18 • | man in the mirror
Há um ano atrás eu não estaria aqui.
Há um ano atrás era egoísta demais para pensar em qualquer coisa que não fosse em mim mesmo, embora, em parte eu esteja aqui pensando em mim também, porque sei que não suportaria perde-lo. Pra mim ele é como aquela perna que ele não quer abrir mão em hipótese alguma, porque acredita não poder viver sem ela, o mesmo acontece comigo. Não posso, não quero e não vou viver sem Louis Tomlinson. Certo, talvez eu permaneça o egoísta de antes.
Há um ano atrás eu tinha planos.
Planos que envolviam aproveitar meu último ano no colégio ao lado dos meus melhores amigos, dirigir um Cadillac só meu, ir em todas as festas, aprender a beber tão bem quanto Niall e poder chamar Zayn Malik de meu namorado. E quando este ano acabasse eu estaria me mudando para Cambridge e entrando numa das melhores faculdades da Inglaterra, onde eu me tornaria um advogado renomado, casaria com uma boa moça, teria filhos e secretamente correria para os braços de um dos meus amigos de cabelos escuros no meio da noite. Era um bom plano, bem, era o que eu achava na época.
Porém, 1959 não tinha nada parecido reservado para mim ao começar por eu não ter terminado o colégio, estar longe dos meus amigos, sem carta de motorista ou Zayn. Não haviam formas de entrar em uma faculdade e eu nem ao menos lembrava disso. Minha atenção estava totalmente voltada para cumprir uma promessa, muito importante que fiz a alguém especial.
" Está em fase experimental..."
Era tudo o que eu ouvia nas últimas semanas. Muita coisa havia acontecido após o casamento de Charlotte, ao começar por Louis emitir uma procuração na qual dava a mim o direito de mover sua fortuna, ele também conseguiu fazer com que Charlotte me passasse o direito de responder por ele e eu me tornei uma espécie de tutor para Louis. O que me permitia fazer escolhas por ele, no caso a de como salva-lo. Naquela noite quando Louis se jogou em mim, chorando e implorando que eu o salvasse, o garanti que faria. Mas não existem tratamentos ou remédios conhecidos para lidar com seu problema no mercado, mas quando uma nota fora emitida no jornal de que o bilionário Louis Tomlinson estava gravemente doente e pagando uma fortuna para quem lhe trouxesse a cura, choveram médicos com a solução para a doença de Louis. O problema é que todos sempre vinham com a mesma história de ser experimental. Ou seja não haviam garantias.
- Acreditamos que a bactéria tenha sido concebida pela união da radiação das armas químicas em composição com as péssimas condições de higiene na ilha, células e tecidos mortos e a mistura de parasitas o que criou uma espécie de monstro devorador de tecidos, carne e sangue. Quanto mais tempo ele permanece dentro dele, maior e mais forte ele se torna. - Um médico búlgaro dizia o mesmo que todos os outros, enquanto eu girava um vidrinho vermelho onde ele dizia estar a cura para Louis - Precisamos agir rápido e atacar este monstro.
- E pretende ataca-lo com isso? - Tommy pergunta, em pé as costas da cadeira de Lottie, que como sempre está quieta, apertando as luvas no colo.
- Exato.
- E quais são os riscos? - Pergunto, devolvendo o frasco para seu assistente.
- Riscos? Bem, os mesmos dos outros.
Oh sim, os outros.
Não tínhamos parado de visitar médicos desde o casamento. Charlotte e Tommy não tiveram uma lua de mel, nem se mudaram da mansão para que pudessem me acompanhar em todas as consultas que embora exaustivas, sempre contavam com a minha presença. O estado de Louis se agravava cada vez mais. Eu consegui convence-lo a interromper o seu uso descontrolado de remédios e isso só fez com que as dores voltassem, nem mesmo o antigo soro que Bebe aplicava fazia efeito e o Dr. Rexha vivia reforçando a necessidade da amputação imediata, mas eu não podia concordar com isso.
Eu prometi, eu vou cumprir.
Foi quando autorizei o primeiro tratamento. Ele era estranho, entretanto havia funcionado com uma garota no Arkansas. O médico americano acreditava que a dor poderia expulsar o intruso do corpo de Louis e então ele o incitou a tal, eu não sei como ele fez. Preferi ficar do lado de fora e os gritos de Louis ecoaram pela casa. Infelizmente todo o seu sofrimento fora em vão, dias depois veio a vez de uma italiano que deu a certeza de poder matar a bactéria, utilizando choques concentrados.
Então, sim, eu o autorizei a eletrocutar a ferida de Louis. O que só lhe rendeu mais dor. Vieram outros depois destes, com ideias cada vez mais mirabolantes e dolorosas. Por mim eu teria escolhido as menos agressivas, contudo, sempre fazia questão de levar as opções até ele e deixar que escolhesse.
Jamais permitiria por livre e espontânea vontade que alguém o ferisse, porém ele quis assim.
Seus últimos dois tratamentos eram uns dos poucos que não envolviam dor, nem por isso eram saudáveis. Os médicos trabalharam em conjunto algo sobre a mudança na temperatura corporal, tornar o corpo de Louis um péssimo hospedeiro. Primeiro aplicaram uma série de medicamentos que o deixaram hipotérmico, ao ponto que uma leve corrente de vento o deixasse tremendo por horas. Nesses dias seu quarto ficou no breu, as cortinas fechadas, assim como as do dossel, ele tinha duzias de cobertas pesadas o cobrindo e o quarto se tornou um forno até que foi hora de esquenta-lo, isso condizia com o estado febril, no qual ele se encontrava agora. Seus lençóis precisavam ser trocados a cada vinte minutos por estarem ensopados de suor, o seu corpo se desfazia pela umidade constante na pele. Sarah havia se mudado para o seu quarto com a função de colocar panos úmidos em sua testa e já faziam dias que ele não acordava.
As consequências de todos os tratamentos eram as mesmas: Afetação de outros órgãos, deterioração total da perna, febre, vômito, síncope, problemas respiratórios e cardíacos, coma parcial ou total e morte.
Não precisava que ninguém me lembrasse o tempo todo aquilo que não haviam chances de esquecer.
- Eu posso garantir que ele será curado! - Era a mesma afirmação de sempre. Deixei seu consultório com a garantia de que avaliaria seus métodos e caso agradassem ao Sr. Tomlinson ele seria contratado.
Quando entramos no carro, Liam tinha os olhos fundos pelas noites mal dormidas em que estivemos de viagem. Mas ele nunca admitiria que estava exausto, então apenas sorria e dirigia. Estávamos em alguma cidade não muito longe de Londres que eu não fiz questão de guardar o nome, recentemente tínhamos estado em tantos lugares que era difícil prestar atenção.
Assim que me sentei no banco, arranquei os casacos que precisava me enfiar quando íamos a qualquer lugar, eu já não podia mais sair livremente, pois a minha barriga já não era mais algo que pudesse ser escondido, francamente, eu não sei o que tinha na cabeça quando achei que poderia vir até Londres, ter um bebê e agir como se nada tivesse acontecido. Era tão bobo naquela época. Quando recosto no banco me sentindo aliviado sinto uma pontada no ventre que me faz contorcer o rosto em desconforto.
- Harry, tudo bem? - Charlotte indaga, sentando de lado para poder me olhar diretamente.
- Sim, não foi nada. - Respondo com a voz falha, segurando minha barriga e mordendo os lábios para não grunhir pela dor que se alastra.
- Sua gravidez já está avançada, deveria estar repousando. - Tommy se intromete dobrando o pescoço para me fitar e o encaro atravessado.
- Estou bem.
- Essas dores estão cada vez mais frequentes. - Charlotte diz - Deveríamos ligar para o doutor Grimshaw.
- Não é necessário. - Digo, incomodado por ter repentinamente virado o foco de sua atenção e respirando fundo quando uma nova e mais dolorosa pontada surge.
As duas longas e maçantes horas seguidas de viagem são feitas em silêncio. Com Liam e Tommy me olhando vez ou outra através do retrovisor e Lottie me checando de cinco em cinco minutos, todos estavam me tirando do sério e olha que isso é bem difícil, então quando o carro atravessa o caminho de pedras, contornando o elegante chafariz coberto de neve não hesito em abrir a porta e correr pela escadaria, milagrosamente sem escorregão algum, e adentrar a mansão. Infelizmente a Sra. Napolitano já estava em meu encalço.
- Harry, eu sei que você quer ajudar, mas acho que isso está começando a te prejudicar. - Ela diz com a voz estridente quando eu continuo a fazer meu caminho pelas escadas, embora eu não dê atenção até que ela grita: - Isso não é obrigação sua!
Interrompo o passo no mesmo instante em que a ouço. Como ela ousa? É claro que é minha obrigação. Viro lentamente o corpo, segurando o corrimão com firmeza porque talvez eu esteja vendo tudo rodando e não confie nem um pouco na minha capacidade de me manter em pé por conta própria neste momento, mesmo assim tensiono o maxilar e encaro Charlotte com olhos estreitos e furiosos.
- Eu fiz uma promessa.
- Eu também fiz, mas certas coisas estão fora do nosso alcance.
- Está dizendo que não posso salva-lo? - Minhas unhas cavam a madeira lisa, a arranhando para tentar conter um pouco da raiva que ferve em meu sangue.
- Estou dizendo que não está certo. Você não tem poder para salva-lo, é unânime que nenhum destes tratamentos está surtindo efeito, eles só estão matando Louis mais rápido. - Vejo um lampejo de dor em seus olhos cristalinos, porém estou cada vez mais cego pela ira em tê-la se metendo em algo que não lhe diz respeito, não mais - Você deveria estar tentando ajudá-lo a se conformar com a perda da perna. Dê a ele a garantia de que isso não fará com que o ame menos.
- Louis não quer ter sua perna amputada, então ela não será amputada. Eu gostei do médico de hoje, vamos começar o tratamento.
- Não acho que seja uma boa ideia. É melhor parar com esses tratamentos experimentais.
- Não é você quem decide. - Rebato com a voz obstinada e seus olhos se arregalam, eu nunca usei um tom rude com ela antes.
Lottie balança a cabeça, em concordância com o que é dito e dá alguns passos adiante, subindo os degraus até estar na minha frente, ela afasta o cabelo do ombro e pega a minha mão. Num primeiro instante eu recuo - desde o ocorrido no colégio, eu havia me tornado bem menos suscetível a toques inesperados - porém, logo a deixo tomar entre seus dedos finos e delicados.
- Eu sei o que você está sentindo. Já estive no seu lugar. Por muito tempo tudo o que eu queria era dar ao meu irmão tudo o que ele pedia, quando criança o seu sonho era ser rico por meio dos perfumes e eu fiz isso acontecer, depois ele quis está mansão, quis cavalos, carros e festas imensas e eu assinava em baixo, tudo o que queria, ele tinha. Eu acreditei que se desse tudo o que pedisse ele ficaria feliz, e eu só queria que Louis fosse feliz, mas não era o que acontecia. Nem sempre o que queremos é o que nos faz bem. Você acha que ele precisa daquela perna pra ser feliz, porque ele te fez acreditar nisso. Contudo, eu, você, todos nós sabemos que para o Lou, você e esse bebê. - Ela leva a outra mão para tocar minha barriga, meus olhos atentos ao seu gesto - Vocês são a verdadeira fonte de felicidade dele.
- Mas ele precisa...
- Você sabe que não, Harry. Ele é cego, mas isso não o torna doente. A sua doença está naquela perna, é um membro inútil, que só o faz sentir dor e sofrimento. Eu sei que o melhor a se fazer é a amputação. Não é fácil, tampouco simples, mas eu conheço meu irmão e sei que ele aguenta.
- Você desistiu dele! - Digo entredentes, agarrando seu pulso e a afastando de mim ao que subo os degraus de costas.
- Não, estou apenas ciente do que é melhor pra ele. - A voz dela é suave, quase convincente - O que infelizmente você não está. Eu conheço o amor e sei o que ele faz com a gente.
- O que quer dizer? - Contraio os lábios com uma sensação estranha.
- Você não chega perto dele porque não suporta vê-lo naquele estado, também não dorme porque fica com o rosto enterrado naqueles livros que estão empanturrando seu quarto, sua cama não é feita há dias já que você não dorme nela, nem em lugar nenhum. Nunca o vejo nas refeições e sei que tem desmarcado as consultas com o Dr. Grimshaw. Porém, você faz vista grossa com tudo que é relacionado ao Louis, sabe até a quantidade de suspiros que ele dá ao longo do dia.
- Eu realmente não estou entendendo a onde você quer chegar com isso, senhorita.
