16 • | ever feel like you're nothing
Nunca pensei que algo como a felicidade tivesse cheiro, mas ela tinha e cheirava a rosas, grama molhada e chocolate. Exatamente assim.
Meus pés balançavam confortavelmente no ar, enquanto o vento movia o balanço para frente e para trás. Num ritmo vagaroso que só me permitia apreciar ainda mais a calmaria daquela tarde quente. O sol queimava sobre a pele dourada de Louis o fazendo suar, desde que ele resolveu que hoje seria uma ocasião perfeita para colocar as atividades físicas em dia. Pela manhã ele começou com o golfe, passou para o cricket, depois musculação, seguida de treino de combate corpo a corpo com Liam, equitação, tiro ao alvo e agora estava concentrado em acertar seu alvo, segurando o arco longo e soltando a flecha que para a sua infelicidade não chegara nem perto do seu alvo.
Hoje provavelmente não era um bom dia para Louis. Ele estava péssimo em todas as atividades, até mesmo mais lento. Até sua mira perfeita falhou.
- Porra! - Ele brada abaixando o arco e passando a mão pelos cabelos úmidos. Liam se aproxima, pegando o arco para lhe entregar uma garrafa de água, do contrário Louis morreria de desidratação e nem se daria conta disso tamanha era a sua concentração para ser o melhor em tudo.
A minha próxima colherada no pote de sorvete é interrompida quando meus olhos se fixam na cena obscenamente quente de Tomlinson trajando calças de couro, botas e apenas uma regata preta cavada o suficiente para deixar seus mamilos escapar de vez em quando, dando poucos goles na água antes de virá-la em sua cabeça, a leve corrente de água desce do topo de sua cabeça, encharcando seus cabelos que foram puxados para trás, deslizando pelo peito, fazendo a camisa grudar por seu tronco revelando os músculos firmes da região e até as calças que se agarraram ainda mais em suas coxas e aquela visão manda vibrações diretas para o meu pau. O único motivo de não estar babando nesse exato momento é que meus dentes estão firmemente cravados no meu lábio inferior, fazendo com que eu consiga sentir o sabor férreo no meu paladar tamanha a pressão.
Desde que nos havíamos feito as pazes, poucos dias atrás, Louis tinha voltado diferente. Tão manso e contido como nunca foi.
Em outras palavras, não tinha tentado nada comigo. Absolutamente nada.
Se restringia apenas a meia dúzia de beijinhos castos no meu pescoço antes de dormirmos abraçados na sua cama e se eu começava a sentir seu membro dando sinais as minhas costas, bem, ele metia um travesseiro entre nós e acabava com toda a diversão. O que era uma grande merda porque aquele tesão que eu sentia por ele no começo havia triplicado, de uma forma que me deixava inquieto e febril. O Dr. Grimshaw me informou que era normal o aumento da libido nesta fase.
Sendo assim eu estava a um passo de agarrar Louis e transformá-lo no meu escravo sexual. Oh, isso seria bom, muito bom.
- Dê um jeito nessa bagunça. - Tomlinson ordena a Liam que assente, indo recolher as diversas flechas que não acertaram lugar nenhum. Ele consegue se virar muito bem pelo jardim, tropeçando poucas vezes até me encontrar sentado no grande balanço de madeira polida com os bancos estofados que me permitia ficar ali por horas, tirando cochilos e até algumas coisinhas a mais se ele colaborasse. Louis joga seu corpo molhado e quente do meu lado, os dentes judiando do lábio inferior e os dedos ainda alisando os cabelos.
- Eu não entendo, minha mira era incrível. Hoje é um dia de merda. - Resmunga, completamente alheio ao meu olhar pidão para todo o seu corpo gostoso - Falei com Liam que talvez fosse a distância, mas ele me disse que é a mesma de sempre. Só que não tem como confiar, uma vez ele deixou a dezoito metros e bem, é difícil até pra quem enxerga acertar dessa distância.
- Hum. - Murmuro pra não parecer que estou distraído. Não, eu estou bem concentrado assistindo as gotículas de água descerem do seu rosto e caminharem por seu pescoço até se desfazerem em seu peito, os mamilos se eriçam quando uma brisa fria jorra contra nós.
Ahhh, eu poderia esquenta-los tão bem com a minha boca.
- Ele fica teimando comigo que não, mas eu conheço o Payne, ele é muito desligado. Quando nos conhecemos ele escorregou em um precipício. - Seu sorriso nostálgico logo se desfaz para dar lugar a olhos alarmados e a boca aberta - Ou isso significa que eu estou velho. Merda! Estamos em dezembro, em breve estarei fazendo trinta e três anos. Passou tão rápido. Daqui a pouco será quarenta, cinquenta e eu serei um velho feio e gordo. - Continuo alheio as suas palavras apenas pensando em gemidos, línguas, dedos e muita, muita nudez. Louis estende a mão, capturando minha colher e levando um pouco de sorvete até a sua boca, enquanto engole emburrado - A velhice é algo triste. Eu vou começar a apodrecer e você ainda vai ser jovem e lindo. Bom, mesmo que eu não fique tão horroroso ainda existe a disfunção erétil.
