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14 • | everybody here is watching you


- Papai! Papai! - A vozinha grita entusiasmada de longe.

Minhas pálpebras se abrem tão suavemente, que pareço estar piscando ao invés de acordando de um sono profundo. Eu me sinto leve e descansado como nunca antes. Meus cílios fazem cócegas em minha bochecha quente, tal como todo o meu corpo que é banhado pelos falhos raios de sol do amanhecer.

Me remexo, não sentindo o colchão macio abaixo de meu corpo ou os lençóis se enroscando em meus membros. Minha cama dera lugar a grama, fresca, verde e aparada que massageia minha pele. Ao abrir por completo meus olhos eu encaro o céu, límpido, azul e belo. As nuvens pequenas e brancas se movem vagarosamente acima de mim, em formas de figuras, se dispersando e as minhas preferidas, com aspecto de algodão doce que me fazem ter vontade de lhes dar uma mordida.

- Papai, olha como eu estou indo alto! - A voz entoa novamente. Rolo meu corpo ainda vestido no mesmo pijama da noite anterior para avistar, não muito longe dali, um gigantesco carvalho, com raízes profundas, sua madeira escura e firme e grandes e verdejantes folhas vivas que sombream grande parte do terreno a sua volta. Um de seus poderosos galhos tem um balanço preso com cordas grossas, e nele está uma menininha de cabelos cor de milho, quase tão claros quantos os meus foram em meus primeiros anos de vida, seus olhos embora escuros ostentam um brilho tão luminoso quanto a luz do sol. Eles se apertam conforme ela sorri largo com covinhas profundas em suas bochechas, pernas compridas e magricelas cortando o ar e um sentimento desconhecido entorpece meu coração, quando ela olha pra mim, ainda sorrindo brilhante.

- Está vendo, papai? - A menina pergunta, e se aquela mistura clara e gritante de mim e Zayn não fosse o bastante, ela se dirigindo diretamente a mim acabou com quaisquer dúvidas que eu possuísse.

- Melanie. - Digo num sopro. Apoiado em meus cotovelos, sentindo minha barriga livre e lisa. Sem um bebê, porque este já cresceu e se tornou aquele pequeno anjo que arregala os olhos pequenos e puxados e abre o sorriso banguela, de alguma forma sendo capaz de ouvir meu sussurro.

- Sim, papai?

Eu sou pai. Sou pai dela. Aquela é a minha filha.

Minha Melanie.

- Porque não vem brincar com a gente? - Ela pergunta e por um breve instante eu me pergunto de quem mais ela estaria falando. Então eu o vejo. Em seus trajes de montaria, jovial, com os cabelos ao vento, soprando contra seu rosto corado e cheio de alegria, inundando o campo com sua risada espirituosa que contagia a pequena que ostenta a mesma risada, idêntica.

Louis a empurra e Melanie vai cada vez mais alto, suas sapatilhas tocando algumas folhas e ela sorri como se estivesse tendo o melhor momento da vida dela. Eu tenho o meu na visão de Louis a balançando como se ela fosse a criatura mais precisa de todo o mundo e na realização de que eu a consegui, ela vive e ela é tão perfeita quanto qualquer criança.

Ele deixa um beijo no topo de seus cabelos e sussurra algo em seu ouvido que a faz gargalhar e então começa a se afastar dela e caminhar em minha direção. Louis é como uma miragem, com as mãos enterradas em seus bolsos, os passos lentos e decididos, sem mancar ou vacilar. A luz calorosa do sol beijando sua pele dourada e eu me sinto enlevado por tamanho charme. Ele passa por mim, mas não me toca, ao invés disso se deita ao meu lado e é quando percebo que estamos entre um campo de papoilas brancas que se erguem com graciosidade ao nosso redor. Louis está com o rosto voltado para o céu, piscando devagar como se seus olhos fossem sensíveis a luz, o que eles de fato não são, até que seu rosto se vira, observando a mim, como se pudesse...

- Você está ainda mais lindo esta manhã, meu amor. - Diz com sua voz melodiosa e macia.

Viro meu corpo ficando frente a frente com ele e me surpreendendo ao ter seus olhos, tão intensos e azuis quanto o céu de verão, eles iluminam minha alma ao passo que suas pupilas se dilatam, o preto tomando o anil e um pequeno sorriso contorna seus lábios finos.

- O gato comeu sua língua, girafinha?

- Você pode me ver?

- Claro que eu posso te ver. - Afirma, alargando o sorriso que faz com que pequenas linhas surjam nos cantos de seus olhos.

- Mas na guerra você perdeu...

- Guerra? Não houve guerras, só paz. Vivemos no paraíso, apenas eu, você e a nossa filha.

- Nossa filha?

- Sim, a nossa Melly. - Ele diz e uma brisa leve sopra sobre nós, jogando meus cabelos para a frente do meu rosto e ouço a risada de Tomlinson ainda mais próxima - Eu já disse o quanto eu amo esses cachinhos? - Afasta meus cabelos, o puxando para trás e me permitindo contemplar o seu rosto que está a uma pequena distância do meu. Os olhos vividos, o sorriso fácil e toda a beleza e serenidade que a guerra lhe roubou - Ou melhor, eu já disse que te amo?

Respiro devagar, tentando assimilar tudo o que está acontecendo.

- Não, nunca.

Seu dedo indicador corre pela minha bochecha, com extrema delicadeza. Fecho meus olhos em deleite e sinto seu peso sobre mim, sua boca tomando meu pescoço e minhas mão rapidamente encontra seus cabelos, prendendo os fios firmemente entre meus dedos.

- Eu te amo. - Ele sussurra contra a minha pele e aquilo não pode ser real.

Ele continua a repetir, correndo as mãos pelo meu corpo. Sem a pressa ou tesão habitual, pode-se dizer que seus gestos são tão gentis e castos, como se ele estivesse tocando algo amado, de fato.

Louis me ama.

- Harry. - Chama num sussurro e eu torno abrir meus olhos. Encontrando seu rosto na altura do meu, seu lábio inferior preso entre os dentes e deslizo as mãos de seus cabelos, as esfregando na barba densa, que as arranhava e a sensação é real demais para que eu esteja vivendo uma fantasia.

- Eu te amo. - Sussurro, surpreendendo a mim mesmo, mas não ele, que torna a sorrir e abaixa, quebrando a distância entre nossos lábios. Porém eles não se tocam, Louis para no meio do caminho e um suspiro pequeno escapa de seus lábios. Eu não entendo. Então sinto algo espesso e molhado jorrando contra o meu pescoço. Meus olhos descem até a garganta de Louis, onde uma lâmina fora atravessada, o que escorre sobre mim é seu sangue quente. Os olhos outrora tão vividos perdem o brilho e se tornam opacos, como sempre fora. Mas agora não estão apenas cegos, mas também mortos.

- Não. Louis, não! - Grito, tentando controlar o sangramento com minhas próprias mãos, o que não serve de nada e seu corpo é retirado de cima do meu e jogado sobre as popoilas, como se não fosse nada, as flores brancas se tornam vermelhas, conforme seu sangue as mancha e há muito, muito, muito sangue.

