8 • | search your heart, search your soul
Podia se dizer que vivíamos em um período de paz. Dois dias depois do episódio na cozinha, Louis se mostrou menos hostil e Charlotte resolveu que seria uma boa ideia liberar o irmão de seu confinamento.
Os ânimos entre eles estavam abalados, mas Charlotte não parecia ser do tipo rancorosa e logo lá estava ela ao lado do irmão tagarelando sem parar sobre suas novas criações. Ela era realmente talentosa e suas joias eram lindas, e talvez eu tenha tido um ataque histérico quando ganhei um anel de rubi de Lottie como agradecimento por não ter deixado seu irmão cometer nenhuma loucura e ter continuado ao seu lado mesmo quando ele não me queria por perto.
Ao que tudo parecia eu iria manter meu emprego. O Sr. Tomlinson passava as suas manhãs com Liam, enquanto eu estava fora, ainda no colégio. Vez ou outra quando Liam ia me buscar me surpreendia ao ver Louis no carro, sentado no banco do carona, óculos escuros e fumando um cigarro com o braço esticado para fora da janela. Dando de dez a zero nos bad boys que ficavam por ali montados em suas Harley-Davidson com os cabelos oleosos arrumados em um topete alto e jaquetas de couro. Louis não precisava disso, ele era um bad boy naturalmente e arrancava suspiros de todas as garotas que passavam.
Era cômico, os sorrisinhos tímidos e os cochichos, olhares provocantes e toda a merda que elas tentavam para chamar sua atenção, sem nunca conseguir um olhar. Nem imagino o porquê, estranho, não?
— Harry, quem é aquele homem que vem te buscar às vezes? — Certa vez um grupo com umas quinze garotas veio até mim, cheia de perguntas.
— Hmm, é o meu tio, Louis.
— E porque ele nunca olha pra gente? — Uma baixinha de cabelos ruivos e sardas por todo o rosto perguntou, parecendo ofendida.
Porque ele é cego!
— Ele é tímido. — Foi o que disse, antes de sair quase correndo, para a sala.
Estávamos no Outono e eu não conseguia fazer muita coisa além de ficar enrolado em cobertores em frente a lareira — comendo e vomitando bastante, só pra não perder o costume — Louis, pelo contrário, ele se tornara ainda mais esportivo, jogava cricket comigo e Liam. Eu era péssimo e perdia sempre. Outras vezes era ping pong e adivinhe só quem levava um couro, Louis. Ele precisava ser ruim em algo, bem, não é que ele fosse ruim, ele apenas não sabia em que direção a bola estava vindo e isso tornava o jogo mais complicado do que deveria ser. Mas também havia a equitação e nessa ele era mestre, em alguns dias eu o acompanhei, observando do jardim ele cavalgando pelo campo aberto que fazia parte da residência. Louis possuía um cavalo branco, com a crina acinzentada com o nome de Átila. Era incrível vê-lo cavalgar, ele parecia um príncipe, com suas roupas escuras de montaria, o cabelo grande demais voando contra o vento e o rosto corado. Quando estava em cima de Átila ele sorria e gritava o tempo todo, era um escandaloso de marca maior, mas isso parecia divertir o animal que corria ainda mais rápido. Suas mãos se prendiam com força nas rédeas, veias grossas as marcavam e pensamentos deselegantes passavam pela minha cabeça sempre que eu me atentava a esse fato ou em como suas pernas ficavam bem marcadas nas calças de couro e ainda mais grossas quando cavalgava.
Eu voltei a ajudar Louis em seus banhos, ele não precisava de tanta ajuda como daquela vez, mas eu sempre precisava vesti-lo e vê-lo completamente nu, por algum motivo misterioso se tornava uma tarefa árdua, afinal meus dedos formigavam para tocá-lo.
Isso só podia ser efeito da gravidez tinha que ser, assim como o meu apetite voraz, seguido dos enjoos e os desejos sem sentido como bolo de vinagre e gelatina com grama. Mas eu não entendia muito bem como isso funcionava, por isso hoje, assim que cheguei do colégio me tranquei na biblioteca e fiz uma varredura, à procura de livros sobre gravidez. Não foi surpresa quando não encontrei nenhum sobre Mpreg. Apenas uma ou duas folhas sobre um artigo do começo da década falando sobre as monstruosidades saídas dos Campos de concentração e lá estava, um homem grávido esquartejado e enforcado.
Sarah, acompanhada de Louis atravessaram a porta e sem me dirigir a palavra ela o sentou na cadeira à minha frente e partiu depois dele ter lhe dito que não precisava de nada.
— Ela não gosta de mim. — Digo, ainda com o rosto enfiado nos livros esparramados pela mesa.
— Ela não gosta de ninguém. — Louis atalhou, apoiando o cotovelo na mesa e se assustando com o som do papel sendo amassado — O que é isso?
— Estou fazendo uma pesquisa. — Puxo o livro, para que ele possa apoiar-se.
— Sobre o que?
— Gravidez, mas não tem nada sobre Mpreg, acho que terei de me contentar com a convencional, não deve ter muita diferença. — Coço a cabeça, apoiando o queixo na mão e lendo alguns trechos de um livro falando sobre sangramentos vaginais e aumento das mamas, talvez haja algumas diferenças consideráveis.
— Eu me lembro quando ouvi falar disso pela primeira vez, na época parecia loucura. — Desvio os olhos do livro para dar atenção a Louis que pega um cigarro do bolso e o acende, dando uma longa tragada — As pessoas são burras, elas dizem que isso surgiu nos campos de concentração, mas foi bem antes disso.
— É sério?
— Sim, eu lembro de um jornalista, amigo da família, Douglas Archer, ele escreveu certa vez para o meu pai, eu ainda era muito pequeno. Na correspondência dizia algo sobre um médico estar fazendo experiências com enfermos da primeira guerra, acho que seu nome era Paul Alexander, era um italiano com ideias estúpidas e preconceituosas. Segundo ele, as mulheres eram uma raça muito inferior e que deveria ser exterminada, elas estavam levando os homens à ruína, mas sem elas tudo poderia ser ajeitado. Porém, ele via que as mulheres tinham um papel fundamental para a reprodução humana, então na sua mente disfuncional ele acreditou que se pudesse dar esta capacidade, de gerar um feto, a um homem, as mulheres perderiam toda a sua serventia. Suas experiências foram realizadas por anos, e quando os nazistas souberam disso, tiveram interesse e se uniram, mesmo quando Alexander morreu as experiências continuaram. No campo de batalha, diziam que depois que Hitler acabasse com os não pertencentes a sua pura raça ariana seria a vez das mulheres.
