9 • | same lips red, same eyes blue
— Você tem lavado atrás das orelhas?
Reviro os olhos com mais uma pergunta sem sentido da minha mãe, acariciando minha barriga que com seus três meses completos começa a dar alguns sinais formando uma pequena, porém já notável bolinha, naquela região. Revelando que há algo mais do que apenas gordura acumulada, por falar nisso não consigo parar de me lamentar em frente ao espelho que meu rosto fica cada vez mais redondo, assim como meus quadris e o resto. A cada dia eu viro uma baleia.
Será que eu vou fazer esse tipo de perguntas para o meu filho? Definitivamente não. De que me importa se ele lava ou deixa de lavar atrás das orelhas?
— Sim, mamãe.
— E se alimentado direito? — A voz de Anne soa cautelosa e quase hesitante como se caso a resposta fosse negativa ela teria um infarto.
Só a menção da palavra comida faz com que eu coloque a mão na água e reme até a borda da piscina para alcançar a tigela de salgadinhos que Clare havia acabado de colocar, encho a mão e levo a boca todos de uma vez.
— Oh, muito bem, eu engordei cinco quilos. — Respondo de boca cheia, arrancando algumas risadas de Charlotte que está sentada no lounge próxima a porta aberta, recebendo o sol fraco que entra.
— Harold, assim também não. Você não viu o seu pai? O lado da família dele é cheio de pessoas... Fortes. — Engulo a vontade de rir que me vem ao lembrar da minha mãe chamando meu pai de gordo, era uma briga das boas, em que ele insistia ter ossos largos. Não, é isso não, Sr. Styles — Sua irmã também tem exagerado, eu tenho que ficar no pé dela. — Seu tom de voz muda drasticamente — Aliás, tenho ótimas notícias! Gemma está noiva.
— Mentira! De quem?
— Luke Hemmings. — Engasgo sentindo um salgadinho inteiro parar no meio da minha garganta, chamando a atenção de Charlotte e Louis que também estava deitado ao lado da irmã. Clare me oferece um suco que eu agradecidamente aceito — Harry, você está bem, querido?
Não, eu não estou nada bem. A minha irmã vai casar com um cara que eu já transei uma dúzia de vezes. É bizarro!
— Sim.
— Bem, estamos muito animados. O Sr. Hemmings e seu pai são ótimos amigos e...
— Ela está feliz?
— Quem?
— Gemma, ela está feliz? — Repito, dando mais um gole no meu suco.
— Ela sabe o que é melhor para ela. Gostaria de saber quando vai vir nos visitar, já se passaram dois meses, meu aniversário e o de seu pai estão chegando.
Merda, visitar? Eu não tinha pensado nisso.
— Em breve, em breve. — Digo, rapidamente — Agora eu tenho que ir, a aula vai começar! Tchau, mamãe, mande um beijo para todos e felicitações para Gem.
— Tchau, meu amor, boa aula. — Ela responde amorosa antes de encerrar a ligação. Me viro, devolvendo o telefone e o copo para a mesinha quando meu sexto sentido me alerta para o perigo.
— Louis, não! — Lottie grita, infelizmente tarde demais para parar o irmão mais velho que já está saltando na piscina e perigosamente na minha direção. Só tenho tempo de colocar os braços em frente a barriga, tendo que sacrificar outras partes também importantes que são duramente atingidas pelo cotovelo de Louis.
O grito que eu dou faz com que Sarah e Liam entrem assustados na área da piscina, sem entender o porquê de Louis estar tentando falar comigo, Lottie na beirada me abanando com sua revista e eu encolhido com ambas as mãos segurando minhas partes baixas. Acredito que golpes nos testículos matam sim.
— Foi mal. Você sabe que não foi por querer, você sabe. — Tomlinson repetia ainda agarrado a minha bóia. Eu continuava a me revirar de um lado para o outro, agoniado por não poder tocar aquela região com três mulheres ao meu redor.
— Machucou. — Gemo, com a respiração descompensada.
— Eu sei, olha você pode me beliscar se quiser. — Ele oferece, estendendo o braço em minha direção. Realmente arrependido.