Balanço a cabeça, sem saber do que ele fala, admirando seus lábios chupando a colher. Um pequeno resquício de chocolate no canto da boca e eu levo meu corpo para mais próximo do seu, colando nossas coxas. Meu suéter bege parece quente demais para o calor que emana da minha pele.
- O que eu vou fazer quando meu pênis não levantar mais?
- Eu estou duro! - Sussurro, levando uma mão até sua nuca e a outra para correr por seu peito, estendo a língua para recolher o restinho de chocolate e aproveitar para lamber sua boca.
- Sério? Falar de disfunção erétil te excita? Oh, esses jovens. - Ele ri dando a passagem que eu queria para afundar minha língua na sua boca e encontrar a sua, tão quente e molhada como o seu corpo. A chupo sentindo o sabor do chocolate presente, ele solta um gemidinho em meio ao beijo quando infiltro minha mão dentro de sua camisa para fincar minhas unhas em seu abdômen.
- Me fode, por favor.... - Peço com os olhos cerrados, raspando meus dentes por seus lábios avermelhados.
- Girafinha, não sei se é uma boa ideia. Tem o bebê.
- O bebê está aqui desde que você me conheceu. - Rebato sem paciência para as suas desculpas esfarrapadas, em uma noite que eu tentei conseguir sexo ele me disse que não podia porque a lua não estava alinhada com Saturno e nada disso fazia sentido.
- Mas e se machucar ela?
- Não vai. Você já foi casado, não transava com a sua esposa quando ela estava grávida?
- An, não, eu estava na guerra durante a gestação. Ela me disse uma vez que tinha transado com um cara, mas eu não tenho certeza, ela tinha um senso de humor estranho.
- Imagino. - Rio de sua careta, acelerado demais para as preliminares e agarrando seu pênis de uma vez.
- Hey, você enlouqueceu? Não podemos fazer isso aqui fora.
Liam ainda está ocupado com a tarefa de recolher a bagunça de Louis e ora, ora, ele também está molhado e com a camisa quase que totalmente aberta. O abdômen sarado e o peito largo com aspecto rijo e os cabelos também jogados para trás. Olho dele para Louis e posso facilmente imaginar um ménage. Seria divertido! Pena que a Sarah existe e a própria está marchando com uma carranca em direção ao marido. Enquanto eles conversam ela nem ao menos para um segundo para babar naquele corpo magnífico. Essa garota tem problema.
Volto os olhos para o meu deus grego e ele com certeza basta. Seguro sua mão e o puxo em direção a casa, ele me acompanha, nunca perdendo a oportunidade de correr e sentir o sol batendo contra o seu rosto. Em poucos segundos estamos arrombando a porta de seu quarto e eu o atiro na cama, subindo em seguida, eufórico em passar meu rosto por seu peito enquanto puxo a camisa para cima da sua cabeça. Meus lábios se fecham em seu mamilo, chupando-o avidamente um por vez como eu havia imaginado há minutos atrás.
- Caralho! Haz, tem c-certeza?
Ergo os olhos, provavelmente com as pupilas dilatadas em ver seu pescoço totalmente exposto com sua cabeça jogada para trás e as mãos apertando os lençóis para não me tocar. Escalo seu corpo até que nossos peitorais estejam rentes e nossos quadris alinhados, esfrego minha ereção na sua com meus dedos se afundando nas mechas lisas.
- O que você acha, hm?
- É acho que você tem certeza. - Conclui com sua voz algumas oitavas mais alta ao que eu começo a mover meu quadril, apertando sua ereção sob a minha. Suas mãos abandonam os lençóis para se firmarem em um lugar mais produtivo, como a minha bunda. Deixando um tapa ardido quando meus dentes se apertam em sua clavícula.
- Ouch, doeu. - Choramingo com a voz excitada, nunca parando a fricção e lambendo uma longa lista de pele em seu pescoço, deixando meus cabelos tocarem seu rosto. Louis fecha um mão rudemente neles, os puxando com força o bastante para me fazer inclinar a cabeça e sua boca não tarde em capturar minha pele. A ardência e pressão de seus lábios não deixam dúvidas de que terei uma bela marca ali.
- Seu maldito garoto mimado. - Rosna mordendo meu lóbulo e desabotoando meus jeans para puxar a peça absurdamente apertada para fora do meu corpo e eu não hesito em fazer o mesmo, ficamos quase totalmente nus, restando apenas meu suéter que de tão largo cai do meu ombro direito e bate na altura das minhas coxas que por conta do ganho de peso atual estão mais roliças do que normalmente, assim como a minha bunda que quase, bem quase, está maior que a de Louis. Meus mamilos também está cada vez mais hipersensíveis e pelo jeito eu vou mesmo poder amamentar, o que em parte é bom, mas não deixa de ser tudo muito estranho. Eu sou um garoto com mini-seios e uma barriga grande e redonda demais, eu não estou nada sexy, então é melhor ficar vestido.
Sorrio o puxando para mais um beijo, sentindo a umidade entre os corpo enquanto nossos membros continuam a se massagear. Duros e gotejando. Sua língua acariciava a minha sem pressa, mas repleta de desejo, soltando pequenos suspiros a cada vez que nossas glandes se tocavam e eu sabia que tudo era diferente agora, porque não era uma simples foda com o meu patrão, e sim amor, eu estava fazendo amor com o meu namorado. Deus, eu tenho um namorado. Como isso aconteceu?