- Agora ele não ficará mais entre nós. - A voz familiar me traz de volta ao agora. Antony Murdoch se ergue a minha frente como um titã, com seu corpo maldito contra o sol, fazendo a escuridão pairar sobre mim, o rosto portando a rotineira malícia e em sua mão esquerda, aperta o punhal de cabo vermelho-sangue que um dia pertencera à Louis Tomlinson.

- Não, não, não... - Soluço, me arrastando até Louis. Querendo acorda-lo e pedir que ele expulse Anthony do nosso paraíso onde ele não é bem vindo.

O garoto gargalha e me puxa, fazendo com que eu retorne a meu antigo lugar e então se abaixa, rasgando minha camisa com a mesma lâmina que atravessara a garganta do meu amor há instantes atrás.

Seus dedos frios, esfregam minha pele, espalhando o sangue nela e sorrindo cada vez mais sádico, é doentio.

- Hora de brincar, minha vadia escandalosa. - Sussurra, me tocando da forma mais suja possível, enquanto eu grito e o chuto, tentando afasta-lo.

- Papai, o que está acontecendo? - E a voz tímida e infantil se faz presente novamente. Jogo a cabeça para trás, conseguindo enxergar ela vir até nós com passinhos incertos. O medo estampado em seu rosto. Deus não...

Anthony também levanta os olhos, sinaliza que eu devo ficar quieto e se levanta. Caminhando em direção a Melanie. O punhal escondido em suas costas e os olhos curiosos dela se iluminam quando ele diz:

- Eu tenho uma surpresa para você, princesinha.

Levanto num salto. Determinando a mata-lo pra proteger a minha filha, mas no primeiro passo tudo escuresse. Eu não consigo vê-los, não consigo ver mais nada. Não estou desmaiado pois ainda posso sentir que meu corpo se mover, sinto o vento e ouço vozes. Apenas não vejo. Estou cego. Não sei para onde ir, não sei como chegar até eles e impedir que Anthony faça.

- O que é? O que é? - Ela pergunta empolgada e eu chamo por seu nome, mas ela não me ouve.

- Aqui está!

Sinto um frio percorrendo toda a espinha. O silêncio ensurdecedor. Sinto o sangue de Louis escorrendo pela minha pele e então um grito de morte.

E meu paraíso se converteu em inferno.

- Não! - Acordo assustado com o meu próprio grito. Meu rosto e pescoço estão grudando de suor e mesmo estando com um cobertor e deitado próximo a lareira acho que nunca tive a pele tão gelada quanto agora. Liam imediatamente abandona seu jornal na poltrona e se ajoelha ao meu lado no sofá.

- Harry, está tudo bem? O que houve?

Puxo o cobertor, ainda com a respiração acelerada, encontrando minha barriga saliente, denunciando que meu bebê ainda está ali dentro. Seguro. A acaricio tentando acalmar meu coração machucado pelas imagens vistas, mesmo que não passassem de um sonho, foram tão reais.

- Teve um pesadelo? - Liam pergunta e até então não tinha me dado conta de que estávamos de mãos dadas, mas aquele aperto caloroso serve para me trazer a consciência de que tudo não passou de um sonho ruim e não fora real.

Balanço a cabeça, em resposta a sua pergunta e ele leva a mão livre para tocar minha testa. Franzindo os lábios e apertando os olhos, preocupado.

- Está quente. Talvez a febre tenha voltado. Vou pegar seu remédio. - Ele diz, deixando um beijo no topo da minha cabeça antes de se retirar.

Um trovejar do lado de fora, faz com que eu trema, assustado. É só uma tempestade. São normais nessa época do ano.

Está tudo normal, como sempre esteve.

Uma pequena bola de pelos pula no meu colo, quando um novo clarão reflete nas janelas. Há poucos dias, o jardineiro encontrou uma ninhada de filhotes nos limites do jardim, a mãe estava morta não muito longe dali e sem saber o que fazer os trouxe para a casa.

As ordens para que os filhotes fossem despachados na manhã seguinte vieram de Louis. Por sorte, Charlotte não deu ouvidos as palavras dele envolvendo canil e lata de lixo e disse que tinha um lar perfeito para eles. Porém havia um em especial, o menor e mais lindinho da ninhada, ele me conquistou com suas orelhinhas caídas, os olhinhos brilhantes e o pelo preto macio com manchas caramelo que ele fez questão de ficar esfregando no meu rosto na única noite em que passamos juntos, eu como sendo um fracote, não consegui dar adeus e quis ele pra mim, mesmo tendo que enfrentar a corte marcial, em outras palavras, Louis Tomlinson.

- Coloca o saco de pulgas na caixa e ninguém se machuca. - Louis deu seu ultimato, com as mãos nos quadris e o nariz vermelho com as marcas dos dentinhos afiados do filhote que o mordera quando ele, sem ter consciência de que havia um cachorro entre nós, tentou me beijar e o cãozinho não gostou nada disso.

Lottie estava a sua esquerda batendo o pé e repetindo que não havia problema em ficar com um filhote. Liam apenas balançava a cabeça segurando a caixa com outros cinco filhotes que nem se davam conta da ausência do irmão brincando com uma bolinha de borracha.

- Mas eu gosto tanto dele, Louis, você não tem noção do quão fofo ele é. - Digo, fazendo carinho no topo de sua cabeça e ele pode até ser um cão, mas eu tenho certeza de que ele está ronronando - Toca nele. - O aproximo de Louis que mantém a cara feia e toda essa hostilidade leva meu amiguinho a rosnar e bater a pata no rosto de Tomlinson que guincha, chocado - Opa, desculpa!

- Ah, desgraçado! Liam, pegue essa maldita bola de pelos e leve para o jardim, vou praticar minha pontaria nele.

- Ah, não! - Grito, abraçando-o com mais força, embora Liam não tenha movido um dedo, nem pretendesse - Senhor, pense em como um cão alegrará está casa.

Louis cruza os braços em frente ao peito e adota a sua postura preferida. A de dono da razão ao dizer:

- Pena que nós já temos um cachorro.

Franzo as sobrancelhas, encarando Lottie e Liam que ostentam a mesma expressão de confusão que eu.

- Que cachorro, Lou? - Sua irmã pergunta, tocando seu ombro com cuidado.

- Clifford, oras! Aliás, Payne, onde está meu cão?

- Senhor Tomlinson, Clifford morreu há três anos.

Agora está explicado porque eu não conheço o tal Clifford. A expressão de Louis é de espanto total.

- Como você não me informou disso?

- Eu informei, o senhor é que não deu muita importância por estar ocupado com aquelas sete tailandesas.

Sete? Wow!

Ele reluta por um momento antes de voltar para mim com aquele seu típico sorriso forçado em que ele não mostra os dentes apenas puxa os lábios e bate as mãos, fingindo empolgação.

- É, parece que teremos um novo hóspede e qual é o nome, Harold?

- Sun. - Respondo sorridente e ele não consegue manter o sorriso fingido.

- Puta merda!