Os outros quatro se olham e sorriem feito bobos e eu sei que é porque estão felizes. Louis não é assim e eles acreditam que de alguma forma eu estou fazendo a diferença. Será?
Esfrego os dedos pelos desenhos em seu braço e todos parecem uma confusão infinita e sem muito sentido.
— Porque tantas tatuagens?
— Ficam bem em mim. — Louis deita a cabeça no cantinho da bóia, os cabelos roçando em meu braço — Quer fazer uma?
— Louis, ele só tem dezesseis anos. — Liam o lembra. Olho para o seu corpo grande parado em frente a porta, vestindo sobretudo e os cabelos muito bem penteados, ele seria intimidante se não fosse aquele sorriso encantador e apaixonante, mas também há a forma como ele olha para Sarah como se ela fosse um anjo que desceu a terra. Mesmo que a maioria de nós não víssemos qualidades ou qualquer coisa agradável nela, ele a amava. Talvez nem sempre os motivos para se amar alguém estejam expostos, entregues de bandeja, em alguns casos precisamos nos esforçar e procurar ou como Liam disse certa vez quando eu perguntei sobre como ele se apaixonou "simplesmente aconteceu, Harry."
Eu não imagino como isso pode simplesmente acontecer. Como você se apaixona por alguém sem perceber? Não tem como.
— Tá, quer cavalgar?
Louis não gostava de ficar para trás e como eu resolvi lhe ensinar algo, ele naturalmente quis retribuir o favor me ensinando a cavalgar. Não era tão fácil como parecia. Era meio complicado e nos primeiros dias eu morria de medo do cavalo, mas consegui subir nele e até andar um pouquinho. Louis tinha deixado que eu cavalgasse em um cavalo lindo, com o pelo negro e brilhoso chamado Pégaso.
— Mas ele não tem asas! — Brinquei, apenas para provocar.
— Se eu quiser eu compro asas, eu sou rico pra caralho. — Foi sua resposta amável.
Nós nos dividiámos em diferentes atividades, cavalgávamos, nadávamos, eu tinha que jogar todos os jogos que Louis inventasse, depois havia a leitura de E O Vento Levou, as conversas jogadas fora em frente a lareira e acabou se tornando uma rotina que ele me esperasse nas escadas quando eu voltava da escola. Clare me segredou que ele ficava lhe perguntando as horas e se faltava muito pro Harry chegar da escola. Então nós podíamos ser considerados oficialmente amigos.
E havia um fato curioso, Louis conversava com a minha barriga e eu adorava isso, por mim poderíamos fazer isso vinte e quatro horas por dia, mas eu morro de vergonha de pedir então o deixo fazer só quando tem vontade.
— Eu não sei. — Respondo, apoiando meu queixo no alto de sua cabeça e nós dois suspiramos entediados.
Sem perspectivas ou ideias até que...
— Srta. Tomlinson? — Louis e eu dobramos o pescoço mesmo que ninguém ali seja a Srta. Tomlinson.
— Sim? — Charlotte abaixa a revista, encarando Clare que torce os dedos da mão em um gesto nervoso.
— Eu queria saber se pode me dar a noite de folga? — Pede com hesitação — Bem, eu deixaria tudo pronto, é claro, apenas para que Sarah pudesse servir.
— Sendo assim não vejo porque não. Claro que pode tirar a noite.
— Obrigada, senhora. — Ela agradece com um sorriso tímido.
— Onde você vai? — Louis pergunta o que eu estava me remoendo de vontade para saber e Charlotte bufa, contrariada pela intromissão do irmão.
— Mmm, e—eu... — Clare, entorta os lábios e coça a testa, se demorando demais em uma pergunta simples —, vou ver uma apresentação.
— De quem?
— The Quarryman.
— Nunca ouvi falar.
— São novos, tenho um amigo na banda.
— Namorado. — Louis continua, determinado a fazer Clare chorar ou lhe tacar algo.
— Amigo, Sr. Tomlinson.
— Que seja! — Louis bufa, se enfiando na boia junto comigo e enquanto flutuámos grudados um no outro ele se vira para mim com um sorrisinho sacana — Precisamos ficar bonitos hoje.
— Porque? — Sussurro de volta.