— Isso é doentio! — Exclamo boquiaberto. Louis assente, dando mais um trago.
— Vindo daqueles porcos não é surpresa alguma. Era uma experiência arriscada, muitos morriam e era difícil levar a gestação adiante. Órgãos estranhos em corpos mais estranhos ainda. — Louis joga a cabeça para trás, soprando a fumaça para cima e girando o cigarro entre os dedos — Com o fim da guerra toda a ideia parecia perdida, mas quando Mengele fugiu ele levou alguns S.A com ele, já ouviu falar?
— Não.
— Nossa, o que ensinam nas escolas? Credo! Bom, S.A, era uma espécie de soro da auto-reprodução, a ideia era que homens pudessem engravidar sozinhos, como partenogênese . Eles espalharam isso pelo sistema de saúde com a desculpa de ser uma vacina para uma doença pouco conhecida que fora desenvolvida nos tempos de guerra que atingiam em geral as mulheres grávidas. Eles já estavam fazendo isso enquanto a guerra acontecia.
Espera, eu me lembro da minha mãe falando algo sobre uma doença terrível e que por sorte alguns cientistas haviam encontrado a cura. Não pode ser!
— Minha mãe tomou essa vacina. — Louis não pareceu nem um pouco surpreso — Está me dizendo que foi isso...
— Que alterou o seu DNA e fez com que você desenvolvesse órgãos reprodutores femininos? Sim, sim. Não era cem por cento, mas funcionou em algumas pessoas, como foi o seu caso. O governo sabe disso e por isso tem tanto medo, ele acredita que pessoas que sofreram este tipo de mutação podem ter alguma habilidade sobre-humana ou até mesmo partilhar das idéias de Paul Alexander e os nazistas.
— Isso é tão absurdo!
— É o medo, Harry. Você sabe o que ele faz com as pessoas. — Ele termina seu cigarro, o abandonando no cinzeiro e se virando para mim — Achou alguma coisa interessante nesses livros?
— Nah, quer dizer, eles dizem que os meus sintomas são normais e tudo, mas eu ainda não sei se vai ser a mesma coisa. Quer dizer, eu não tenho seios, como o bebê vai se alimentar?
Tomlinson franze a testa e coça a têmpora. Antes de rir maldoso.
— Temos uma vaca no estábulo. — Ele gargalha de sua piada sem graça e eu o encaro sem achar a menor graça, espero até que ele seque seus olhos lacrimejantes e o rosto volte a cor normal — Provavelmente irá crescer, não que você terá como os de uma mulher, mas deve crescer pelo menos um pouco. Se eles quisessem se livrar totalmente das mulheres, deveriam ter pensado em tudo.
— Você tem razão. — Olho de soslaio para Louis, conferindo se ele continua cego enquanto tateio meu tórax e... Ufa! Tudo continua igual, nada fora do lugar — Mas tem o parto...
— Cesária.
— Oh, é mesmo, mas vou ter que encontrar um médico.
— Aquele que te atendeu em Holmes Chapel parece perfeito, não? — Louis puxa outro cigarro do bolso e arqueio a sobrancelha me perguntando quantos mais há escondidos ali dentro. Ele acende o cigarro e logo uma neblina de nicotina pairava sobre nós. Mesmo comigo tossindo algumas vezes, ele continua a fumar tranquilamente — Desistiu de cortar a garganta pra morrer de insuficiência respiratória e me levar junto?
— Argh, eu sabia que isso ia acontecer. — Suspira, deixando o cigarro entre os lábios, mas não tragando.
— O que?
— Você agindo como uma mãe, já imagino você resmungando de um lado pro outro, Louis não fume perto de mim, a fumaça faz mal pro bebê. Louis, não xingue perto do bebê, não atire perto do bebê e blá, blá, blá... Qual é! Cadê o Harry divertido de Paris, hein? — Ele se esparrama ainda mais em sua cadeira, jogando as pernas em cima da mesa e o pé repousando bem em cima do livro que eu lia — Fiquei sabendo de você e do Tristan. Ele chegou perto do caminho da felicidade pelo que eu soube.
Caminho da felicidade. Eu mereço.
Reviro os olhos, começando a recolher os livros e não dar atenção ao assunto que eu sei que Louis vai iniciar.
— Harry, você precisa transar.
— Não, obrigada, Sr. Tomlinson, eu estou bem assim. — Desconverso, puxando sem muita delicadeza os livros debaixo de sua perna — Deveria maneirar no cigarro e na bebida também.
Ele torna a jogar a cabeça para trás e solta a fumaça, desta vez até fazendo algumas formas com ela, enquanto eu falo.
— Hazza. — O olho pelo canto do olho, estranhando o apelido pelo qual me chama — Onde está a sua bunda?
— O quê?
— Onde está a sua bunda? — Pergunta sério — Eu quero dar um chute nela.
— Vai se ferrar, Louis! — Respondo, levantando para guardar os livros e Louis gargalha.
— Sabe, se você realmente tiver seios poderia deixar o cabelo crescer e mudar o nome para Harriet, tenho certeza de que gostaria mais de você.
— Eu já mandei você se ferrar hoje?
— Já, mas pode mandar quantas vezes quiser, girafinha. Aproveite e pegue E O Vento Levou pra mim.
— Vai ler? — Subo até o segundo andar, empilhando os livros com cuidado de volta em seu lugar na estante.
— Não, eu pensei que você poderia ler para mim. — Gelo por um minuto ao ouvi-lo. Louis sempre lia para si, e agora ele queria que eu lesse, isso era um avanço e tanto, mas deveria agir com naturalidade para que ele não ficasse nervoso ou mudasse de ideia. Por isso, apenas peguei o livro e desci para junto dele.