- Não mesmo? - Pergunta com ironia - Você está obcecado em curá-lo e se esqueceu completamente de si mesmo. Pelo amor de Deus, Harry, você está grávido. Não é como no começo em que você podia ficar pra cima e pra baixo aprontando com Louis quando achava que eu não sabia de suas escapadas, já são seis meses. Seis meses! A Melanie já está totalmente formada, ela é uma pessoinha que precisa mais do que nunca que você cuide de si mesmo, para cuidar dela. Mas quando você para de comer e dormir e não tem um pingo de descanso está a prejudicando terrivelmente. Você foi agraciado com um dom que eu... q-que eu jamais poderei. - Seu tom de voz diminui gradativamente ao que ela debate consigo mesma antes de expôr em alto e bom som: - Acredito que seria bem mais saudável para vocês se aceitasse o convite de passar o restante da gravidez em companhia do Dr. Grimshaw em Kent. Poderia levar Clare e Mitch com você....
- Está me pedindo para deixar Louis? - Grito de súbito, descrente do que ela me pede.
- Não deixar...
- Mas sair do caminho para que você possa fatiá-lo sem impedimentos. - Disparo, sentindo meu coração acelerar e mantenho em mente o que Nicholas vivia repetindo sobre não me exaltar. Eu preciso ficar calmo. Calmo, okay.
- Harry, você está doente. Obcecado por Louis. No começo eu achei boa a aproximação de vocês, porém é evidente que tudo isso está sendo demais para você e o melhor a se fazer, por hora, é se distanciar.
- Lamento, mas isso não está no seu poder. Eu permanecerei nessa casa, ao lado dele, quer queira, quer não. Agora, se me der licença. - Faço-lhe uma reverência forçada e sarcástica antes de marchar até o segundo andar, onde encontro o corredor deserto e silencioso que há pouco costumava ser inundado pelas gargalhadas altas de Louis ou por sua voz estridente, conversas fiadas com os criados e até nossos gemidos em noites de paixão, no entanto tudo o que havia era o silêncio, o ensurdecedor silêncio que me fazia arrastar meus pés em agonia por saber que não o encontraria na poltrona estirado com o cigarro entre os lábios ou resmungando na banheira, porque ele obviamente não podia mover-se sozinho. O ranger da porta soou alto, numa vã esperança de que isso o levasse a acordar, o que naturalmente não aconteceu. Meus passos permaneciam cuidadosos, seguindo até que eu estivesse de costas para os grandes espelhos do closet que tanto testemunharam de nós e para a cama que acolhia tantas lembranças, tanto boas quanto ruins. As franjas douradas escovavam o piso por ter a colcha quase toda puxada, deixando Louis com o tronco livre, coberto unicamente por uma camisa de seda com a gola larga que expunha seu peito ainda mais magro do que antes, o abatimento está se revelando não apenas em seu corpo, que outrora fora forte e rígido e aos poucos se tornara magro e frágil, as maçãs de seu rosto se destacavam pela finura de seu rosto, os ossos em evidência. Os círculos ao redor de seus olhos estão ficando cada vez mais fundo, embora não seja por falta de sono, os lábios rachados pela desidratação constante e a pele bronzeada agora era pálida e seca, nada semelhante a de antes. Suas mãos estavam descansado unidas sobre seu peito, o que me lembra a pose fúnebre. As cortinas estão soltas e puxadas em todas as extremidades da cama, o tule vermelho surge como uma barreira entre nós que eu não ouso atravessar de modo algum.
Eu simplesmente não consigo me aproximar.
Tenho medo de tocar nele e fazer com que se desmanche entre meus dedos. Ele é como uma escultura feita de areia, é preciso manter distância e zelo se eu quiser que ele permaneça intacto, um toque direto pode destruir tudo e eu não quero isso, quero mantê-lo, apesar de não conseguir conter o pensamento perturbador de que ele se assemelha muito a um cadáver neste momento.
Sinto meu estômago revirar na mesma hora em que a porta é aberta novamente e Sarah entra com uma nova leva de toalhas. Ela as tem pressionada ao peito e os olhos baixos até tomar ciência de que não está só e me encarar, com bem menos indiferença do que costumava fazer antes.
- Oh, Harry, você por aqui! - Diz realmente surpresa, com um pequeno sorriso se abrindo. Afinal, eu nunca entrava nesse quarto desde que os tratamentos tiveram início - O Sr. Tomlinson ficará...
- Não deixe as mãos dele assim. - Rosno com a voz grosso e apressada antes de lhe dar as costas e correr para o meu próprio quarto, onde ignoro os latidos de Sun para me trancar no banheiro e despejar o que quer que haja no meu estômago já que eu raramente como. Vinte minutos depois de passar ajoelhado sobre o piso gelado com o queixo apoiado na latrina sentindo minha garganta doer e a ânsia surgir toda vez que penso na possibilidade de estar falhando com a minha promessa, consigo me colocar de pé e lavar o rosto na pia, mas quando a água está descendo pelo ralo não deixo de notar o liquido avermelhado que se mistura a ela. Ergo o rosto para o espelho, encontrando um caminho sanguinolento desde o meu nariz até meu lábio superior e não importa quantas vezes eu lave o fluxo não é interrompido e ele vem acompanhado de novas cólicas e enjoos. Sem hesitar abro o armarinho, encontrando os remédios que eu confisquei de Tomlinson, vidros e mais vidros de medicamentos para todo o tipo de dor e infelizmente eu já tenho o meu preferido, engulo os comprimidos de morfina a seco e caminho em direção a cama, sentindo os efeitos imediatos que me fazem cada vez mais leve, longe de preocupações e principalmente dores. Me enfio debaixo dos cobertores sentindo meus olhos pesarem e sonhando que Louis está comigo.
Xx
Sete horas depois - apesar da imensa mancha vermelha no meu travesseiro - meu nariz não está mais sangrando quando acordo, me sentindo dez vezes mais cansado do que antes e lutando contra o desejo de ir até o armário e engolir mais compridos que ninguém sequer imagina que eu possuo. Resolvo tomar um banho de chuveiro, mantenho distância da banheira que sem ele parece até mesmo triste de se estar. O mundo todo fica cinza sem sua presença, então são estas as cores das minhas roupas quando eu sigo até o seu quarto, com a cara e a coragem, mas eu sei que não é certo ficar tão longe quando ele precisa tanto de mim.
Sarah ainda está lá. Sentada na cabeceira, deslizando a ponta de uma toalha felpuda por sua bochecha que reluz pelo suor, ele treme, seus dentes trincados ao que ele resmunga coisas inaudíveis.
- Shiii, quietinho. - Pede com a voz macia e eu o vejo mover a mão para agarrar a dela em seu rosto.
- L-Lyd. - Louis chama e eu paro a onde estou na porta, mantendo a mão na maçaneta - Lydia... e-eu tive um sonho terrível.
Ela desce a mão para poder segurar a dele propriamente contra seu peito e seu corpo se espasma, provavelmente pela corrente de ar que entra no quarto por meio da porta aberta. Os fios estão bem mais escuros e finos agora molhados e puxados para trás, a barba rala permanece no lugar de sempre, ainda assim não parece ele.
- Teve, é? - Sarah pergunta, baixando a voz para se igualar a sua.
- Sim... sonhei com guerra e morte, sonhei com pessoas chorando e sangrando no chão frio. - Então ele andou sonhando comigo? - Sonhei que você tinha partido e não importava o quanto eu procurasse não conseguia achar, não podia ver você.
Meus dedos se apertam na maçaneta a girando lentamente e o barulho atrai a visão de Sarah que me encontra estático ouvindo a fala precária e vagarosa de Louis. Ela abre a boca, procurando algo para dizer, mantendo os olhos tristes em mim e eu me esforço para lhe dar um sorriso encorajador, querendo que ela embarque em sua ilusão, que lhe dê ao menos um pouco de sua fantasia.
- Eu estou aqui, querido. - Fala fingindo ser Lydia, tocando-lhe a face com extrema delicadeza - Bem aqui.
- Eu finalmente te encontrei. - Suspira soltando um riso breve que enche meu coração - Queria que ele te encontrasse também.
- Quem?
- Um certo rapazinho de cachos. Ele é meu amor. Eu tenho um amor, sabia? - E ao dizer aquilo um sorriso verdadeiro se molda em seus lábios, mesmo seus olhos fechados sorriem em conjunto formando as adoráveis ruguinhas dos lados - Harry. Onde está ele? Eu quero ele!
- Eu vou chama-lo. - Informa, sinalizando para que eu me aproxime, mas ao invés disso recuo. Meus pés tomando vida própria e me levando cada vez mais pra longe. Um vinco surge em meio as sobrancelhas de Sarah que não compreende meu gesto.
- Harry. - Louis chama com a voz agoniada, como se estivesse prestes a chorar. Deus, eu não consigo.
"Vem até aqui" Ela diz sem som, tentando acalmar Louis que fica cada vez mais agitado por minha ausência. Porém antes que possa ouvir mais um de seus chamados estou descendo as escadas, empurrando a porta de carvalho até sentir o vento gelado contra meu rosto, o enterro em minhas mãos, pois a lua está brilhando no céu e eu não quero que ela testemunhe o meu pranto, o meu fraquejar ao me dar conta de que ele está indo. Ele está partindo e eu não consigo evitar, não posso salvá-lo. Não posso fazer nada por aquele que tantas vezes me salvou, cuidou de mim e me amou pelo que sou.
Ele é meu amigo, meu amor, minha casa, minha felicidade, minha vida, o meu tudo e eu estou perdendo ele.
E então aqui estou, enfrentando uma crise de choro no relento invernal. Sentindo minha epiderme congelar e minha respiração totalmente descompensada. Algo macio e quente é colocado sobre meus ombros e eu não tenho tempo de ver o que é porque um corpo se atrela ao meu, tenho meu rosto enfiado em um amontoado de cabelos escuros, mas não me importo com nada ao deixar que a pessoa me abrace e permita que eu chore em seu ombro.
- Eu falhei c-com ele. - Soluço abraçando com força seu corpo menor.
- Claro que não. Foi até melhor que não tenha ido falar com ele. Louis está muito cansado, precisa de repouso. - Sarah diz próximo ao meu ouvido, puxando ainda mais o casaco para meus ombros e esfregando minhas costas tentando me acalmar e aquecer.
- Eu prometi que o ajudaria, mas eu não consigo, ele não melhora. Ele está morrendo por minha culpa.
- Harry, não. - Ela diz com a voz firme em advertência, agarrando meus cotovelos e me fazendo olhar para ela - Ouvi a discussão que teve mais cedo com a Charlotte e eu vejo o que você tem feito, você está dando tudo de si para encontrar uma forma de salvá-lo. Eu bem sei como é amar alguém ferido, não é fácil, a dor do outro é sentida na nossa pele, nos nossos ossos, na menta, na alma, em toda a parte e você acaba enlouquecendo querendo ajudar, mas nem tudo tem cura. Estou aqui há anos e todos sabemos que o problema de Louis com aquela perna é antigo, as chances de cura são nulas. - Balanço a cabeça, não querendo que ela diga isso. Sarah sorri pequeno acariciando a lateral do meu rosto - Ele pode viver sem a perna. Só precisa que alguém lhe mostre como, ele te ama e ama esse bebê, por vocês ele viveria, apenas dê uma chance.
- Não é o que ele quer.
- Ele quer sim, apenas não sabe ainda.
De repente a nossa bolha de compreensão e simpatia é perfurada por uma figura esguia e muito inconveniente que bufa ao nos encontrar como se estivesse atrás de nós há muito tempo.
- Em que buraco você se meteu, garoto? - Mitch indaga de súbito, não me dando tempo para responder antes de me puxar para dentro. Seguido de Sarah ele me guia em direção a cozinha que tem suas luzes apagadas até que...
- Surpresa! - Liam e Clare, surgem debaixo do balcão, gritando, acompanhados por Sarah e Mitch que dizem o mesmo as minhas costas. Quando as luzes tornam a ser acessas encontro um grande e decorado bolo de chocolate posto no balcão com duas velinhas queimando, enumerando o 17. Espere, é meu aniversário?
- Parabéns, querido! - Clare deseja se jogando em meu braços, dando um de seus já famosos abraços calorosos - Veja o que eu fiz para você, sei que é o seu predileto. - Segura minha mão, me levando até o outro lado do balcão. Os outros ficam ao nosso redor com sorrisos brilhantes como se achassem tudo aquilo um máximo.
- Eu não entendo, porque estão fazendo isso por mim? - Digo realmente confuso e uma ruga surge no meio da testa de cada um. Liam se aproxima de mim, abraçando meu ombro.
- Porque somos uma família. - Ele responde simplesmente, estendendo o braço para Sarah que vem para o seu lado o abraçando pela cintura e agora eu posso enxergar, todo esse carinho deles não como algo apaixonado, mas fraternal. Tudo depende do ponto de vista.
- E nosso irmão caçula está fazendo anos hoje. - Ela completa com um sorriso pequeno.
- Sábias palavras. - Mitch intervém roubando um dos aperitivos das bandejas que Clare coloca sobre o granito. Ele se acomoda ao meu lado, dando tapinhas em minhas costas - Vamos, Styles, faça um pedido.
- Um pedido?
- Uhum. Dizem que pedidos de aniversário de realizam, pense naquilo que o seu coração mais deseja e peça.
- Certo. - Murmuro, apoiando as mãos no balcão e respirando fundo ao materializar aquilo que eu mais desejo e então assopro, apagando as duas velinhas.