— Temos um show para ir, Haz.
Xx
Se eu já não fosse um criminoso, acabaria por me tornar um pelas coisas que aprontava ao lado de Louis. Primeiro, a sua tentativa de suicídio, depois, seu passeio de bicicleta e aulas noturnas de natação, mas nada se igualava ao que fazíamos agora. Se Charlotte sequer sonhasse com isso eu estaria morto. Mesmo assim, não é como se eu tivesse outra alternativa a não ser obedecer o que o meu patrão pedia.
— Harry, eu não tenho o dia todo. — Louis resmunga, com sua cabeça inclinada para trás e o maxilar e queixo com a espuma branca do creme de barbear. Olho mais uma vez para a navalha em minha mão nem um pouco certo do que fazer com ela.
— Louis, você deveria pedir a Liam.
— Liam é cheio de perguntas, você o conhece, ele ia sacar na hora o plano todo. Vamos, eu preciso da sua ajuda e sei que você pode fazer isso, é só tirar a minha barba só isso.
— Mas você fica bonito de barba. — Insisto, não querendo fazer aquilo de jeito nenhum.
— Não, eu estou parecendo Abraão com isso na cara. Anda, tira.
— Mas, Louis... — Choramingo, recebendo um chute na canela.
— Nada de mas, vai, você consegue, campeão! — Me dando por vencido, firmo os dedos ao redor do cabo e deslizo a lâmina por sua bochecha, soltando o ar quando não faço nenhum ferimento — Ótimo, agora, molhe na água e continue assim. — Faço o que ele pede e pouco a pouco vou tirando sua barba por completo, me demorando um pouco mais no espaço entre a boca e o nariz, com medo de corta-lo.
— Ufa, terminei! — Digo, limpando qualquer resquício de espuma de seu rosto agora liso. Louis se senta ereto e o cabelo antes puxado para trás, cai todo para a frente, o deixando absurdamente mais gostoso que o normal.
— Mil anos depois. — Fala com uma voz afetada, passando a mão pelo próprio rosto — Hm, ficou bom, muito bom, Harry. Quer que eu tire a sua agora?
— Não, obrigada. — Respondo sorrindo — Eu não tenho barba.
— Você é tão bebezinho. — Diz, girando a cadeira e puxando os cabelos para trás — Hora do cabelo.
— Eu nunca cortei o cabelo de ninguém em toda a minha vida.
— Bom, isso vai mudar hoje. — Suspiro, novamente derrotado, mexendo nos cabelos úmidos de Louis. Ele me entrega uma tesoura própria e sorri inconscientemente para seu reflexo no espelho — Me deixe com o cabelo da moda.
O cabelo da moda consiste em um topete alto e impecável. O que é difícil de se conseguir com o cabelo fino e liso demais de Louis que apontava para todas as direções menos para o que eu queria. Contudo, depois de longas horas de esforço e um diálogo longo com Clare para nos deixar comer no quarto, eu consegui.
Então era a hora de se vestir e Louis com seus dois closets abarrotados de roupa da melhor qualidade se jogou na minha cama, resmungando que não ia porque não tinha roupa.
O que resultou nele, usando as minhas roupas, calças e camisa pretas e justas, ele repetia sem parar que queria uma jaqueta de couro. Encontrei uma entre minhas coisas, mas ela pertencia a Zayn e eu não tive coragem de deixá-lo usar, não parecia certo com nenhum dos dois, então, ele se contentou com um blazer cinza com um lenço preto e branco no bolso. No final, não havia como negar que Louis Tomlinson era uma visão dos deuses, os rastros de sua barba prevaleciam por seu maxilar marcado e o queixo, durante suas trocas de roupas o topete caiu para direita lhe dando um ar ainda mais charmoso e rebelde e nada disso se comparava a forma como minha camisa deixava expostas suas clavículas e ele se esforçava em consertar isso, mantendo o lábio entre os dentes concentrado demais para perceber que eu tinha esquecido de me vestir apenas apreciando sua beleza e tendo uma ereção se formando dentro da calça.
Quem é James Dean perto de Louis Tomlinson?