— Quem diria que Louis Tomlinson gosta de livro de menina. — Brinco, sentado à sua frente e abrindo a primeira página.
— Vai se fe... — Ele dizia quando o cortei, começando a ler o primeiro trecho do livro.
— Scarlett O'Hara não era bela; os homens, porém, só a notavam quando já subjugados pelo seu encanto...
Xx
Depois de uma longa e exaustiva discussão que se inciara no capítulo sete do livro, quando Louis se pôs a defender que Scarlett era a melhor personagem feminina por ser valente e impiedosa e eu que fui veemente contra por sempre ter considerado Melanie a grande heroína. É fato que ele teria Scarlett O'Hara como predileta, eles eram farinha do mesmo saco. O nome Melanie ficou pairando pela minha cabeça. Era um belo nome para uma garotinha. Depois do jantar eu continuei a ler mais um pouco até que Louis acabou por dormir em sua poltrona. Eu o cobri com uma das mantas que ficava sempre à postos na biblioteca e entediado, mas não interessado em deixá-lo sozinho, comecei a andar por ela, organizando alguns exemplares a minha maneira e tirando pó de um ou outro até me ver novamente com os farrapos de O Morro dos Ventos Uivantes em mãos. Ainda me lembrava da rosa guardada entre suas páginas e decidi que talvez ele pudesse ser uma boa leitura.
Voltei para junto de Louis, me sentando no tapete de algodão, tão branquinho e macio que parecia feito de neve que repousava em frente a lareira acesa que nos mantinha aquecidos. Folheei as primeiras páginas, encontrando um pouco de dificuldade para ler devido às letras falhadas e as manchas escuras nas páginas amareladas e que se desmanchavam a um toque mais firme. Também não estava sendo a coisa mais interessante do mundo ler sobre um tal de Sr. Lockwood que eu não sabia onde estava, nem o que fazia naquela fazenda estranha. Era tudo muito chato e eu não me demorei em apoiar as costas no sofá e ficar virando as páginas, procurando algo interessante que aconteceria mais pra frente.
No verso de uma página, um pouco antes do capítulo quatorze eu encontrei algo escrito em letras miúdas datado de 1934:
Mamãe foi embora hoje. Papai disse que ela não voltará, seremos só nós dois agora e isso me deixou triste. Quem irá ler para mim durante a noite?
L.R
Passo os dedos sob as iniciais. Este livro deve ter pertencido a esposa de Louis. Mais a frente encontro outro escrito:
As coisas estão mudando, a vida na Alemanha não é como costumava ser. As pessoas nas ruas nos olham estranho e até tacam coisas em nós. Papai diz que se as coisas continuarem assim teremos de nos mudar. Um homem na rua não parava de gritar: Está vindo! Eu posso dizer, com certeza! A guerra se aproxima e ela não terá piedade! Fujam todos se quiserem viver.
No pé da página:
Nós fugimos.
L.R
Todas as páginas adiante estão marcadas de seus rabiscos, em algum deles li algo sobre ser o único livro que ela tinha consigo e por isso anotava suas memórias nele com medo de esquecer, no ano seguinte eles se mudaram para Paris. Descubro que este pequeno e desgastado livro já esteve em mais aventuras do que eu poderia imaginar. Assim como Lydia.
Há trens carregados de judeus sendo levados aos guetos todos os dias. A França é um dos alvos de Hitler e não temos escolha a não ser fugir daqui também, meu pai não vê problema com suas ideias abomináveis de extermínio. Eu sei que não haverá saída, ele quer destruir a Inglaterra também. Não haverá misericórdia.
L.R
Encontro, algo que me soa familiar:
Papai está com os cabelos em pé, eu roubei seu barco mais uma vez está manhã e velejei até Dunquerque, muitos têm medo de se aproximar pela zona de guerra, mas eu não. É claro que as bombas e os tiros me assustam, mas não fazer nada é ainda mais apavorante. Deus é tão bom, que me ajudou a encontrar mais pessoas, uma entre elas me chamou atenção. Um garoto de cabelos claros e olhos azuis feito o mar, estava jogado na areia, ele queria morrer. Eu não o deixei e o arrastei para o barco. Ele resmungou o caminho todo dizendo que eu o atrapalhei e que aquela era a sua única saída e mais um monte de baboseiras.
Nota mental: Não deixar Louis Tomlinson se matar!
Era uma nota mental realmente útil. Li todas as suas aventuras durante a guerra, ela servindo no exército e todo o seu lamento pelo genocídio em massa que acontecia em escala mundial. Havia também muita, muita coisa sobre Louis. Lydia o amava tanto. Em uma página solta encontrei uma espécie de lista.
Coisas para fazermos depois da guerra:
— Termos uma lua de mel decente.
— Dormir por uma semana inteira, em um colchão decente, de preferência.
— Mudar o corte de cabelo.
— Ensinar Louis a nadar ( Pobrezinho, não sei como ele sobreviveu em Dunquerque sem saber)
— Andar pelas ruas de Londres de bicicleta ao lado dele ( Não há nada que ele ame mais do que isso. Ele tem uma queda pela liberdade, sentir o vento nos cabelos )
— Levar as crianças até um parque bem bonito.
— Ajudar as pessoas que eu puder.
— Comprar um diário de verdade e parar de rabiscar neste velho livro.
— Lembrar a Louis todos os dias que ele é amado e que viver ao seu lado é uma aventura sem fim.
— Ser uma boa mãe.
— Sorrir mais.
— Envelhecer.
Uma mancha escura surge em cima da última palavra e demora até que eu note que se trata de uma lágrima minha. Suspiro, encarando por mais algum tempo sua listinha. A maior parte do que foi escrito se perdeu, mas eu prometo silenciosamente que alguns daqueles desejos serão atendidos em sua memória.
Até o final não há mais nada. Nenhuma única palavrinha escrita, exceto um pequeno vinte oito escrito no verso da capa. A caligrafia me lembra a mesma rabiscada nos dedos de Louis. Abaixo do número as iniciais de quem o escreveu.
