se permitiu descobrir o amor verdadeiro, com aquele que não se importava se ele era um garoto ou estava esperando um filho de outro. Porque à partir do momento em que Louis amou meu pai ele me amou também e então já era tarde demais, porque éramos um do outro. O que eu quero dizer e que perdi muito tempo me preocupando com você, mas essa persistência em pensar em você finalmente chegou ao fim, Sr. Malik. Eu vejo que a minha vida é maravilhosa, eu tenho os melhores pais do mundo, a melhor irmã, a melhor mãe e os melhores tios e primos e amigos que alguém poderia desejar e tudo isso graças a você ter me abandonado. Então, obrigada por ter partido o coração do meu pai naquele banheiro e decidir que eu não valia a pena, mas quer saber de uma coisa? Eu valho muito a pena, bem mais do que aquelas pessoas lá dentro. Pra mim não importaria viver em uma casa pequena, não me importaria ter de dividir meu quarto e não ter as melhores roupas, porque só o fato de você existir já seria o suficiente. Porque quando você ama alguém de verdade, o que ela pode te dar não significa nada, e sim o que ela é. Você escolheu ser um homem patético e covarde e como recompensa a sua família o trata como tal, há dez anos você fez uma escolha e você não podia ter escolhido mais errado. - Melanie disse de uma vez, deixando que o colar caísse no chão, pois ela não queria nada que a ligasse aquele homem, na verdade ela só queria distância, por isso começou a recuar - Então obrigada, a sua rejeição foi uma benção pra mim. - Quando ela lhe daria as costas sentiu alguns dedos resvelarem em seu braço direito, tentando segura-la.
- Não toque em mim. - Ela gritou com as bochechas coradas, tomando ainda mais distância.
- Como você se atreve a falar desse jeito comigo, fedelha? - Zayn avançou contra ela, mas foi bruscamente impedido quando algo se chocou duramente com seu maxilar e o jogou para trás, seu corpo bateu contra a porta, a abrindo, antes de se estatelar no chão e Melanie só tomou ciência do que tinha acontecido quando Harry a puxou para trás de si e ela não podia acreditar que seu pai tinha dado um soco naquele homem.
Harry bravo era a coisa mais surpreendente e assustadora que já vira.
Malik se contorceu no chão, gemendo pela dor no rosto até conseguir erguer os olhos em direção ao corpo grande e imponente a sua frente. Aquele não podia ser...
- Styles?
- Na verdade é Tomlinson agora. - Respondeu com ar presunçoso, empurrando um pouco mais a porta e encontrando Perrie agarrada ao filho com os olhos arregalados - Perrie, vejo que continua linda, que sorte do Z, não é mesmo? - Disse com deboche, cutucando o corpo do homem com a ponta da bota - Soube o que fez com as minhas filhas, até mesmo bateu na Melly. Você tem muita sorte de ser mulher. Infelizmente, Zayn, não. - Então Harry o chutou na barriga e ele gritou engasgado, se encolhendo ainda mais e Harry se afastou, acenando para a família - Espero que nunca mais nos vejamos, tenham uma boa vida.
Ele segurou a mão de Melanie e os dois seguiram para longe, sem jamais olhar para trás. Até que parassem de súbito, quando Harry soltou sua mão e apoiou as costas em uma árvore, deslizando até estar sentado no chão. Melly ficou a sua frente, o olhando curiosa, até que o pai começou a meio chorar e meio rir.
- Eu odeio violência, mas isso foi tão libertador. Como se tivessem tirado um peso enorme dos meus ombros. - Suspirou, com as lágrimas rolando por seu rosto que molhavam seu sorriso radiante.
Melanie também sorriu, porque ela sentia o mesmo.
- Estou orgulhoso de você! - Harry disse, a vendo se aproximar e apoiar o queixo em seus joelhos.
- Também estou orgulhosa de você, girafinha.
- Formamos uma grande dupla, girafinha Jr. - Levantou sua mão, fazendo um high five com ela, que segurou o seu pulso e tocou o polegar de Harry - O que está fazendo?
- Zayn Malik, um idiota que não nos merecia. - Ela diz, abaixando o polegar e tocando o indicador - Anthony Murdoch, um homem nojento e cheio de maldade. - Melly também o abaixou e Harry percebeu que ela estava fazendo uma espécie de listagem - Billie, um anjinho que não tivemos o privilégio de conhecer. - Harry fechou os olhos, sentindo-os lacrimejar quando ela repetiu o processo no médio - E a nossa segurança. - Ela fez o mesmo, restando apenas o mindinho, que ela prendeu ao seu - Esses são os quatro maiores pesos que você carrega nos ombros e são eles que impedem que o Harry legal e adorável que eu conheci bem pequena venha à tona. Zayn e Anthony já pagaram pelos erros deles e não podem mais nos machucar, eu sei que você têm medo que algo aconteça, quer dizer, hoje não estivemos muito longe de entrar numa fria de verdade, mas eu quero que saiba que não pode se cobrar tanto, nós vamos nos machucar às vezes é isso não é culpa sua. Você e o papai nos ensinaram a nos cuidar, apenas confie e verá que sabemos fazer isso. E quanto ao Billie, ele se foi e não é sua culpa, me perdoe pelo que eu disse ontem, você é incrível. O melhor e maior pai do mundo, eu sei disso, a Scar sabe, assim como o Billie também sabe e onde quer que ele esteja, a tia Lydia está cuidando dele, talvez ele esteja até brincando de pegar com a Abby e o Will. Ele está bem e ele te ama. - Harry assentiu, mas já estava aos prantos, escondendo o rosto entre as mãos. Melly riu por ele chorar feito uma criancinha, mesmo sendo tão grandalhão ela se sentia a mamãe ali e deu a volta para poder abraçar seus ombros, beijar seus cabelos, e esfregar o rosto nos cachos soltos e macios que faziam carinho em suas bochechas - É hora de florescer e festejar, papai.
Scarlett estava se divertindo ao girar a cadeira de Louis e ele já estava arrependido de ter sugerido a "brincadeira" por estar tonto e começando a ficar enjoado. Ela só parou quando avistou Harry e Melanie vindo até eles, assim que parou de girar Louis, correu em direção a irmã. Abraçando sua cintura e batendo a cabeça em seu peito.
- Desculpa ter te abandonado e ter dito aquelas coisas, eu não quis te magoar. Eu te amo e fiquei com medo que você estivesse querendo ficar aqui.
- Tudo bem. - Melly sussurrou, a abraçando de volta - Eu também te amo, nanica.
Quando elas se soltaram foi para apostar uma corrida, onde Louis descobriu ser o ponto de chegada quando dois corpinhos se jogaram sobre ele, agarrando seu pescoço e deixando inúmeros beijos molhados por todo o seu rosto. Harry apenas ria, se colocando atrás da cadeira e ignorando os pedidos de socorro.
- Chega, chega, será que podemos ir embora agora? Eu detesto essa cidade feiosa. - Louis guinchou, empurrando ambas para fora de seu colo.
- Como se você já a tivesse visto alguma vez. - Harry resmungou as suas costas, sempre se esquecendo da audição apurada de Tomlinson que o olhou por cima do ombro com as sobrancelhas juntas e os lábios retorcidos.
- Porque você não faz um favor pra humanidade e mantém essa linda boquinha fechada? - Rebateu, se deleitando com o suspiro em desistência de Harry - Certo, vamos embora.
- Não, precisamos buscar o Sun.
- Que maravilha! Onde está o saco de pulgas?
Não foi uma tarefa muito fácil convencer Harry e Louis a entrarem em uma igreja. Ambos não tinham boas memórias envolvendo o lugar, mas aceitaram por insistência das filhas. Eles se acomodaram aos fundos, enquanto o culto se desenrolava, Harry se sentou na ponta do banco, com Scarlett em seu colo e Louis, bastante entediado ao seu lado. Melanie avistou Sun bem a frente e mesmo com tantas pessoas, que os olhavam um pouco curiosas não disseram nada e até sorriram pra eles e uma senhora gentil cutucou o cacheado para dizer que as meninas dele eram umas gracinhas.
Todos ali eram pessoas boas, então ela não via o porquê de partir. Ela se afastou da família e foi até o cão, mas ao invés de voltar para junto deles, como eles esperavam ela começou a conversar com Jasmine e mais garotas se aproximaram. De repente ela atravessou uma portinha e os três começaram a ficar bastante inquietos com sua demora.
Até ela retornar junto a mais quinze outras garotas e alguns garotos também, todos usavam roupas brancas e tinham o mesmo penteado, com um chapeuzinho preto. Harry e Scarlett não entenderam quando viram que Melanie usava o mesmo e se posicionava na frente dos garotos maiores, já que perto deles ela parecia ter cinco anos.
Uma menina bonita com olhos claros e expressivos, pegou um microfone e começou a falar:
- Bom dia, irmãos! Espero que todos estejam tendo um bom momento aqui, agora é a apresentação do nosso coral e hoje contaremos com a presença especial da nossa nova amiga, Melanie Tomlinson. - A garota diz com uma dicção impecável, se virando para Melanie que acena com o rostinho corando quando eles a aplaudem - Além de ser muito linda, como todos podem ver...
- Isso foi um flerte descarado. - Louis comentou, coçando o queixo.
- Eu não entendo o que ela está fazendo ali. - Foi a vez de Harry expôr a sua opinião e Scarlett riu, balançando os pés no ar.