- O que pediu?
- Mitch não é assim que funciona, você não pode contar seu pedido, do contrário ele não se realizará.
- Ah, deixe disso, você é muito superticiosa, senhorita Uchima, é por isso que não arranja um marido.
- O que isso tem a ver?
- Dane-se. - Rowland dá de ombros, segurando meu queixo e me dando um selinho rápido e totalmente inesperado.
- Que merda é essa? - Grito, esfregando a manga do casaco na boca.
- Realizando seu pedido. - Me lança um sorriso sacana e eu reviro os olhos. Ele gargalha alto e se aproxima cochichando: - Me encontre na academia a meia-noite. - Franzo o cenho sem entender o que ele quer dizer com aquilo, mas Clare se mete entre nós, me obrigando não tão educadamente a comer tudo o que ela cozinhou especialmente para mim e que seria uma tremenda falta de educação deixar um farelo sequer.
Enquanto Clare me presenteou com sua culinária fenomenal, Sarah me revelou o seu dom impressionante para o tricô e nos deu - afinal não era só pra mim - conjuntos de casaquinhos, toucas, meias, luvas e macacãos de várias cores, não apenas cor de rosa e isso me deixou muito feliz, já que verde era a minha cor predileta e o macacão que imitava um sapinho já era a minha favorita.
Liam mostrou uma chave prateada e eu não entendia exatamente a onde pertencia até ele me levar para a garagem onde um Cadillac Eldorado quarta geração, preto fosco, conversível com o tão famoso rabo de peixe na traseira. Ele era lindo, o mesmo modelo que eu via nos catálogos e meu pai vivia dizendo que me daria no meu aniversário se eu fosse um bom garoto.
- A senhorita Lottie, espera que goste do presente. - Liam sussurra. É claro que um presente caro como este só viria de um Tomlinson - Oh, e ela me pediu encarecidamente pra te ensinar a dirigir decentemente.
- Eu dirijo bem! - Me defendo.
- Mentiroso! - Mitch exclama em meio a um espirro fingido.
Meus dedos estão inquietos em cima do colo, enquanto eu debato internamente se está é uma má ou péssima ideia, provavelmente ambos, mas eu não consigo sair daqui e voltar para a cozinha onde Mitch arranjou um violão, Sarah batuca com os talheres em uma panela e Liam e Clare formam um dueto harmonioso. Eu queria voltar para eles, mas aquele formigamento no meu estômago não ia embora, não desde que um telegrama com:
Saudades!
Havia chegado para mim. Algo dentro de mim gritava que aquilo havia sido enviado pela minha mãe e desde a denúncia sobre o sequestro, ao invés dos meus reais crimes, uma esperança de que eles não me repudiassem ressurgiu. Movido por ela, tomo a atitude de tirar o telefone do gancho e discar os números do meu antigo lar, ele chama uma, duas, três e quando penso ir para a caixa postal alguém atende.
- Alô? - A voz rouca e grossa que pertence ao meu pai toma a minha audição. Coloco a mão na boca para não deixar escapar qualquer ruído - Quem fala? Gemma, é você? É você filha?
Respiro profundamente e afasto a mão.
- É o Harry. - Digo com a voz miúda.
- Harry. - Diz com surpresa, mas também há irritação presente - Não te acharam, pensei que estivesse morto. O que você quer?
- E-eu... - Murmuro, fincando meus dedos na poltrona de Louis e encarando as chamas ardendo na lareira - , vocês estão bem?
- Bem? Como poderíamos estar bem, quando nossa filha se tornou uma perdida que ninguém tem notícias e você... - Engulo em seco, esperando até que ele completa: - Você era meu garoto, meu filho mais querido e precioso, eu tinha tantos planos pra você, tanta coisa e você simplesmente me mandou para o inferno.
- Pai...
- Porque, Harry? Porque fez isso comigo? Porque me odeia tanto?
- Não, papai, eu te amo. Eu te amo tanto.
- Se me amasse não teria me traído deste jeito. Podia ter me pedido sua ajuda eu teria te ajudado a se curar.
- Eu não estou doente, pai.
- Então escolheu o inferno por livre e espontânea vontade? Escolheu queimar no pecado por luxúria? Que merda é você? Não é o meu filho, o meu Harry, era um bom garoto. Um menino doce, ingênuo e decente.
- Aquele Harry não existe mais. - Elevo a voz, secando as lágrimas involuntárias. Pelo menos uma vez na vida eu lhe direi o que penso - Aquele Harry era só um fantasma, um ser sem vontade ou ambição com medo de tudo e todos que vocês faziam questão de manter debaixo das asas, só propagando a minha covardia. Eu era infeliz, pai. Era muito infeliz porque eu pensava que não poderia sobreviver sozinho, que precisaria de vocês para sempre segurando a minha mão e fazendo tudo por mim. Me achava um inútil que merecia ser mandado e usado como um pedaço de carne, mas quando eu cortei o cordão umbilical e vim para o mundo real, descobri que eu era sim capaz de viver e que podia ser mais do que um engravatado atrás de uma mesa ou um infeliz que se casa, tem filhos e não sente nada por eles porque você está vazio. Você pode pensar que eu sou um pecador, nojento, mas francamente, quem não é? Todos somos, e não existe essa coisa de pecadinho ou pecadão, estamos no mesmo barco. Acha que o seu adultério é mais puro do que a minha homossexualidade? Ninguém lhe deu o direito de me julgar ou dizer pra onde eu vou. Eu não acredito em inferno, mas se eu for pra ele, irei com um sorriso no rosto porque ao menos eu vivi aquilo que desejava e não uma mentira. Aqui, papai, eu encontrei a mim mesmo, descobri que não sou um bebê, mas alguém forte o bastante pra encarar coisas terríveis e aguentar tudo isso de cabeça erguida, eu sou capaz de ajudar as pessoas, salvar vidas e trazer novas para este mundo. Eu vou ter um bebê, uma menina, o nome dela é Melanie, e-ela vai nascer em abril e gostaria muito que você a conhecesse, sei que ela iria adorar que você a pegasse nos braços e a colocasse no ar para que ela pensasse estar voando, como você fazia comigo, lembra? - Escuto seu soluço do outro lado da linha e um pequeno sorriso desponta em meus lábios - Você contaria as suas histórias de guerra, como treinou aqueles garotos idiotas e como lutou bravamente, você seria o herói dela e ela ficaria me perturbando a semana toda querendo ir até Holmes ver o vovô. Nós seríamos felizes, pai! Nós seríamos muito felizes se o senhor nos desse uma chance, mas se você não quiser de jeito nenhum, tudo bem. - Fungo, deixando que meu rosto seja banhando pelas lágrimas gordas que mancham minhas bochechas e me levanto, dando as costas pra lareira e admirando com um sorriso orgulhoso os quatro cantarolando com alegria. Clare olha por cima do ombro e balança os braços chamando minha atenção, aceno para ela e ela me chama - Eu encontrei uma família aqui também.
Então o que se segue é o silêncio e eu imploro a Deus para que meu pai tenha um pouco de piedade.
A linha fica muda e eu sei que ele desligou. Seco as lágrimas, devolvo o telefone ao gancho e caminho em direção a minha família que me recebe de braços abertos.
Xx
O presente de Mitch Rowland era bem diferente do que eu imaginava. Apesar de não saber o que esperar quando ele me pediu para encontra-lo na academia. Mesmo assim eu fui e me deparei com ele, de braços cruzados e queixo erguido.
- Bom, meu rapaz, acho que já está na hora de você aprender a se cuidar.
Então era isso, ele queria me ensinar a lutar. Naturalmente não poderia ser nada brutal ou intenso como Liam e Louis faziam, mas até que era divertido socar as coisas e treinar arco e flecha, esgrima e alguns golpes de defesa pessoal. Mitch era um professor muito atencioso e cuidadoso que checava sem parar se estava tudo bem comigo, em pouco tempo eu acho que poderia dar uma revanche a Anthony Murdoch, o que graças a Deus não seria necessário desde que ele havia sido transferido para um internato na Suíça e estava bem longe.
Depois da minha aula naquela manhã me sentei na sala, na companhia do velho livro de Lydia folheando as páginas pelo que deveria ser a centésima vez, sua simples, porém preciosa lista repousava em cima de uma das páginas, eu me sentia impotente por não poder seguir mais nada ali escrito.
O ensinei a nada; Andar de bicicleta; O fiz se sentir amado, era fora apenas isto. Nada mais. Eu mesmo não seguia os conselhos sobre sorrir ou ajudar alguém.
Louis tinha começado um novo tratamento com o médico búlgaro, Dr. Delchev, que ficara aqui por dois dias aplicando e nos ensinando como administrar o medicamento que até agora não mostrara resultados. Era só mais Louis Tomlinson em quase coma.
A mansão vivia silenciosa desde então. Charlotte e eu mantínhamos uma distância grande demais e eu não sentava mais na grande mesa da sala de jantar, preferindo a companhia de Liam, Mitch, Sarah e Clare durante as refeições na cozinha, já que eles se recusavam veemente a se sentarem sem o consentimento do Sr. Tomlinson. Com isso a minha alimentação estava um pouco melhor, e eu não me sentia tão sozinho com eles ao meu redor o tempo todo. Tinha Mitch me ensinando a lutar, Liam com as aulas de direção, Clare e suas lições de culinária e até mesmo Sarah mostrava um pouco sobre como bordar e eu já tinha um cachecol verde pronto para Louis e terminava um azul para mim, era clichê, mas eu achava fofo.
Viro mais uma página, sem de fato prestar atenção quando escuto um ruído vindo das escadas, dobro o pescoço encontrando Louis quase como uma miragem se agarrando ao corrimão com ambas as mãos para não cair, suas pernas tremem consideravelmente e antes que ele despenque estou partindo em seu auxílio agarrando sua cintura e passando seu braço por meu pescoço.
- Lou, o que faz aqui?
- Oh, olá, girafinha, finalmente te achei. Deveria visitar seu namorado de vez em quando. Só pra checar se eu não bati as botas ainda. - Mesmo com a voz baixa e fraca ele consegue transmitir seu humor ácido.
- Precisa descansar, vou te levar para a cama.
- Não. Eu quero ir até o salão, me leve até lá. Tenho um presente pra você, eu perdi seu aniversário.
- Não precisa, meu aniversário não é importante.
- Cala a boca, idiota. - Ele me dá um peteleco na testa, puxando seu braço de volta para se agarrar ao corrimão novamente - Agora pegue aquela coisa velha que eu sei que vocês têm espalhado pela casa toda.
Hesitante eu o deixo só por um instante até chegar ao armário e pegar a cadeira de rodas, ajudo Louis sentar nela e ele respira aliviado.
- Tudo bem?
- Claro. - Cantarola com ironia mandando que eu o guie até o salão. Empurro a cadeira com cuidado, atravessando as imponentes portas e entramos no espaço vago com chão envernizado e cortinas longas e magestosas, o piano de cauda continua no mesmo lugar com suas teclas em perpétuo silêncio há quase um mês - Piano.
O guio até ele, o ajudando a sair da cadeira de rodas para se sentar no banco. Louis levanta a tampa e desliza os dedos curtos pelas teclas tirando inicialmente uma melodia simples, como que para testar se ainda sabe como fazer.
- Certo. Eu ouvi boatos de que você ganhou coisas muito boas e se fosse em outros tempos te daria algo como um zepelim ou uma baleia, mas eu aprendi que gestos extravagantes nem sempre são as melhores formas de expressar seus sentimentos por alguém. Deste modo resolvi usar de um dos meus muitos talentos, você não sabe, mas eu escrevo muito bem e ontem quando acordei meio atônito Sarah me contou as boas novas e me ajudou a escrever uma música pra você. Isso mesmo, girafinha, eu te escrevi uma música, enquanto você não me deu merda nenhuma de aniversário.
- Você disse que não gostava de presentes. - Rebato sem conseguir conter meu sorriso bobo ao ter a ficha caindo de que ele está aqui na minha frente, sentado ao piano e zombando de tudo como sempre. É como se nada tivesse mudado.
- Mas isso não significa que eu não queria um, bem, seja como for, aqui está. - Ele se apruma todo, como se estivesse prestes a se apresentar em um recital. Me inclino, debruçando os cotovelos sobre o piano.
- Como é o nome?
- Look After You.
- É um bom nome.
- Sim, agora, cale-se. - Resmunga contrariado. Ele comeca tirando uma melodia suave, mas repleta de emoção das teclas e logo sua voz surge, não mais fraca, mas restaurada, serena e doce como sempre - If I don't say this now I will surely break... as i'm leaving the one I want to take, forgive the urgency but hurry up and wait, my heart has started to separate...
O refrão é oh, oh, be my baby, e é tão deliciosamente entoado por sua voz que soa como a trilha sonora perfeita para a composição de todos os nossos momentos juntos.