L.T
Louis Tomlinson ou Lydia Tomlinson?
Louis resmunga começando a acordar e eu devolvo o livro ao seu lugar, enfiando o papel dentro do bolso antes que sua voz aguda tome conta do recinto.
Xx
Batuco os dedos contra a madeira da carteira, com os olhos vidrados no relógio no topo da sala. Estava praticamente contando os segundos para que o sinal batesse, mas a professora continuava falando sem parar e ainda ousou inventar um trabalho e formar duplas faltando menos de cinco minutos para o fim da aula. Eu estava com um tal de Anthony que era uma espécie de galã por aqui que fazia as garotas suspirarem quando ele passava.
Ele era bastante parecido com Tristan, do Moulin Rouge, com os cabelos louros e os olhos claros, mas o rosto era oval demais e com a típica cara de adolescente mimadinho com o cabelo penteado para o lado e a camisa dentro das calças. Nada interessante. Nada empolgante. Nos falamos rapidamente e ele se despediu me lançando uma piscadela quando o sinal tocou e todos corremos para fora como se nossas vidas dependessem disso.
Eu não diria que a vida, mas a felicidade de alguém, de fato, dependia.
Liam fez todas as perguntas de praxe e eu as respondi, levemente impaciente porque estava empolgado com o meu plano do dia. Quando sai do carro, entrei correndo para dentro da mansão, quase tropeçando em Sarah e jogando meu paletó no meio do caminho porque toda essa correria me deu calor, mas enfim eu o encontrei, o som das teclas do piano me levaram em direção ao salão de festas. Era um imenso espaço vazio, com um teto repleto de pinturas renascentistas e cortinas douradas que viviam abertas para manter o lugar bem iluminado e arejado. O único móvel permanente era o piano de cauda que ficava em frente a janela. Louis estava sentado nele, tocando uma música antiga que não tinha um cantor específico, era apenas algo que alguém inventou durante a guerra em meio ao caos a procura de um pouco de paz e que se espalhou até que virasse uma música. E foi enquanto eu me prendia na porta, admirando a melodia que eu ouvi Louis Tomlinson cantando pela primeira vez, ou seriam os anjos, eu francamente não sei dizer.
— I've got scars even though they can't always be seen... And pain gets hard, but now you're here and I don't feel a thing. — Seus olhos estavam fechados e um sorriso mantinha—se em seus lábios, enquanto ele entoava com uma afinação magnífica.
Então, eu fiz o mesmo que ele fechando os olhos e apenas apreciando a melodia e a sua voz.
— Pay attention, I hope that you listen 'cause I let my guard down...Right now I'm completely defenseless.
Mas ao ouvir isso meus olhos se abriram e eu fui obrigado a me aproximar. Louis continuou a cantar o refrão, tão cheio de emoção e vivacidade e a cada passo eu estava mais próximo dele.
— Now you know me, for your eyes only... For your eyes only. — Ele tomou um pequeno fôlego antes de prosseguir e só Deus sabe porque eu resolvi acompanhá-lo.
— I can feel your heart inside of mine, I feel it, I feel it — Louis tinha uma expressão de completa surpresa, mas continuou a tocar e cantar, logo reconhecendo a minha voz que eu mantinha um pouco mais baixa do que a sua para manter a harmonia — I've been going out of my mind, I feel it, I feel it. — Até que nossas vozes foram se elevando gradativamente até ficarem na mesma altura — Knowt I'm just wasting time... And I hope that you don't run from me — Louis resolveu abaixar a sua voz, deixando que a minha se sobressaia.
— For your eyes only... — Cantou com sua voz de anjo, virando o rosto para onde sabia que eu estava e uma brisa fresca soprou jogando os fios lisos ante seus olhos e eu me atrevi a afastá-los. Enquanto cantava o trecho seguinte.
— I'll show you my heart. — Louis sorri e eu o acompanho, até o final da música.
Quando cantamos o último For your eyes only, eu estou sentado no banco ao seu lado batendo em uma tecla ou outra, fazendo com que ele me repreenda sobre estar colocando os meus dedos imundos no piano que vale mais do que a minha vida.
— Você canta bem, Harry.
— Eu sei, eu tenho orelhas! — Viro para Louis que tem um ponto de interrogação na cara — Quer dizer que eu posso me ouvir cantando.
— Me lembre de não elogiá-lo nunca mais. — Diz, deslizando os dedinhos pelas teclas com um elegância e suavidade invejável. Olho para minhas mãos emburrado por elas serem grandes e nada habilidosas.
— Louis.
— Sr. Tomlinson. — Ele corrige, tentando uma nova música, mas meus dedos batendo nas teclas o atrapalham.
— Sabe o que eu quero fazer hoje, Loueh? — Provoco, me inclinando sobre ele com um sorriso largo, e aborrecido Louis começa a cair para o lado oposto tentando evitar contato — Não vai adivinhar, Loueh?
— Fala logo, desgraça! — Ele rosna quando não consegue se inclinar mais e é obrigado a voltar batendo a cabeça no meu nariz e me arrancando um grito dolorido. Eu me viro, ficando na ponta do banco e de costas para ele, esfregando meu nariz tentando diminuir a dor.
— Ai. — Lamento manhoso, imaginando o quão lindo eu devo estar com o nariz avermelhado. Louis também está reclamando e esfregando a cabeça — Eu ia dizer que estou com vontade de passear por Londres.
— Vai, você está acorrentado nessa casa por um acaso?
Reviro os olhos com a sua ignorância e cruzo os braços em frente ao peito, decidido a ignorá-lo de agora em diante. Louis não aguenta muito mais do que cinco minutos o silêncio e também acaba por se virar, percebo quando ele passa uma perna pelo outro lado do banco e se aproxima um pouco mais. Todos os pelos do meu corpo se eriçaram ao que sinto sua respiração na minha nuca e suas mãos tocam meus braços, eu amaldiçoo a camisa que me impede de ter sua pele diretamente na minha.
Deus, porque eu iria querer isso?