- Ela está com a namorada dela, oras. - Os dois viraram os pescoços em sua direção, perguntando o que aquilo significava - Ué, quando dá beijinho na boca significa que você namora, não é?
- Você viu a Melanie e aquela garota se beijando? - Harry tentou esclarecer, sabendo que não podia confiar no que uma criança de seis anos falava.
- É, foi rápido, mas deram beijinho sim.
- Que porra! - Louis exclamou, chamando atenção de algumas pessoas horrorizadas, mas como sempre, ele estava pouco se fodendo.
- Que que é porra? - Scar encarou Harry com aqueles grandes olhos inquisitivos.
- É um sorvete.
- É um palavrão. - Tomlinson o contradiz.
- Louis!
- É melhor dizer a verdade, você não vai querer que ela saia por aí pedindo pra chupar sorvete de porra.
É, ele tinha um ponto. Mas o diálogo teve que ser interrompido para que eles pudessem ouvir a menina continuar a falar:
- Ela é uma ótima cantora e compositora e iremos cantar uma de suas composições hoje. Senhoras e senhores, está é Sign Of The Times.
- Garota esperta e exibida. - Louis diz e Harry não faz a menor ideia de que música é essa. Desde quando Melanie escreve? Ele estava tão por fora!
Porém, uma mulher foi até o piano, um garoto para a bateria e outro para a guitarra e a menina de outrora para o violão e Melly continuou na frente e sem mais nem menos cantou, com uma voz tão forte e bem afinada que deixou Harry e Scarlett de queixo caído, o mesmo não acontecia com Louis que sempre acompanhava a filha quando ela estava compondo ou tocando, ou seja, ele conhecia muito bem a voz da filha e adorava aquela canção porque ela tinha aproveitado para explorar toda a sua potência vocal que era em suas palavras do caralho.
Sign Of The Times não era fácil e mesmo com tantas vozes mais experientes e bonitas a de Melanie se evidenciava mais do que todas e como diabos ela conseguia atingir aquelas notas altissimas sem desmaiar? Pelo menos os genes dele combinado com de Zayn tinham produzido uma mini Nina Simone. Ela cantava com intensidade e paixão, sem jamais tentar ir acima de ninguém, mas os olhando e sorrindo por eles estarem cantando sua música e gostando de verdade.
Ela realmente tinha gostado dali. Igrejas eram legais e o melhor é que nem ela e nem sua família tinham queimado quando entraram, talvez ela pudesse pedir aos seus pais que eles a levassem até lá mais vezes ou quem sabe até poderia entrar no coral. Seria incrível! E até o final, seu coração já estava repleto de expectativas que foram sanadas com uma salva de palmas.
E a mulher que havia tocado o piano se aproximou de Melly que achava o chapéu grandalhão e cheio de enfeites engraçado soltou um oh surpresa quando recebeu um abraço apertado.
- Mas que garotinha talentosa, não acharam, irmãos? - Ela perguntou, falando no microfone e todos concordaram - Você foi muito bem, pequena Mel, seus pais devem estar muito orgulhosos de você.
Melanie olhou de soslaio, encontrando sua família com sorrisos enormes e secando algumas lágrimas.
- É, acho que sim.
- Gostaria de deixar alguma mensagem para nós? - A mulher ofereceu e Melly aceitou, pegando o microfone e se virando para todas aquelas pessoas que a olhavam atentamente. Haviam crianças, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres. Ela nunca tinha visto tanta gente junta e ainda mais prestando atenção nela, mas definitivamente a atenção mais importante era de Harry, que pela primeira vez não tinha os olhos voltados a ela por ter feito algo bobo ou errado, mas porque realmente queria ouvi-la e ela soube na hora o que falar:
- O mundo não é um lugar fácil de se viver, sempre tem muita coisa acontecendo e na maior parte do tempo não temos controle do que acontece ao nosso redor. Mas temos controle sobre uma coisa, todos os dias quando acordamos, a escolha do que queremos colocar no mundo e eu peço que vocês escolham o amor todos os dias. Amem seus pais, amem seus irmãos, amem seus amigos, amem as plantas, amem os animais, amem o mundo e acima de tudo, ame o seu próximo. Cultive a tolerância e o respeito, jamais julgue, mas procure entender, porque pra tudo há um motivo. As pessoas estão doentes e a cura é o amor, por isso o espalhem o máximo que puderem. Bem, é isso. - Disse, dando de ombros e sorrindo torto, um pouco envergonhada por ter falado demais.
- Diga-me, querida, quem te ensinou isso?
- Meus pais.
- Eles devem ser pessoas maravilhosas.
- Eles são. - Melly garantiu, voltando os olhos para os três e de repente só haviam dois, pois Scarlett estava correndo em sua direção e pulando em seus braços. As pessoas riram e tornaram a bater palmas.
Harry deitou a cabeça no ombro de Louis, aproveitando que ninguém os olhava.
- Sabe, Harry, talvez ainda haja esperança pra humanidade.
- Enquanto há vida, há esperança, espertalhão. - Os olhos azuis brilharam, refletindo o coração genuinamente feliz de Tomlinson e Harry nunca esteve tão tentado a beijá-la, mas sabia que não podia, até sentir um cutucão em suas costelas, era a mesma senhora.
- Se você não beija-lo, eu beijo!
Ele sorriu e se apressou em deixar um selar rápido nos lábios rosados de Louis, se voltando para a mulher novamente.
- Obrigado.
- Vocês formam um lindo casal, querido. E tem uma família mais linda ainda. - Ela sussurrou de volta e Harry olhou para a frente da igreja, onde as filhas se enturmavam com as outras crianças, até Sun participava, e foi quando ele se deu conta de que Scarlett e Melanie eram crianças normais e tinham o direito de conhecer o mundo.
O caminho de volta foi turbulento com Louis, Scarlett e Melanie brigando para escolher alguma música no rádio e as duas tirando os cintos constantemente e sendo massacradas com as broncas de Harry. Até que Louis finalmente encontrou a música certa.
- Eu conheço esses caras. - Disse quando ouviu as vozes animadas dos garotos.
- Eles costumavam ser os The Quarryman, agora são os Beatles.
- O quê? Aqueles ridículos agora são a tal Beatlemania? - Louis indagou incrédulo, a voz ficando ainda mais aguda ao ser elevada.
- Fazer o quê, eles tem talento.
- Certo, Haz, vamos montar a nossa banda também. Você e a Melly cantam e eu e a Scar vamos ser os rostinhos bonitos.
- Isso é ridículo. Obviamente eu e a Melly somos a dupla mais bonita.
- Claro que não, vocês tem dentes de coelhos. São horrorosos. - Tanto Melanie quanto Harry o encararam ofendidos.
- Melhor do que esse cabelo fino que fica pro alto com qualquer ventinho.
- Isso não tem nada a ver... - Antes que ele terminasse de falar, Harry já estava abrindo o teto, fazendo o carro virar conversível e na primeira rajada de vento os cabelos de Louis e Scar ficaram arrepiados - Okay, ponto pras girafas.
- Nós somos as girafas e vocês os nanicos. - Harry devolveu e uma nova discussão começaria se as crianças não tivessem começado a cantar junto com o rádio I Want To Hold Your Hand.
Xx
Colocar Melanie e Scarlett pra dormir nunca foi tão exaustivo, ainda mais quando elas ficavam saltitando feito duas pipoquinhas e tagarelando sobre as partes boas de sua aventura e tudo o que tinham visto. Depois de muita luta, ambas desmaiaram no quarto de Scar, se empurrando e chutando o estômago uma da outra como ele já imaginava que aconteceria, mas resolveu deixá-las juntas. Era ótimo ver que, enfim, estavam se dando bem. Ele desceu exausto e morto de sono, se lembrando que ainda tinha um outro bebê, bem mais problemático para levar até a cama, mas assim que chegou ao topo da escada ficou completamente imóvel com o que viu.
Louis Tomlinson. Segurando flores. Usando um terno. Em pé. Em pé!
Não haviam muletas e uma perna da calça não estava folgada, o que significava que ele estava usando sua prótese. Harry nem ao menos se lembrava da última vez que Louis a colocou, deveriam fazer anos. Contudo, por algum motivo ele resolveu colocá-la, vestir um de seus ternos de grife azul escuro e rente ao seu corpo que só ressaltava as curvas pecaminosas, com uma camisa de botões branca por baixo, sapatos escuros e lustrosos e até seu cabelo estava impecavelmente arrumado e sob a luz das poucas lâmpadas acesas no lustre, com o mais sublime e arteiro sorriso nos lábios e segurando um buquê de rosas vermelhas contra o peito. Foi naquele momento, quando Harry conseguiu descer as escadas e parar no penúltimo degrau e Louis lhe entregou o buquê e disse com sua voz doce e melodiosa:
- Eu já disse como você está bonito está noite?
Ele soube que tinha se apaixonado por Louis mais uma vez.
- O que está fazendo?
- Me acompanhe, querido. - Ofereceu o braço para o marido que o pegou e deixou que Louis o guiasse. Harry o olhava de canto com um sorrisinho permanente porque ele não podia conter a sua empolgação, Louis estava andando, o guiando. Claro que não era a mesma coisa de uma perna de verdade, era um prótese um tanto dura e que delimitava bastante os seus movimentos, mas sabia que a medicina iria evoluir e que haveria o dia em que Louis poderia usar uma prótese que não o machucaria e que o permitiria andar livremente - Voilà!