Tudo passa como um filme em minha mente. Todas as vezes em que em que brigamos, pensamos em desistir, que negamos o amor que nos une, ensinando coisas um ao outro e revelando a beleza que há em viver plenamente. Nós não estávamos procurando, mas o amor nos encontrou e nos uniu. Ele atrelou a alma de Louis a minha e somos só um ser, divindo o mesmo coração que bate no mesmo ritmo vagaroso enquanto sorri pela alegria de ter provado do mais sublime sentimento e lamenta os apesares.
Nada poderia nos definir melhor do que os últimos versos:
- You've begun to feel like home, what's mine is yours to leave or take...What's mine is yours to make your own...
Suspiro sentindo o palpitar em meu peito e as lágrimas escorrendo por meu maxilar se infiltrando no colarinho da camisa. Apenas apreciando a canção que fora feita para mim. Aos poucos o som do piano vai se apagando até que o silêncio retorne por um curto período, onde assimilamos tudo e então Louis começa a tossir ruidosamente. Estendendo os braços a minha procura.
- Acho melhor eu descansar agora.
Assinto rapidamente o ajudando a subir e o levando até o seu quarto, onde depois de muito tempo nós entramos em uma banheira juntos e eu o banho, da forma mais casta e melancólica possível por ele não ter forças para tal, a lembrança perturbadora de que eu me perguntei exatamente nesse mesmo lugar depois de nos deitarmos pela primeira vez sobre o quão devastador seria para Louis perder a perna me vem a mente. Depois disso apenas nos seco e deslizamos para debaixo dos edredons, nossas peles se tocando ao que deitamos de frente um para o outro com a minha perna sob seu quadril, nossos peitorais colados e sua mão fazendo carinho no meu cabelo.
A lua minguante está a brilhar do lado de fora, sua luz pálida caindo sobre nossos corpos como um véu sagrado perpetuando um dos que eu acredito ser os momentos finais de nós dois. A observo estatelada no céu repleto de estrelas, mas daqui ela me parece triste, como se aquelas milhares de luzinhas não fossem capazes de suprir a falta que a sua metade faz, pois ela está incompleta. Um lado seu fora tomado pela escuridão e não há nada que ela possa fazer. O sol tomou-lhe um pedaço seu. E é como eu vejo, como aquela lua incompleta, Louis é minha metade que me fora sonegada pelo sol, que neste caso seria a própria vida que o toma de mim sem pestanejar. Estou caindo na escuridão de meus pensamentos e isso não é um bom sinal, viro o rosto, sentindo o nariz de Louis tocando o meu.
- Foi com Liam. - Ele sussurra com os olhos fechados.
- O quê?
- Você me perguntou outro dia com quem eu tinha tido a minha primeira vez. Bom, o primeiro homem com quem eu estive foi ele. Há muitos anos atrás, antes da Sarah, numa madrugada embriagada nós partilhamos de um momento íntimo.
- Whow, por essa eu não esperava.
- Sou uma caixinha de surpresas. - Sorri ao que desce a mão para minha nuca, enrolando os dedos nos cabelos ali presentes - Certo. Vamos partilhar nossos segredos, sua vez, porque escolheu o nome Melanie?
- Ora, você não sabe? - Ele nega com a cabeça, levo meus dígitos até a frase abaixo de suas clavículas - Sim, é pelo livro.
- Não imaginei que você fosse tão fã assim.
- Não sou é só que... Este nome me remete a personagem sabe, quando eu penso em Melanie, imagino uma mulher forte não como Scarlett, determinada e ardilosa, mas um tipo diferente de força. No qual você resiste, sobrevive e não se entrega, mantém-se firme em seus ideais e mantém a plenitude e bondade, acho que diria que isso é o que mais me atrai. Se fosse há algum tempo atrás eu diria que gostaria de ter uma filha bela, inteligente ou espirituosa, mas hoje, isso não tem mais tanta relevância para mim, mais do que tudo, eu quero que a Melly tenha um coração bondoso, quero que ela seja gentil e generosa e ame aos outros como a si própria, é tudo o que quero.
- Melanie, a bondosa. Me soa interessante.
- Não zombe de mim. - Faço bico e ele ri, esfregando o nariz no meu.
- Estou orgulhoso de você! Se ela tiver um coração como o seu, tenha a certeza de que o mundo será um lugar melhor. - Louis fala, trazendo sua mão para o meu maxilar, acariciando meu rosto e o calor de seu corpo me leva a fechar os olhos - Perdoe-me por todas as vezes que eu fui grosseiro. Perdoe-me por todas as vezes que eu te assustei, agredi ou feri. Perdoe-me por não ter lhe dado aquilo que merece e não ter te tratado com a delicadeza que seu coração é digno.
- O que está fazendo?
- Te liberando! Eu fui egoísta e medroso ao pedir que me salvasse, já estou longe disso. Estava morto antes mesmo que você chegasse, Harry. Não foi justo com você e eu realmente sinto por isso.
- Louis...
- Silêncio. - Pressiona o polegar em meus lábios - Você é a luz que me guia em meio a escuridão. O farol que brilha noite e dia, me dando esperança de dias melhores. Você é o céu, o mar, o universo. Tudo em um só, você é meu infinito, Harold. Eu nunca pensei que isso era possível, ter dois grandes amores em uma vida só, mas então eu me dei conta de que eu havia tido duas vidas, uma com a Lydia, quando ela morreu eu morri junto e permaneci assim até o dia em que você chegou e me deu uma segunda chance, a chance de renascer para amar você e eu amo, amo com tudo o que há de mim. Deus me tem como seu eterno devedor, porque eu não tenho condições de lhe pagar pelo quão grato sou pelo o privilégio de ter tido isso tudo para mim, mesmo que por tempo limitado. Este amor foi perpetuado. Agora, eu irei afastar meu dedo e quero que abra a boca apenas para me beijar, nada de dizer suas besteiras e arruinar meu momento.
- Sim, senhor. - Sussurro quando ele afasta e eu colo meus lábios nos seus, em um beijo ofegante e molhado pelas lágrimas de ambos e aquilo soa como uma despedida e parte de mim sabe que Louis não estará acordado quando o sol surgir pela manhã.
Xx
Quando ele nasceu no leste, com sua luz quente e amarelada pairando sobre a neve branca e gélida que cobria toda Londres, naquela manhã, eu não senti frio, tampouco calor. Só havia medo. Medo de que ele estivesse adormecido para nunca mais acordar às minhas costas. Por isso me demorei em tomar qualquer atitude, até finalmente estender a mão para trás, encontrando apenas o afofado dos cobertores e travesseiros, nada do corpo de Tomlinson.
Viro me equilibrando nos cotovelos, não encontrando rastro algum seu. Onde foi que ele se meteu?
- Louis! - Grito, olhando de um lado para o outro a sua procura - Louis!
- Aqui. - Ouço sua resposta abafada e sei que surge dentre o closet. Salto da cama e corro em seu encontro, o imaginando caído e agonizando por ajuda e é justamente o que eu não encontro ao adentrar o espaço amplo coberto por suas inúmeras roupas. Ele está em frente a gaveta de gravatas, de costas o vejo usando um de seus ternos escuros com corte fino e tecido suave, ele está deslizando uma gravata vermelha pelo pescoço quando me aproximo.
- Louis? - Chamo receoso.
- Diga, girafinha querida. - Sorri expondo seus dentes alinhados, apertando os olhos de forma graciosa e eu não posso deixar de notar que ele está ótimo. Nada parecido com o Louis de ontem. A barba bem aparada, os cabelos arrumados em um belo topete e até o aspecto de saudável retornara a cor em seu rosto.
- Como se sente?
- Revitalizado. - Se vira para mim, pedindo que eu dê o nó em sua gravata - Enfim um remédio que funciona.
Funciona? Funciona? !!!!
- Está me dizendo que não sente dor?
- Exatamente. A dor se foi, assim como a febre e os delírios. Sinto-me ótimo.
- E quanto a perna? - Insisto, com os olhos preocupados varrendo cada pedacinho dele com medo de que haja algo de muito errado que estou ignorando. Ele tira proveito de minha preocupação para dar um passo a frente e me levantar pela cintura e eu instintivamente rodeio seu corpo com as pernas, Louis caminha convencido, sem dificuldade alguma em me prensar contra os armários.
- Eu estou bem, Hazza. - Diz sorrindente antes de afundar o rosto em meu pescoço.
E ele realmente estava. A bactéria, ou monstro como o doutor adorava dizer tinha tido uma regressão considerável, ao que tudo indicava ele estava sendo neutralizado. O remédio do doutor Delchev tinha como função reestabelecer as ligações nervosas que foram desfeitas e estimular o crescimento do tecido, naturalmente não ocorreria da noite pro dia, segundo ele, Louis poderia voltar a ter uma vida normal. Sem excessos, claro. Em torno de seis meses se não houvessem rejeições ou o aparecimento de complicações, uma cirurgia seria realizada para a remoção da bactéria e a ligação permanente de seus nervos com a perna. Em outras palavras ele não a perderia e estava curado. Curado!
Então era como se o sol voltasse a brilhar depois de uma eternidade nas trevas, com Louis voltando a ocupar o seu lugar na ponta da mesa de jantar, expelindo seu veneno contra Tommy que ainda se esforçava para agradar o cunhado que gostava mesmo era de implicar com ele. Charlotte tinha um sorriso permanente no rosto e não agia mais tão protetoramente com Louis, embora muitas vezes batesse na porta do quarto perguntando como ele estava e se podia ajudar em algo. Ela era a sua irmã e deixar de se preocupar era inevitável, mas eles pelo menos não pareciam chateados e a desavença que tiveram durante o casamento fora totalmente esquecida.
E por falar em casamento, o assunto entrou em pauta numa certa tarde chuvosa em que eu me encontrava tentando cortar um pouco meu cabelo que se excedera no tamanho e ficava caindo irritantemente nos meus olhos. Louis estava deitado na minha cama, com as pernas para cima, como um exercício que o médico receitara. Um trovão rompe dos céus e Sun corre até mim se enroscando nas minhas pernas e me assustando, fazendo com que eu me atrapalhe com a tesoura e espete a ponta no meu nariz, arrancando algumas gotículas de sangue.
- Ouch! Cãozinho feio! - Digo bravo, o empurrando para trás com o pé.
- Não fale assim com o meu filho. - Louis se intromete, acendendo o primeiro cigarro do dia.
O que é um grande avanço para quem fumava mais de dez.
- Sai, ele é meu filho. Você é pai do falecido Clifford.
- Ah, é, tinha o Clifford. Não sei porque não consigo lembrar desse cão, estranho. Mas ainda assim...
- Não se meta na criação do meu filho, Tomlinson. - Torno a repetir, cortando alguns cachos e os jogando por maldade mesmo na cabeça de Sun que se assusta pensando ser um bicho e pula na cama ao lado de Louis, ainda com um tufo de cabelo entre suas orelinhas caídas.
- Por falar nisso o que pretende fazer com Melanie?
- Como assim?
- Todo bebê que nasce tem um registro, para que seja reconhecido como cidadão. Ela pode no futuro frequentar a escola, fazer faculdade e conhecer o mundo e para isso ela precisará de documentos.
- Acorda, Lou, ela não pode ter documentos. Não aceitariam dois pais. - Resmungo, colocando a tesoura sobre a cômoda e me virando para ele com os braços cruzados.
- Não mesmo, por isso a necessidade de uma mãe.
- Mãe? Porquê? Talvez eu possa registra-la como sendo só minha, sei lá. - Dou de ombros não entendendo a onde ele quer chegar.
- Anthony Murdoch, Zayn Malik e seus pais sabem a verdade, eles poderiam facilmente incrimina-lo, já que quando a polícia viesse atrás de você o encontrariam com um bebê sem uma mãe, não acha tudo muito suspeito? Você seria condenado na hora. - Ele sopra a fumaça para cima, formando um aro perfeito e eu gostaria mesmo de saber como ele faz uma coisa dessas. Me aproximo cuidadoso avaliando que há certa lógica no que ele diz, muitas pessoas que não estão do meu lado sabem e elas poderiam me denunciar e eu não teria álibi nenhum além da minha palavra.
- O que sugere?
- Case-se.
- Sou menor de idade.
- Aquela sua falsificação da data de seu nascimento enganou meus advogados pode enganar um juíz.
- Certo, mas o problema maior é com quem eu vou me casar.
- Quanto a isso, eu tenho um palpite. - Estreito os olhos, sentando no colchão e o ouvindo com atenção.
Naquela tarde tenho uma corja de intrometidos as minhas costas seguindo meus passos, até mesmo Charlotte e Tommy se incluíram nessa e tem sorrisinhos cúmplices e ficam dizendo ownt quando Clare se vira para nós, com olhos arregalados e surpresa por ver tantas pessoas em sua cozinha.
Ela está usando sua touca de chef e tem uma mancha de farinha na bochecha e molho salpicado no avental e na minha visão ela não poderia estar mais encantadora.
- Então, Clare... - Me ajoelho diante dela que tem as sobrancelhas unidas em total incompreensão - , eu gostaria de saber se você aceita ser a mãe do meu bebê? - Seu queixo cai e ela abre a boca, mas não sai som algum, entrando em estado de choque, se demorando para dar uma resposta - Eu não quero ser rude, só que é bem difícil ficar de joelhos com uma barriga desse tamanho.