A linha de pensamento é totalmente esquecida quando sinto sua mão envolver ambas as ereções e bombea-las. Afasto o rosto para poder assistir sua palma ficando ensopada pelo pré-gozo e seus movimentos ficando mais rápidos, uma série de gemidos manhosos e necessitados escapam da minha boca e eu afundo o rosto em seu pescoço porque eu me sinto tão, tão vazio.
Então tomo a coragem para fazer o que eu quero e me sento em seus quadris. Puxo suas mãos para cima de sua cabeça e ele me olha confuso.
- O que você está...Oh - Um gemido escapa de seus lábios e eu sorrio satisfeito por saber que aqueles gemidos e aquele homem por inteiro pertencem a mim. Fecho os olhos segurando seu pau pela base e massageando a glande na minha entrada, a deixando bastante úmida antes de continuar a provoca-la, forçando apenas a cabeça e a sentindo se abrir ansiosa para recebê-lo - Porra, que tipo de tortura é essa?
- Estou me abrindo com o seu pau. - Murmuro, apertando cada vez mais sua glande contra minha entrada que pisca tanto ao ponto de prende-lo dentro dela. Tomo um rápido fôlego antes de sentar sob ele, deixando seu pau afundar no meu interior - Oh i-isso eu amo seu pau, Lou.
- Eu tenho certeza que ele também te ama, babe. - Mesmo grunhindo ele consegue achar tempo para zombar de mim. Faço bico, me sentindo subitamente irritado, muito irritado, quase raivoso com Louis, mas ainda excitado demais para simplesmente ir embora.
Essas variações de humor estão me deixando louco!
Tomo o primeiro impulso levantando o corpo e o descendo, de início com cuidado, por ainda sentir meus músculos se apertando desesperadamente ao seu redor. Porém logo os seus gemidos prazerosos e a sensação de preenchimento vão aliviando toda a ansiedade e eu posso relaxar, aumentando a velocidade até que o quarto seja embargado pelo som da minha bunda batendo contra as suas coxas e eu sinta as minhas pernas reclamando. Meu membro deixa uma generosa poça em cima do seu estômago e ele grunhi e resmunga uma série de palavras que eu não faço questão de escutar até ouvir algo como estou vindo e então a sensação quente de seu gozo se derramando dentro de mim.
- Oh meu... - Ele realmente gritou, com veias grossas marcando seu pescoço e a boca inchada em uma circunferência perfeita.
- Já? Você está mesmo ficando velho. - Resmungo recomeçando a me movimentar, quando ele não o faz depois de uma pausa enorme de dez segundos. Louis grita quando eu o faço.
- Porra, você ficou louco? Eu estou sensível demais, isso dói.
- Oh, acho que temos um novo garoto mimado. - Brinco mordendo os lábios e usando agora as duas mãos para mantê-lo imobilizado.
- Haha muito engraçado. - Diz irônico cerrando os dentes quando eu não paro, mas volto bem mais rápido descendo e subindo em uma velocidade estranhamento prazerosa que só me faz gemer ainda mais alto - Ain, eu vou morrer! Assassino!
Ignoro seu drama para continuar cavalgando o meu orgasmo. Posso sentir seu pau melado socando minha entrada com força, pressionando minha próstata e eu realmente não sei dizer de onde vem toda aquela energia para que eu continue a me mover sem um pingo de exaustão, mas eu continuo a fazer. Parando repetidas vezes apenas para rebolar em seu colo, movendo os quadris para frente e pra trás, apenas pelo prazer de ter minhas bolas se esfregando no estômago de Louis.
Que agora era um lindo deus grego destruído. Seus gemidos foram diminuindo ao ponto de serem apenas suspiros e arquejos, com seus cílios longos fazendo sombra em suas maçãs do rosto rosadas como se ele estivesse corando. Longe disso, bem longe, e então o posso sentir duro novamente, retomando os movimentos e decido que é hora de deixá-lo agir. Solto seus pulsos e suas mãos agarram meus quadris, apertando os culotinhos ali presentes e me levando a quicar ainda mais rápido. Rebolo acertando minha próstata vez após vez, quase chorando pelo quão gostoso aquilo é, minha entrada se aperta tão melada e quente quanto seu pênis.
- Você é tão gostoso. Tão fodidamente lindo. Eu te amo tanto... Tanto. Vem pra mim, amor, vem pra mim agora. Eu quero a sua porra em mim.
Mordo os lábios desejosamente formando um anel apertado com os dedos e fodendo meu pênis, enquanto ele continua a me foder até que meu orgasmo se derrama por seu peito inteiro e eu não sou mais capaz de me manter por conta própria e desabo em cima dele, ronronando quando o sinto vir dentro de mim pela segunda vez.
- Se continuarmos assim... - Suspira, segurando meu queixo para me beijar - , meu pênis vai parar de levantar antes do tempo.
- Tudo bem, tenho certeza de que o de Liam ainda vai estar intacto. - Provoco com um sorriso cansado.
- Liam? Ora, seu merdinha.
Xx
Liam.