Harry virou o pescoço quando eles pararam de andar para encontrar a mesa de jantar forrada com uma toalha branca onde pétalas vermelhas foram sapicadas. Toda a iluminação amarelada do ambiente provinha dos castiçais e candelabros postos na mesa e ao redor. Próximo a cabeceira estavam postos os aparelhos de jantar, a prataria reluzente e os copos de cristais, com duas longas e perfumadas velas entre os pratos. Louis puxou a cadeira para Harry que ainda olhava para tudo aquilo maravilhado, ele se sentou na outra cadeira e colocou o guardanapo sobre o colo.
- Louis, você fez isso?
- Bem, eu diria que tive uma ajudinha. - Deu de ombros em sinal de descaso.
- Ajudinha? Tá bom. - Disse Mitch entrando na sala de jantar com uma garrafa de vinho e servindo os dois - Vou querer um aumento, eu não sou se mordomo.
- Cala a boca, criado. - Tomlinson rosnou com mau humor, Mitch fez uma careta, mas não disse nada e se retirou.
- Bem, nós tivemos dois dias bem exaustivos e eu não esperava que você se lembrasse, por isso fiz as honras de providenciar esse jantar romântico para comemorarmos.
- Comemorar o quê? - Perguntou verdadeiramente confuso.
- Nossa, pelo menos finge que não esqueceu totalmente, seu monstro insensível. - Dramatizavou e Harry balançou a cabeça, dando um golinho em seu vinho e quase gemendo pelo quão gostoso era - Hoje completam dez anos desde que você chegou a esta casa e na minha vida.
- Oh meu deus, Louis! Eu não acredito que esqueci disso. Céus, como eu sou idiota! - Falou desesperado, ele não podia acreditar que esqueceu uma data tão importante - Eu deveria ter feito algo pra você.
- Sim, você é idiota, mas eu fico feliz que tenha se esquecido. Assim eu pude fazer algo por você, já que tem feito tanto por mim todos estes anos. Eu não sei como retribui-lo pela forma com que cuida das nossas filhas, de mim, da nossa casa, de tudo. Mas eu tentei.
Harry escorregou a mão pela mesa, até tocar a de Louis e entrelaçar seus dedos.
- Obrigado, está tudo tão lindo. Um brinde a nós? - Sugeriu, levantando sua taça e esperando que Louis fizesse o mesmo.
- A nós! - Disseram em uníssono, batendo suas taças e dando generosos goles em seus vinhos. Em seguida Louis tocou um sininho e Clare veio bufando e revirando os olhos enquanto trazia o prato de entrada.
Uma hora depois os pratos da sobremesa haviam sido retirados e a segunda garrafa de vinho já se mostrava consideravelmente mais leve. Depois de tantos pratos deliciosos, Harry sentia o seu colete mais apertado e até soltou um ou dois botões, Louis também desabotoou os primeiros botões de sua camisa social o que lhe deu a visão do peito rijo e se eles não estivessem de greve ele o teria atacado ali mesmo.
Porém, a palavra greve não parecia ter grande significado para Tomlinson que já tinha arrastado sua cadeira até colar na de Harry e entornava mais uma taça de vinho tinto, sua mão passeava pelas coxas do outro.
- Eu adorei nossa noite, mas estou tão cansado. - Ele bocejou, apoiando o queixo na mão e baixando os olhos para onde a mão travessa de Louis se esgueirava por entre suas pernas. Apenas por implicância as fechou e Tomlinson não escondeu seu desapontamento, praticamente rosnando - Preciso dormir.
- Podemos achar algo bem mais interessante pra fazer. - Sugeriu, subindo sua boca para atrás da orelha do cacheado e passando apenas a ponta da língua pela pele sensível, o que fez o corpo de Harry se arrepiar por inteiro.
- N-Não. - Gemeu.
- Ainda está naquela greve idiota? Já fazem três meses, eu tenho necessidades.
- Pensasse nisso antes. - Retrucou, tentando ignorar que agora Louis havia subido a mão e esfregava os dedos por seu peito, exatamente onde seus mamilos endureciam.
- A Scarlett já me desculpou pelo incidente do cortador de grama.
- É porque ela não tem noção do que você fez.
- Não torne isso uma grande coisa, ela não precisa de tantos dedos nos pés.
- Bom, se estava lá acho que significava que ela precisava.
- Isso vai torna-la mais forte. Quem sabe cresça um novo dedo. - Murmurou ele, se achando um monstro por rir daquilo, mas a bebida tinha privado totalmente sua razão. Harry, por outro lado, ainda estava consciente o bastante para ficar perplexo com aquilo e se levantou de abrupto, deixando Louis ainda mais agoniado.
Ele só queria foder seu marido gostoso, isso era pedir demais?
- É melhor que aconteça, porque até lá nada de sexo pra você. - O cacheado disse, obstinado.
- Posso pedir o divórcio por isso.
- E vai ficar sozinho?
- Posso me casar com Bleta, ela não hesitaria em largar aquele maridinho francês dela por mim.
Algo se acendeu em Harry, mas ele não diria que era ciúmes.
- Ah, claro. Até lá manterei minha porta trancada.
- Não há necessidade. Se eu o quisesse, não haveria trincos que me impedissem. - Louis diz com um sorriso convencido ao que também se levanta, ficando de frente para o marido que o olha com uma expressão divertida ao que percebe o que ele acabou de fazer.
- Ora, o que significa isso? Está roubando as falas de E O Vento Levou?
- Meu adorável marido, eu ainda sou um homem, a criatividade de vez em quando falha. É natural. Céus, porque não me deixa ter meu momento?! - A voz dele atingiu aquele tom agudo e estridente, que causava zumbidos no ouvido do cacheado, todavia, era engraçado quando combinada com sua fala embaraçada pelo álcool e o sotaque carregado - Harreh, eu já imaginei que você fosse usar isso contra mim, por isso bolei um contra-ataque.
- Um contra-ataque?
- Uhum.
A expressão de Harry era a de um cachorrinho confuso, quando Louis o puxou pelo pulso, usando de seus conhecimentos enraizados quanto aos caminhos daquela casa e o levou até a sala de estar onde a lareira queimava a lenha e uma música começara na vitrola.
- Daria-me a honra desta dança, meu caríssimo Harry Edward Tomlinson? - Pediu com um sorriso galante e impossível de recusar.
- Não vejo porque não, Coronel. - Dito isso, deixou que Louis segurasse sua mão e enlaçasse sua cintura, ele levou a mão até seu ombro e começou a seguir seus passos lentos, limitados, porém habilidosos, como sempre.
Levou menos de um minuto para que ele gargalhasse pela escolha da canção.
- Amore Scusami?
- Existe música melhor para um pedido de perdão?
Os dois riram ainda mais e continuaram a dançar, com Louis o apertando cada vez mais e ambos se perdendo no calor, no perfume e no toque do outro.
- Eu sempre tive curiosidade em uma coisa.... Às vezes quando você encara o vazio, parece que você vê algo.
- Eu vejo.
- O que você vê? - Afastou o rosto do pescoço do outro para poder encara-lo.
Louis pigarreou, piscando seus olhos opacos e desfocados e os erguendo para um ponto aleatório como se pudesse enxergar.
- Bom, teve uma tarde quando a Alemanha assinou sua rendição. Eu estava exausto, tinha sangue nos meus cabelos e a farda aos farrapos, me sentei na areia, sem conseguir aguentar meu próprio peso me perguntava quanto tempo levaria para que eu desmaiasse de uma vez. Então fechei os olhos e pela primeira vez, naqueles anos me permiti sentir saudades dos meus pais, das minhas irmãs, da minha família. Um sentimento de angústia e solidão começou a crescer em mim, com o medo de que todos estivessem mortos, mas... Até hoje eu não sei o porquê, mesmo mal me aguentando eu abri os olhos e quando os abri encontrei o pôr do sol. Sabe, Harry, não parecia um pôr do sol como todos os outros que eu tinha visto, esse era diferente. Eu vi cada detalhe dele. Vi como o azul, laranja, amarelo e rosa se misturavam no poente, a grande estrela redonda e brilhante enfraquecendo ao ponto que eu pudesse olha-la pelo tempo que quisesse sem que meus olhos ardessem, haviam nuvens brancas espalhadas pelo céu claro, os pássaros voavam por ele, pintando uma paisagem serena, o vento soprava fresco contra o meu rosto e de repente todo aquele pavor deu lugar a calmaria, eu me senti em paz, como se não estivesse em meio a maior guerra que a humanidade já presenciou. Quando olhava para aquela paisagem era como se não houvessem pessoas mortas ao meu redor ou sangue manchando minhas mãos. Era quase divino. Até gritarem que os soldados alemães estavam cumprindo as últimas ordens do Führer de limpar toda a sujeira que encontrassem. Então, duas horas depois eu estava imóvel, cego e sozinho, mas quando fechei meus olhos voltei para aquela tarde e eu continuei revivendo a lembrança todos os dias, desde então é o meu lugar preferido. Um dia contei essa história para a Melanie e ela surgiu um tempo depois dizendo que desenhou um pôr do sol para ela também, assim eu não precisaria ficar lá sozinho. Poderia ser o nosso lugar favorito. - De repente Louis engasga e esconde o rosto entre as mãos. Harry se adianta puxando seus pulsos e se assustando ao constatar que o marido estava meio sorrindo, meio chorando, numa bagunça de sentimentos como ele mesmo havia estado naquele dia - Como isso foi acontecer? Depois de tantas coisas feias pelas quais passei ela simplesmente desenha um pôr do sol pra ficar comigo? Como, depois de tudo, eu posso estar sendo tão feliz? É um tipo de recompensa?