— Como estou? — Ele pergunta abrindo os braços e dando uma voltinha. Eu devo ter tido um derrame só de olhar para aquela bunda.
— Go-gracioso! — Gaguejo, secando a saliva que escapou pelo canto da minha boca no meu momento de apreciação.
— Gracioso?
— É, é assim que falam agora. Como, nossa você está muito gracioso esta manhã. — Reviro os olhos com as merdas que saem da minha boca, enquanto deslizo para dentro das minhas roupas, terminando de abotoar a camisa quando Louis surge as minhas costas e toca minha barriga. Minhas mãos congelam no colarinho.
— Como está o pequeno? — Ele pergunta fazendo um carinho leve e eu quase ronrono.
— Bem. Não está aparecendo ainda. — Digo, nervosamente, o sentindo tatear a lapela do meu casaco e prender um broche de flor cinza, que causa um leve contraste com o preto.
— Como estamos, Harold?
Olho para nossos reflexos e meu coração acelera com o pensamento de que iremos juntos a uma festa. Apenas nós dois. É quase um encontro. Um encontro com Louis.
— Estamos muito bonitos!
— Ótimo, garoto! — Ele aperta meu ombro e sorri de canto — Agora vamos pegar nossas garotas.
— Garotas?
— É claro. Dois rapazes bonitos como nós precisamos ir muito bem acompanhados.
Ah, tá.
Xx
Em dias normais eu gosto da Clare. Ela é bonita, legal e cozinha muito bem, mas hoje eu a detesto, não porque ela estar aqui significa que eu não estou tendo um encontro, não mesmo. O problema está mais nela, não saber andar tão bem de salto e ficar tropeçando do meu lado e quase me levando junto a cada tropeço, já que somos um casal, um casal estranho e inesperado, mas um casal, com roupas combinando, braços dados e tudo o que manda o figurino.
Preciso dizer quem é o par de Louis? Não, mas eu vou falar de qualquer maneira.
Ele e Bebe Rexha formam um lindo casal saído de algum filme hollywoodiano, com seus braços entrelaçados e o queixo dela apoiado em seu ombro ao que ele fala algo que faz ambos rirem. Ela veste um vestido branco com bolinhas cor de rosa e até um chapeuzinho charmoso, eles caminham a nossa frente e eu os encaro sem intervalos, não dando atenção ao que Clare fala. Até que um lugar com grandes luzes piscando chama nossa atenção, o bar que tem suas mesas arrastadas no canto para que possa ser formada uma grande roda onde muitos dançam no estilo rock n' roll, garotos remexendo os ombros e quadris e garotas sendo jogadas de um lado para o outro, ficando até de ponta cabeça no meio da pista.
— Olhe lá estão eles. — Clare aponta para os garotos que aparentam ter a minha idade com cabelos oleosos e roupas desalinhadas em cima do palco. Tocando instrumentos e cantando até que bem — Paul está tão bonito esta noite. — Ela suspira apaixonada e Louis que está ao seu lado estreita os olhos, virando a cabeça para ela.
— O tal Paul não tem a idade do Harry?
As bochechas de Clare mudaram para um vermelho rubro na hora.
— Bem, sim...
— Clare, arrume alguém da sua idade, você está velha demais para pegar garotinhos.
— Não tão velha quanto você. — Ela retruca atrevida, fazendo com que Bebe e eu arregalassemos os olhos chocados e Louis simplesmente gargalhou satisfeito.
— Essa é a minha garota! — Exclamou, puxando Bebe consigo para a pista.
E foi onde todos nós acabamos, dançando todas as músicas que o The Quarryman tocava, eu não conhecia nenhum deles, mas sabia que um baixinho bonitinho chamado Paul McCartney estava de cortejos com Clare que parecia caidinha por ele. Louis sussurrou que ela tinha uma queda por garotos jovens e que era melhor eu ficar de olhos abertos senão acabaria no altar no final daquela dança. Era um show animado, haviam muitas moças bonitas, acompanhadas de mais garotos bonitos que dançavam muito bem. Os que não eram tão bons assim se divertiam assistindo e bebendo das mesas, em um dado momento eu acabei me juntando a eles, sentando em uma mesa com uma taça de ponche e bebericando junto a Clare quando uma música lenta começou.