Era um nome bem recorrente na minha mente depois de ontem. Quando Tommy e Charlotte convidaram Louis e eu para visitar o circo que estava na cidade. Louis adorava bradar que detestava espetáculos por não poder ver nada, mas no final das contas ele se divertiu bastante e comeu pipoca o suficiente para alimentar todo o circo.
No intervalo aproveitamos para andar e comprar um novo saco de pipocas para ele.
- Minha primeira vez foi com um malabarista, eu queria fugir com o circo naquele ano. - Digo, o olhando sentado na arquibancada com as bochechas cheias de pipoca. Continuo a equilibrar no ar as seis bolinhas que eu posso ou não ter roubado de um palhaço que deixou a bolsa cair.
- Que original, sempre te imaginei só com os caipiras.
- Existe mais do que caipiras em Holmes e você, com quem foi sua primeira vez?
- Eu já disse.
- Não, eu quero saber quem foi o primeiro homem. Já que você gosta dos dois. - Explico, franzindo os lábios quando deixo uma das bolinhas cair.
- Foi um cara. - Responde sem interesse, dando os ombros.
- Sem nome?
- É.
- Como ele era?
- Normal.
- Lou, fala alguma coisa útil.
- A pipoca é muito boa. Pergunte ao rapaz por quanto ele vende a máquina. - Ele empurra meu quadril, querendo que eu vá atrás do homem. Bufo, sentando ao seu lado, apoiando os cotovelos nos joelhos.
- Não, me fala do cara, por acaso ele era... Liam! - Grito quando o avisto na barraca de doces e Louis engasga na hora ao meu lado, tossindo e batendo as mãos no peito. Penso rápido, simplesmente dando um tapa forte em suas costas e a pipoca voa longe. Eca.
- O quê? Como assim? Porque Liam? - Fala rápido, o sotaque de Doncaster vindo com força total.
- Ele está aqui e acompanhado.
- Não sabia que a Sarah gostava de circo.
- Não é a Sarah, Lou. Ele está com um garoto.... De mãos dadas. -Circos são ótimos lugares para que homens possam ter esse tipo de contato já que tem gente indo de um lado para o outro, uma bagunça completa e ninguém de fato está prestando atenção. Meu queixo cai para a cena de Liam segurando a mão de um homem de cabelos castanhos. Que porra é essa? Ele olha para trás e dá de cara com nós dois o olhando, bem, eu o olhando. Louis estava olhando pro lado errado.
De manhã quando eu sou o primeiro a acordar para tomar café não há mais ninguém na mesa. Sarah fica em pé atrás de mim feito uma estátua e assim que eu termino ela puxa minha cadeira e diz que eu preciso acompanhá-la.
- Tudo bem? Algum problema? - Pergunto olhando para os lados, estranhando a falta de movimentação. Até mesmo a minha sombra tagarela sumiu, onde diabos Mitch se meteu? Eu tenho ótimos motivos para acreditar que essa baixinha ranzinza vai me matar. Ela abre a porta do carro e mesmo desconfiado eu entro, encontrando Liam como o motorista e oh, Mitch está ao seu lado. Sarah entra e senta comigo no banco traseiro.
- Onde vamos?
- Conhecer uns amigos. - Sarah responde secamente.
Os tais amigos que Sarah se refere vivem fora de Londres, mais especificamente no condado de Gloucestershire em um casarão antigo, sem placa ou qualquer tipo de identificação. O caminho fora silencioso, assim como a entrada na casa, onde fomos recepcionados por um homem alto, de maneira e vestes impecáveis, Liam foi o primeiro a cumprimentá-lo.
- Olá, Adam, como tem passado?
- Bem, tem sido um pouco corrido com as crianças, mas tudo está muito bem. - O homem responde sorrindente, passando por Sarah e Mitch antes de focar em mim e seus olhos pararem no volume gritante em minha barriga. A abraço, me chutando internamente por não ter pegado nenhum casaco antes de sair - Tudo bem, querido, você não é o único nesta situação.
Tenho um minuto de confusão até Mitch segurar meu queixo e me fazer olhar para um grupo de garotos rindo, sentados jogando cartas e todos tinham barrigas salientes, um deles tinha uma barriga enorme, deveria estar no último mês. Volto o rosto para o homem ainda mais confuso do que antes, que agora tem uma mulher de cabelos vermelhos e rosto sardento ao seu lado.
- Eu sou Adam Prendergast, médico pediatra. E está é Rose Boomer, nossa magnífica fundadora. - Ele aponta para a mulher que sorri tímida e acena para todos nós, com seus olhos se demorando em Sarah que de repente dá um passo a frente selando seus lábios aos dela.
Minha expressão de choque deve estar bem óbvia porque todos olham para mim rindo e a moça move os dedos e todos assentem.
- Ela disse que você parece assustado. - Liam bateu em meu ombro, antes de me guiar para dentro da casa.
Embora não houvesse uma placa, todos conheciam o lugar como St. Lydia. E aquela foi uma tarde de grandes revelações, há oito anos Rose foi capturada e torturada por ser lésbica, sua companheira, Sarah Jones, havia servido na marinha e conseguiu resgata-la, mas já haviam feito danos irreparáveis a ela, lhe cortaram a língua. Por isso elas fugiram para Londres, onde ela conseguiu um emprego na casa de Louis como camareira, enquanto Rose começou a desenvolver um projeto de abrigo e proteção para todos aqueles que eram perseguidos e rejeitados por conta da sua orientação sexual. Porém, seguiram o rastro delas até a cidade e a polícia começou uma investigação, não demoraria muito para que eles as descobrissem, então Sarah fez uma proposta a seu colega de trabalho, Liam que também era homossexual e aceitou um casamento de fachada com Sarah para garantir sua segurança.