Sun Tomlinson-Styles era o novo membro da família. Louis quis até mesmo dar seu sobrenome quando se afeiçoou por Sun, que a cada dia se revelava tão hostil e mal humorado quanto Tomlinson. Eram farinha do mesmo saco. Eu estava gostando de ter um cão pela primeira vez na vida, eu podia cuidar e mima-lo como se ele fosse um bebê, era uma boa forma de treinar para o que estava vindo, infelizmente eu tinha ficado terrivelmente resfriado depois de ter tomado aquela garoa gélida no drive-in. Por muitos dias estive acamado, com uma alta febre incessante, então fiquei afastado do colégio por quase uma quinzena. O que adiava o meu encontro com Anthony Murdoch.

Até hoje eu não tinha mencionado uma palavra do que havia acontecido. Eu só não queria causar confusão e se Louis soubesse a confusão estaria garantida, ele não é do tipo discreto e controlado. Ele organizaria um espetáculo que exporia a todos e eu não quero isso, não quero que ele tenha que me defender como se eu fosse um bebê. Um garoto crescido pode se defender sozinho.

- Aqui está. - Liam retorna com uma xícara, o líquido amarelado me embrulha o estômago, mas é a única coisa nojenta que Bebe me liberou para tomar.

Bebo de uma vez, sentindo a bile subindo pela garganta e tento ignorar o enjôo, olhando para Liam que me olha preocupado como sempre. Ele parece um pai.

- Como Louis está? - Sua expressão se contorce em uma ainda mais preocupada e carregada de culpa. Estendo a mão, puxando a sua, para que ele se sente ao meu lado - Sabe que a culpa não é sua.

- Claro que é. Você estava doente e eu me comprometi a cuidar dele. - Payne abaixa a cabeça, apertando os dedos nervosamente.

Quando eu fiquei doente, Liam assumiu os meus deveres básicos de cuidar de Louis. Mas, Tomlinson faz o tipo independente, quando você não respeita que ele é capaz de se virar em grande parte sozinho ele começa a te repudiar e se rebelar e esse foi o caso, depois de quinze dias, Louis já não suportava ser tratado como um bebê, então quando acordou está manhã quis dar uma volta sozinho. O resultado foi ele caindo das escadas da biblioteca, seus gritos acordaram toda a casa e Bleta foi chamada de imediato. Eles estavam trancados no quarto há horas. Charlotte era a única que o tinha visto, durante a espera com Liam, eu até acabei dormindo - melhor que não o tivesse feito.

- Ele ficará bem, foi apenas um tombo bobo. - Não foi um tombo bobo, mas minha intenção era acalma-lo e não deixa-lo mais nervoso do que já estava.

- Eu prometi, prometi a ela que o manteria a salvo. - Prometeu a ela? - Eu a desapontei, primeiro, o deixei ficar cego e agora isso. Ela deve me odiar.

- Está falando da Lydia?

Seus olhos se arregalam em espanto e sua boca se abre, contudo antes que qualquer palavra seja expressa a Srta. Tomlinson desce as escadas, os cabelos soltos e desgrenhados, usando um roupão e o rosto limpo, sem suas elaboradas maquiagens, ela parece uma garota cansada e abatida.

Ela vem arrastando seus pés com pantufas, até se sentar na poltrona, bocejando e observando as chamas amareladas da fogueira.

- Srta. Tomlinson, eu sinto muito. - Liam insiste em dizer o que eu acredito ser o seu milésimo pedido de desculpas. Lottie já não está mais tão paciente quanto antes e apenas descarta com uma mão.

- Ele vai ficar bem. - Ela, por outro lado, não parece tão bem. Não deve ser fácil viver assim, por outra pessoa - Harry, a doutora Rexha já está terminando com Louis, será que poderia passar a noite em seu quarto? Apenas para nos avisar se ele sentir alguma dor durante o sono.

- Sim, senhorita. - Assinto e com um último sorriso para Liam, sigo as ordens de Lottie indo até o quarto de Louis. Levo Sun comigo, que choraminga a cada novo relâmpago, esfregando a cara no meu peito.

Quando chego no corredor posso ouvir com clareza a voz de Louis e em parte sinto alívio por ele estar bem e falando, mas também sinto um pouco de... Não, não pode ser.

- Ah. - Ele geme - Isso, bem aí. Continua, desse jeito. Não para.

Eu não sei ao certo o que pensar, mesmo assim continuo a me aproximar. Rangendo os dentes conforme seus gemidos prosseguem.

- Mais rápido. Ah, que delícia.

Empurro a porta devagar e graças aos céus não os encontro transando, se trata apenas de Bebe massageando seus pés. Não que o fato dela o estar tocando seja agradável em qualquer sentido, mas é bem melhor do que eu esperava.

- Eu não posso ficar aqui pra sempre. Tenho outros pacientes.

- Eu não sou só um paciente. - Ele rebate, com os braços cruzados abaixo da cabeça. Sua perna doente está rodeada por travesseiros e mais elevada do que a outra.

- Você é mais? - Bebe pergunta, ainda sem ter notado minha presença. Os olhos carregados de uma esperança que eu já havia visto em mim, no tempo em que esperava um beijo, um gesto gentil e até mesmo um eu te amo de Zayn.

Tudo o que nunca veio.

E por um milésimo de segundo eu desejo que Louis dê isso a ela.

- Harry! - Tomlinson exclama repentinamente, sem que eu tenha dado indício algum de que estou aqui. Bebe também se surpreende e seu rosto se franze em desgosto.

- Como soube que eu estava aqui? - Indago, tentando ignorar o olhar mortal de Rexha que pesa sobre mim.

- Seu perfume, morno, tímido e único. Eu tenho um ótimo olfato, diga à ele, Bleta.

- Sim, sim, Lou.

Ela se afasta para pegar sua maleta e para em frente ao espelho para ajeitar seu cachecol.

- Aliás, Bebe, Harry me deu uma ideia interessante estes dias.

- É mesmo?

- Sim. - Louis repuxa um canto do lábio em um sorrisinho ardiloso - Ele sugeriu que nós tivéssemos um filho. - Bleta quase quebra o pescoço com a velocidade que olha para trás, os olhos passando por mim e Louis.

- Um filho?

- Aham, um bebê pra chamar de nosso. O que me diz? - Eu sentia a provocação escrachada de Louis. Ele estava apenas me fazendo ciúmes, como se eu pudesse sentir isso por ele, Bebe sabia que não era a sério, mas aquele fiapo de esperança ainda prevalecia.

- Não deveria brincar com esse tipo de coisa.

- Eu não estou brincando. Se você quiser um filho nós podemos fazer um, agora se preferir. - Engulo em seco, tentando controlar as palpitações nervosas em meu peito e esfrego o pelo de Sun, um pouco forte demais e ele se contorce tentando afastar minha mão.

- É uma proposta tentadora. - Ela embarca na sua. Caminhando até ele e se inclinando para deixar um beijo breve em seus lábios, viro o rosto, apenas ouvindo sua resposta:

- Pense no assunto.

- Pensarei. Fique em repouso. - Escuto o som de seus passos, um tapinha no meu ombro e a porta sendo batida.

Conto vagarosamente até trinta antes de voltar a olhar para Louis, que está assoviando, descontraído.

- De zero a dez, o quão ciumento você está sendo agora?

- Eu não estou com ciúmes!

- Claro que está. Consigo ouvir a sua respiração carregada, você estava praticamente rosnando.