— Deixa eu adivinhar, eu fui ignorante? — Ele tenta fazer gracinha, usando um tom de voz inocente e eu suspiro virando o rosto para o outro lado, mas Louis por inocência ou malícia esconde o rosto no meu pescoço, e sua respiração acerta em cheio o meu ponto mais sensível e eu solavanco para frente, porém suas mãos me prendem no lugar — Para de graça e fala o que você quer.
Você!
Me remexo, sentindo seu peito colado às minhas costas, tão firme e forte e o perfume de seus cabelos batendo diretamente no meu rosto, suas mãos me segurando com tanto afinco e sua barba na minha pele. Oh, céus, eu tenho um sério problema com essa barba. Eu só preciso dela em mim, me arranhando e me deixando vermelho. Junto às pernas com a sensação de que alguém estava acordando e achando todo o contexto bem interessante.
Louis levanta o rosto e eu admiro seus olhos de um azul intenso. Eu posso imaginar facilmente uma versão minha do futuro completamente desalinhado, deitado nesse piano enorme com a luz do luar banhando todo o meu corpo, meus cachos se esparramando ainda mais pelo mogno a cada solavanco que meu corpo dá com suas estocadas constantes e profundas. Eu imagino esse mesmo homem, impaciente, forte, sarcástico e perfeito entre as minhas coxas me fazendo ver estrelas com seu pau tão bem encaixado dentro de mim.
— Bu! — Louis aperta meu nariz me desconcertando por completo. Nem me dei conta de que tinha deixado a minha imaginação ir tão longe — Você dormiu ou desmaiou? — Não entendo a pergunta até notar que estou com o corpo apoiado ao seu, até minha cabeça descansa em seu ombro. Dou um salto para longe dele, ficando de pé.
— E—eu...
— Se você quer sair, o Liam pode te levar. — Ele responde desinteressado, prestando mais atenção nas abotoaduras do que em mim.
— Eu queria que você me levasse. — Isso atrai a atenção de Louis, que estreita os olhos, quase olhando na direção correta — De bicicleta.
— Você enlouqueceu? Eu não ando de bicicleta. Eu sou cego! — Aquelas palavras saem com uma afetação e angústia notáveis. Mas segundo a lista de Lydia ele adorava fazer isso e eu sabia que desde que perdera a visão nunca mais o fez. Louis era cercado de pessoas que o amavam e se importavam, mas ninguém o deixava ou o incentivava a viver do jeito que queria. Eu sei que sou um idiota e que não sei de nada, mas se isso o faz feliz é o que importa.
— Puff, se esse é o problema. — Seguro sua mão e o puxo para que ele fique em pé, na minha frente — Eu serei seus olhos, Louis Tomlinson.
— Então estamos ferrados. — E não é surpresa quando ele não perde a oportunidade.
Louis e eu precisamos sair escondido porque Charlotte não deixaria nem em um milhão de anos que o irmão saísse sem ela ou Liam e para evitar um confronto entre eles nós escapamos depois do almoço com a desculpa de passar a tarde na biblioteca, já que ninguém além de nós dois a frequenta é a desculpa perfeita.
Eu encontro uma biblioteca antiga, com as rodas marrom e o resto pintado de dourado com uma buzina no guidão que Louis não resistiu a tocar a cada cinco minutos. Eu não conhecia muito bem a cidade e não podia contar com a memória de Louis de mais de treze anos atrás, então resolvi encontrar a praça mais próxima, que levava a algumas ruas largas e vazias. Parecia perfeito, então foi quando eu decidi deixar que Louis assumisse a direção. Nós trocamos de lugar, Louis ficou na frente e eu atrás, agarrado a sua cintura.
— Tudo bem? — Pergunto, apenas checando.
— Não se desaprende a andar de bicicleta. — É a sua resposta, mas não é o seu equilíbrio ou habilidades no pedal que me preocupam. Mesmo assim, lá vamos nós, ele pedala devagar, testando.
Não há nenhum empecilho no caminho então o instruo a ir um pouco mais rápido, mas Louis não conhece o meio termo e em pouco tempo estamos deslizando pelas ruas em alta velocidade. O vento batendo com força no meu rosto e o meu cabelo caindo nos meus olhos.
— Isso tá chato. — Reclama pela milésima vez e eu acho que essa é a coisa mais radical que eu já fiz na vida, bem tirando você sabe o quê dentro de mim, deixar a direção nas mãos de alguém que não enxerga.
— Na verdade eu acho que isso está começando a ficar um pouco perigoso. — Grito por conta do vento e acontece uma festa em uma casa entre as esquinas e isso, infelizmente, chama a atenção de Louis.
— Harry, tem curvas por aqui?
Sim? Não? Sim? Não?
— Uhum. — Péssima resposta, Harry.
— Me avise quando for a próxima entrada.
— Você não vai fazer a curva.
— Eu vou sim. — Responde, agarrando com firmeza o guidão e pedalando com ainda mais velocidade.
— Louis, não!
— Não vem usar a sua voz de mãe comigo.
— Então pare de agir como uma criança, isso é muito perigoso.
— Só vai ser perigoso se você não me disser quando virar.
— Eu não vou dizer. — Decido, tentando tomar a direção e apertar o freio. Mesmo sendo menor, Louis é mais forte e não me dá chance alguma.
— Então eu me viro. — E sem mais nem menos ele está jogando a bicicleta pra esquerda, na esperança de haver alguma entrada o que de fato não há, mas um carro acaba de surgir no final da rua e ele vem em nossa direção.
— Louis, o carro!
O motorista buzina, assim como eu prevendo um acidente, ao que continuamos seguindo na mesma direção. Um veículo grande e antigo como aquele não pode desviar com facilidade, desta forma, Louis é o único que pode impedir uma tragédia.
— Eu sei, ouvi a buzina, gênio. — Responde com um maldito sorriso no rosto — A curva, Harry.
— Louis. — Choramingo apertando seus ombros e sentindo meu sangue gelar ao ver o veículo se aproximar mais e mais. Olho para a frente e encontro o que ele tanto quer — Direita.
— Quando? — Pergunta, começando a mudar o curso e ir em direção a direita.
— Agora!