Harry também estava sorrindo e chorando, porque Louis estar feliz era a sua verdadeira recompensa.
- Talvez esteja vivendo além do arco-íris.
- Sim, é uma boa explicação, eu cheguei do outro lado da porra do arco-íris. - Riu ainda mais radiante e Harry não se conteve, segurando seu rosto e lhe dando um beijo breve.
- Eu só te dei um selinho e você já está com a mão na minha bunda - O cacheado diz, contra a boca de Louis que mesmo após ser flagrado não afastava suas mãos.
- Talvez eu tenha mentido quando disse que a sua bunda é murcha.
- Ah, é? E o que você acha da minha bunda? - Pergunta, empurrando os quadris para trás e contendo um gemido ao sentir os dedos de Louis fincando em suas nádegas sob o tecido da calça.
Ele se aproximou ainda mais de Harry, soprando sua respiração quente contra sua orelha ao dizer:
- Grande, empinada, gostosa e muito, muito apertada.
- Deus você é tão depravado. - Ofegou, agarrando as lapelas do blazer de Tomlinson e se odiando por ficar duro apenas com aquilo, mas não é como se pudesse evitar quando Louis é um convite completo a luxúria.
- Se eu pudesse ver mais uma vez eu escolheria ver ela.
- Iria escolher ver a minha bunda ao invés do meu rosto ou o das meninas?
- Definitivamente. - Garantiu, sem hesitação, voltando uma mão para o rosto de Harry, segurando seu maxilar para poder juntar seus lábios em um beijo ofegante e desesperado. Porque eles precisavam daquilo, tipo agora.
Os lábios grossos e vermelhos de Harry tinham gosto de vinho e Louis só sabia suga-los e cravar seus dentes neles, arrancando gemidos manhosos do mais novo que já empurrava o paletó pelos ombros de Louis, empinando por vezes seguidas os quadris para sentir os apertões dolorosos em sua bunda, enquanto ele se movia às cegas até o quarto dos dois. Quando as costas de Harry bateram contra a porta, a escancarando, a língua de Louis já tinha dominado a sua e eles esfregavam os membros eretos um no outro, criando uma fricção deliciosa.
Não demorou até que as roupas de Louis estivessem jogadas pelo chão do quarto, assim como sua prótese e sua boca molhada deixando beijos e chupões pelo estômago do cacheado, enquanto o mesmo se livrava do colete e puxava a camiseta preta para fora de seu tronco. As mãos de Louis apertavam e arranhavam sua cintura, marcando a pele pálida com vergões avermelhados e marcas roxas. Ele as desceu, desatando os botões da calça de Harry e abaixando-a, junto com a cueca, cravando suas unhas curtas nas coxas e passando a língua pela glande úmida e avermelhada, necessitada de atenção. A língua macia deslizando por seu comprimento o fez fechar os olhos e agarrar os cabelos de Louis que resolveu deitar e puxar Harry, até que ele estivesse sentado em seu rosto e então pôde revezar entre chupar seu pênis e sua entrada. Mesmo agarrando a cabeceira, Harry sentia seu corpo inteiro tremendo toda vez que ele investia contra a boca de Louis que deslizava dois dedos para dentro dele e o fodia sem um pingo de piedade, lhe arrancando gemidos altos e descontrolados.
- Deus, isso é tão bom. - Ronronou, jogando a cabeça para trás e sentindo sua pele queimar e aquelas pontadas costumeiras em seu baixo ventre.
Louis agarrou suas ancas, ainda movendo os dedos dentro dele, que agora contabilizavam quatro.
- Puta que...! Eu adoro a forma como seus quadris saltam em cima de mim, tão desesperado e necessitado. - Disse com a voz embargada de excitação e Harry cometeu o erro de olhar para baixo, encontrando Louis com os cabelos bagunçados, caindo por seu rosto corado, lábios inchados e olhos brilhantes. Tão sensual. Ele não tinha estruturas para aquilo - Nossa, você está se apertando tanto ao redor dos meus dedos... Você quer gozar na minha boca?
- Sim... - Assentiu com a voz pequena - Por favor.
- Claro, babe. - Louis tornou a segurar seu membro sensível e o aproximou dos lábios - Fica à vontade para fode-la.
Então ele investiu seus quadris, adentrando aquela cavidade quente, apertada e tão fodidamente acolhedora que bastou apenas algumas estocadas, sentindo a língua de Louis massageando sua glande e os dedos socando sua próstata para que ele viesse quente e espesso na garganta de Tomlinson.
Depois do último jato, ele cuidadosamente foi deslizando até que estivesse deitado em cima de Louis, suas pernas se apertaram ao redor dos quadris do marido, seu pênis estava acomodadamente repousando sobre o abdômen bronzeado e sua bunda sendo esfregada contra o membro duro de Louis que abria minimamente seus lábios, dando passagem para a língua atrevida de Harry que o beijava de forma esfomeada, gemendo ao sentir seu próprio gosto contra o palato, mas mesmo assim continuava a se esfregar contra seu corpo, sentindo o membro tornando a endurecer entre seus estômagos. Ainda inebriado pela sensação enlouquecedora que era ter Harry quase tão frenético e ansioso como costumava ser na adolescência, beijando e chupando seu pescoço e respirando ofegante contra sua pele, Louis deslizou as mãos por seus lados, dedilhando com delicadeza a cintura do cacheado, descendo para as coxas torneadas e arrastando os dígitos de volta para as nádegas, apertando-as e separando, enquanto arqueava o corpo para encaixar seu pau entre elas.
- Oh, puta merda! - Gemeu rouco, fechando os olhos e mordendo os lábios, sentindo dentinhos pontudos em seu queixo.
- Lou.
- Sim, girafinha?
Harry sorriu com o apelido que tinha se tornado bem menos frequente nos últimos tempos.
- Essa vai ser a milésima vez que você entra em mim. - Harry cochichou, pegando Louis totalmente desprevenido que lhe lançou uma careta.
- Você contou?
- Sim, isso é estranho?
- Isso não é apenas estranho, é bizarro e assustador. Saia da minha casa agora seu maníaco sexual. - Louis começou a empurra-lo e sem paciência para suas as gracinhas, Harry agarrou os pulsos dele e os prenderam acima de sua cabeça - Hey, o que está fazendo?
- Só me fodendo no seu pau, enquanto você faz o seu draminha, por favor continue. - Ele se ajeitou no colo de Louis, encaixando-se no pau dele, sentindo a glande molhada pressionando suavemente sua entrada.
- De onde saiu esse garoto safado?
- Eu sempre estive aqui... Coronel. - O titulo saiu totalmente erótico por entre os lábios vermelho. Aproximou seu rosto do dele, assistindo-o abrir a boca em um circulo perfeito e os músculos salientes de seu tronco se contraírem quando desceu de uma vez no pau de Louis, esfregando a bunda contra suas bolas, o sentindo completamente dentro de si.
- Feliz milésima transa. - Louis gemeu e Harry o seguiu, ao levantar e descer mais uma vez, rapidamente pegando um ritmo para poder se foder do jeito que gostava. Rápido e forte.
- É. - Soluçou alto quando encontrou sua próstata e começou a atingir aquele mesmo ponto consecutivas vezes, gemendo cada vez mais arrastado. O aperto nos pulsos de Louis fora enfraquecendo e ele encostou suas testas, sentindo o narizinho empinado do marido tocando o seu.
- Você é tão gostoso... Tão deliciosamente apertado e... Oh, caramba, sinto seu pau molhado sujando meu abdômen, os seus gemidos manhosos e você me sufocando dentro dessa bunda deliciosa. Oh, Harreh, porque tão bom? An, babe? - Louis provocou, baixando o rosto até poder lamber um dos mamilos de Harry, que gritou sem pudor, quando ele também começou a mover os quadris e o foder propriamente.
- Louis! - Ele gritou quando Tomlinson fechou os dentes em seu mamilo.
- Não, você pode fazer melhor, grite o meu nome mais alto! - Ordenou com malícia, puxando suas mãos que já haviam se livrado há muito do aperto do cacheado e agarrou seus quadris, os pressionando para baixo - O que houve? Eu mandei gritar! - Deixou um tapa forte na bunda de Harry o que o fez gritar assustado e deliciado.
- Louis, Louis, Louis, Louis... - Gritou repetidas vezes, a voz alta e dez mais rouca ecoava pelo cômodo junto com o som de suas nádegas se chocando com as bolas de Louis e as respirações ofegantes.
- Isso, amor... Cavalgue em mim, com mais força!
Harry o fez, apoiando as mãos no peito do marido e descendo e subindo em seu membro, quase se desmanchando toda vez que o acertava em cheio e naquela posição ele sempre se sentia ainda mais apertado ao redor de Louis o que só fazia com que ele se contraisse bem mais que o normal, o deixando completamente louco. Então não foi surpresa, quando Louis praguejou e o empurrou de costas pra cama, ficando entre suas pernas e se afundando novamente nele.
Harry piscou devagar, sentindo seus pensamentos cada vez mais nublado ao que sentia seu orgasmo se aproximando. Louis se apoiava em seu braços para conseguir levar seus quadris de encontro aos do cacheado, com a intensidade que ele queria e se o pau, o corpo ou os gemidos de Louis não fossem o suficientes havia a imagem dos dois refletidas nos espelhos do closet. Não era atoa que Harry fez questão de trazê-los consigo, ele adorava ver como o marido ficava em cima de si, tão selvagem e quente, Louis conseguia ficar ainda mais bonito quando transava, com os fios lisos caindo sobre seu rosto e o maxilar tencionados e Harry parecia não ter mudado muito, com seus cabelos ondulados se espalhando pela colcha, a face corada e sua boca pornográfica entreaberta, mas uma coisa parecia faltar.