Ela pisca atordoada algumas vezes antes de passar a mão pelo rosto só aumentando a sujeira com a farinha.
- Oh, desculpe. É claro que eu aceito, mas porque está de joelhos?
- Não é óbvio?
- O que?
- Clare, você está sendo pedida em casamento, mulher. - Sarah intervém já impaciente.
- Dã. - Digo, dando uma risada divertida ao que seu rosto se torna vermelho e ela tapa a boca com ambas as mãos.
Em meio ao seu choque uma voz bem conhecida se eleva no que deveria ser um cochicho para Liam:
- Essa aí é mais lenta que o Harry, ainda bem que o bebê não tem o genes dela também senão ia ser lesada ao quadrado.
- Louis, eu posso te ouvir. - Olho por cima do ombro o homem que não se abala nem um pouco ao ser pego no flagra.
- Eu sei disso, o único deficiente aqui sou eu.
- Argh, como você é inconveniente. - Suspiro cansado.
- Argh, como você é inconveniente. - Ele se atreve a me remedar como o idiota imaturo que é.
- Não me imita!
- Não me imita!
- Idiota!
- Idiota!
- O Louis gosta de dar! - Digo, ardilosamente sabendo que agora ele interromperá seu jogo idiota.
- O Louis gosta de dar!
- Pensei que você não mentisse. - Franzo as sobrancelhas em confusão.
- Eu não menti.
- Essa é uma informação muito interessante. - Sorrio ladino o olhando de cima a baixo.
- Depois que você der a luz a gente conversa, gato! - Ele ousa uma piscadela e eu sorrio por ela ter ido na direção de Mitch que morde os lábios fingindo estar flertando de volta.
Como almejado eu recebo um sim e meu casamento é marcado para o meio de março e Clare pode desfrutar de todos os mimos que um casamento de verdade a proporcionaria. A única diferença é que ele seria como o de Sarah e Liam, pura fachada. Mas eu não deixei de lhe perguntar repetidas vezes se ela tinha certeza daquilo, pois diferente de Sarah e Liam que se sentiam atraídos por pessoas do mesmo sexo, Clare era hétero e eu tinha um leve receio de que ela viesse a se sentir atraída por mim e sofresse quando eu a rejeitasse, mas ela fez questão de garantir que isso não aconteceria, eu não faço o tipo dela, onde já se viu eu não fazer o tipo de alguém.
Então, ao que ela se divertia fazendo seu enxoval, cuidando do buffet, damas de honra, decoração e principalmente vestido de noiva, eu passava o tempo todo com Louis, aproveitando nosso tempo juntos como se vivêssemos em uma lua de mel.
Eu estava obstinado a transformar cada momento ao seu lado especial.
Então vieram os encontros. Era quando eu surgia no meio da noite em seu quarto e lhe propunha uma aventura diferente, a primeira foi o piquenique invernal em que formamos uma toalha na neve - estando muito bem agasalhados - tomamos chocolate quente e chá admirando os flocos de neve caindo sobre nossas cabeças. Louis voltou para casa com uma coroa de neve e me amaldiçoando por não estar sentindo seus dedos e assim se seguiu, observar as estrelas no telhado, jantares a luz de vela na biblioteca e cabanas com lençóis onde jogávamos conversa fora e trocávamos beijos doces.
Também haviam as caminhadas pela cidade, idas ao circo e peças de teatro. Estávamos sentados no camarote do Gaaldine, assistindo Macbeth. Louis estava cagando para o espetáculo por se declarar um odiador convicto de Shakespeare e achar tudo o que ele escreve uma melação chata e desnecessária, ignorei suas blasfêmias e assisti empolgado o desenrolar no palco principal.
- Tommy disse que pretende tê-lo nos espetáculos depois do nascimento de Melly. - Louis comentou, esticando os pés sobre o parapeito do camarote e colocando o binóculo em frente aos olhos - Impressionante, dá pra ver tudo com isso aqui.
- Seu humor negro está passando dos limites, Sr. Tomlinson. - Recupero o meu binóculo e coço a nuca, me voltando para ele quando o intervalo é anunciado - Não pretendo mais subir aos palcos, serei o homem de apenas uma única peça.
- O quê? Porquê? Suas críticas foram tão positivas. Deveria investir na carreira.
- Não quero ser ator, descobri uma paixão maior.
- Que seria?
- Eu quero ajudar pessoas como eu. - Cochicho ficando mais próximo dele - Não existem livros, nem estudos sobre gravidez masculina e eu quero mudar isso. Quero poder fazer com que as pessoas enxerguem isso não como uma aberração ou afronta a suas crenças, mas como uma nova fonte de vida, de propagar o amor. Não sei se estou me fazendo entender, mas é isso, eu quero me tornar um médico. Como o Adam, e cuidar de rapazes que como eu, engravidaram e não sabem o que fazer e tem de se esconder com medo. Eu quero acabar com isso, ser esperto e estudar bastante e poder dar a eles a oportunidade de irem a uma clínica e não terem como única opção o aborto, mas também de seguirem adiante com a gravidez, sem temer que os médicos chamarão a polícia e eles e seus bebês serão retalhados. Louis, eu quero salvar as pessoas.
- Você vai, Haz. - Louis responde com um sorriso enorme beijando minha testa.
Nos últimos dias do inverno, antes que o Tâmisa pudesse se descongelar, Louis e eu escapamos por entre as arestas e corremos feito dois foras da lei até o lago, calçando nossos patins, nós patinamos, dançamos, beijamos e sussurramos confissões de amor, enquanto ele me apertava em seus braços e eu coincidentemente usava o mesmo sobretudo do dia em que nos conhecemos, nossos cachecóis portando a cor dos olhos um do outro estavam enrolados em nossos pescoços e Louis parecia quinze anos mais jovem com sua touca vermelha com um pompom no topo e a pontinha do nariz vermelha, meus lábios já estavam dormentes pela quantidade de vezes que eu a beijei.
- Lembra-se quando eu o ensinei a nadar? - Sussurro, deslizando meus pés pelo gelo segurando suas mãos.
- Claro. Eu quase morri.
- Não exagere! Bom, eu estava ocupado me imaginando com você.
- Oh, é mesmo? Em que circunstâncias? - Ele avança, enrolando os braços ao redor de mim, mordiscando meu queixo.
- Nós nos beijávamos.
- Mesmo? Quantas vezes sonhou com isso?
- Vezes demais. - Murmuro com seus lábios vindo até os meus, os estalando lentamente. Sem línguas envolvidas, deixando apenas que eu provasse da maciez e doçura de seus lábios finos.
- Não é incrível quando sonhos se realizam? - Pergunta atrevido, apertando meu rosto para que eu forme um biquinho e ele o morda maldosamente.
Xx
Indo contra tudo o que eu podia imaginar para mim num futuro próximo aqui estou, descendo as escadas laterais da mansão dos Tomlinson que dava para a ala leste. Eu vinha acompanhando do meu padrinho que até agora se vangloriava dizendo que sabia que nós iriamos nos tornar grandes amigos, o que era uma grande mentira porque minha primeira opção era Liam, mas Clare o roubou e Mitch foi o que me sobrou. Paramos em frente aos vitrais de cristais que refletiam o brilho magistral do sol se pondo. O tapete vermelho desenrolava-se até o fim da escadaria, onde começava o enfileiramento das cadeiras onde nossos convidados nos aguardavam. Adam, seria nosso mestre de cerimônia, por ter licença para tal e aproveitamos para convidar todos os seus amigos do St. Lydia, o que acabou com muitas crianças dominando o lugar, mas ela se comportavam bem ao lado dos pais, as moças também estavam presentes muito bem vestidas segurando a mão de suas companheiras e ninando alguns bebês ainda muito jovens, o pai de Lydia que eu havia conhecido há algum tempo também fora cordialmente convidado e ele parecia bem distraído sentado ao lado de Louis e falando sem parar, naturalmente que o mesmo tinha os lábios caídos e aquela sua típica carinha de asco quando se sentia aborrecido, aposto que ele está se odiando por ter se negado a ser meu padrinho.
Os corrimões estão decorados com flores de cerejeira ou simplesmente sakuras frescas, no mesmo tom de rosa do meu terno. Há velas perfumadas postas nas laterais das escadas e o aroma que sai é magnifico, não esperava menos de uma criação de Louis Tomlinson que agora está com uma coroa na cabeça. Como foi que ele arranjou aquilo? Aquele maldito audacioso teve a coragem de usar um smoking branco, até uma gravata borboleta que o deixou com mais cara de noivo do que eu.
Adam pigarreia e eu volto os olhos para ele, as grandes portas de entrada são abertas com um rangido suave e Sarah entra com passinho curtos e até tímidos, usando um vestido rosé delicado com um laço lateral, os cabelos caem em cachos harmoniosos sobre seus ombros e ela até usa maquiagem, ela está linda e a timidez se dissipa de seus olhos ao que ela encontra Rose entre os convidados sorrindo e sinalizando que a ama. Sarah aperta o buquê de sakuras contra o peito e Liam a encontra no inicio da escadaria, cruzando seus braços e a beijando no topo da cabeça.
Em seguida entra Fizzy, depois de ter passado mais de um mês afastada por estar em uma de suas fases ruins, ela retorna como se nada tivesse acontecido. Rindo para as crianças que dizem que ela parece uma princesa da Disney. Mitch a encontra no mesmo ponto que Liam, e antes que ele possa lhe dar um beijo na testa, ela lhe rouba um beijinho na boca. Seu queixo cai, assim como o meu, mas ele consegue engolir o choque e subir meio fora de órbita se posicionando a minha direita.
A única coisa na qual Clare me deixou dar pitaco foi sobre a música, e sob a má influência de Louis eu escolhi uma que eu descobri não fazer muito sentido quando ela entra, acompanhada por um senhora baixa de cabelos negros e olhos puxados, Habanera começa a ecoar e o franzir de testas é coletivo, porque não tem nada a ver, mas ela sorri e vem até mim.
Sinto meu coração acelerado e minhas mãos tremulas quando ela para na minha frente, com seus olhos acompanhando seu sorriso genuíno. Baixo os olhos para si, me surpreendendo pela ausência de um tradicional vestido branco. Ele é um rosa escuro, beirando o vermelho, tomara que caia e rodado com algo que se assemelha a um espartilho em tom de dourado na cintura, a barra é repleta desenhos de flores com longas caudas folhadas, em rosa e verde claro e há roxo também e é tanta coisa que parece irreal, uma pintura, subo os olhos novamente para seu rosto que está quase no mesmo tom do vestido pelo peso do meu olhar, mas eu não evito avaliar o adorno em seus cabelos, agora escuros, feitos de flores.
- Uau! - Suspiro ainda descrente do quão diferente do que eu esperava ela está.
- Desculpe. Eu deveria ter avisado, mas esse vestido foi da minha mãe e eu sempre sonhei em... - Seu tom é incerto e inseguro e eu não posso permitir que ela pense que estou insatisfeito por sua escolha. Tomo suas mãos pequeninas e frias entre as minhas.
- Você está linda! Eu sou o homem mais sortudo da face da terra por estar me casando com você.
- Eu digo o mesmo. Rosa é definitivamente a sua cor. - Ela sorri largo e Adam começa a cerimônia que se segue idêntica a de Charlotte até o momento do pode beijar a noiva em que ela morde os lábios e hesita, esperando que eu a beije na testa ou suas mãos, mas eu dou um passo adiante, segurando seu rosto e selando nossos lábios em um beijo de verdade.
Ouvimos um "oh" nada discreto dos nossos conhecidos e de convidados especiais, como Mike, Ed, Niall e Nick.
- Foi meu primeiro beijo com uma mulher. - Segredo a Clare que balança a cabeça me puxando para mais um beijo, com a desculpa de que é a única oportunidade que ela terá na vida.
A festa é realizada no salão próprio para tal, onde até mesmo o teto fora tomado pelas flores, os pilares haviam sido envolvidos por tecidos de tule cor de rosa, um músico profissional tomara o lugar de Louis no piano de cauda para que tivéssemos a nossa primeira dança. Acabei por descobrir que a minha então esposa dançava bem até demais, até às crianças que corriam de um lado para o outro feito loucas pararam boquiabertas com Mitch e Clare dançando tango no meio do salão.
Sob a supervisão de Clare o buffet estava incrível. Era tanta coisa deliciosa, misturando as mais variadas culinárias e a minha preferida, sem dúvida, era o rolinho primavera. Me sentei na longa mesa de carvalho polido que fora transferida para cá, os outros cinquenta e nove lugares estavam vazios o que fazia de mim um alvo fácil para as garotinhas que pularam em mim com seus olhos arregalados querendo roubar da minha bandeja - isso mesmo, bandeja, nada de pratos. Eu como por dois.
- Só um. - A menorzinha insiste e por mais generoso que eu seja viro a cara, apertando-os contra meu peito.