- Eu não estava com ciúmes. - Murmuro mais baixo, tentando convencer a mim mesmo. Sentir ciúmes de Louis seria estúpido, nós não temos nenhum tipo de relacionamento, é apenas sexo. Nada mais.

- Sei. - Dá de ombros, ficando subitamente ranzinza e se sentando na cama - Eu preciso de um banho.

Deixo Sun no sofá, onde ele se ajeita confortável nas almofadas. Dou a volta e seguro uma das mãos de Louis com firmeza e a outra apoio em sua cintura, ao que ele cambaleia num primeiro instante.

- Consegue andar? Eu posso pegar a...

- Não se atreva a colocar aquela coisa perto de mim. - Ele rosna e eu assinto, encarando a cadeira de rodas que se acomoda no canto de seu quarto todos os dias sem que ele saiba.

Adentramos ao banheiro devagar. Louis se escora na pia, tirando a camisa com algumas manchas e rasgos devido a sua queda mais cedo, o ajudo a retirar a calça, tentando não pensar na última vez em que estive de joelhos por ele. Já haviam se passado algumas semanas desde que estivemos juntos, o meu resfriado o manteve longe já que sua saúde é tão frágil. Ele até me visitou algumas vezes, mas eu estava dormindo ou prestes a adormecer em todas as vezes, por isso não o via e sem disposição para ir até ele, uma enorme distância se colocou entre nós. Hoje era meu dia de alta e a primeira vez que eu o vira depois de tanto tempo, embora minha pele estivesse em agonia ansiando pela sua, eu não ousaria toca-lo. Me sentia sujo por ter tido as mãos imundas de Anthony em mim, da sua boca ter tocado a minha e até mesmo de suas palavras que assombravam meus sonhos a noite.

Eu me sentia indigno de Louis.

- Eu vou preparar a banheira, Sr. Tomlinson. - O informo, deixando suas roupas no cesto e me levantando, sinto sua mão pesar em meu ombro e o encaro.

- Não, sem banheira hoje, eu prefiro uma ducha. - Ele me pede com a voz branda, e eu abaixo os olhos para sua perna, indeciso quanto a acatar seu pedido ou não. Meu silêncio o faz adivinhar meus pensamentos - Minha perna está perfeitamente bem se este for o seu receio. Foi uma queda boba, sabe como eles adoram fazer uma tempestade num copo d'água.

- Tem certeza de que se sente bem?

- Absoluta, Harold!

- Certo. - Balanço a cabeça, me afastando para ir até o chuveiro, que raramente é utilizado. O box é grande e espaçoso, com vidros escuros e as paredes não parecem feitas de azulejo, mas de algo firme e macio, feito borracha, provavelmente para o caso de uma queda. Eu estarei aqui de qualquer forma, mas é bom saber que o lugar está adaptado para qualquer contratempo. Abro o chuveiro que cascateia a água quente do topo do teto, coloco a mão a procura da temperatura adequada - Acho que já está...

Minha fala é cortada quando algo se choca com as minhas costas e eu já imagino ser Louis desmaiando, mas ao invés disso ele se encontra bem acordado, me empurrando contra a parede e beijando minha nuca, enquanto a água cai sobre nós, fazendo com que minhas roupas ficassem ensopadas.

- Eu senti tanto a sua falta! - Sopra contra o meu ouvido, afastando com cuidado o cabelo que gruda em meu pescoço e beijando a pele com avidez e desejo, suas mãos agarram minha cintura e seu quadril se choca ao meu, mas por mais gostoso que seja sentir seus beijos e seu corpo contra o meu, a posição na qual me encontro me faz, consequentemente, lembrar de Anthony e da sua tentativa nojenta de me estuprar. Um som sai da minha garganta, meio assustado, meio choroso e Louis para na hora.

- Harry? Você está bem? Eu te machuquei? - Pergunta, virando meu corpo e tocando meu rosto. Nego, me encolhendo e acabando por afastar sua mão, que ele recolhe ao perceber que não é um toque desejado - É o bebê, então?

- N-não. - Choramingo, querendo mais do que tudo cavar um buraco e me esconder de tudo, de todos.

- Você não quer isso? - Torna a perguntar, indicando nós dois com o dedo. Não, eu quero isso, mais do que tudo. Mas eu não digo e permaneço em silêncio, Tomlinson passa a mão por seus cabelos molhados, os tirando do rosto e suspira, com os olhos baixo dando mais um passo para trás e aumentando a distância entre nós - Desculpe. Eu não deveria fazer isso sem a sua permissão, foi errado da minha parte e eu imploro que me perdoe.

O encaro com os olhos arregalados, incrédulo de um dia ter achado este homem ruim e impiedoso. Louis é tão bom e honrado, é uma pena que nem todos são como ele.

- Não, está tudo bem. Eu só fiquei assustado. - Digo, me odiando por não conseguir esconder o tremor em minha voz e as linhas na testa de Louis ficam ainda mais profundas ao que ele se convence de que o motivo disso é ele.

- Okay. - Suspira, estendendo a mão para o lado errado e não encontrando o sabonete. Ele não conhece direito esta parte do banheiro e não sabe como se virar nela. Eu não posso ficar aqui encolhido, como um filhote assustado e deixá-lo ainda mais no escuro. As roupas molhadas me dão a impressão de que eu peso o dobro, por isso saio do box para tirá-las. Louis de imediato sente a minha ausência, tocando a parede onde eu estava - Harry, cadê você? Harry!

- Aqui, eu estou aqui. - Volto para o mesmo lugar, agora livre de roupas. Aperto seu ombro e ele se acalma, deixando que eu ensaboe seu peito, que está ainda mais forte e rígido do que eu me lembrava. Tento não pensar no quão íntimo tudo isso parece, na forma como ele joga cabeça pra trás e parte os lábios em um suspiro leve quando o esfrego entre as pernas, não há malícia eu apenas estou cuidando dele e isso parece tão certo. Louis confia em mim, confia o bastante para deixar que o leve até um piscina quando ele não sabe nadar, lhe dar a direção de uma bicicleta e tocar e cuidar dele como eu bem entender, ele não me dá limites, nem impõe restrições. Ele confia tanto em mim.

Porque eu não confio nele? Porque não confio que ele não irá enlouquecer quando eu disser o que Anthony fez? Porque eu não confio o bastante para ser sincero e dizer que eu sonho que ele é o pai da meu bebê? Porquê?

Perdido nos meus pensamentos, mal me dou conta de que lavei os cabelos de Louis e ele já está debaixo do chuveiro os enchaguando. Aproveito estes poucos minutos para apoiar a testa na parede e respirar profundamente, tentando aliviar minha mente dos pensamentos constantes. Até que sinto algo quente e macio, começando do meio das minhas costas e subindo devagar até alcançar meus ombros. Solto um gemidinho e seus beijos continuam a trilhar um caminho até meu pescoço, chupando a minha pele úmida.

- Louis... - Começo, esquecendo completamente o que pretendia dizer, quando suas mãos cobertas de espuma esfregam meu peito, acariciando e apertando meus mamilos sensíveis.