Louis começou a tremer e ficar ainda mais bruto, agarrando as coxas de Harry e deixando longos arranhões por elas. O cacheado mordeu o lábio inferior, passando ambas as mãos pela barba dele, descendo pelo peito e deslizando até às costas, onde não teve piedade ao cravar suas unhas - que tinham sido pintadas de vermelho pelas garotas - na pele de Louis, arrastando-as até sua bunda, e que bunda! Apertando-a e empurrando-o ainda mais fundo nele.
Tomlinson arfou, soltando as pernas de Harry, para se apoiar nos cotovelos e afundar o rosto no pescoço dele, aspirando seu perfume naturalmente adocicado misturado com o suor da pele e Harry, sendo a vadia sem coração de sempre, se contraia o tempo todo e continuava com suas unhas deixando arranhões ardidos em suas costas.
- Eu estou muito perto... Caralho! - Grunhiu, se esforçando para escapar daquele calor viciante, mas o outro enlaçou seu pescoço e o impediu de se mover - O que está fazendo? Não estamos com camisinha, eu não posso...
- Eu quero que você goze dentro de mim. - Harry anunciou, decidido.
- Mas e se...
- Eu quero um bebê! - Respondeu, cruzando os tornozelos no fim da coluna de Louis - Quero que tenhamos mais um bebê.
- Pensei que não quisesse mais filhos. - Louis disse, com a lembrança da briga que tiveram sobre esse assunto ainda bastante fresca em sua memória - Sabe, foi o que pareceu quando você gritou que não seria uma cadela parideira e chutou o Sun.
- Eu não o chutei, tropecei nele. - Se defendeu, fazendo bico.
- Há controvérsias. Tem certeza disso?
- Antes eu tive medo, achei que pelo que aconteceu c-com o Billie e pelo comportamento da Scar e da Melly eu era um pai ruim... Mas depois de hoje, depois de ver como elas se saíram bem e ainda fizeram amigos. Ouvir as palavras da Melanie na igreja e a Scarlett querendo construir casas para as pessoas que moram na rua, percebi que eu sou um pai incrível, com filhas incríveis. Nós somos muito incríveis.
- Sim, definitivamente. - Louis sorriu, formando ruguinhas nos cantos dos olhos.
- Por favor, Lou, eu quero isso de novo. Quero a família Tomlinson ainda maior.
- Desse jeito vamos precisar de uma casa maior.
- Eu disse um bebê, não cinquenta.
- Cala a boca, girafinha e me beija. - Suas bocas voltaram a se conectar, quando os quadris de Louis se moveram devagar, estimulando com delicadeza a próstata de Harry e escorregando uma mão por entre seus corpos para poder esfregar seu membro que vazava. Os dedos esguios de Harry, se fecharam em um punhado de cabelo de Tomlinson quando este gemeu contra a sua boca e veio dentro de si, em menos de um segundo, Harry também alcançava o segundo orgasmo da noite.
Eles não se beijavam mais, mas um fio de saliva, mantinha seus lábios úmidos ligados e nenhum deles se permitiu quebrar a bolha de suor, sexo e amor que haviam criado para si.
Ficaram no mais absoluto silêncio, mesmo depois de suas respirações se acalmarem e os espasmos em seus corpos cessar, Louis pressionou um beijinho no lábio superior de Harry que piscou os olhos verdes, totalmente destruído.
- Se for uma menina vai se chamar Jane.
- Se for menino será Dorian. - Louis retrucou, desabando sobre o peito do outro, cansado e sonolento.
- Feito.
Os dois acabaram cochilando depois dessa meia conversa, acordando tão repentinamente quanto tinham acordado. A vida de pais de crianças pequenas não os permitia dormir nus e fedendo a sexo, então depois de um banho, onde eles podiam ou não ter transado mais algumas vezes voltaram para a cama. Ambos vestiam camisas de linho e calças escuras, os lençóis foram trocados e o ambiente cheirava a lavanda e Castidade - era o nome de uns dos perfumes de Louis, que por falar nisso, foi o que Harry encontrou quando procurava uma fronha para o seu travesseiro.
Ele girou o frasco transparente entre os dedos, examinando o líquido vermelho, não havia nada além de um H em letra cursiva feito diretamente no vidro. Curioso, borrifou um pouco no pulso e torceu o nariz, achando aquela mistura de cheiros muito familiar.
- Lou? - Chamou, subindo na cama e ficando de joelhos ao lado de Louis que estava com as costas apoiadas na cabeceira, colocando as duas alianças dentro de uma caixinha de veludo e a deixando dentro da gaveta. Harry sorriu pequeno por vê-lo deixar um beijo nelas antes. Ele sempre iria admirar o amor e respeito que Louis mantinha por Lydia, mesmo depois de anos.
- Sim, babe?
- Eu achei um perfume...
- Ah, não!
- Que foi?
- Era pra ser no natal. Quem mandou você meter o nariz onde não foi chamado? - Louis o repreendeu, deixando um beliscão em sua bochecha.
- Ouch! A culpa não é minha se você resolveu esconder na gaveta de lençóis.
Tomlinson bufou, reconhecendo seu erro e então sorriu.
- Você disse que gostaria que eu fizesse um perfume seu, certa vez. - Harry abriu a boca para falar, mas antes que o fizesse Louis o cortou: - É melhor não ficar todo convencido por isso, porque ele não é só seu, mas também recriei o perfume da Melly e da Scar.
Talvez Harry tenha ficado um pouquinho chateado.
- Mas tem um H aqui na frente, ó. - Levou o frasco até o rosto de Louis que ao invés de zombar da sua desatenção resolveu entrar na dele.
- Sim, estou vendo. Não sou cego! - Harry puxou o perfume, sentindo suas bochechas corarem de vergonha pelo que tinha acabado de fazer - Ele não se chama Harry, se chama Home. Embora dê no mesmo, ele será lançado no seu aniversário do ano que vem. Viu que marido incrível eu sou, te dando presentes adiantado e quanto a você, o que pretende me dar?
Ele ignorou a pergunta entorpecida de malícia para se sentar no colo de Louis e pegar uma de suas mãos e levá-la até sua barriga.
- Surpresa! - Exclamou, como se já tivesse recebido a confirmação. Ele não sabia porquê, mas sabia que iria engravidar novamente. Eles teriam mais um bebezinho lindo e desta vez torcia para que fosse um garotinho.
- Não acredito que vamos fazer isso pela terceira vez. - Suspirou, se inclinando e deixando um beijo em cima do pássaro abaixo da clavícula de Harry - Bom, se é assim proponho um segundo brinde.
O cacheado arqueou as sobrancelhas curioso, quando Louis revirou algo na gaveta e o viu se virar com um cigarro e um isqueiro em mãos.
- O que acha de fumarmos nosso último cigarro?
- Até o bebê nascer? - Perguntou esperançoso.
- Nah, eu pensei que esse poderia ser o último das nossas vidas. Nenhum de nós quer morrer com problemas de pulmão.
- Sim, você tem razão. - Respondeu, observando Louis colocar o cigarro entre os lábios e o acender, dando um longo trago e Harry se inclinou para frente, deixando Louis segurar seu queixo e puxar seu lábio inferior para que ele abrisse a boca e então soprou a fumaça na boca do outro, em seguida entregou o cigarro a Harry que fez o mesmo. Depois de mais algumas tragadas e beijos, os dois deitaram. Louis estava confortável em seus travesseiros e Harry tinha a cabeça apoiada em seu peito, com a perna jogada sobre os quadris de Tomlinson que não se importava contanto que pudesse apertar a bunda do marido sem ouvir reclamações.
Os grilhos compunham a trilha sonora para a noite estrelada que se apresentava lá fora, o céu estava escuro, mas uma meia lua brilhava com esplendor, mantendo-os iluminados mesmo sendo altas horas da madrugada.
- Essa foi a melhor década da minha vida. - Sussurrou Louis, com os lábios roçando na testa de Harry.
- Podia ter sido melhor, sabe, se eu não tivesse causado tanta confusão.
- Nós dois causamos muita confusão, mas essa era graça, não? Ser humano é cometer erros e aprender com eles, nós ensinamos muito um ao outro.
- Eu nem consigo imaginar o que teria acontecido comigo se eu não tivesse te encontrado. - O simples pensamento de não ter tido Louis em sua vida, causou um calafrio intenso em Harry que se apertou com mais força no corpo menor.
- Não vale a pena pensar nisso, Haz, porque se você não tivesse me encontrado, eu teria te encontrado. Não existe um universo no qual Louis Tomlinson se apaixona por Harry Styles. - Harry o encarou com os olhos lacrimejantes, agradecendo pela milésima vez naquele dia por ter Louis.
- Não acha terrível em todos os universos estar preso a um garotinho medíocre?
Harry sentiu o sorriso de Louis contra a sua pele, quando sua voz soou baixinho:
- Você nunca foi um garoto medíocre. Você é um homem incrível.
- Sim, eu sou. - Os olhos de Louis se arregalaram com aquilo, não importava quantas vezes dissesse a Harry a mesma coisa, ele nunca concordava. Ele enfim se deu conta do homem incrível que é, isso havia sido libertador.