E ele vai com tudo, realmente conseguindo fazer uma curva, quase perfeita. Eu me surpreendo e ele grita empolgado dizendo o quanto adorava fazer isso nas ruas de Doncaster. Imprudente ou não acabo me deixando levar e o incentivando a fazer mais algumas curvas perigosas até que em uma dessas acabamos caindo, ele de um lado e eu do outro com a bike entre nós.
— Você está bem? — Pulo em seu auxílio, preocupado com suas pernas, seus braços, até com suas unhas. Se algo lhe acontecer estou morto.
— Eu é quem deveria estar te perguntando isso. Você é quem está esperando um bebê. — Louis diz isso tão alto e casual. Viro a cabeça em todas as direções e por sorte não há ninguém. É a primeira vez que eu me dou conta disso, que não sou mais eu, mas existe outro alguém que precisa de cuidados e atenção.
— Meu Deus, eu vou ter um bebê.
— Nada novo na terra da rainha. — Ele zomba se apoiando nos cotovelos e balançando os pés.
— Meu deus, eu vou ter um bebê de verdade. Como eu não me dei conta disso, deus do céu! — De repente é como se tivesse caído a ficha, uma vez que eu não pretendo mais qualquer tipo de aborto ou suicídio. Eu vou ter um bebê, um bebê meu, coloco a mão na barriga por cima da camisa, a acariciando — Como eu demorei tanto pra me dar conta disso?
— Eu não julgo, só fui me dar conta disso quando as crianças nasceram. Ser pai é a coisa mais incrível e assustadora que pode acontecer a alguém. — Tomlinson joga a cabeça para trás, deixando que o sol leve da tarde toque seu rosto — Você vai se sair bem, Harry.
— Como sabe disso? — Pergunto, mais controlado, levantando a bicicleta e oferecendo uma mão para ele.
— Você tem cuidado muito bem de mim e olha que eu sou bem mais difícil do que um bebê.
Sorrio, sendo obrigado a concordar.
— Quer dirigir de volta pra casa?
— Não, desta vez eu só vou curtir o passeio.
E é o que ele faz, sentado atrás de mim, Louis abre os braços quando descemos alguma ladeira e grita que pode voar ganhando alguns olhares tortos enquanto nós gargalhamos feito dois idiotas. E nada pode nos atingir naquele momento, nem a guerra, nem o preconceito. Nada além da felicidade de estarmos juntos.
Xx
No jantar, Tomlinson e Napolitano estão entretidos em uma longa e fatigante conversa sobre o mercado e porcentagens, toda aquela chatice de empreendedorismo já que ambos trabalham para o público e ganham dinheiro vendendo os seus produtos. Estava prestes a me sentar na cozinha junto aos funcionários, quando Louis declarou que voltaria a se sentar conosco no jantar e eu como sua espécie de braço direito precisava me manter ao seu lado e desta forma eu acabei sentado a sua esquerda, o que é de certa forma irônico, enquanto ele está muito bem instalado na ponta da mesa como se fosse a figura de maior destaque no recinto, o que ele realmente é.
Charlotte e Tommy não ousam interrompê-lo, nem começarem um assunto por si só. Louis é quem conduz tudo como um maestro a sua orquestra. Ao menos eu não faço parte do espetáculo e tenho passe livre pra ficar emburrado, cutucando a comida com o garfo sem a menor vontade de comer. O que não faz sentido, pela manhã eu comi como um sem teto que não via comida há eras e agora o simples pensamento de colocar algo na boca me causa ânsia.
Eles seguem conversando e eu quase dormindo em cima do prato quando a voz aguda e nada mansa de Louis rompe a bolha de indiferença na qual me cerquei.
— O que você pensa que está fazendo? — Levanto a cabeça, para encontrar um Sr. Tomlinson estupefato com a mão no peito e um tolo Tommy segurando seus talheres.
— Eu pensei que precisasse de ajuda. — Indicou inocentemente.
— Eu não preciso da sua ajuda, Sr. Napolitano. — A forma como Louis moveu sua cabeça era como se ele tivesse medindo Tommy que rapidamente se encolheu, voltando ao lado de sua noiva que deu alguns tapinhas em suas costas, compreensiva.
Contei mentalmente exatos dez segundos antes de me inclinar e tocar o ombro de Louis.
— Gostaria da minha ajuda, senhor?
— Sim, Harry, por favor. — Ele suspira, deixando que eu tome seus talheres e o ajude com o frango, enquanto dou um ou outro sorrisinho tranquilizador para Tommy que deve estar se xingando por ter dado um fora desses quando finalmente começava a se entender com o cunhado. Mas algo que eu aprendi muito recentemente é que Louis Tomlinson não é a fera que todos acreditam, ele é bom e mesmo com toda a teimosia ele ainda te dá segundas chances pra se redimir.
Quando as chamas estão quase se apagando da lareira, Charlotte declara estar indo para sua cama. Clare, Sarah e Liam também se apresentam, mas Louis os dispensa por não precisar mais de seus serviços por hoje. Ele tem os olhos cada vez menores e o cigarro em seus dedos está quase que completamente esquecido ao que ele adormece pouco a pouco.
Porém, eu me encontro bem acordado.
— Louis! — Chamo, puxando seu casaco e Louis dá um salto, agarrando os braços de sua poltrona e virando a cabeça para os lados — Calma, sou só eu.
— Costumes da guerra! — Responde, acalmando a respiração que se acelerara — O que você quer? Vamos dormir?
— Na verdade... — Me inclino em sua direção, checando se não há ninguém nas escadas —, eu tenho outros planos.
— Que outros planos? — Louis não imagina o que tenho em mente, mas em seu rosto surge um sorriso cúmplice mesmo assim.
E cúmplices é o que nos tornamos ao que ele segura minha mão ditando o caminho da piscina coberta ao leste da casa. Chegamos até um espaço, quase tão grande quanto o salão de festas, com o teto alto e pequenas luzes presas em cada extremidade que o deixam um pouco mais escuro do que o restante da casa, há uma piscina gigantesca com as bordas de azulejo escuro. As portas de vidro do outro lado do salão que dão para os fundos do jardim, o campo aberto onde há um bosque, estão fechadas e nos protegendo do frio da noite.