- Tudo bem. Nós estamos bem. Estamos seguros. - Ele sussurra, eu deito minha cabeça em seu ombro, deixando meu pescoço exposto para que ele possa sugar e beijar o quanto quiser e é isso o que ele faz, me arrancando gemidos incessantes, enquanto uma de suas mãos abandona meu mamilo para descer por meu tronco e encontrando meu pênis.

- Oh. - Suspiro, mordendo os lábios e esfregando o nariz em seu pescoço, em um lembrete singelo de que aquele perfume pertence a Louis. É com ele que estou agora e é ele quem eu desejo, ninguém mais. Sua mão envolve meu membro, deslizando por ele com facilidade e então começando uma masturbação rápida e constante, que me faz começar a me contorcer e gemer manhoso em poucos instantes.

- Me desculpe por ter sido um idiota. - Ele diz, e eu já estou me sentindo tão febril que leva um tempo até que eu considere o que ele acabou de dizer.

- Não, você não é. - Digo em meio a um gemido, estocando contra a sua mão - Eu quero isso, eu quero você, eu sempre quero você, Louis.

Minha confissão o faz gemer arrastado e ele me coloca de frente para ele, sua mão abandona meu membro para se juntar a outra, arrastando suas unhas curtas por toda as minhas costas, descendo por meus quadris e cravando na minha bunda, provocando uma ardência deliciosa. Ofego, abrindo a boca e sentindo a sua molhada se esfregando minha.

- Eu estava mentindo, quando disse aquilo a Bebe. Eu não consigo dormir com mais ninguém, não consigo desejar mais ninguém. Vinte e quatro horas por dia, o seu nome é tudo o que há na minha mente, não sei como, mas você, girafinha demoníaca, me fez refém dos seus beijos - Sussurra, me beijando, chupando minha língua e me fazendo gemer em sua boca - , do seu corpo - Sinto suas mãos, separando minhas nádegas, e o indicador e o médio massageando minha entrada. Arqueio as costas, procurando sua boca e a encontrando receptiva e doce como sempre, abafando meus gemidos, enquanto as pontas de seus dedos vão pouco a pouco me invadindo. Minhas unhas estão cravadas em sua nuca quando ele começa a movimenta-los, acariciando minhas paredes internas e me fazendo tremer por inteiro - Seu toque, a sua voz, o seu cheiro. - Ele beija minha clavículas, roçando os dentes na minha pele que parece quente demais quando ele começa a mover os dedos de verdade, entrando e saindo em um ritmo lento, se separando pouco a pouco, me preparando para o seu pau. Seguro o mesmo, bombeando com meus dedos trêmulos, Louis geme ainda mais rouco, me empurrando até que minhas costas se choquem com a parede e ele puxa seus dedos para fora de mim.

- Eu preciso de você dentro de mim, agora. - Mal reconheço a minha voz tão pequena e frágil. Ele assente, beijando minha bochecha demoradamente. Meus braços abraçam seu pescoço e ele levanta minhas coxas, fazendo com que eu enlace seus quadris e então sinta sua glande rosada sendo espremida contra a minha entrada, que forçosamente se alarga para acomoda-la, a ardência inicial manda espasmos para todos os meus membros e nem mesmo a água quente caindo sobre nós, me impede de tremer.

- Você me faz sentir tão bem, Harry. - Louis diz, para me distrair, abaixo a cabeça, encostando nossas testas - Você é sempre tão quente e macio. Eu amo isso, amo tanto. - Geme, acariciando meus quadris.

- Eu também amo. - Suspiro, apertando seus cabelos entre os dedos até sentir suas bolas se esfregando em minha bunda. Firmo as pernas ao seu redor, sentindo toda a excitação e satisfação de estar preenchido por ele e digo: - P-pode se mover agora.

E ele o faz. Movendo os quadris e os retrocedendo, em estocadas precisas, achando minha próstata sem grande dificuldade e esfregando sua glande nela. Meus gemidos manhosos ecoam pelo banheiro, em harmonia com os seus agudos e roucos. Seus dedos ásperos se fincam cada vez com mais força em em minha pele, e nossas bocas estão unidas, mas os gemidos nos impedem de sermos capaz de dar um beijo sem sermos interrompidos. Me contráio involuntariamente, o espremendo cada vez mais.

- Oh, meu deus, Hazza! - Grunhe, deixando um tapa doloroso na minha bunda e eu me agarro ainda mais forte a ele, gemendo pela fricção do meu pênis em seu abdômen - Você é tão fodidamente gostoso.

Desta vez eu não faço brincadeirinhas ou zombarias como sempre, porque eu não posso deixar de notar o quão diferente essa vez está sendo das outras. Não estamos simplesmente nos atacando como se estivéssemos tendo algum tipo de cio. É toda uma atsmofera diferenciada, eu não estou coberto de malícia, nem ele de luxúria. Não estamos fodendo todo o tesão que há em nós. Eu posso estar errado, mas Louis não está me fodendo, ele está me amando. Movendo os quadris num ritmo calmo, vagaroso e até mesmo romântico, beijando meu rosto e alisando minha cintura, me mantendo em segurança em seus braços apertados. E eu o estou segurando, gemendo e o tomando como se ele fosse um deus e não um homem comum e sem importância pra mim.

Talvez nenhum de nós dois possa dizer com certeza, mas algo em mim me dá a garantia de que nós estamos fazendo amor.

E é este pensamento que me leva a tocar seu rosto, angustiado por ver seus olhos, como sempre, fechados.

- Louis, Louis, olha pra mim. - Imploro sem fôlego.

- Eu sou cego. - Responde com humor, beijando meu queixo.

- Eu sei que isso não o impede de me ver. Por favor, eu preciso ver os seus olhos.

- Certo. - Diz, enfim, abrindo os olhos e me dando a visão da imensidão azul que fica ainda mais cristalina de perto. Levanto seu rosto, alinhando-o ao meu e tentando manter seus olhos ao meu, infelizmente ele não pode me ver da forma literal, mas aquele singelo momento em que o verde se fixa ao azul eu posso ver algo além da guerra, da perda e da tristeza. Eu posso ver um sentimento se formando, mesmo cegos, seus olhos ainda tentam me revelar algo que talvez nem o próprio Louis saiba.

Ele me ama?

Mais algumas firmes estocadas e eu sinto meu corpo espasmar e meu membro espirrar contra o abdômen de Louis, que também se desmancha dentro de mim.

- Amor! Amor, o que houve? - Ele pergunta, assustado, acariciando meus cabelos e então eu me dou conta de que estou chorando, até mesmo soluçando, enquanto ele ainda está gozando dentro de mim.

- V-você me faz t-tão feliz.

- É por isso que você está chorando?

- É. - Soluço ainda mais alto, beijando seus lábios antes de esfregar a bochecha na sua, sentindo a aspereza de sua barba em minha pele lisa.

- Você é tão bebezão, Harry, sinceramente. - Resmunga, me abraçando e deixando um beijo em meu pescoço - Você também me faz muito feliz, seu estúpido adorável.

Depois disso, precisamos de um novo banho até podermos voltar para a cama. Louis só se ocupa em vestir uma cueca e eu uso o quimono que ele me deu, que já fica em seu quarto e nós deitamos em sua cama gigantesca e confortável, ainda assim ele ignora seus travesseiros para se encolher no meu peito, afundo os dedos em seus cabelos, massageando seu couro cabeludo.