- Você enfrentou o Zayn, fez as pazes com seu pai, conseguiu se resolver com as meninas e percebeu que é um homem incrível, acho que não precisa mais dos meus serviços por aqui, Sr. Tomlinson.
- Não. - O cacheado fez beicinho, esfregando a bochecha em seu peito e suspirando contente ao que o sono o dominava - Eu preciso de você, eu te amo. Está tudo tão perfeito, você tem que ficar aqui comigo, pra sempre.
- Eu também te amo e vou estar com você pra sempre, girafinha. - Louis garantiu, o ouvindo balbuciar um: É bom mesmo.
Quando o silêncio se instaurou, Tomlinson suspeitou que ele já tivesse adormecido, Harry merecia uma boa noite de sono depois do dia turbulento que tivera. Ele se ajeitou melhor para que pudesse ver sua girafinha, seus dedos suavemente tocaram a testa dele, dedilhando as sobrancelhas, as pálpebras, o nariz, a bochecha, o queixo e por fim a boca, onde tudo começou.
Quando Harry lhe descreveu seus lábios, Louis automaticamente ficou duro e por isso precisou sair de sua presença às pressas e naquele dia ele soube que aquele garoto bobo e atrevido não estava só de passagem. Harry veio, sem pedir licença e construiu não uma casa, mas um palácio em seu coração. Ele rendeu Louis por completo, ele o curou e o amou quando qualquer um teria partido. Harry ficou e o mostrou o caminho para a redenção, esperança e principalmente amor.
Um sorriso bobo se formou em seus lábios quando ele deixou um beijo na ponta do nariz de Harry, que o franziu e resmungou contrariado. Louis o apertou em seus braços, protegendo o que tinha de mais precioso ao sussurrar:
- Eu posso te ver, criança, sempre pude e garanto que você é lindo, por dentro e por fora. Eu tenho um ótimo gosto, mas ainda sou mais bonito que você. Tenha bons sonhos, meu amor sem fim. - Louis fechou os olhos e a sua vez de dormir chegou.
Xx
- Papai! Oh paaaaaai! - Gritava Scarlett enquanto socava a porta. O som duro das pancadas contra a madeira arrancaram Harry subitamente de seu sono. Ele esfregou os olhos, antes de abri-los lentamente, piscando consecutivas vezes se incomodando com o clarão que invadia o quarto por ter se esquecido de fechar as cortinas na noite anterior, mas não é como se ele tivesse tido tempo de pensar nesse tipo de coisa.
Ergueu os olhos para o marido que ainda dormia e odiou Louis por estar parecido com um deus, mesmo pela manhã depois de uma noite no mínimo intensa. As tiras da camisa branca estavam soltas, revelando seu peito, o rosto levemente virado para a esquerda recebendo diretamente o brilho solar e fresco, do jeito que era não demoraria para se incomodar com aquilo, enquanto isso, Harry aproveitava para admirar o quanto aquela luz ressaltava os traços milimetricamente harmoniosos, como o maxilar forte coberto pela barba rala, as maçãs do rosto rosadas e salientes, os cílios longos que roçavam em suas bochechas, os lábios finos estavam comprimidos e os cabelos bem desgrenhados, com algumas mechas caindo sobre a testa.
Ele era tão incrivelmente lindo.
- Pai, o Sun comeu a minha cobertinha predileta!
- Não comeu nada, sua mentirosa. - Melanie retrucava e ele pode ouvir a discussão se desenrolar do outro lado da porta. Acusações sendo feitas e mais gritos. Ele sorriu, se sentindo leve em muito tempo. Poderia lidar com isso, não havia nada de novo.
- Ei, paizão, é sua vez de dar um jeito naquelas duas.
Sua fala baixa não foi o suficiente para acordar Tomlinson.
- Dorminhoco, anda logo. - Riu, dando dois tapinhas na bochecha de Louis e logo devolvendo um beijo, ainda se mantendo deitado em seu ombro. Mas não houve nada - Louis, acorda! Acorda! - Harry o chacoalhou, um pouco impaciente, ficando nervoso pela confusão de vozes do lado de fora e principalmente pelo peito imóvel de Louis, ele vivia fazendo esse tipo de brincadeiras. Prendendo a respiração e não respondendo aos seus chamados, apenas para lhe pregar uma peça sem graça - Não tem graça. Eu já conheço o seu joguinho idiota. - Com isso foi direto no ponto fraco de Louis, mordendo seu pescoço por ele sempre acabar rindo com isso, contudo, ele permaneceu inerte.
Com uma disposição praticamente mórbida a mão de Harry tocou o lado esquerdo do peito de Louis e por melhor ator que fosse, não seria capaz de parar os batimentos cardíacos para assusta-lo. Tudo o que havia ali, era silêncio. Nenhum movimento. Assim como não havia pulsação, não havia respiração, não havia mais vida.
Ele puxou a mão de volta para morder o punho, evitando o grito que por pouco escapava por entre seus lábios se lembrando de que não podia gritar ou ter um ataque quando duas crianças pequenas chamavam por eles do outro lado.
Examinou o rosto de Louis e era sereno e relaxado, como se ele estivesse dormindo e acordaria a qualquer momento. Se espreguiçando e bocejando exageradamente alto até puxar o braço que estaria abraçando a cintura de Harry e sussurraria "bom dia, girafinha" antes de deixar um beijo em seus cabelos.
Aquilo não podia estar acontecendo.
Louis não podia estar morto. Isso era tão injusto. Tão fodidamente errado. Justamente agora que eles estavam bem, estavam felizes e tinham uma família. Dez anos não haviam sido suficientes, ele precisava demais, ambos mereciam mais tempos juntos e antes que Harry se desse conta ele estava apertando a camisa de Louis entre seus dedos com tanta força que podia ouvir o tecido rasgando e suas lágrimas formando poças sobre as clavículas de Tomlinson que não mais podia esboçar reação alguma. Ele se foi...
Ele se foi...
Ele se foi...
Para sempre.
- Papais, vocês estão bem aí?
- Eles devem estar fazendo coisinhas.
- Eu achei que eles estavam de greve dessas coisinhas.
- Acho que acabou, você viu como o papai Lou estava bonito ontem, não tinha como resistir.
- É mesmo. - Scarlett gargalhou infantil e sua risada havia sido alta o suficiente para mascarar o soluço engasgado que rompera da garganta de Harry. Ele não sabia o que fazer, Louis estava morto e ele nunca esteve preparado para isso.
Em sua cabeça nunca houve uma vida depois de Louis Tomlinson, ou ambos vivam ou morriam. Não existia um universo no qual eles poderiam ficar separados. Não existia a possibilidade.
Então enquanto Harry chorava copiosamente, encarando o céu com seus olhos embaçados, a lembrança de algo que aprendera em seus primeiros dias na mansão o abateu.
Louis Tomlinson nunca mente.
Ele não mentia, nem blefava. Tudo o que prometeu, ele cumpriu. E se havia uma promessa que sempre fez questão de reforçar foi a de que não morreria enquanto Harry não se desse conta do homem incrível que ele era e ironicamente era isso que ele tinha reconhecido na noite anterior. Então foi como se aquilo tivesse libertado Louis, sua promessa havia sido cumprida e ele podia partir em paz.
Afinal, depois de tantas coisas, ele merecia isso não? Paz. Claro que merecia, ninguém foi mais guerreiro e corajoso do que Louis. Ele viveu por ele e por aqueles que o amavam, mesmo quando já não podia mais. Ele permaneceu forte e o fez forte.
Que tipo de egoísta Harry seria se reclamasse agora?
- Tudo bem. - Balbuciou com a voz pequena, irreconhecível - Tudo bem, meu amor... E-eu posso cuidar delas, posso cuidar da gente. Nós v-vamos ficar b-bem. Vamos sim. - Passou a mão pelo rosto, tentando seca-lo como podia. Lutando contra a nova onda de soluços que vinha espasmando seu corpo - Eu sou forte agora, embora não pareça, eu consigo. Eu consigo viver sem você, Louis Tomlinson. Consigo, eu preciso... Pela nossa família.
Ele reuniu todas as suas forças para se soltar de Louis, não querendo pensar que não poderia mais toca-lo. Deus, como ele o amava. O amor que Harry sentia por Louis era muito superior ao que podia ser expresso em palavras, não poderia ser comedido em gestos, nada, absolutamente nada, poderia retratar a dimensão e poder que aquele sentimento, não, era muito mais do que isso. Seria como uma galáxia inteira, um buraco negro dentro de si repleto de coisas relacionadas a Louis Tomlinson. Os planetas seriam seus discursos inspiradores e diretos, as luas os sorrisos, os cometas e meteoros os ataques de fúria e todas as suas cicatrizes e as estrelas, as incontáveis e infinitas estrelas, seriam todos os eu te amo que ele havia dito a Harry. Louis era muito, mas finalmente Harry tinha percebido que ele não era tudo.
Louis era um imenso universo em seu interior, mas não era o único. Ele dividia o espaço com Scarlett e Melanie e quando ele pensou por um milésimo de segundos em desistir, em ir até o armário de remédios e engolir todas as pílulas que encontrasse lá, pode ouvi-las cantando baixinho através da porta de carvalho e aqueles universos menores se fundiram em um muito maior.
Mesmo que Louis morresse ele não se tornaria um desabrigado, sua casa seria aquelas duas garotas.