Abaixo mergulhando uma das mãos dentro da piscina e a descobrindo numa temperatura morna, perfeita para aulas de nado. Não é preciso dizer que hoje o humor de Louis estava às mil maravilhas, e quando eu dei a ideia de aprender a nadar ele praticamente escorregou de suas roupas e me aguardava, ansiosamente, apenas de cueca.
E eu pretendia ser o mais profissional possível, afinal, estava fazendo isso pelo desejo de Lydia, nenhum outro motivo além deste. Também tirei minhas roupas e me certifiquei de trazer toalhas para que não tivéssemos de voltar pingando e deixar um rastro do nosso crime pela casa.
— Como vamos fazer isso? — Louis pergunta, sentado na borda, apenas as pernas na água. Termino de entrar e mergulho, nadando até ele.
— De dez a zero em que nível você diria que estão as suas habilidades de natação?
— Algo entre sete a oito negativos! — Enrugo o nariz com a constatação de que terei que fazer tudo do zero — Harry, você é bom nisso mesmo?
— Bom? Louis, eu tenho medalhas! No plural! Não se preocupe com nada, apenas faça o que eu digo. — Ele assente e eu me aproximo, o seguro por debaixo das axilas e ele finca as unhas nos meus ombros — Louis, menos, bem menos. — Louis entende meu recado, suavizando até que esteja apenas apertando meus ombros e permitindo que eu o puxe, com um cuidado extremo para dentro da água.
A piscina não é funda, mas Louis é um tanto baixinho e somado ao fato de não ser nem de longe um bom nadador, ele naturalmente se desespera, se debatendo e querendo sair na mesma hora.
— Foi uma péssima ideia, eu vou me afogar aqui. — Ele diz, baixando os olhos e virando o rosto como se pudesse ver algo e estivesse ficando em pânico.
— Não vai, eu estou aqui. Você está segurando em mim, não há com o que se preocupar.
— Isso só piora a situação.
— Louis, confia em mim. — Meu pedido faz com que ele esqueça as repetições de seu mantra de "eu vou morrer" para me dar ouvidos — Eu estou te segurando. — Aperto sua cintura — E não vou soltar.
— Okay. — Diz lentamente, parando de se mover e ficando parado junto a mim.
— Okay. Primeiro de tudo eu quero te ambientar. — Algo fundamental que eu aprendi sobre Louis é que ele era um deus em qualquer lugar em que conhecia ou já era acostumado, porém em lugares e terrenos desconhecidos ele se tornava um bebê, assustado com tudo. Ele ficava completamente perdido, por isso uma ótima forma de lidar com seu nervosismo era descrever o cenário para que ele pudesse visualizar em sua cabeça e se tranqüilizar — É um espaço grande, com luzes brancas no teto, às minhas costas estão as portas que dão para o jardim e você está do lado da entrada. A piscina é bem comprida, mas rasa, pelo menos pra mim, se você mergulhar vai conseguir sentir o piso. Tudo bem?
— Sim, tudo, eu consigo visualizar.
— Certo. Então vamos começar com um exercício bem simples, prender a respiração.
— Sério, criança? Eu não preciso disso! Eu sei fazer. — Louis fala com a voz entediada.
— Ótimo, vamos fazer! — Na mesma hora que digo o puxo para baixo, sem lhe dar tempo de se preparar e é claro que ele engole água e fica puto da vida comigo, puxando meu cabelo e praguejando quando subimos a superfície um segundo depois.
— Sua porra, filho da puta idiota! Qual é o seu problema? — Berra com os cabelos grudando no rosto. Ele não ousa me soltar para puxá-los para trás.
— Aqui eu sou seu professor e quero ser tratado com respeito. Ou seja, nada de me chamar de criança.
— Mas você é uma criança.
Mergulho novamente, o arrastando comigo e Louis se agarra a mim, colando nossos corpos e até enganchando as pernas nos meus quadris para conseguir se firmar ainda mais.
— Tá, tá, mestre!
— Mestre? Hm, eu gosto disso. — Sorrio, avaliando seu rosto amedrontado tão próximo ao meu e é bom me sentir no controle uma vez na vida — Louis, prenda a respiração, vamos mergulhar agora, okay? — Ele assente e no momento seguinte estou puxando nossos corpos para baixo. De primeira Louis não consegue prender por muito tempo, por isso treinamos algumas vezes até que ele possa alongar esse tempo.
Em um desses mergulhos, eu abro os olhos e lá estamos nós. Rodeados do silêncio absoluto, nada além dos ruídos da água causados por nossos corpos, não há frio ou calor debaixo d'água e naqueles curtos instantes, temos a sensação de que estamos em outro planeta, ou melhor, em lugar nenhum e nós somos os únicos habitantes desta terra inóspita. Apenas eu e aquela criatura com o corpo pequeno preso ao meu, com os dedos cravados na minha pele e os olhos espremidos com tanta força que franzem a pele ao redor, como as crianças fazem. Suas bochechas incham com o ar reprimido e seus lábios finos formam um biquinho que eu imagino jamais ter a oportunidade de ver senão nessa ocasião, os fios lisos se espalham ao redor da sua cabeça flutuando em mechas macias, sua pele parece mais clara e luminosa sem as luzes para refleti—la, é quase como uma miragem, um criatura irreal e eu estou prestes a me aproximar e beijá—lo porque seria uma enorme estupidez deixar esse momento passar. Mas como tudo na minha vida, não dá certo e o próprio Louis toma impulso para subir e respirar. Eu o sigo, também recuperando o fôlego. Perdi a noção do tempo.
— Isso demorou para um caralho, Sr. Styles. — Ele reclama, desta vez puxando os cabelos para trás e deixando o rosto livre dos fios que se prendiam ali — Quando vou aprender a nada de verdade?
— Agora. — Respondo sem pensar direito. Eu apenas quero fazer o que viemos fazer de uma vez e ir para cama e tirar esses pensamentos estúpidos da minha cabeça.
Decidido, embora não muito certo, eu ensino alguns movimentos de braços e pernas que ele pega com muita facilidade. Treinamos em curtos caminhos, até que eu o deixe de um lado da piscina e vá para o outro lado, o incentivando a nadar todo o percurso.