- Não.
- Você vai explodir se continuar comendo assim.
- Certo. Certo, dêem o fora, pestinhas. - Louis bate sua bengala assustando as garotas que saltitam para longe, ele arrasta uma cadeira para perto de mim esticando a mão para pegar um rolinho e eu rosno - Credo!
- Estou com fome. - Respondo enfiando um inteiro na boca.
- Percebe-se. Eles dizem que o casamento engorda de qualquer maneira. - Faço bico, terminando de mastigar e afastando a bandeja achando que talvez eu tenha me excedido um pouco - Quer dançar?
- Meus pés doem. - Choramingo sentindo vontade de chorar sem motivo aparente.
- Ah, o milagre da gravidez! Coloca o pezinho aqui. - Bate com a mão na coxa.
- Não precisa.
- Aproveita que estou de bom humor. - Com isso meus sapatos são arremessados pra todo lado e ofereço meus pés a Louis, que tem um dom divino com aquelas mãos e me leva para um estado de puro êxtase com um gemidinho escapando da garganta - Céus, devemos incluir massagens nas nossas preliminares?
- Definitivamente!
Gemma também estava entre os convidados, distante como sempre, mas encantada com o marido - ambos ostentavam alianças com diamantes obscenos de tão grandes, Niall fizera questão de dizer o quão bem as coisas estavam indo na fazenda e que em breve iria enriquecer e dar o castelo que minha irmã merece -, ela me parabenizou por meu aniversário e casamento, fingiu não ver minha barriga como eu fingi não ver a dela até que estivessemos apoiados no parapeito da janela ao mesmo tempo.
- Você falou com o papai? - Ela rompe o silêncio, colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha e olhando a vastidão verde do jardim dos Tomlinson.
- Sim, ele me odeia.
- A nós dois. - Suspira, dando passos discretos para perto de mim - Ed me disse que a mamãe não está muito bem.
- Devem ser os nervos.
- Sim, deve ser isso. Poderia nos imaginar aqui há um ano atrás? Sabe, eu vi você e o Sr. Tomlinson, vocês se gostam e vão ter um bebê e eu e o Niall estamos casados e também teremos um bebê. Isso também te soa surreal?
- Claro. - A encaro diretamente, quase me assustando com o quão adulta ela parece, sem todas as tranças e vestidos floridos. Ela tem os cabelos soltos sendo jogados pelo vento e um vestido elegante cor de vinho - Nós crescemos.
- Eu tinha medo de que as nossas vidas fossem ser apenas aquilo que os nossos pais escolheram para nós.
- Eu também!
- Um brinde à liberdade. - Gemma propõe, levantando sua taça de suco de morango e eu levanto a minha de abacaxi a fazendo rir quando brindamos e bebemos como se fosse champanhe.
Eu queria que Clare tivesse o casamento perfeito e tive a realização de que meu objetivo foi alcançado quando ela se agarrou ao meu pescoço sussurrando embriagada que eu tinha realizado seu sonho e algo sobre eu ter que prometer transar com ela no seu aniversário de quarenta anos e ménages envolvendo nós dois e Louis. As crianças precisaram partir cedo, pois estavam sonolentas e caindo pelos cantos da casa. Niall, Ed e Gemma dormiram cedo porque partiriam com o nascer do sol, os outros também se recolheram eventualmente restando apenas um salão de festas revirado, Louis e eu sentados cada um em uma extremidade da mesa, haviam algumas pratarias espalhadas por sua superfície, mas na maioria eram as taças de cristais, garrafas de vinho ou campanhe vazias e as pétalas rosadas que se desprendiam do teto que iam tomando a madeira, criando um manto macio sobre ela.
Louis tinha se livrado do paletó, mas continuava impecável com suas vestes brancas, em uma mão estava um cachimbo recém acendido e na outra um copo generoso de conhaque que ele entornava alegremente com os pés, revestidos apenas pelas meias, em cima da mesa.
O suco em meu copo parece sem graça demais, é uma noite bonita, o lugar está perfeito, assim como Louis e eu quero fazer deste dia ainda mais memorável. Quero uma lembrança quente o suficiente para me aquecer em dias frios, quero poder me tocar e ter um longo e exaustivo orgasmo pensando neste momento. É exatamente o que eu quero.
A vitrola canta algo lento e baixo, não há movimento algum e eu trato de fechar as portas, passando a chave para não haver interrupções. Volto para o meu lugar inicial, retirando meu paletó, seguido pelos sapatos, meias e calça, mantendo apenas a camisa preta por pudor, meu corpo não estar mais tão bonito quanto costumava ser, embora minhas pernas e bunda estejam bem mais atraentes do que antes, desço os olhos até a renda preta quase transparente que me dá um vislumbre de meu cumprimento acomadado dentro dela, o lacinho faz cócegas na minha glande e eu mordo meus lábios com força, levando as mãos para trás, puxando a calcinha e a fazendo se enterrar entre minhas nádegas, imaginando o quão lascivo eu pareço ao apoiar as mãos na mesa, usando a cadeira como apoio para subir totalmente nela ficando de quatro sobre ela e começando a engatinhar em direção a Louis. Eu adoro isso, ser provocador, safado, é algo que faz parte de mim, eu gosto de provocar principalmente Louis porque ele está além de coisas supérfluas como aparência, como ele eu preciso ir mais fundo, ser sujo e até um pouco vadia, no sentindo legal, é claro.
- Louis, diria que sua imaginação é boa?
- Sim, acho que consigo pegar as coisas muito bem quando me proponho a fazer. - Responde tranquilamente soprando a fumaça para o lado dando um gole em sua bebida e seus cabelos se desmancham do topete caindo sobre seus olhos e ele parece tão fodidamente quente que sinto o calor emanando de sua pele.
- Então eu vou lhe dar um cenário. - Digo, movendo minhas mãos e joelhos com cuidado esmagando algumas pétalas no caminho - O seu salão de festas, grande e imperial, digno da realeza, uma mesa longa de carvalho, com prata e cristal despojados sobre ela, uma chuva de cerejeiras caindo sobre nós e você parece lindo e gostoso demais para se resistir dentro deste terno branco, feito um anjinho inocente e eu, um malicioso pecador desejo lhe corromper, então visto-me com uma lingerie que parece pequena demais, com seu laço roçando na minha glande e as rendas se esfregando na minha entrada a deixando vermelha e quente, ansiando pela sua língua para resfresca-la. Eu me aproximo, com astúcia e cuidado, feito uma serpente e você, doce anjo em perigo o que fará para escapar?
Ele mira os olhos em minha direção, quando esbarro em uma taça revelando que não estou fazendo apenas uma suposição como me encontro na situação descrita. Arqueia as sobrancelhas, abandonando o cigarro e delineando a borda do copo com a ponta dos dedos.
- Me parece um impasse e tanto, veja bem, você vem em minha direção obstinado e com os artifícios certos, enquanto eu estou a sua mercê. Não há indícios de onde possa estar a minha bengala, estou charmosamente embriagado o que me conduz a uma certa confusão quanto a que direção seguir. Irei esbarrar nas coisas, tropeçar e seguirei lentamente, o que irá lhe dar tempo de me alcançar e me encurralar, estou em uma armadilha.
- De fato. Então daria de bandeja a sua pureza, meu anjo? Se renderia ao meu pecado sujo?
- Alguma chance de resistir?
- Diria ser impossível. E caso a minha beleza não funcione eu tenho outros atrativos. - Falo com a voz mansa, quase um ronronar ao que estou diante dele. Sua pele me parece tão deliciosa e o que eu mais quero é lambe-la inteira, mas ainda não. Me viro, separando as pernas e empurrando os quadris para trás e Louis suspira quando minha bunda encosta em sua bochecha - Quero a sua língua, deslizando fundo e quente dentro de mim, me umidecendo para que o seu pau possa me invadir depois. Vamos, eu sei que você quer. Eu sou tão saboroso e você não resiste a mim. Consegue lutar contra a tentação, Sr. Tomlinson?
Com um suspiro profundo se coloca de pé as minhas costas, mantenho meus dentes afundados no meu lábio inferior em expectativa.
- Como dizia um camarada tão fodido quanto eu, a única maneira de livrar-se da tentação é ceder a ela. - Ele cita, apoiando a mão na minha coluna e a deslizando por minha camisa até alcançar meus quadris e escorregando o dedo por entre minhas nádegas esfregando o dígito no tecido da calcinha que se esfrega asperamente na minha entrada.
- Ai. - Lamúrio, fazendo cara feia para seu riso deleitoso - Já que está todo culto daqui a pouco irá fazer reflexões sobre o amor que não ousa dizer seu nome e meu tesão irá evaporar.
- Cala a boca. - Uma palmada forte é dada no meu traseiro e eu salto assustado, mas Louis logo está deixando que uma outra palmada caia na minha pele ardida - Eu ouso dizer o nome, sem medo algum. Não importa o que a porra da rainha e o estado diga, podem todos se foder. Eu amo um homem e não tenho vergonha disso, não irei me esconder como um criminoso porque não há crime nenhum. Amor é amor e eu irei desfrutar dele como bem entender.
- Mesmo que seja doloroso. - Resmungo amassando a bochecha na madeira e balançando a bunda em suas mãos enquanto ele a acaricia com suavidade.
- Jamais machucaria os meus bebês. - Diz beijando minha pele e arrastando os dentes antes de deixar mordidinhas por ela que me fazem suspirar trêmulo. Seus dedos se engancham em minha calcinha a abaixando com cuidado e a livrando das minhas pernas. Olho por cima do ombro o vendo colocá-la no bolso.
- Isto é meu!
- Não é mais. - Retruca, virando o conhaque uma última vez e enfiando a mão entre minhas pernas puxando meu pau para trás, para tê-lo entre seus lábios, meu corpo espasma pela acidez do álcool em sua língua quando ele a esfrega na minha fenda.
Ofego baixinho e Louis sobe a boca, segurando a base do meu pênis sem grande delicadeza, e abaixo os olhos para visualizar entre minhas pernas o pré-gozo pingando enquanto ele afasta minhas nádegas deslizando a língua molhada para dentro de mim, fecho os olhos lutando contra os gemidos altos e apenas apreciando sua língua estocando contra minhas paredes internas que se comprimem forçosamente, porque é Louis e eu não consigo me conter perto dele.
Estou fincando as unhas na madeira, deixando marcas sobre ela quando sinto sua saliva escorrendo pelo meu períneo e minha pele parecer quente demais para mim. Eu estava ficando perto e sabendo disso, pelo som dos meus gemidos e o frenesi com que empurrava minha bunda contra seu rosto. Ele me segura pelos quadris e me gira facilmente, fazendo com que eu fique sentado na borda, com as pernas pendendo para fora que logo são colocadas em seus ombros quando ele se senta.
- Ainda está de camisa, porquê? - Inquere, roçando a barba áspera na parte interna da minha coxa. Mandando vibrações pro meu corpo inteiro.
- E-eu...
- Você. - Deixa um beijinho e uma mordiscarda leve nela.
- Eu não estou bonito.
- Por causa da barriga?
- Yeah, e do meu peito, não é como eu sou de verdade.
- Então preferiria não ter este bebê e manter a sua forma de antes?
- Não, claro que não.
- O problema está mais no contexto sexual. - Deduz, abaixando o rosto para sugar minha glande úmida e avermelhada e eu me contraio, ansiando por pelo menos um dedo seu, pode ser o polegar, eu só preciso de algo rompendo esse vazio interior - Acha que eu não vou te achar sexy se tocar o seu tronco?
Balanço a cabeça amuado, mas percebo em seguida minha burrice e respondo.
- Aparência é uma coisa que não importa pra nós, Hazza. - Louis começa voltando a se levantar e eu recolho as pernas quando ele arranca suas roupas, ficando completamente nu na minha frente e sobe na mesa, ficando de joelhos - Muitas pessoas são como abelhas atraídas por aquilo que mais prezam, a beleza é ditada como fundamental. Mas não pra nós, a mim não importa quanto você pesa, qual é a cor da sua pele, dos seus olhos ou se você tem mais mamilos do que o comum. Isso não faz diferença, porque eu vejo a sua verdadeira beleza a todo momento e é ela que me atrai, o seu corpo é o templo da alma mais doce e bonita que eu já conheci, a mim não importa a forma que ele seja, só importa a forma como ele é tratado. Com amor e gentileza, assim deve ser.
- Caraaaaa, porque você não apenas me fode?
- Vai a merda, idiota. - Ele bate na minha cabeça e empurro seus ombros e estamos prestes a começar uma luta em cima da mesa de jantar quando eu me aproximo, recolhendo um pouco das flores entre os dedos e massageando a nuca de Louis.
Nossos rostos a milímetros de distância. Ele me segura, colocando-me em seu colo, nossos membros eretos se tocando superficialmente.
- Eu gostaria de congelar esse momento para sempre. - Diz de repente, abraçando minha cintura.