Ele nunca percebeu o quão longe haviam chegado, mesmo quando diziam que não daria certo. Eles conseguiram e por isso Harry lhe seria eternamente grato.
- Eu te amo, eu te adoro e uma parte muito grande de mim morre com você nesta manhã, mas uma outra nasce e eu quero que saiba q-que você nunca será esquecido... É hora de descansar, meu amor. Você foi incrível e a sua esposa e os seus filhos estão muito orgulhosos de você e loucos pra te ver novamente, pode ir. Ficaremos bem... - Diz, se aproximando com cuidado, tocando o queixo de Louis com a ponta dos dedos para virar seu rosto em direção ao seu e plantar um beijo casto em seus lábios, sussurrando contra a sua boca: - Obrigado por me dar o mundo.
Se demorou por mais alguns dolorosos segundos até conseguir se afastar, mas quando seus pés tocaram o chão, ainda sentado na cama, foi preciso a tomada de um novo fôlego ao se por de pé, sentindo sua pele arder assim como seus pulmões comprimindo, fazendo uma força absurda para não pararem ali mesmo.
Louis tinha morrido bem ao seu lado, na mesma cama em que Harry o tocou pela primeira vez quando ele estava sendo medicado por Bleta e completamente drogado, abraçou Harry, ali eles passaram noites falando besteira, fizeram amor, às vezes se beijavam e em outras davam as costas um para o outro, mas a única certeza que sempre restou é que haveria um novo dia. Harry não sabia como viver esse dia que acabava de chegar. Antes de pensar, ele precisava sofrer.
Como Louis disse, ele precisaria morrer, antes de renascer para uma nova vida.
Então quando abriu a porta, encontrando Melanie e Scarlett ainda de pijamas ele não pensou em nada antes de cair de joelhos diante delas, que passaram por um instante de hesitação até passarem seus bracinhos finos ao redor dele, mesmo antes de saber o que tinha acontecido. Harry começou a chorar, totalmente inconsolável, apertando-as, tentando encontrar suas próprias forças naqueles pequenos corpos.
- Shiii, calma papai. - Scar pediu, fazendo carinho em seus cabelos.
Num primeiro momento Melly achou que se tratasse de alguma discussão que os pais poderiam ter tido, só que ao olhar para o lado de dentro, encontrou Louis aparentemente adormecido e os pontos automaticamente se ligaram. Ela já tinha nove anos e conhecia com exatidão o drama relacionado a saúde de Louis no passado, de alguma forma ela sempre soube que ele partiria cedo.
O próprio Louis havia falado e as palavras que proferiu para ela certa noite teriam de ser aplicadas agora: Seu pai e a sua irmã são muito mais frágeis do que você imagina e haverá o dia em que precisarão de você para cuidar deles. Harry estava despedaçado e Scarlett perdida. Alguém teria que tomar o controle da situação e teria de ser ela.
- Scarlett. - Cutucou a pequena que a encarou com os olhos alarmados, tão inocente e assustada - Pode chamar o Liam pra mim? Por favor...
Ao invés da rebeldia ou réplica atrevida, ela ganhou apenas um aceno de cabeça e Scar se afastou, obedientemente se dirigindo ao andar debaixo. Quando ela já não podia mais ver a irmã, segurou o rosto do pai, para que pudesse enxergar as orbes verdes quando perguntou:
- Ele morreu?
Harry assentiu, chorando ainda mais forte e voltando a abraça-la. Melanie devolveu o abraço, sentindo seu coração doendo como nunca antes.
Era hora de ser forte.
Xx
Em uma dada manhã, Louis Tomlinson não acordou. Seus olhos permaneceram fechados e o peito imóvel, assim como as estrelas, aquela luz cálida e flamejante que ele costumava ser se apagou. Não de forma dramática e dolorida como ele pretendera há anos atrás, mas de forma gloriosa e honrosa. Em seu rosto se sustentava um pequeno sorriso, revelando que ele partira em paz, completamente feliz e satisfeito.
Sabendo que havia vivido tudo o que havia para se viver e não lamentava por sua partida, mas regozijava-se por todas as coisas que conquistou.
Ele amou e odiou, lutou e se rendeu, perdeu e ganhou, sorriu e chorou e bebeu bem mais do que qualquer ser humano aguentaria e agora, era a sua hora de descansar.
Em Gloucestershire, onde a casa que Louis vivera com sua família por um curto período de tempo que depois veio a se tornar um abrigo para aqueles que necessitavam de ajuda, então no jardim extenso do St. Lydia. Naquela mesma terra elevada, onde um salgueiro orgulhoso se erguia, uma quinta lápide fora erguida ao lado das outras quatro. Louis, Lydia, William, Abigail e Billie estavam repousando lado a lado, em seu sono eterno.
Louis costumava dizer no passado que era desagradável e por isso ninguém gostava dele, mas mesmo com toda a sua acidez e variações de humor acabou por conquistar muitos com sua bondade e generosidade inegável e por isso muitos que só nutriam admiração e gratidão por ele compareceram ao seu enterro. O caixão estava coberto por petúnias, sua flor predileta, todos usavam preto em estado de luto, dominando quase toda a extensão do jardim, ninguém havia discursado.
Harry sabia que Louis nunca quis palavras sendo ditas nesta ocasião. Na verdade, a única coisa que Louis expressou desejar foi uma música.
" Quando eu morrer quero que cantem essa música..."
Foi o seu único pedido e Harry o atenderia.
A orquestra, que fora ensinada por Ed na infância e com o auxílio de Louis estudavam nas melhores escolas de música do país também estavam presentes, os adolescentes tinham lágrimas nos olhos, enquanto começaram a tocar os violinos, seguidos de violoncelos e saxofone. Ele continuou em pé, ao lado de Charlotte e segurando Scarlett que chorava baixinho em seu pescoço, Harry gostaria de poder cantar a despedida de Louis, mas ele não podia, não conseguiria dizer aquelas palavras sem desabar, por isso era Melanie quem estava no meio, apertando uma rosa vermelha contra o peito e parecendo tão firme quanto uma rocha ao que começou a entoar o Hino Ao Amor.
Se o azul do céu escurecer
E a alegria na terra fenecer
Não importa, querido
Viverei do nosso amor
Se tu és o sonho dos dias meus
Se os meus beijos sempre foram teus
Não importa, querido
O amargor das dores desta vida
Harry respirou fundo, sabendo que precisaria ser mais forte do que jamais fora. Louis tinha confiado nele e ele não podia falhar, mesmo que estivesse sangrando por dentro.
Um punhado de estrelas no infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos, risos, crenças de castigos
Quero apenas te adorar
Se o destino então nos separar
Se distante a morte te encontrar
Não importa, querido
Porque morrerei também
A esta altura a emoção de todos ali presentes era inegável, principalmente da garotinha que aos poucos via a sua voz forte e límpida fraquejando tal como seus olhos iam se desfazendo em lágrimas porque aquela era a sua despedida para o melhor pai do mundo, era a última vez que poderia cantar diretamente para ele.
Um punhado de estrelas no infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos, risos, crenças de castigos
Quero apenas te adorar
Quando enfim a vida terminar
E dos sonhos nada mais restar
Melanie fez uma pausa, um tanto longa demais e todos a olharam apreensivos, até a banda teve receio em continuar acreditando que ela estivesse tendo algum mal estar. Liam se aproximou discretamente de suas costas, tocando os ombros miúdos que chacoalhavam pelos soluços, mas quando eles menos esperavam Melly recuperou a voz, sabendo que Louis ficaria orgulhoso dela, terminando a música com a voz trêmula, porém revigorada. Porque que não cantava apenas por si, mas também por Harry, Scarlett e todos aqueles que tiveram o prazer de conhecê-lo.
Num milagre supremo
Deus fará no céu te.... encontrar
Deixou a rosa sobre a tampa do caixão e se virou, deixando que Liam a abraçasse apertado, até que ela tivesse condições de ir até Harry e se agarrar a sua perna, enquanto se despediam de Louis.
Apesar de tristes e arrasados, eles estavam feliz por Tomlinson, enfim, poder descansar.
Um ano depois.
- Chamando o soldado Donny, por favor, apresente-se soldado Donny, temos uma emergência aqui. - Scarlett usava uma concha como comunicador - Está me ouvindo, soldado?
- Na escuta, capitã. - Melanie engrossava a voz, aproximando a outra concha da orelinha do bebê.
- Precisamos que você se infiltre na Alemanha nazista e chute o traseiro de um certo austríaco metido a besta.
- Hey, Scar! O que eu disse sobre xingar? - Harry interveio, arruinando a brincadeira de Scarlett que vinha detestando o fato de levar broncas de uns tempos pra cá.
- Traseiro não é palavrão, pai.
- Não é exatamente uma palavra bonita. - A mais velha explicou, sorrindo quando Harry concordou com ela.
- Além disso você não quer que a primeira palavra do Dorian seja traseiro, não é mesmo?
- Não, de jeito nenhum. - Ela se sentou ao lado deles, na toalha de piquinique e oferecendo a mão para o pequeno Dorian que sorriu travesso antes de tentar morder seu dedo, mesmo sendo um garotinho banguela de apenas três meses. Scarlett o achava o bebê mais esperto e fofo do mundo, principalmente quando usava suspensórios e ficava com a franjinha lisa caída nos olhos azuis cintilantes, o olhar dele era muito atento e carinhoso, ela tinha certeza de que o do seu papai costumava ser assim.
- Falta muito pra ele falar ainda, papai?