— Tem certeza disso? — Tomlinson me pergunta receoso, os dedos agarrados aos azulejos. Sua luva escorregando vez ou outra pela umidade.
— Sim, claro. Você consegue, apenas venha até mim. — Digo, encostando as costas na borda e encarando Louis na outra extremidade, tão viril e másculo e completamente molhado prestes a vir até mim. Desde que eu perdi a virgindade eu havia me acostumado a um certo estilo de vida, eu nunca tive um namorado, mas sempre um parceiro fixo de transa. Zayn era aquele com quem eu estava há mais tempo, quase um ano e eu passava a semana agonizando até que os domingos chegassem e nós pudéssemos foder loucamente, entretanto desde que eu me mudei para Londres essa rotina tinha sido drasticamente rompida e eu enfrentava uma abstinência terrível, a gravidez bagunçava os meus hormônios e aumentava em cem por cento minha libido, o que me fazia ficar numa espécie de cio e Louis era o único homem livre, desimpedido e bonito com que eu mantinha contato então era natural que eu estivesse quase entrando em combustão só pela proximidade, mas eu imaginava tantas, tantas coisas envolvendo nós dois nus na sua imensa cama de lençóis vermelhos.
Nem me dou conta de que meus olhos estão fechados e meus lábios cheios sendo grosseiramente mordidos quando um som de engasgo e uma movimentação começa na água. Abro os olhos não encontrando Louis na borda, nem em lugar nenhum. Um pequeno redemoinho está se formando próximo a onde ele estava e sem pestanejar eu mergulho, o encontro se debatendo e num primeiro momento, pela sua agitação ele me repele, até que eu consiga agarrar sua cintura e o puxar para fora d'água.
Quando eu o deito no piso, Louis está desacordado e não respira. Sento em seu abdômen para conseguir fazer uma pressão mais forte em seu peito, sem uma reação eu faço aquilo que ansiava a pouco. Ter seus lábios nos meus, mas nem de longe como eu imaginava. Prendo seu nariz e respiro em sua boca, oscilo entre a massagem e a respiração boca a boca até que ele tosse, cuspindo a água e voltando a respirar.
— Graças a Deus. — Digo, jogando os braços ao redor de seu pescoço e o apertando com força.
— Você disse que ia me ensinar. — Fala com a voz extremamente rouca que ressoa direto no meu ouvido, me arrepiando a epiderme.
— Desculpa, eu me distraí por um momento, por favor me perdoa. — Imploro com o rosto enterrado em seu pescoço.
— Você vai pagar por isso, seu merdinha.
Sorrio contra sua pele e sinto seus dedos frios traçando uma linha imaginária em minha cintura. Meus olhos reviraram com a sensação de ter sua pele diretamente na minha, e o melhor é que ele está me tocando. Aperto minhas pernas ao redor de seu corpo e um pequeno suspiro seu soa como toda uma orquestra para a minha audição que se torna apurada para não perder nenhum som seu. Estamos praticamente nus, vestidos apenas com as roupas íntimas que encontram ensopadas, o tecido fino não consegue esconder aquilo que se revela facilmente. Eu já imaginava que estivesse duro, mas é uma surpresa e tanto descobrir que ele também está. Tão deliciosamente pressionado e bem alinhado ao meu. Movido pela luxúria movo o quadril, criando fricção e nós dois gememos baixinho. Suas mãos que agora se encontravam no fim da minha coluna sobem até que esteja afastando meu cabelo do rosto e eu o sinta afagar o mesmo.
Levanto a cabeça, deixando que ele toque minhas bochechas, pálpebras, testa, nariz, maxilar, queixo e tateie, demoradamente, meus lábios com o indicador.
— Vermelhos, cheios e molhados? — Ele pergunta exatamente aquilo que lhe disse quando nos conhecemos. Ainda mantendo seu toque leve e singelo em minha boca, coloco a língua para fora lambendo o dedo.
— Uhum. — Respondo num murmuro, rodeando a língua pela ponta de seu dedo e imaginando a cabeça de seu pau no lugar.
Louis fecha os olhos, os pressionando com força e parte os lábios finos e róseos no que soa como um choramingo. Isso me faz lembrar do que houve na banheira e de que eu não pedi permissão, talvez ele esteja em um transe e eu esteja abusando dele.
Saio de cima dele e espero até que ele torne a abrir os olhos e agir como se nada tivesse acontecido. Então sim, ele deveria estar em algum delírio e não se deu conta do que aconteceu entre nós e é óbvio que eu não o lembrarei. Depois disso, lhe dou mais algumas aulas, desta vez com muita atenção para não deixar que ele se afogue e no fim Louis está nadando bem. Corremos de volta para a mansão, com Louis imitando sons fantasmagóricos próximo a porta de Clare, já que ela é do tipo que se impressiona com facilidade, até mesmo começando a orar um pai nosso sem se dar conta de que somos nós. Subimos as escadas e paramos no corredor, cada um em sua porta. Louis tem um sorriso imenso, os cabelos pingando e até seus olhos brilham.
— Esse foi o melhor dia da minha vida em muito tempo. — Ele confessa com as bochechas avermelhadas e parece realmente tímido ao dar um passo para frente e beijar minha bochecha — Obrigado, girafinha.
Sinto minhas bochechas esquentarem e sorrio pequeno, sentindo a boca de Louis exatamente onde se abre uma covinha.
— Não foi nada.
— Não, foi tudo. — Ele corrige, eu espero que ele se afaste, mas antes disso e para a minha total surpresa, segura minha cintura e pressiona um beijo em meu suéter, na altura da barriga — Boa noite, bebê!
E então ele entra em seu quarto.
Permaneço parado no meio do corredor, no escuro, com a boca aberta e o coração acelerado. Devagar minha cabeça tomba pra frente e minhas mãos pairam sobre onde Louis beijou.
— Ele beijou a minha barriga! Ele beijou...Ele te beijou, bebê, você viu isso? Meu Deus! Oh, meu Deus! — Daí estou sorrindo e chorando, tudo ao mesmo tempo — Céus, eu preciso me tratar.
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