- Boa noite, amor. - Murmura sonolento, deixando um beijinho no meu mamilo, que me arrepia e desliza a mão sobre a minha barriga - Boa noite, Melly. Tio Lou te ama muito.

O apelido me faz abrir o olhos, em choque. Era assim que ele a havia chamado no sonho. Dizem que sonhos são sinais, que alguns podem se realizar e se...

Olho a lua cada vez mais forte no céu, dominado por estrelas após o fim da chuva e ouço a respiração tranquila de Louis, revelando que ele está completamente adormecido. Sua bochecha descansando no pequeno inchaço no meu tórax e a mão sobre a minha barriga, coloco a minha própria em cima da dele.

- Eu não quero que você seja o tio dela, eu quero que você seja o pai. Quero que ela seja a nossa Melly. - Digo, baixinho, beijando o topo de sua cabeça e sentindo meu coração pesado - E eu quero que você me ame também.

Xx

Com o alvorecer eu sou obrigado a me desenroscar de Louis que fez um ótimo trabalho, embolando seus braços e pernas em mim e criando um grande nó de membros que não fora nada fácil de sair, ainda mais que ele choramingava e ficava estendendo a sua mão tentando alcançar a minha. Sussurrei que voltaria para lhe dar um beijo de despedida e voltei para o meu quarto com meu cãozinho rabugento no colo, tendo tempo de apenas dormir por mais meia hora, antes de ter de levantar definitivamente para um banho rápido, tomar o café que Clare mandava todas as manhãs para os meus aposentos e vestir o uniforme do colégio. Quando estava terminando de fazer a gravata ouvi o som de passos e vozes de um lado para o outro e o tão assustador e agonizante grito de Louis Tomlinson.

Abro a porta do meu quarto, encontrando a porta do quarto de Louis escancarada. Bleta já está lá, mexendo em um monte de vidrinhos espalhados sobre a cômoda, Tommy e Liam estão ocupados segurando Louis, que como sempre está alucinado pela dor, mil vezes mais forte e violento, tentando chutar tudo o que há no caminho. Seus gritos ainda são escutados, apesar de ter um pano entre os lábios, para cala-lo. Ou talvez seja para não acordar Charlotte que não parece ciente do que está havendo. Estreito os olhos, conseguindo ver o corte aberto em sua perna, o sangue vivo escorrendo por ela. Olho o quimono estendido no cabideiro, ele também está manchado com o sangue dele.

Oh meu Deus. Eu estava com ele. Ele estava sangrando e sentindo dor a noite inteira e eu não me dei conta disso.

Liam olha para a porta, me encontrando lá, sussurra algo para Tommy que com dificuldade consegue manter Louis preso a cama sozinho e vem em minha direção.

- Hora da escola, Harry. - Ele anuncia, pegando minha mochila e segurando meu braço.

- Mas...

- Escola! - Ele me puxa novamente, não deixando que eu me despeça de Louis no mesmo instante que escuto um de seus grunhidos que soa muito como Girafinha.

O dia no colégio tinha tudo para ser terrível, mas foi justamente o contrário quando não encontrei Anthony Murdoch acampado em frente ao meu armário pronto pra me dessosar e soube que a professora Gallagher tinha sido transferida. Uma nova e bem mais competente professor chegou ao London Oratory, a Srta. Winston, pediu que sentassemos em dupla para a realização de uma tarefa e eu já estava acostumado a não ter dupla quando alguém puxou uma cadeira para o meu lado e eu me surpreendi com cabelos verdes e um sorriso angelical surgindo no meu campo de visão.

- Mike! - Exclamo um pouco alto demais, atraindo alguns olhos confusos. Olho para a professora, esperando uma represália, mas ela apenas sorri e dá um piscadela. O abraço apertado, suspirando de felicidade por ver um rosto amigo.

- Eu não esperava encontrar o garoto mais bonito de Holmes Chapel aqui. - Ele diz, se afastando para bagunçar meus cabelos - Ouvi boatos de que você estava em Eton, o que houve?

- É uma longa história. Mas o que você faz em Londres, pensei que sua noiva estava de chegada.

- É, Hazza, acho que precisamos colocar o papo em dia. - Clifford fala com um meio sorriso.

Tínhamos quase todas as aulas juntos e nem mesmo na hora do intervalo nos separamos. O casamento de Michael acabou não acontecendo, até a última vez que eu estive em Holmes Chapel tudo estava dentro dos conformes, sua noiva tinha chegado a cidade a poucos dias e todo o drama que envolvia o passado de Mike estava bem escondido, até o momento em que Niall roubou Gemma e o orgulho de Luke caiu por terra, ele bebeu demais e disse o que não devia, a garota imediatamente rejeitou Mike ao saber que ele já tinha se envolvido com homens e que até mesmo esteve grávido. Seu pai ficou tão enfurecido que quis despachar o filho para longe, por isso o mandou para morar com os tios em Londres que o matricularam no colégio há duas semanas.

Eu também fui sincero com ele e contei toda a verdade, ele me ouviu sem grandes surpresas, assim como acontecera aos meus amigos. Aparentemente meus pais eram os únicos que eu consegui enganar, mas ele pareceu bem surpreso em saber que eu ainda estava no colégio com mais de três meses de gestação.

- Harry, isso é perigoso. Não deveria estar mais vindo para o colégio. - Ele me alertou, enquanto sentavamos na grama embaixo de uma árvore.

- Eu me sinto bem.

- Sim, mas não é por aí. Você não pode se esquecer de que a sua barriga já está crescendo, as pessoas vão começar a notar, esse uniforme não esconde muito.

- Sim, mas... Eu queria poder tentar ser normal por mais um tempo. - Murmuro, girando uma maçã entre meus dedos, sem muita vontade de come-la a guardo no bolso.

- Isso não é fácil. Eu sei que é bem difícil, mas.... Mas é o seu bebê e por ele, vale a pena fazer sacrifícios. - Mike diz, derramando algumas lágrimas e puxa os joelhos contra o peito - Desculpa, eu já deveria ter superado.

- Não, não eu entendo. Desculpa. Eu é quem tenho sido egoísta, eu tenho que pensar mais no meu bebê. - Digo apressadamente, e Michael assente, olhando com os olhos molhados para a minha barriga - Quer tocar?

Ele olha para os lados checando e então de volta para mim, com um pequeno sorriso e assente mais vezes que o necessário, levando a mão até minha barriga e a tocando.

- Oi bebê. - Ele diz, chorando e sorrindo ao mesmo tempo e eu me sinto mal por terem tirado o bebê dele, Mike é uma das poucas pessoas genuinamente amorosas e gentis que eu já conheci. Era uma pena que o tivessem maltratado tanto - Já pensou em um nome?

- Melanie.

- Eu gosto.

- Sério? - O encaro surpreso - Você é o primeiro. - E nós gargalhamos.