Put Your Head On My Shoulder era a música que Bebe pediu a Deus para que tivesse a oportunidade perfeita de se agarrar a Louis, deitar a cabeça em seu ombro e dançar a balada como os demais casais. Os braços dele abraçaram sua cintura com força, sussurrando algo em seu ouvido que a fez corar como uma colegial. As mãos dela brincavam com os cabelos de sua nuca e sua boca tocava a bochecha de Louis e o rosto dele se movia lentamente, indo de encontro ao seu para que o beijo inevitável acontecesse.
— Eles formam um casal tão lindo, não acha? — Clare perguntou, com a cabeça apoiada na mão e um sorriso brilhante.
— Aham.
— Uma vez ele fez o pedido, sabe, mas ele estava em uma época tão ruim que nem foi levado em consideração. Mas eu acredito que agora que o Sr. Tomlinson está melhor, ele possa pedir novamente e não é segredo nenhum que ela irá aceitar.
— Você acha isso? — Pergunto com o copo em frente aos lábios para que ela não veja meus dentes esmagando os mesmos.
— Eles se amam, Harry, veja, isso é óbvio. — Ela aponta para eles.
Mas eu não olho.
Eventualmente acontece o que era de se esperar. Com o fim da apresentação do grupo dos amigos de Clare um novo sobe ao palco e os garotos se juntam a nós, eles bebem bastante e todos fazem o mesmo. Exceto eu. Bebe, sem dúvida, é a que vai mais além e fica completamente embriagada. Um cara nojento percebe isso e a puxa para dançar sem que ela queira, seus gritos por Louis o levam até ela e uma discussão feia se inicia com o homem com o dobro do nosso tamanho que comete o disparate de apontar o dedo no peito de Louis.
— Dá o fora, tampinha.
— Ah, você não disse isso. — Louis diz desacreditado passando a mão pelos cabelos, cambaleando um pouco — Você sabe com quem você está falando? Você não faz ideia da porra que você arrumou pra sua cabeça.
— O quê? Vai morder minha canela? — O homem zomba, batendo seu ombro no de Louis que cai para trás sendo segurado pelo aglomerado ao seu redor. Estou um pouco mais distante, tentando chegar até eles.
— Vai se foder! — Louis grita furioso e pula pra cima do cara e eu acredito que ele o acertaria se estivesse menos bêbado, mas como esse não é o caso, Louis erra e leva um soco no meio da cara desabando nos braços da multidão de desconhecidos. Ver Louis apanhando acende uma fúria brutal em mim e eu empurro todos que estão no meu caminho correndo até ele.
— Sai do meio, bichinha. — O homem me puxa pelo colarinho, arrebentando alguns botões da minha camisa e não me deixando chegar até Louis, o que me deixa ainda mais bravo.
— Tira as suas mãos de mim! — Grito, não reconhecendo a minha voz pelo quão grave e rouca ela sai ao que eu o empurro e sem mais fecho o punho e o acerto, com força suficiente para lhe arrancar sangue e um rugido dolorido.
Ele, é claro, tenta me agarrar para me matar com as próprias mãos e não tão certo como antes da minha força recuo até que ele alcança meu blazer e me puxa, afastando meus pés do chão e estou conformado com a morte quando se ouve o som de algo se partindo e o grandalhão caindo. Louis larga a garrafa no chão e me puxa pelos ombros.
— E eu declaro Larry o campeão desse combate, senhoras e senhores. — Ele declara me apertando e as pessoas riem e aplaudem toda aquela idiotice. Escuto o dono do bar resmungando e puxo Louis para fora do lugar antes que acabemos na cadeia.
Xx
— Acha que existe vida após a morte? — Louis me pergunta se equilibrando no meio fio. Eu faço o mesmo do outro lado da rua.
Era uma bela noite, o clima estava agradável e podíamos ouvir os grilos cantarem de dentro dos arbustos. A rua era desconhecida e silenciosa, havia uma longa trilha de lâmpadas que a iluminava com suas luzes amareladas. Não muito longe dali podíamos ouvir a nova banda tocar, era um folk rápido e estranho que me fez torcer o nariz. Louis tinha um hematoma no rosto e um corte no lábio superior e parecia bem feliz com isso. Tínhamos tido uma noite divertida até agora.