- Eu não. Prefiro ter uma vida inteira cheia de momentos incríveis ao seu lado, como o nascimento da nossa filha, tê-la dando seus primeiros passos e nos chamando de papais, rolar na grama durante o verão e te beijar sob as estrelas, ouvir músicas compostas para mim e andar de bicicleta sem medo de cair. Ouvir o som da chuva e me encolher contra o seu peito quando o som do relâmpago retumbar, ver Sun arranjar uma namorada e ter filhotes. Transformar o mundo num lugar melhor e ouvi-lo dizer que se orgulha do homem incrível que me tornei. Um único momento é muito pouco, acho que nem a eternidade seria suficiente para as coisas que eu pretendo viver ao seu lado.
- A eternidade? Me parece um plano bem a longo prazo. Pretende mesmo ficar tanto tempo comigo?
- O casamento de hoje foi para os homens, o estado, para Clare e garantir que a Melanie fique em segurança. - Olho para o seu rosto lindo, levanto os dedos para passar os dedos naquela barba grosseira que pinica minha pele toda vez e me faz sentir mais vivo do que qualquer coisa. Ele fecha os olhos, soltando a respiração - Mas aqui, apenas entre você e eu, onde importa de verdade, é com você que eu gostaria de me casar.
Ele arregala os olhos e pisca, como se tivesse tentando clarear a visão. É um dos raros momentos em que ele esquece de sua cegueira.
- Casaria-se comigo?
- Se pudesse, sim.
- E nós podemos.
- Como?
- Você sabe como, girafinha, apenas faça. - Diz docemente, abracando-me com mais força e enterrando o nariz no meu cabelo, beijando meu pescoço.
Olho para cima, contemplando os anjos pintados no teto, pisco e é como se eles batessem suas asinhas celestiais e mais sakuras caem ao nosso redor. Levanto a mão sobre nós, soltando aos poucos as pétalas um pouco amassadas, ao que digo:
- Louis William Tomlinson, você aceita Harry Edward Styles como seu legítimo esposo para amar, respeitar e cuidar, na saúde e na doença, na alegria e na pobreza, até que a morte nos separe?
- Aceito. Um adendo de que as chances de ficarmos pobres é zero.
- Okay, ricaço, prosseguindo. Eu, Harry Edward Styles aceito você, Louis William Tomlinson como meu legítimo marido e prometo amá-lo, respeita-lo e cuidar de você, na saúde e na doença, na alegria e na pobreza até que a morte nos separe.
Quando minhas mãos estão vazias algumas pétalas se prendem em nossos cabelos. O olho sorridente e seus dedos estão girando as alianças em seu dedo e sei qual deve ser o seu debate interno naquele momento, seguro suas mãos e as guio para a minha barriga.
- Temos uma aliança bem mais forte do que um anel de ouro.
- Melly. - Dou-lhe um sorrisinho torto, apoiando minha testa na sua e desabotoando os botões da minha camisa.
- Eu pensei que... Bom, Melanie Abigail Tomlinson, parece um nome legal.
- Abigail Tomlinson? - Quando ele me fita seus olhos estão vermelhos e uma lágrima solitária escorrega por sua bochecha, toco meus lábios sobre ela, sussurrando um sim contra sua pele - Não precisa fazer isso por mim.
- Não preciso, mas eu quero. Você sempre será pai da Abby e do Will, infelizmente eles não estão mais aqui e a Melly não vai ter a chance de conhecê-los, mas eu quero que ela carregue o nome da irmã, que sempre pense nela e a veja como um anjo da guarda, não sei, pelo menos era assim que eu via por ter o nome do meu avô. Era como se eu carregasse um pedacinho de alguém especial comigo, não me deixava sentir solidão.
Ele assente, abrindo um sorriso carinho e orgulhoso, subindo as mãos para as minhas bochechas e bicando meus lábios.
- Obrigado. Obrigado por tudo! - Cochicha emocionado - E quanto ao Tomlinson, não quer que ela tenha o nome da sua família?
Abaixo a cabeça prensando os lábios.
- No começo de tudo isso eu tive uma conversa com meu pai. Ele disse que preferia dar um tiro na minha cabeça a permitir que eu sujasse o nome da família com meu pecado. Pra ele, a Melanie não é uma criança e sim um pecado sujo e repugnante, ele nos despreza. A minha irmã é uma Horan agora e já que nos casamos, eu p-pensei que podiamos ser Tomlinson, se você quiser é claro.
Um silêncio não muito confortável se instaura, no qual meu estômago revira-se em um misto de agonia e constrangimento.
- Porra! - Ele explode me assustando, até Melanie chuta, irritada pelo grito agudo - Desculpem, crianças, preciso controlar a altura da minha voz, não foi por querer. - Se explica parecendo arrependido e os polegares rolam pela minha bochecha - É claro que eu quero que vocês tenham o meu nome. Nós vamos ser uma família de verdade, isso não é um máximo?
- É sim. - Devolvo tão empolgado quanto ele, que se afasta para pegar alguma coisa dentro do paletó e eu aproveito para me livrar da camisa, sem me envergonhar do meu corpo.
Louis retorna com algo em mãos que ele não me deixa ver antes de passar a correntinha por meu pescoço, seguro a pequena placa de metal com o nome Tomlinson gravado, é típico dos soldados, no canto superior o ano no qual foi feita. 1940, faltavam dois anos para que eu nascesse.
- É o meu presente de casamento para você. - Fala travesso, mordendo os lábios - Então, o que você tem pra mim?
Bufo rolando os olhos, porque, sério mesmo que ele vai perguntar? Ele geme e me abraça quando eu volto para o seu colo, agarrando seus cabelos e cobrindo sua boca com a minha, em um beijo exigente que o faz abrir a boca deixando que minha língua esteja lambendo a sua numa urgência e possessividade que eu nem imaginava possuir, mas é tudo demais, ele está aqui, ele sobreviveu e se recuperou e é meu. Para sempre.
Suas mãos descem para a minha bunda, que eu faço questão de empinar para seus dedos que se cravam nela, as pontas ameaçando entrar, testando a pele afundando a cada ameaça torturante até que eu gemo manhoso implorando por aquilo que ele não é capaz de me negar e os enfia dentro de mim, embebidos em sua saliva, não sei ao certo se são dois ou três, porque ele os move com muita força e rapidez tornando a tarefa de beija-lo difícil demais. Os separa, esticando minha entrada para acomada-lo e eu choramingo ainda mais, abraçando seu pescoço com força e soluçando.
- Hey, amor, querido, bebê. Tudo bem? - Louis checa parando os dedos para afastar os cabelos úmidos que grudam em meu rosto quente - Está com febre!
- Não, não, estou bem. Só excitado, muito excitado.
- Oh, pobre bebezinho, só quer o meu pau. - Murmuro em concordância, tremendo quando ele estica ainda mais minha entrada com os dedos - E sabe o que eu quero, Haz?
- N-não. - Digo ofegante.
Louis segura meu queixo, chupando meu lábio inferior e puxando os dedos para fora, segurando minha cintura.
- Quero que você sente em mim, quero sentir meu pau sendo abraçado pelo seu calor apertado. Pode fazer isso para o seu marido, an?
- Meu marido. - Repito e meu pênis vaza na hora.
Em transe, ergo os quadris, o masturbando lentamente, ele estica o pescoço perseguindo minha boca, mas eu não deixo me beijar apenas que seja torturado com meus cachos caindo em seu rosto e minhas unhas arranhando sua nuca. O posiciono embaixo de mim, e devagar me sento sobre ele. Gememos em uníssono ao que ele vai me abrindo ainda mais, me preenchendo tão bem, até que eu o tenha por inteiro dentro de mim.
Estou tremendo sem parar e ele acaricia minhas costas, beijando meu rosto e dizendo que me ama até que eu tenha condições de dar o primeiro impulso, descendo e subindo por seu membro, ele se move indo de encontro ao meu quadril e então estamos seguindo aquele ritmo no qual ele soca impiedosamente contra minha próstata e eu o aperto dentro de mim, o fazendo se lamuriar. O salão é coberto pelo som de pele se batendo, choramingos e gemidos. O cheiro de sexo no ar ao que nossos perfumes se misturam e o suor cobre corpos nus e unidos. O estado selvagem de Tomlinson se revela e suas unhas cravam na minha cintura, me puxando para cima até que eu tenha apenas a glande larga e inchada dentro de mim. Aperto os braços nas laterais do corpo, segurando os fios lisos desgrenhados, quico em seu colo e meu peito resvela em sua boca e ele não perde a oportunidade de estender a língua para fora, deixando uma lambida na pele fofa e tocando a ponta no meu mamilo duro.
- Merda... - Grito quando ele o toma entre os lábios, apenas lambendo, evitando sugar para o meu alívio.
Sua língua molhada o provoca e o outro é estimulado por sua mão livre. Meu pênis salta entre nossos corpos, sendo esfregado no abdômen de Louis, que crava os dentes acima do meu mamilo me fazendo gritar e eu colo minha boca em sua testa para abafar meus gritos enquanto gozo em longos jatos sobre ele.
Ele não interrompe suas investidas, mas meu corpo mole não colabora e eu não consigo sequer pensar em continuar a cavalgar.
- Amor, eu tô cansado. - Sussurro com um tom mimado.
O aperto em minha cintura diminui assim como suas estocadas ininterruptas e me deita com delicadeza sobre a mesa, deslizo por ela facilmente, como se estivesse flutuando, não enxergo Louis, não enxergo nada além dos anjinhos acima das nossas cabeças com suas asas peroladas. Me sinto como um deles, abro a boca para soltar um suspiro e sinto algo duro e molhado se esfregando nela. A abro um pouco mais e Louis empurra apenas a glande, se eu conseguisse levantar ao menos a mão o masturbaria, mas por sorte ele já está fazendo isso, deixando que eu me ocupe apenas em chupar e beijar a cabeça de seu pau ao que que sua outra mão estraga meu mamilo me provocando gemidos que vibram na glande sensível que não demora para liberar toda a sua porra no fundo da minha garganta. Tomlinson tomba a cabeça para trás e seu corpo espasma o que o faz largar seu pau, que escorrega da minha boca e mancha meus lábios e queixo que ficam cobertos pelo líquido viscoso. O recolho com o polegar e o chupo até estar totalmente limpo.
Louis se deita ao meu lado, respirando arfante, com os cabelos pingando de suor e o peito vermelho.
- Acho que eu nunca vou esquecer disso.
- Nossa noite de núpcias foi memorável. - Sussurro, olhando para ele que se vira para mim tomando minhas mãos e beijando meus dedos com doçura - Fofo!
Ele pisca com um sorriso preguiçoso e me dá um beijo leve.
- Porque você não desiste de mim? - Pergunta fascinado e eu só tenho uma resposta para esta pergunta.
- Por que eu te amo, e o amor é assim, ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Arranho sua barba e ele sorri, esfregando o nariz no meu e eu me sinto adormecendo lentamente.
Xx
Estávamos desfrutando de uma deliciosa tarde de fim de março, que trazia consigo o início da primavera. Das árvores altas caiam as folhas secas, pigmentando a grama verde com suas variadas cores em vermelho, laranja e amarelo. Poucos raios solares atravessavam as densas nuvens que me mantinham aquecido, embora toda aquele clima primaveril já me aquecia por si só. Está sempre fora a minha estação predileta, havia algo de mágico na forma como a neve se dissipava, dando lugar as cores quentes e as flores renascendo. Tudo nesta época denotava a recomeço e era justamente o que eu almejava, um recomeço sem mais tragédias, sustos ou quaisquer temores.
Eu queria paz.
Precisava disso, mais do que nunca.
Recostei minhas costas contra o tronco de uma árvore frondosa, vizinha de um roseira perfumada. Deixei o livro sobre o lençol que fora forrado mais cedo para que eu não me sentasse diretamente no gramado úmido ainda com resquícios de inverno, dobrei as pernas para não tombar com o peso da barriga ao me inclinar um pouco mais para o lado afim de capturar uma rosa para mim. Minha mão estava no meio do caminho quando dedos menores e ásperos se entrelaçaram a ela. Ergui o rosto, já ostentando o meu habitual sorriso bobo e Louis Tomlinson findou o espaço que havia entre nós pressionando calmamente nossos lábios juntos, mas insaciável como sou não suporto deixar que o beijo casto prossiga ao mordiscar seu lábio inferior, agarrando seus suspensórios para trazê-lo para mais perto.
- Céus, você não se cansa de mim? Não posso dar a mão que você quer o braço inteiro. - Ele resmunga, se fingindo irritado, batendo na minha mão para que eu o solte - Sai, xó!
- A culpa não é minha se você é irresistível. - Provoco, mordendo os lábios ao admirá-lo em seu vestuário mais tentador, de botas, com as calças de couro, a camisa de linho entreaberta, suspensórios e o almejado chicote de couro. Oh, como eu gostaria de tê-lo judiando da minha pele. Preciso providenciar isso o quanto antes.
- Não vai conseguir me levar para cama com essas cantadas baratas.
- Está atrasado, querido, eu já o tive muitas vezes nos meus lençóis.