Na volta do intervalo, Michael tem aula de física e eu de biologia e então somos obrigados a nos afastar, logo no primeiro sinal ele vai para a sua sala e eu me demoro tentando encontrar os livros que preciso no meu armário que está um verdadeiro caos. Vejo o corredor ficando cada vez mais vazio e isso só me deixa mais angustiado, por estar com dificuldade para encontrar o que preciso. Assim que acho bato a porta de metal, levando um susto com um garoto do sétimo ano parado ao meu lado.

- Desculpe. Eu te assustei? - Pergunta o pirralho de cabelos negros e rosto achatado.

- Imagina. - Irônizo, com a mão no peito, tentando acalmar a respiração.

- Oh, que bom. - Ele não pega a ironia e sorri - Você é o Harry Styles, certo? - Assinto - Tem um homem lá no banheiro, é Louis Tomlinson o nome dele, ele me pediu pra te chamar. Disse que tem uma surpresa bem legal pra você.

- Louis Tomlinson? - Ele confirma empolgado e eu não entendo, quer dizer, Louis estava terrível esta manhã. Devem ter se passado apenas umas três horas, ele estaria recuperado o bastante para vir até aqui?

- Ele me pediu pra te dar isso. - O menino estende um lenço preto, muito familiar para mim, é a faixa do meu quimono. Então é realmente Louis. Seguro o tecido, olhando para a direção que o garoto aponta, me despeço caminhando até lá.

Entro no banheiro, vazio pelo início das aulas. Longas cabines enfileiradas, extensos espelhos e pias, tudo acepticamente branco e com cheiro de produtos de limpeza. Olho ao redor, sem sinal de Louis. Abaixo os olhos para a faixa entre meus dedos e escuto o som de sua bengala batendo contra o piso, minha pulsação acelera em excitação.

- Eu não acredito que você está aqui. - Mordo os lábios, já imaginando suas mãos em mim, sua boca macia me beijando e o som delicioso de sua voz, mas não é ela que se segue.

- E eu não acredito que você está aqui, minha vadia gostosa. - Minha respiração trava na hora em que ergo os olhos para o espelho, encontrando Anthony atrás de mim. Sua imagem se erguendo gigante e assombrosa as minhas costas, mas o pior está em sua mão direita.

- E-essa bengala é do Louis. - Digo, vacilante, virando de frente para ele, que sorri presunçoso, erguendo a inconfundível bengala de madeira negra, com o cabo dourado, as iniciais LT gravadas nela e a pressionando contra meu ombro - Como você conseguiu isso?

- Bom, eu peguei dele.

- Pegou dele? Você chegou perto do Louis? - Tento avançar, sendo impedido pela bengala que ainda se pressiona contra mim.

- Sim. Eu cheguei muito perto dele. - Garante, com um sorriso perverso cortando seu rosto - Sabe, eu fiquei bem furioso naquele dia. Você me nocauteou, Harry. O meu queixo ficou doendo por dias e eu realmente não entendia o porquê daquilo, então eu fui atrás de você, ainda naquele dia do drive-in e encontrei você e o seu tio em um momento muito íntimo, você estava no colo dele, parecendo um bebezinho e vocês dois estavam se beijando. Eu não sou do tipo ciumento, mas aquilo me deixou furioso. Sabe, se fosse um cara normal, mas um cego? É sério, a porra de um cego? Um inútil!

- Inútil é você! Não abra essa boca imunda pra falar dele. - Grito, batendo na bengala que cai em um baque e tento sair dali. Mas logo sinto suas mãos grandes sobre mim, uma tapando minha boca e outra próxima ao meu pescoço, segurando algo com uma ponta afiada, mesmo assim tento me afastar, tentando puxar sua mão e impedir que ele me arraste de volta para perto da pia. O que é em vão e novamente encontro nossos reflexos, seu sorriso medonho e os meus olhos grandes e alarmados porque ele tem um pequeno punhal rente ao meu pescoço.

Está cada vez mais parecido com o meu sonho.

- Harry, nós somos amigos e como seu amigo, eu sei o que é melhor pra você. - Diz, abaixando a boca para próximo ao meu ouvido - Ele é um cego idiota que não merece você. - Tento lutar, ficando enfurecido pelas merdas que saem de sua boca e ele abaixa a lâmina até a minha barriga - Meu pai é obstetra e segundo o que ele me disse, é exatamente aqui que fica a cabeça do bebê nos primeiros meses. - Arregalo ainda mais os olhos, tentando afasta-lo, mas ele continua a me perseguir com o punhal - Eu ouvi a sua conversa com o esquisito de cabelo colorido. Você vai ter um bebê. Isso é tão bizarro, mas excitante ao mesmo tempo. Afinal, agora eu posso ficar tranquilo, sabendo que eu vou poder te encher de porra quantas vezes eu quiser e não haverá consequências. - Grunho contra a sua mão e Anthony bufa, contrariado - Vamos fazer o seguinte, você vai ser bonzinho e obediente e me dar o que eu quiser, senão eu posso acabar com o seu lindo bebezinho e ir atrás do seu ceguinho, eu já estive na mansão, estive no quarto dele e no seu. Mata-lo seria a coisa mais fácil do mundo, é isso que você quer, Harry? O Louis morto por sua culpa. - Nego com a cabeça e ele sorri satisfeito - Seja bom pra mim e ninguém se machuca.

Levo longos segundos até assentir, sentindo meus olhos arderem pelas lágrimas contidas. Assim que o faço, Anthony abaixa a mão, mantendo a lâmina firme na outra e eu me debruço na pia. Engolindo a vontade de gritar, quando ele se inclina sobre mim, beijando meu pescoço, seu corpo nojento se esfregando ao meu. Ele agarra meu cabelo, puxando com força para trás, me obrigando a encarar nossas imagens refletidas.

- Formamos um belo casal. - Ele diz, sempre sorrindo, enquanto meus olhos estão cada vez mais vermelhos - Se você fizer direito, talvez eu te leve pra casa. Damos um jeito nesse bebê e então eu vou te foder a hora que eu quiser. Você vai ser só minha... - Ele se esfrega ainda mais contra mim e eu aperto com mais força o granito - Minha vadia. - De repente um aglomerado de vozes surge, próximo demais para que possamos nos esconder, mas Murdoch não se demora em procurar por uma saída. Quando o grupo de jogadores entra no banheiro, Anthony está me puxando pelo braço e dando um tapa tão forte no meu rosto, que me faz cair no chão.

- Que porra é essa? - Um deles pergunta, olhos confusos e alarmados.

- E-esse viadinho veio se jogar pra cima de mim. - Anthony acusa e eu só queria que aqueles garotos olhassem para o volume gritante no meio das pernas dele e vissem quem é o viadinho ali.

- Mas esse cara não é aquele que tava comendo as garotas do Lady Ângela? - Outro inquiriu.

- Claro que não. Ele gosta de pau, tá escrito na testa dele. - Um terceiro brincou, mas meus olhos estavam fixos na saída do banheiro, pensando numa forma de escapar, o que não aconteceria quando mais um garoto entrou fechando a porta.

- Bom, se é assim, vocês sabem o que viadinhos como este merecem. - O primeiro disse estalando os dedos e eu nunca me senti tão arrependido por ter saído dos braços de Louis naquela manhã.