— Não, eu acho que quando você morre, apenas fica lá dormindo. Em paz.
— Essa é uma boa. Eu não gostaria de ir para o inferno.
— Porque você iria para o inferno?
— Eu matei pessoas.
— Eram inimigos.
— Isso não faz com que deixem de ser pessoas. — Louis suspira, parando de repente e levantando os olhos para o céu estrelado que tem um tom de azul tão escuro e profundo quanto aquele em suas orbes — Eu matei vinte e oito homens.
Ele esfrega os números em seus dedos e respira fundo, ficando subitamente melancólico.
— Não diga isso, você é um herói. — Digo, atravessando a rua e parando a sua frente. Na calçada ele fica maior que eu e meu desejo é esfregar o nariz em seu pescoço e chupar sua clavícula até que eu o tenha gemendo meu nome.
Eu tenho tesão demais acumulado e isso está começando a me fazer mal.
— Matei pessoas para salvar pessoas, não faz sentido. — Suas mãos esfregam o rosto, agoniado — Eu só queria... Só queria ter algo pra mim, algo que faça sentido. Algo que não foi destruído ou corrompido pela guerra, eu quero algo puro e bonito pra mim.
— Então você me quer. — Digo sem pensar.
Louis leva na brincadeira dando risada e girando nos calcanhares, se agarrando a um dos postes de luz e cantarolando Singin' In The Rain.
— Você está se achando demais, girafinha. — Disse ainda se girando alegremente, usando a bengala como se fosse um guarda—chuva.
— Só estou dizendo a verdade. — Respondo, indo até o poste e ficando em seu caminho. Louis para com seu rosto a poucos centímetros do meu, sua respiração pesada batendo diretamente em minha pele — Se pudesse me ver você iria me querer.
O ponche pode ou não ter me deixado mais atirado do que o normal.
— Porque acha isso? — Louis inquiriu com suas sobrancelhas arredondadas se levantando em desafio.
— Porque eu sou bonito demais para resistir.
— Então é esse o seu trunfo, a sua beleza? — Ele cruza os braços, apoiando o ombro no poste e tendo um estranho tom de voz — Se apoiar na beleza é coisa de gente idiota. É algo superficial e frágil demais. — Levanta sua mão esquerda, tocando a lateral do meu rosto com uma suavidade agonizante — Não posso acreditar estar tocando no que você tem de melhor.
— E se for? — Arfo com seus dedos deslizando por minha face e se fechando no meu queixo, me aproximando dele.
— Eu estaria enganado. Porque quando eu penso em Harry Styles não imagino um rosto angelical, nem nada que seja esteticamente bonito. Quando penso em Harry Styles me vem à mente uma voz lenta, rouca e meiga, um ser repleto de bondade, gentileza, determinação e coragem, muita coragem. Ao olhar para você, eu não posso ver detalhes do seu rosto, é verdade, mas não significa que eu esteja cego para os seus gestos, palavras e ações. Você é aquela coisa bonita e pura que eu tanto queria, mas você não é pra mim.
Estou prestes a falar quando um relâmpago ilumina o céu e uma chuva torrencial cai sobre nossas cabeças. Louis, como a criança que é, se diverte pulando em poças e performando Cantando na Chuva com os ânimos exaltados. E eu lamentavelmente o acompanho. Porém, quando ela não parece ter previsão de acabar, corremos para um gazebo não muito longe dali, feito de madeira com as tábuas pintadas de branco e o teto em formato de cone marrom. É muito bonito e de certa forma poético, um refúgio em meio a tempestade. Chegamos ensopados, arrancando nossos blazers para longe que ficaram ainda mais pesados depois de molhados, minha camiseta está transparente, mas não é como se ele pudesse notar algo, enquanto meus olhos não deixam de perceber como a roupa se torna mais aderente ao seu corpo e o topete dera lugar a uma franja mais curta que o normal.