O projeto de Rose começou a tomar forma, mas a falta de fundos o impedia de se concretizar até que a notícia chegou aos ouvidos de Louis e Lottie que resolveram investir na ideia, e o investimento que seria provisório se tornou frequente e a sede fora feita na antiga casa de Louis, onde viveu com a esposa e filhos. Por isso St. Lydia.
Aqui viviam moças oprimidas por seus pais e maridos, que foram açoitadas por ousarem se apaixonar por outras mulheres. Rapazes desmembrados em punição da igreja e dos homens por serem considerados pederastas e outros que não tiveram coragem ou se recusaram a ter suas barrigas abertas para que seus bebês fossem destroçados. Muitos choravam ainda pelas perdas, de ter seus filhos arrancados de si, mas outros comemoravam com suas crianças correndo pelos campos abertos com vestidos floridos e bermudas curtas.
Uma menina com os olhos puxados e franja trombou com a minha perna, caiu, se desculpou e continuou a perseguir um menino, tudo isso enquanto gargalhava.
Eu encontrei o rapaz que vi sendo condenado em praça pública, ele me contatara que Liam havia ido atrás dele e pagado uma fortuna - dinheiro de Louis, provavelmente - para que os policiais que o prenderam o libertasse ilegalmente já que ele tinha uma condenação. Seu nome era Robin e ele tinha um talento impressionante para a jardinagem, com a ajuda de Adam, Rose me contou que ele havia plantado todas as flores que agora formavam um mar colorido e perfumado sob a grama. Ele se lembrou de mim, disse que ficou surpreso por ver alguém querendo ajudá-lo e mais surpreso ainda por saber que eu também teria um bebê.
- Cuide bem dela e nunca a deixe sozinha. - O garoto aconselhou com um sorriso triste, notei uma tatuagem na parte interna de seu pulso, um nome. Ben.
Eu me lembraria deste nome.
Continuei conhecendo o lugar, brincando com algumas crianças que vinham secas em direção a minha barriga, fazendo fila pra sentir chutar e chamando o nome de Melly tentando acorda-la. A maioria dos rapazes eram de cidades do interior que precisaram fugir das represálias, mas estavam muito felizes. A garotinha que havia esbarrado em mim mais cedo se chamava Yoko e era uma das poucas estrangeiras, seu pai havia morrido e ela fora acolhida na casa, mas fazia questão de dizer que tinha uma ótima mamãe e me chamou para conhecê-la. Deixei que ela me levasse até uma parte mais afastada do jardim, a terra era mais elevada e um salgueiro se erguia sobre ela, havia um ninho de passarinhos entre os galhos e alguns deles pousavam na lápide de pedra, duas menores com os nomes de William Tomlinson e Abigail Tomlinson, pequenos retratos estavam expostos. Bebês com a pele morena, cabelos cacheados, sorrisos felizes e olhos azuis.
Eles eram tão lindos.
Yoko estava abraçada a outra lápide, chamando atenção para a sua linda mamãe que era realmente linda. Lydia tinha um olhar desconfiado, olhos pequenos e um sorriso de lado, usava um quepe de militar e parecia durona. Passei a mão pelo retrato, embora envelhecido, ainda conseguia manter a imagem da mulher naquela sepultura vívido.
- Olá, Lydia.
- Você é jovem demais para ter conhecido a minha filha. - A voz severa me faz olhar para o homem sentado sob a árvore, o corpo grande acomodado em uma cadeira de balanço, a careca reluzente e uma densa barba branca.
- Eu sou Harry, sou amigo de Louis. - Digo rapidamente, recolhendo a mão.
- Hum, Louis, faz tempo que não o vejo, como está o desgraçado?
Acho que sei com quem Louis aprendeu suas boas maneiras.
- Bem, ele tem seus momentos ruins, mas passa bem.
- Ele tem estado assim há muito tempo. - Comenta com a voz rouca, abaixa a cabeça com uma risadinha - Lembro da primeira vez que o vi, era um garoto pequeno e hiperativo com uma voz escandalosa. Ele tinha quebrado o dente da frente em Dunquerque e só tinha um par de sapatos, que estavam furados. Eu pensei "Nem por cima do meu cadáver esse pé rapado ficará com a minha filha" E olha onde estou agora, o anão ficou rico e ajudou a todos, até mesmo eu que nunca o suportei. - O velho suspira sorrindo quando Yoko vai para junto dele, escalando suas pernas para se sentar em seu colo - Sabe, o Louis é como um super-herói, normalmente eles crescem e se tornam um, mas aquele menino não, ele já nasceu assim. Ele tem o poder de iluminar a sala apenas com a sua presença, ele me provou que não importava a sua aparência humilde, a falta de estudos ou recursos, porque no fim ele era sim, bom o bastante para a minha filha. Ele era.
- A morte dela acabou com ele.