- Ele ainda é muito pequeno, então vai levar um tempinho. - Harry a respondeu, levando o bebê para o seu colo, deixando que Melanie pudesse se levantar e parar em frente a mais nova.
- Sabe qual foi a sua primeira palavra, Scar?
- Seria algo como sou linda? - Disse toda exibida balançando seus cabelos bem arrumados, com um laço.
- Não, sua metida! Foi Melly.
- Não!
- Sim!
- Papai, manda ela parar de mentir.
- Mas ela está dizendo a verdade. - Ele deu de ombros, rindo das caretas da menina sentada ao seu lado.
- E qual foi a primeira palavra da Melanie? - Foi a vez de Harry torcer sua expressão em uma bastante desconfortável, por se lembrar que como pai de primeira viagem foi terrível o bastante para gritar um filho da puta na frente da bebê que começou a repetir isso sem parar. Então a primeira palavra de Melanie foi Puta e isso pegou muito mal quando ela contou para Fizzy e ambas não paravam de repetir a palavra suja.
- Foi papai.
- Oh, que meigo da minha parte. - Sorriu orgulhosa de si mesma e este mesmo sorriso se alargou ainda mais - Seu namorado está vindo. - Quatro cabeças se viraram para trás, até mesmo Dorian queria ver Liam vindo em sua direção com um sobretudo preto, topeto castanho e girando a chave do Mustang no indicador.
- Ele não é meu namorado.
- Ah, para nós temos orelhas. - Scarlett também saltou da toalha, para ficar junto de Melanie com olhares insinuantes.
- O quê?
- Quer dizer que ouvimos coisinhas.
- Não existem coisinhas nenhuma.
- Claro que teve e é melhor tomar cuidado para não nos dar mais um irmãozinho. - O vento soprou contra os rostos risonhos e Harry revirou os olhos, sem saber de onde elas tinham herdado todo aquele abuso e falta de respeito, definitivamente não era dele. Até o pequeno Dorian gargalhou em seus braços - Oh, você gosta disso? Gosta que o papai tenha um namorado?
- Eu já disse que ele não...
- Olá, pessoal! Estão se divertindo? - Liam ajoelhou ao lado de Harry, bagunçando os cabelos de Dorian e sorrindo de um jeito muito incriminatorio para o cacheado que tentava à todo custo não ser vítima dos olhares sarristas de Melly e Scar que estavam eufóricas com a possibilidade do pai estar gostando de alguém. Harry havia ficado triste por muito tempo e se não fosse por Liam, provavelmente os três estariam vegetando em suas camas, mas ele não deixou que isso acontecesse. Manteve as meninas na linha, sempre as incentivando a estudar e praticar seus hobbies prediletos. Também inventando programas para fazerem juntos e até levando-as para passeios além dos limites da mansão, onde Scarlett e Melanie se tornaram muito próximas e até mesmo melhores amigas. Harry recebeu uma ajuda ainda mais especial, pouco tempo depois da morte de Louis ele soube que teria mais um bebê e o luto o impediu de ficar feliz por isso, mas Payne estava lá por ele, sempre cuidando dele e o fazendo rir e depois de tantos meses lado a lado em tempo integral, a amizade havia evoluído para algum tipo de sentimento interessante.
Elas sabiam que ele não podia, tampouco pretendia ocupar o lugar que pertencia a Louis. Tomlinson confiava nele e pediu que ele cuidasse de sua família, coisa que sempre fez e se no processo acontecesse de Harry e Liam se apaixonarem um pouquinho, bem, sorte deles. O que importava é que eles fossem felizes e seriam, agora distantes de tudo. Harry vinha nutrindo um certo desejo desde o nascimento de Dorian, lhe restava uma pendência.
Como Louis disse certa vez, aquela mansão era o lar de outra pessoa e a sua casa havia partido, mas ele não havia se tornado um desabrigado. Louis podia não estar mais aqui, porém o deixou um lar ainda maior e acolhedor, a sua casa eram aquelas pessoas ao seu redor. Seus filhos, era com eles que seu coração estava.
- Vou sentir saudades de Londres. - Melanie suspirou, deitando a cabeça no ombro de Harry.
- Iremos vir visitar nossos amigos sempre que sentir vontade, eu prometo. - Ele garantiu, beijando seu nariz o que a fez rir timida.
- Eu vi fotos de Santorini, é muito bonito lá.
- Sim, e tem um mar ao redor, cheio de peixes e até golfinhos. - Liam contou, deixando-a impressionada.
- E o que estamos fazendo aqui ainda? Vamos logo, quero conhecer nossa nova casa. - Então o que se seguiu foi o vulto de um pontinho amarelo correndo em direção a mansão.
- Ei, me espera! - Melanie berrou, correndo atrás dela, também empolgada.
- Será que elas vão tentar ligação direta? - Payne diz sorrindo ao balançar a chave.
- Eu não duvidaria, o sangue de Louis Tomlinson corre nas veias delas.
- Oh, tem razão, isso é um perigo. - Seu sorriso foi diminuindo ao que ele tentou segurar a mãozinha de Dorian que estava quase toda dentro da boca do garotinho - Ele é idêntico ao Louis.
- Yeah. - Harry sorriu, balancando-o em seu colo.
- Tem certeza que quer que eu vá com vocês? Quer dizer, o que aconteceu entre nós, não p-precisa significar algo se você não quiser. E-eu vou entender. - Liam expôs toda a sua insegurança, gaguejando pela primeira vez que Harry pudesse se lembrar. Seus olhos verdes serpenteando acima do ombros, garantindo que as meninas não estivessem a vista e deixou um ligeiro, porém significativo beijo nos lábios de Liam e encostou suas testas.
- Eu não sei se o que está acontecendo agora é passageiro ou duradouro, mas nada disso importa. Nos conhecemos há anos e você sempre cuidou de mim, com romance ou não, eu quero sempre ter você ao meu lado.
- Vocês são minha família.
- Nós somos uma família, sempre fomos. - Garantiu, beijando-o mais uma vez, porém antes que pudessem se deixar levar pela sensação Scarlett apareceu gritando que estava na hora de ir.
- Vamos? - Ele se levantou, pegando Dorian no colo que deitou a cabeça em seu ombro, sonolento.
- Eu já vou, só preciso fazer uma última coisa. - Liam assentiu, dando a privacidade que Harry precisava. Os observou sumirem em meio a relva e então ousou caminhar pela grama velha e alta, com folhas secas e alaranjadas espalhadas, o som dos galhos se partindo a cada passo de sua bota soava como os mesmos que ouviria há muito tempo atrás quando Louis Tomlinson corria cegamente por aquele caminho e como ele naquela época, Harry tinha como objetivo chegar até o rio Tâmisa, uma última vez.
O vento frio soprou, fazendo com que seu longo casaco azul fosse para trás, mas o suéter branco o protegia, os cabelos um tanto longos eram arrastados pela brisa e o pôr do sol preguiçoso iluminava e aquecia sua pele. A mão enterrada no bolso girava uma velha companheira sua, estava na hora de despedir-se.
Harry levou a moeda gasta até a altura dos olhos.
- Não vai fazer um pedido, Harry?
- Eu não sei se é um bom pedido.
- Se está no seu coração é porque é bom.
- Você sempre estará no meu coração. - Sussurrou, levando a moeda até os lábios e plantando um beijo ali, antes de avançar um pouco mais, sentindo o frio que emanava do rio - Você foi o melhor e mais bonito capítulo da minha vida, eu sempre serei grato por tudo o que me ensinou, o que fez por mim e... Principalmente por ter cuidado de mim até o fim. Demorou, mas eu aprendi a me cuidar e cuidar de todos nós. Eu me tornei o homem incrível que você sabia que eu seria. Obrigado por acreditar em mim, obrigado por me dar a chance de te amar e ser amado por você. Viver ao seu lado foi uma honra, um privilégio sem igual, o seu livro se encerrou, mas o meu ainda continua, estou partindo para começar um novo capítulo e rezo para que tenha a sua benção.
Harry soluçou, limpando os olhos com as costas da mão.
- Acho que eu finalmente sei o que pedir... Do fundo do meu coração, espero que você esteja descansando e esteja em paz, mas... Se, se houver algo além de nós, talvez um novo mundo ou uma segunda chance, um paraíso... Sei lá. - Ele ri em meio a sua total falta de habilidade com as palavras, Louis jamais teria esse tipo de problema - Não importa como ou onde, meu desejo é que um dia nos encontremos novamente... Quero poder ouvir a sua voz de novo, ver o seu rosto, sentir a sua pele e o seu perfume. Eu quero dizer que te amo e quero que você me chame de girafinha, mais uma vez. Ter você de volta, é o que eu quero e é por esse dia que eu viverei. Eu te amo, Louis, te amo hoje e sempre. Meu amor é seu! - Então, ele lançou a moeda em direção a ao rio, ela se chocou com a água, pairando na superfície por poucos segundos antes de afundar, guardando o desejo de Harry e nunca esquecendo-se dele.
Um dia eles se veriam novamente. Harry sabia que sim.
Ele ouviu a buzina do carro, provavelmente Scarlett impaciente com sua demora. Estava prestes a seguir quando resolveu olhar para cima e encontrar um pôr do sol incrível e o melhor de tudo era a cor do céu, o azul resplandecente que aquecia seu coração e refletiam os olhos de alguém, alguém que olharia por eles e isso o fez sorrir.
"Alguns começos são finais e outros finais se tornam começos."
FIM.
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