Estamos apenas os dois aqui. As meninas continuaram no bar e ainda não vieram atrás de nós. Tomlinson está agachado próximo as escadas torcendo a camisa e eu estou no centro do gazebo com os cabelos grudados na testa e nuca, sentindo meu coração acelerado. Se Louis pudesse me ver agora o que ele faria? Ele me beijaria? Ou arrancaria a minha roupa? Eu o teria fácil como tenho a todos?
Esfrego o rosto, começando a andar em círculos, angustiado comigo mesmo. Isso tudo é uma grande estupidez, quer dizer, Louis é o meu patrão, um veterano de guerra com o dobro da minha idade. Ele é viúvo, rico e cego, definitivamente não é o homem para mim, um pirralho de dezesseis anos que não sabe de nada, que não viu nada, apenas um mimado convencido acostumado a ter todos na mão e que agora espera um bebê. A combinação é terrível, mas de alguma forma nós nos damos bem, somos amigos, bons amigos e seja como for, porque Louis iria me querer? O único trunfo que eu tenho está inacessível para ele. Gentileza e bondade não são atrativos pra ninguém. Eu tenho que parar de pensar nisso, é apenas saudade da minha vida sexual, não tem nada haver com Louis. Nada. Fecho os olhos, respirando fundo, decidido a deixar esses pensamentos de lado.
Mas os planos de Deus são misteriosos e mesmo com a chuva forte caindo é claro como o dia a música que vem do bar e chega até nós.
These Arms Of Mine é com certeza uma mensagem subliminar, é romântica e excitante demais para estar sendo tocada por acaso e sei que só pode ser um incentivo das forças superiores e quem sou eu para ir contra eles, me viro para Louis que continua do mesmo jeito.
— Louis. — Chamo e ele se vira, ainda agachado.
— Sim?
— Dança comigo. — Seguro sua mão, o fazendo levantar.
— Oh, não, por favor. Não faço isso há mais de uma década. — Protestou, apesar de deixar que eu o guiasse até o centro.
— Eu confio nas suas habilidades. — Sorrio observando o seu sorriso pequeno e até tímido ao que coloco sua mão em minha cintura e seguro seu ombro. A luva de couro está escorregadia e dificulta que eu segure sua mão — Posso tirar?
— Não é bonito de se ver. — Responde com um vinco entre as sobrancelhas.
— Tudo bem. — Puxo com um pouco de dificuldade a luva que revela a pele repleta de queimaduras e distorções, ele tem razão, não é bonito de se ver, mas eu não penso duas vezes antes de encaixar meus dedos aos seus — Eu acredito que não estou tocando o que você tem de melhor.
— Você aprende rápido. — Diz, sorrindo de boca fechada e segurando minha cintura com mais firmeza.
— Eu sou esperto, Sr. Tomlinson.
— Você é. — Ele ri, começando a dançar. Louis dança bem e é ele quem me conduz, com uma leveza e facilidade impressionantes dignas de um grande bailarino. O sigo com alegria, e como consequência da música nos manter a uma distância padrão acaba se tornando impossível e aos poucos estamos nos aproximando até termos os tórax colados e as bochechas próximas para relar uma na outra.
A chuva cai sem intervalos, trazendo consigo uma brisa gélida, e mesmo com os corpos molhados não sentimos frio porque o ar entre nós se torna quente e efervescente. E tudo o que eu consigo registrar é a sua mão agarrada a minha cintura e meus dedos acariciando os cabelos de sua nuca, sentindo sua respiração engatando bem no meu ouvido, enquanto dançamos tendo a lua e as estrelas como testemunhas do que se passa naquele pequeno gazebo no meio do nada. Louis me gira e até tenta alguns passos mais complicados, mas passamos a maior parte da música colados um no outro. Meus olhos se fecham com força, apenas registrando o momento, até que sua mão direita abandona a minha para também me abraçar, suas mãos agora tocando minha cintura, passeiam por meu corpo, tocando meus ombros, deslizando por minhas costas, cintura, quadris e apertando minha bunda, fechando—as com força por minhas nádegas e me fazendo arfar em seu pescoço, empurrando o quadril para frente e me deparando com sua ereção já formada na minha coxa.
— Louis. — Respiro contra sua orelha, chupando o lóbulo e o ouvindo gemer baixinho e deixando um beijo curto em meu maxilar.