- Não, Lydia costumava dizer que Louis era como uma estrela, vez ou outra seu brilho diminuí, mas nunca se apagará por completo. - A garotinha o abraça e ele a abraça de volta com afeto. Acaricio minha barriga, sentindo meu coração esquentar com a cena - Ele matou mais de vinte pessoas certa vez. Soldados que guiavam um trem para um campo de concentração.
Me recordo da vez em que Louis falou sobre as mortes que cometeu e o quão triste ele parecia.
- Ele se lamenta por isso até hoje.
O velho ergue os olhos para mim e ri como se não encontrasse sentido no que digo.
- Menino, naquele dia ele salvou duas mil mulheres e crianças judias da morte. Ele é um idiota, mas ainda assim um herói. Fico feliz que esteja recomeçando, tendo filhos e amando novamente. - Ele diz, fechando os olhos e eu abro a boca prestes a dizer que o bebê não é de Louis, mas isso não seria verdade. É a nossa Melly.
Sarah e eu entramos no carro. Liam e Mitch se demorando um pouco mais com meia dúzia de crianças ainda em suas costas, penduradas nos braços e agarradas as pernas. Eles tinham jeito com elas.
- Eu não suspeitaria disso nem em um milhão de anos. - Quebro o silêncio, olhando para Sarah que tem uma expressão calma, como se tivesse tirado um grande peso dos ombros.
- Desculpe, mas eu precisava ser precavida. Depois de tudo o que passamos eu precisava agir com cautela.
- Pensei que não gostasse de mim.
- Você não é a minha pessoa preferida, é verdade.
- Okay. - Murmuro, baixando os olhos para os desenhos que as crianças me fizeram. Os pequenos ainda se agarrando aos dois homens do lado de fora - Vocês são heróis.
- Gosto de pensar que somos a resistência. - Ela suspira, se inclinando e deixando um beijinho na minha bochecha - Se contar pra alguém eu te mato.
Balanço a cabeça, sentindo minhas bochechas queimarem quando Liam e Mitch entram no carro com os rostos molhados pelos beijos dos bebês.
E se quando eu chego pulo em Louis dizendo uma série de eu te amo's, bom isso ninguém precisa saber. Mesmo que meu coração transborde de orgulho em ter me apaixonado pelo melhor homem do mundo.
Xx
As luzes já estão apagadas e o palco está pronto. Tommy conversa com o resto do elenco, enquanto eu continuo sentado ao lado de Louis na primeira fileira, ele ainda reclama por estar tão na frente e não ter como apoiar os pés nos bancos. Resmungo em concordância brincando com as medalhas falsas na minha farda, é divertido estar vestido como um militar pela primeira vez. Ele é bem largo e eu uso um casacão o que disfarça bem a minha barriga, ajeito meu quepe mais uma vez e checo se o meu bigode está no lugar. Em poucos minutos as portas serão abertas e o público vai chegar.
Nos últimos dias tudo o que eu tenho feito foi ensaiar e ensaiar como se a minha vida dependesse disso. Finn, um garoto que também estava na peça e interpretará Napaloni acena para mim e as chances dele ter uma queda por mim são bem grandes. Em outros tempos eu teria me trancado com ele em alguma sala escura e tiraria o máximo de proveito, porém hoje em dia não há nada mais que eu queira do que manter meus olhos fixos em Louis, como se ele fosse a única pessoa que importa no mundo pra mim.
- Ansioso? - Louis pergunta apertando o programa entre os dedos.
- Você parece mais ansioso do que eu. - Cutuco sua bochecha e ele sorri mostrando minimamente os dentes.
- É sobre a guerra, eu estive nela. Assistir essa peça vai ser como se eu estivesse lá novamente.
- Mas você nem vai ver nada.
- Obrigado por me lembrar da minha cegueira, ainda bem que tenho um gênio como você para não me deixar esquecer deste pequeno detalhe.
- Você é tão rude! - Resmungo e ele passa o braço por meus ombros, me abraçando de lado.
- Estou orgulhoso de você, girafinha.
- Nada de girafinha, eu sou Adenóide Hynkel à partir de agora.
- Hitler deve ter ficado bem puto com esse filme. - Ele ri, cruzando as pernas - Não vai ser fácil interpretar dois personagens.
Concordo, deitando a cabeça em seu ombro.
Realmente não foi fácil interpretar dois personagens tão distintos como um barbeiro judeu e um grande ditador, mas tudo estava correndo maravilhosamente, a garota que interpretava Hannah fazia questão de dizer que eu era foda toda vez que nos encontrávamos nos intervalos. Todos riam e apreciavam com bom humor a peça e isso era ótimo, obviamente eu não me igualaria ao mestre, contudo, era bom saber que meu desempenho estava agradando a tantos, até mesmo o carrancudo Louis Tomlinson tinha o rosto vermelho pelas risadas. Liam ficava ao seu lado, descrevendo as cenas sem diálogos e eu sentia meu peito quase explodindo de felicidade por enfim estar em um palco atuando.