- Não graças a essas cantadas. - Rebate, ficando de joelhos sobre o meu lençol, desatando mais alguns laços de sua camisa apenas para me torturar com a visão de sua pele dourada que tanto ornava com a primavera, o vento sopra levantando as folhas, e a paisagem campestre me dá o vislumbre do que deve ser a imagem do paraíso. Mechas acastanhadas são lançadas para sua testa, desmanchando seu topete mal elaborado o que o faz tentar dar um jeito na situação e então é a vez de sua camisa ser embargada pela brisa, o linho suave e quase transparente se agarra aos músculos de suas costas, os olhos se apertam e ele gargalha alto ao que as folhas são jogadas contra ele. Parece uma pintura de Michelangelo infinitamente superior a capela sistina, mas é apenas Louis Tomlinson em uma tarde de primavera em seu jardim. Ele por si é uma obra de arte.
- Então como eu te ganhei, Coronel? - Indago no meu melhor tom inocente, afastando as pernas, ele engatinha se colocando entre elas. Suas mãos repousam em minha barriga e as minhas brincam com os cordões de sua camisa.
- Diria que se tratou de um conjunto da obra. - Diz em meio a um sorriso ladino, depositando um beijinho na ponta do meu maxilar - Você é bom, forte, destemido, obstinado, complacente, generoso, gentil, carismático e educado. Não nega seus erros e não esconde seus defeitos, não tenta ser perfeito, mas sempre procura ser uma melhor versão de si mesmo. São poucas as pessoas que me aceitariam como sou, com toda essa bagagem e as demais dificuldades, as portas sempre estiveram abertas para que partisse, entretanto você aceitou o desafio, você lutou por mim com tanta gana que me faz crer que eu valho a pena.
- E você vale. Vale muito a pena. - Garanto abobalhado, sentindo minhas bochechas esquentarem por seu riso sarrista. Talvez eu pudesse ter encontrado algo mais poético e inspirador para dizer, mas deixa pra lá.
- Como eu estava dizendo, antes do senhor me interromper. Foram pelos seus pequenos e grandes, frequentes e inestimáveis gestos que me fizeram seu. Sacou?
- Olha ele, falando gírias como se fosse um garotão.
- Eu sou um garotão!
- Nah, você já é coroa. - Digo para irritá-lo e imediatamente vendo seu rosto se franzir em uma careta contrariada.
- Ora, seu filho de uma... - E então ele está me atacando com cócegas por toda a parte. Tento me defender, mas é bem difícil me proteger o tendo entre as minhas pernas com suas mãozinhas travessas por toda a parte, me arrancando gargalhadas engasgadas e desesperadas. Eu detesto cócegas, tenho a impressão de que morrerei aos risos por meio delas, não é legal.
- Senhor Tomlinson, Atila já está pronto! - Liam anuncia, segurando as rédeas de Atila e de Pégaso.
- Oh, deus, finalmente irei montá-lo depois de eras. - Louis suspira em deleite apoiando a testa em meu ombro. Sorrio acariciando suas costas e sentindo algo cutucando a parte interna da minha coxa.
- Lou... você está tendo uma ereção ao pensar no cavalo? - Indago com as sobrancelhas arqueadas rezando para que a resposta seja negativa.
- Não. - Suspiro aliviado, mas ele continua: - Estou tendo uma ereção pensando naquele puro sangue inglês com o porte atlético, as pernas musculosas, a crina macia e brilhante beijada pela brisa se esvoaçando a cada cavalgada que dá. O couro deslizando por entre meus dedos e o enrijecer de seu corpo por entre minhas pernas, guiando-me como um titã e seu relinchar austero. Porra, eu vou gozar.
- Isso é muito bizarro! - Rebato, empurrando seus ombros não querendo sentir seu membro duro com imagens de um cavalo - Devo chamar a policia para dar parte de seu desejo em cometer zoofilia?
Ele bufa, apoiando as mãos em meus joelhos.
- Não, seu tolo. Não é de meu interesse deitar-me com um cavalo, mesmo que seja da raça mais pura e nobre de toda a espécie. Tenho um fraco por girafas. - Reviro os olhos por sua zombaria, mas ele continua aqui, me importunando deixando beijos estalados por meu pescoço e clavícula acariciando minha barriga daquela forma terna e carinhosa como se eu tivesse o próprio sol dentro de mim - Quando Melanie tiver idade lhe daria um Clydesdale.
- Este cavalo não custa uma fortuna?
- O melhor para a melhor, meu caro senhor Tomlinson. - Um sorriso presunçoso se alastra em seu rosto ao dizer aquilo, me tomando como o seu, mas não digo nada já que meu sorriso é um espelho do seu. Ora, sou um Tomlinson agora - Farei dela a melhor amazona que o Reino Unido já viu, ela terá o sangue quente e o gosto pela aventura, tal como o pai. É normal eu sentir toda essa euforia? Quanto tempo mais eu esperarei para ter está princesa em meus braços?
- Não muito, estou caminhando para os nove meses, em breve a teremos conosco. - Respondo, apoiando minha mão sobre a sua, com um sorriso paternal demais ao que a sinto chutar - Ouch, acho que alguém está tão eufórica quanto você.
- Eu te amo, Melly. - Ele sussurra, curvando-se para poder levantar a bainha do meu suéter e beijar meu ventre delicadamente - O papai te ama muito, bebê.
- E o papai me ama também? - Não resisto em perguntar manhoso e ele volta o rosto para perto de meu, acariciando os cachos longos que se embrenham em minha bochecha e sopra contra minha boca:
- Eu te adoro, Harry. - Fecho os olhos, gemendo baixinho e abrindo a boca a espera de um beijo, porém sinto seu polegar em meu lábio inferior puxando-o um pouquinho para baixo, sua língua delineando o superior e eu já me sinto excitado o suficiente para mais - Estive pensando... quando Melanie nascer nós podíamos fugir.
- Fugir? - Arregalo os olhos instantaneamente.
- Sim. Poderíamos viver em Santorini, apenas eu, você e a dúzia de filhos que teríamos porque do jeito que nós gostamos de sexo não me surpreenderia se fizéssemos um por ano, mas nada disso seria problema porque estaríamos vivendo em uma ilha paradisíaca no meio do Mar Egeu, longe de toda a merda que nos assombra, estamos na primavera, é a hora de um recomeço, Haz.
Exatamente como eu pensava!
- O que me diz, amor?
- Vá cavalgar e eu farei as malas. - Respondo sem hesitação porque parece bom demais para sequer ponderar.
Seus olhos se apertam da forma mais adorável e ele balança a cabeça em concordância, deixando um selinho em minha boca antes de se levantar e seguir até onde Liam o espera com os cavalos. Os observo montar, Payne toma todas as devidas precauções ao ajudar Louis a subir, mesmo que este insista que pode fazê-lo sozinho e Liam toma posse de Pégaso que tem o pescoço virado, levantando uma pata em minha direção como se me chamasse. Aceno para o animal que relincha no que poderia ser descrito como um...comprimento, talvez? Sei lá.
Os dois começam a cavalgar tranquilamente, pelo jardim. Seu ritmo tão vagaroso que chega a ser entediante, até que eles somem bosque a dentro e eu não os vejo pelos próximos minutos, sorrindo quando Sun se achega até mim, se aninhando entre minhas pernas e esfregando o focinho em minha barriga. Mesmo antes de nascer ele e Melanie já são muito apegados, é tão estranho como você pode amar alguém que nunca viu o rosto ou sequer respirou. É realmente um milagre, milagre este que terei em meus braços em breve.
Meus membros estão se rendendo a sonolência quando acordo com o alarde de trotes pesados e uma gritaria desenfreada. Esfrego os olhos, espantando o sono e quase os tendo saltando das orbitas quando avisto Tomlinson inclinado sobre Atila com os cabelos esparramados ao redor da cabeça e as mãos firmes nas rédeas enquanto cavalga em uma velocidade absurda. Liam vem logo atrás parecendo tão determinado e voraz quanto Lou.
- Desista, Payne, você não pode me vencer. - Grita soltando uma gargalhada maléfica em seguida e eu não quero acreditar que aqueles idiotas estão mesmo apostando uma corrida e ainda por cima se provocando - Coma poeira.
- Estamos em cavalos, não automóveis, inteligente. - Liam rebate com uma sagacidade jamais vista, e seu cavalo avança. Louis sente sua presença e comando Atila para que trote com ainda mais fervor.
- Vai a merda. - É o melhor que consegue dizer, rindo largo com o rosto afogueado e a mais divina e resplandecente alegria reluzindo em seu olhar que não tem nada de opaco ou perdido. Ele vê algo. Ele vê nosso futuro, que nunca fora tão fácil de alcançar como agora.
Volto os olhos novamente para aquela roseira ao meu lado e me inclino para pegar uma rosa para Louis, tomo cuidado por haverem muitos espinhos nela. Melhor ir até a mansão e cortá-los, assim poderei dá-la como presente de sua vitória. Tudo soa tão singelo e ao mesmo tempo frágil, é como se estivesse vivendo dentro de um sonho e então alguém jogou um balde água fria bem na minha cabeça e me trouxe para o mundo real, o mundo real onde Liam gritou:
- Louis! - Mas este por algum motivo inexplicável estava largando as rédeas para se lançar no chão, rolando pelas folhas secas que não pareciam mais tão belas agora que ele se arrastara por elas até estar de bruços e um urro dolorido sair de sua garganta antes que ele começasse a vomitar, vomitar sangue.
E novamente o paraíso se converte em inferno.
Ele treme por inteiro, não parando de expelir o liquido viscoso. Liam interrompe seu cavalgar e praticamente salta, correndo o mais rápido que pode até Louis, eu tento o mesmo, mas minhas pernas bambas me dão a certeza de que cairei a qualquer momento. Quando os alcanço, Payne está o virando, ele grunhe fincando as unhas na grama perfurando a terra, seus olhos vão se fechando gradativamente e os lábios manchados pendem abertos, assim como o movimento irregular em seu peito cessa, restando apenas a camisa maculada pelo vermelho de seu sangue e a constatação do que houve é imediata.
- Ei, Louis, Louis. - Liam o chama com a voz severa o chacoalhando, sem obter resposta, aproxima seu rosto e por sua carranca sei que não há respiração ou batimentos porque ele está... ele acabou de...?
- Liam. - Soluço caindo de joelhos ao seu lado e ele balança a cabeça para mim, me dizendo que eu estou errado e então senta nos quadris de Louis, unindo as mãos em cima de seu peito e o impulsionando com força, assisto seu tórax afundando conforme a massagem cardíaca é feita.
- Vamos lá, idiota, respire! - Grunhe, impulsionando cada vez com mais força. Eu nem ao menos me importo com a possibilidade dele ter costelas fraturadas, eu só o quero vivo. Apenas isso. É tudo - Acorde. Anda, Louis. Caralho, acorda! - Ele persiste, massageando incessantemente.
Não sei quanto tempo passa, mas o rosto de Liam tem uma grossa camada de suor e seus movimentos parecem perder a força e constância inicial e nada de Louis reagir. Eu não sei como eu ainda não tive uma parada cardíaca, posso sentir meu peito pulsando ruidosamente e não irá demorar para que a minha caixa torácica seja rompida e eu morra aqui mesmo.
- Por favor, não faz isso. Não agora. Não é a sua hora. - Grita se esforçando ao máximo para conseguir trazê-lo de volta, mas não adianta, não adianta. Então ele para, eu me dobro ao meio como se tivesse levado um soco na boca do estômago, minha testa tocando o chão enquanto eu derramo lágrimas silenciosas, incapaz de sequer gritar. Eu não tenho forças.
Há um minuto que soa como uma eternidade em que vozes não são ouvidas, lágrimas rolam imperceptíveis, não há vento, não há o canto dos passarinhos, tampouco o palpitar de um coração. É o limbo.
Até que ele é rompido, por um grito raivoso de Liam:
- Inferno! - Berra ao mesmo tempo em que seu punho fechado se choca com o peito de Louis e de repente, seus olhos azuis estão gigantes, piscando atônitos, tossindo sem parar, ele está respirando, está acordado, está vivo.
- Louis! - Exclamo contente, levantando para ir até ele. Mas seus dedos se agarram com firmeza no colarinho de Payne e diz com a voz falha, quase num sussurro:
- Liam, eu e-estou mo-morrendo. - E assim que o diz seus olhos voltam a se fechar e Liam não hesita em toma-lo em seus braços e sair correndo com Louis em direção a casa, observo como um vulto seus cabelos balançando e os membros moles. Faço o mesmo caminho, tão atônito que mal sinto minhas pernas se moverem, até que estou no hall de entrada. Um caminho de sangue revela que eles passaram por ali.
Mitch me encontra estático e vem em minha direção, perguntando o que houve e o porque de todo aquele escarcéu e eu não sei o que dizer. Minha boca parece ter sido costurada e tudo o que eu sinto é a rosa entre minhas palmas, sendo apertada com força e é quando me recordo dos espinhos e a solto, viro minhas mãos e elas estão cobertas de sangue.
Sangue meu, sangue dele, todos estão sangrando agora.
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