— Você é só uma criança, eu não posso te tocar. — Ele diz com um tom sôfrego que só me faz agarrar seu rosto, sentindo suas mãos acariciando e tocando meu corpo como se eu fosse tão precioso e delicado que ele tivesse medo de quebrar.
— Eu quero que você me toque. — Digo, acariciando suas bochechas com o mesmo cuidado que ele me toca. Eu tenho medo de feri-lo, tenho medo de vê-lo se desfazer entre meus dedos. Seus olhos encontram a direção dos meus e eles estão em um azul absoluto, quase surreal, que só me faz respirar com ainda mais dificuldade aproximando meu rosto do seu, mantendo os olhos abertos na esperança de que ele possa me ver. De que veja a mim e mais ninguém.
Passo a língua por seu lábio superior, exatamente no machucado. Ele choraminga pelo ardor, mas não me afasta. Sinto o gosto metálico na boca e desta vez, chupo seu lábio, lentamente, sentindo sua respiração acelerada bater no meu queixo.
— Me toque onde você quiser. — Sussurro, deslizando os dedos pelas maçãs salientes de seu rosto, beijando seu lábio inferior e distribuindo beijinhos no canto de sua boca, no queixo, na pontinha arrebitada do nariz e com cuidado extremo nas pálpebras que tremulam — E deixe que eu faça o mesmo com você.
— Não faz sentido, porque você iria me querer? Eu sou um cego, manco e velho... Eu não sou nada. — Agarro seu rosto com força, ofendido por ele estar dizendo tamanho absurdo e tomado pelo impulso encaixo meus lábios nos seus, por efêmeros segundos estamos conectados, com sua boca molhada deslizando na minha calmamente no que parece uma doce eternidade.
— Não ouse dizer que você não é nada quando você é tudo. — Decreto, ofegante. Tomlinson não diz nada, apenas me encara, podemos ouvir de longe os versos finais da canção e eu imagino que ele irá me afastar, mas ao invés disso ele arrisca um último passo, me jogando para trás e segurando todo o meu peso. Meus dedos se firmam com mais força em seus bíceps expostos e tudo o que sinto são seus dedos se infiltrando em meus cachos e os puxando desejosamente de encontro ao seu rosto, deixei meus lábios entreabertos lhe dando toda a passagem que quisesse e Louis afundou a língua em minha boca, dando pequenos suspiros ao sentir meus dedos agarrando seus cabelos e o trazendo cada vez mais para mim. Diferente do beijinho que eu lhe dera este era repleto de urgência, tesão e muito desejo, nossas salivas se misturavam enquanto nossas línguas deslizavam escorregadias uma na outra deixando o seu gosto doce, viciante e perfeito gravado na minha boca. Seus dentes prenderam meus lábios inúmeras vezes e os chuparam deixando—os cada vez mais vermelhos e eu fiz o mesmo com os seus, imitando tudo aquilo que ele fazia, pois por mais experiente que eu fosse, essa era a minha primeira vez, o meu primeiro beijo. Eu me sentia sujo por estar grávido e nunca ter sequer beijado alguém antes, acreditava que deveria ter beijado qualquer um e me livrado disso há muito tempo, mas agora eu estou feliz por não ter feito isso, porque só torna esse momento ainda mais especial. A chuva, a música, o gazebo, a dança, Louis. Isso é muito mais do que eu mereço, é simplesmente perfeito.
Nem me dou conta de que aos poucos Louis foi abaixando até que eu estive deitado no chão e ele ao meu lado, apenas com o tronco sobre o meu, ainda acariciando meus cabelos e me beijando com reverência. Aos poucos o beijo foi desacelerando até que se tornassem pequenos selinhos, seus lábios se afastaram minimamente, mas um fiozinho de saliva mantinha nossos lábios interligados e era fodidamente excitante, até ele o romper para dizer:
— Não vai se repetir.
— É claro. — Suspirei, o puxando pela nuca e voltando a beijá-lo. Ele retribui, deixando que eu invada sua boca com a língua e o universo inteiro sabe que isso vai se repetir muitas vezes ainda.
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