O fim fora chegando e a troca realizada, restando apenas a cena final, onde eu subia em um palanque, microfones ao meu redor. Meus cabelos penteados em um topete desordenado e uma única mecha branca na frente, meus olhos caíram no homem a minha frente, aquele que seria atingido em cheio com as minhas palavras e só então eu me lamentei por ter insistindo tanto para que ele viesse me ver. Respiro fundo e digo:
- Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos. - A lembrança dele dizendo algo semelhante na escola me vem a mente, o que só acarreta em uma maior carga emocional - Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Observo o rosto de Louis tornar-se uma máscara de bronze que nada me revela, ele apenas mantém o punho na altura da boca e o olhar vago. Perdido numa época que se foi. E só de pensar em tudo o que se sucedeu, nos túmulos de suas pequenas crianças, da esposa que tinha tantos planos, dele mesmo que sempre cuidara de todos e que agora não podia ir a lugar algum sem ajuda.
A guerra seria eternamente a minha maior inimiga pelo mal que causou ao amor da minha vida.
- Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
A amargura só dá mais força ao meu discurso e Tommy está olhando para mim com os dois polegares para cima. A plateia está em silêncio e apenas a minha voz rouca ecoa pelas paredes forradas de veludo do Teatro Gaaldine.
- É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Então se segue o estrondoso aplauso da multidão, as pessoas batem palmas e assoviam a pleno vapor, porém qualquer resquício de satisfação que havia em mim se esvai quando encontro o lugar de Louis vazio. Ele partiu.
Engulo em seco e me dirijo a Hannah:
- Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!.
No camarim sou recepcionado por um amontoado de corpos que se jogam sobre mim. Clare não para de falar sobre o jantar especial que dará em minha homenagem, Sarah me dá um tapinha nas costas e um mandou bem, Charlotte me empurra um buquê gigantesco de flores e Tommy tece elogios e convites para que eu esteja em suas próximas peças. No entanto eu só dou ouvidos ao resmungo de Mitch sobre como a peça o fez se lembrar da guerra e que Liam e Louis voltariam a ter pesadelos depois de hoje.
Consigo escapar da multidão e obriga-lo a me levar de volta a mansão antes dos outros. Encontro Liam na sala, lendo em frente a lareira.
- Liam, você está bem? - Me aproximo dele com cuidado, tocando em seu ombro e ele sorri pequeno, puxando meu bigode que já estava a beira de cair de qualquer forma.
- Sim, você é um excelente ator.
- Vocês se lembraram da guerra.
- Não há um dia em que a esquecemos. Infelizmente está gravado na nossa memória.
- A culpa é minha. - Lamento, mordendo os lábios e desviando os olhos para as chamas amareladas.
- Sabe que não é um ditador de verdade, não é mesmo? A culpa não é sua. Acho que nem de ninguém, apenas aconteceu, de nada vale culpar os outros. Nós lutamos e sobrevivemos , quem sabe haverá um dia em que as diferenças não importarão, seremos apenas humanos vivendo suas vidas em paz como você mesmo disse naquele discurso.
- É bom de se imaginar.
- Um dia será realidade, Harry. Eu creio nisso.
- Se você crê, eu também irei. - Me viro para ele, me sentindo acolhido por seus olhos amendoados e sorri com as covinhas ao que ele beija minha testa - Agora eu preciso encontrar o Lou.
Parto a sua procura, passando pelo salão do piano, biblioteca e seus dois quartos, até o meu e não há sinal algum dele. Estou começando a ficar bem desesperado quando enfim o encontro no jardim, ajoelhado na grama, exatamente no mesmo lugar em que nos vimos pela primeira vez. A chuva torrencial cai sobre o seu corpo, o rosto está voltado para cima, o terno encharcado e o cabelo grudando em sua face pálida e abatida. Um sentimento ruim me abate e eu cambaleio batendo o ombro na soleira porta de onde ele parece tão triste, sozinho e inalcançável.
- Daqui parece que você está chorando. - Murmuro, um pouco ofegante tentando acalmar a dor no meu peito. Não é o momento para isso. Não agora, o Louis precisa de mim.
- Na chuva é o melhor lugar para se chorar. Suas lágrimas se misturam.
- Isso não é possível.
- Como não? - Suas sobrancelhas se unem e ele aperta os joelhos manchados pela lama.
- Quer dizer, a chuva é só água. Enquanto as lágrimas são os sentimentos, emoções, anseios e receios. É a vida que transborda pelos olhos. Ou seja, não há como se misturarem.
- Então acho que isso significa que eu chorei na frente de muita gente ao longo dos anos.
- Não tem nada de errado em chorar. - Murmuro com ansiedade - Só prefiro que faça isso nos meus braços.
- Eu me sinto bobo, chorando por uma coisa de quase vinte anos atrás.
- Você não é bobo, você tem coração e é por isso que eu te amo tanto.
Louis abaixa a cabeça e se levanta devagar, tropeçando e escorregando algumas vezes até finalmente me alcançar e eu aperto com força em meus braços, acariciando suas costas enquanto ele soluça contra o meu pescoço murmurando o nome dos filhos e da esposa e eu sei que é meu dever para com eles garantir que o homem em meus braços seja muito feliz.
- Feliz aniversário. Eu te amo. - Sussurro beijando seu rosto.
"Lembrar a Louis todos os dias que ele é amado..."
Xx
As comemorações de fim de ano acontecem no aconchego da mansão. Eu imaginava que não haveriam, mas desde a guerra eles abandonaram todas as convenções do judaísmo, na verdade não tinham mais nenhuma crença ou religião especifica apenas gostavam de montar uma árvore e trocar presentes. Louis ganhava muitos presentes por seu aniversário coincidir com a data e seus sócios adoravam tentar mima-lo, o que não dava certo por ele ser azedo como um limão, e assim tudo ficava para mim e eu estava começando a gostar de ter uma coleção de roupas de marca e Rolex.
Continuei a visitar Felicite todos os dias e consegui levar Louis algumas vezes que mesmo cego, notou logo de cara que Mitch tinha uma baita queda por sua irmã caçula.
O inverno estava congelante e nos enrolávamos no sofá. Louis fumando e eu lendo. A lareira estava acessa e aquecendo a biblioteca, tudo em paz e tranquilo, nossos pés cobertos por meias quentinhas se esfregando uns nos outros. Bocejei, coçando a cabeça sentindo meus olhos pesando, abri a boca para mais um bocejo quando a porta se abriu abruptamente, era Liam.
- Sr. Tomlinson! - Ele grita com a voz grossa e apressada. Louis levanta o rosto com a testa franzida.
- O que há, Payne?
- É a policia. - Ele diz, e tanto eu como Louis levantamos do sofá - Os pais de Harry a mandaram.
- É claro que mandaram. - Tomlinson resmungou, pegando sua bengala que repousava no braço do sofá e começou a caminhar em direção a porta.
- Louis, eles vão me levar pra cadeia? - Agarro seu braço, apavorado.
- Ninguém vai tocar em você, sua girafinha medrosa. - Diz sorrindo cúmplice, deixando um beijo demorado em meus lábios e sai pela porta. Liam fica comigo e deixa uma fresta para que eu possa assistir os dois policiais em pé na porta conversando com Mitch que diz qualquer merda que os deixa ainda mais aborrecidos.
- Mais uma palavra e eu te levo pro xadrez! - Um dos policiais, baixinho e gordinho ameaça.
- Credo, era só uma piada. - O moreno dá de ombros, girando nos calcanhares e Louis passa reto por eles, subindo pela escada e parando no meio dos degraus, apoiando a bengala em frente ao corpo e endireitando a postura. Parecendo um verdadeiro e poderoso milionário.
- Senhores, ao que devo a presença de vocês?
Charlotte entra na sala, fazendo a mesma pergunta que o irmão.
- Recebemos uma denúncia do Sr. e da Sr. Styles, os conhece?
- Não, são amigos seus? - Ele pergunta com uma carinha adorável, fazendo o gorducho revirar os olhos e enganchar os polegares nos passadores de cinto. Andando pelo hall com os olhos varrendo o cômodo.
- Eles dizem que você sequestrou o filho deles.
Sequestro? Eles não me denunciaram por ser homossexual ou estar grávido?
- É um rapaz muito bonito, boas notas e conduta exemplar, ele só tem dezesseis anos e a última vez que os pais o viram estava na sua companhia.
- Como era o nome mesmo?
- Harry Styles.
- Harry Styles. Não, não me é familiar. - Ele nega descaradamente.
- Isso é um absurdo, meu irmão não teria porque sequestrar alguém. - Lottie intervém - Os senhores tem alguma prova que incrimine meu irmão, onde estão as testemunhas?
- Senhorita...
- Eu fiz uma pergunta, senhor policial.
- Senhorita Tomlinson isto não é um julgamento e seja como for, teremos de levar o Sr. Tomlinson para um interrogatório. Todos sabemos que com seu histórico não será a primeira vez. - O maior que ainda não havia se manifestado fala. Dando um passo a frente e Lottie se coloca no caminho com os olhos sanguinários, a imagino rasgando o pescoço do homem se ele ousasse chegar perto de Louis.
Percebo que Louis não parece ciente da cena que se desenrola a poucos metros dele, a sua cabeça está baixa e ambas as mãos apertando a bengala. Eu não sei, é como se estivesse em algum transe.
- Isso não é o bastante. Os senhores bem sabem que Louis é um militar, um herói inglês e não pode ser tratado como um qualquer. Este rapaz, Harry, trabalhou conosco por um curto período de tempo, mas já partiu. Caso queira algo mais entre em contato com nossos advogados e não nos importune mais.
- Eu preciso...
- Hey, companheiros, vocês a ouviram. - Mitch levanta a voz, abrindo a porta e indicando o caminho aos homens que a contragosto marcham para fora. Quando ele torna a fecha-lá há um suspiro conjunto - Essa foi por pouco.
- Precisamos dar um jeito na escola. - Louis lembra.
- Farei isso. Por um momento achei que eles fossem descobrir. - Charlotte se vira para o irmão com o rosto aliviado.
- Eles nunca estiveram perto de... - A frase paira no ar quando Louis não a termina, seu pensamento permanece inconclusivo quando a bengala de madeira despenca pelos degraus bem forrados com o tapete vermelho-escuro, cada baque surdo de madeira com veludo é agonizante porque vem seguido de seus olhos fechados e seu peso inteiro tombando de um lado e seu corpo rolando pela escadaria. O grito histérico de Charlotte parecia ter saído de um filme de terror e ela corre para envolve-lo em seus braços, o balançando e chamando pelo seu nome e não importa quantas vezes ela tente, os olhos de Louis não se abrem.
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