Eu não sei quanto tempo passou, quantos golpes foram. Mas definitivamente foram muitos. Um dos meus olhos estava tão inchado que não conseguia abrir, o outro estava roxo e parecia repleto de sangue por dentro, acima da minha sobrancelha sangrava, meu ouvido, meu lábio inferior também. O resto do meu rosto estava coberto por hematomas, minhas costas doiam como o inferno, assim como meus braços que eu usei para proteger minha barriga de seus chutes e murros. Meu tornozelo latejava tanto, não seria surpresa se ele estivesse torcido, assim como dois ou três dedos da minha mão estejam quebrados e algumas costelas. Minha testa repousa contra o espelho enquanto alguém termina de amarrar meus pés. Eles viram meu corpo, mole e incapaz de se manter em pé e checam se meus pulsos também estão com nós firmes e então Anthony surge na minha visão embassada.

- Seja um bom garoto, Hazza, e eu vou dar um jeito de te livrar dessa. - Sussurra no meu ouvido, usando a minha faixa para me amordaçar. O encaro sem um pingo de firmeza e sinto meu corpo sendo arrastado, eu não tenho mais forças para lutar, apenas deixo que eles façam o que bem entendem. Me arrastando por corredores desconhecidos até parar em frente aos armários. Um deles o abre e eu sou jogado lá dentro, eles acenam gargalhando e o trancam.

Bato os punhos na porta e sentindo uma dor terrível, apenas com aquele movimento. Não apenas nas mãos e nas costas, mas também abaixo do umbigo, uma dor tão forte que me faz ficar curvado e respirando com imensa dificuldade e eu não consigo pensar ou fazer nada além de sentir aquela dor agonizante me consumindo, até eu não saber se ela está ali para matar a mim, meu bebê ou nós dois.

Xx

Um, dois dias, eu realmente não sei quanto tempo passa até que eu escute a voz do diretor ecoando pelos alto-falantes:

- Senhores alunos, pela primeira vez o London Oratory School se encontra em estado de alerta. Um de nossos estudantes foi considerado desaparecido. Harry Edward Styles foi visto pela última vez dentro de nossa escola há dois dias e desde então não houve mais sinais, peço que estejam todos atentos e que fiquem prontos ao meio-dia, caso ele não seja encontrado, as autoridades serão notificadas.

Entao eram isso, dois dias, dois dias preso dentro de um armário minúsculo com três linhas que deixavam o oxigênio entrar e não serviam de nada, com as minhas crises de asma que vinham a cada vinte minutos. Eu não sabia onde estava, mas definitivamente não era o meu corredor. Ninguém passava por aqui, nem ao menos uma faxineira. Eu desmaiava com frequência, sentia fome, sede e minha bexiga deveria estar a beira de explodir. Tinha tentado tirar a faixa para conseguir comer a maçã que guardara no meu bolso, mas o nó era muito apertado e com isso eu estou oficialmente fodido.

Meus olhos estão quase se fechando ao que um novo desmaio se aproxima, quando escuto sua voz:

- Como não? Eu disse todos os andares, você é surda ou o quê? Malditos incompetentes. - Louis Tomlinson está resmungando entredentes, com a vice diretora que anda ao seu lado. Enxergo ele, em um sobretudo escuro com uma bengala martelando contra o chão, Liam e Tommy ao seu lado, igualmente enfurecidos.

- Eu não imagino o que ele estaria fazendo no andar do quinto ano, francamente.

É por isso que não há ninguém. Os alunos do quinto ano estão em uma viagem, esse andar é praticamente fantasma. Sem tempo a perder bato contra a porta, ignorando a dor que se alastra por cada nervo do meu corpo e continuo a golpea-la, implorando a Deus que a audição de Louis continue ótima. Por sorte ele para, e aponta com a bengala para os armários.

- Tem algo aqui! - Ele anuncia e Liam caminha em direção ao corredor. Bato com mais força, evidenciando qual armário - Liam, abra.

- Eu vou pegar a chave. - A vice diz, mas antes que ela dê um passo Payne está chutando a porta, que se abre facilmente devido a força e quando ela cai, eu caio em seguida - Oh, meu deus.

- Harry. - Liam me chama quando eu caio em seus braços. Tommy corre até nós, tirando as cordas de meus pulsos e calcanhares e arrancando a faixa da minha boca e eu suspiro aliviado pela primeira vez em dois longos dias.

- O que houve? - Tommy pergunta, tirando um lenço do bolso e passando pelo sangue em meu rosto que provavelmente se encontra seco. Recuso o pedido de Liam para me carregar e me mantenho em pé por conta própria quando vejo o próprio diretor, se aproximando com todos os alunos do meu ano atrás de si.

Louis caminha até mim, e estende sua mão. Recuo até que minhas costas batem contra outro armário, mas ainda assim ele consegue me alcançar e toca meu rosto e em sua expressão eu vejo toda dor ao realizar que eu estou desfigurado pela surra que um bando de covardes me deu, ele toca meu olho inchado e fechado e eu choramingo pela dor. Ele afasta a mão.

- Sr. Tomlinson aqui estão os alunos, mas não acho que será necessário. Olhe se não é o jovem Harold. - O diretor diz animado demais, como se fosse incapaz de perceber que o jovem Harold aqui foi espancado. Louis volta para o meio do corredor, esfregando a palma da mão na testa e eu encontro Anthony entre a multidão.

- Isso não está certo. Não está certo. - Louis diz para si mesmo. Balançando a cabeça em negação e eu imagino o que vem por aí, justamente o que eu queria evitar. Suas repetições vão ficando mais frenéticas até que ele lança sua bengala de encontro as grandes janelas que tomam toda a parede do lado esquerdo. Os vidros se quebram e muitos se protegem assustados, mas não ele que revela a sua pior faceta ao voltar o rosto vermelho e furioso para o grupo - Qual de vocês fez isso? É melhor que o maldito se revele agora, ou todos pagarão. - Sua ameaça clara e direta faz com que muitos, principalmente os inocentes se assustem e um borburinho comecem.

- Senhor, o que isto significa? Não pode agir de tal forma, muito menos fazer ameaças aos nossos alunos. - O diretor se prontifica a falar.

- Não posso? Quem é você pra dizer o que eu posso ou não fazer? A sua obrigação, meu caro senhor diretor, era manter esses garotos na rédea, mas então o meu sobrinho vem para aula e não volta pra casa por dois dias. Por dois dias você teve a chance de salva-lo, de protegê-lo e você não o fez, porque estava ocupado demais passando a mão na cabeça desses merdas.

- O seu sobrinho já foi encontrado.

Impaciente pela reluta do homem em admitir sua falha, ele o agarra pelo colarinho e o vira na minha direção.

- Eu não sei se você conhece o Harry, mas normalmente ele não tem o rosto coberto de hematomas e nem gosta de se esconder dentro de armários. Um dos seus alunos, ou até mais, fez isso com ele e eu quero o culpado aqui. Agora.

O diretor suspira, passando a mão pelos ralos fios brancos em sua cabeça e vira os olhos para o corpo de alunos.

- Eu peço que o culpado dê um passo a frente.

Ninguém, como era de se esperar, o fez.

- Bem, Senhor Tomlinson... - Louis o empurra, dando um tapa nada amigável em seu peito e avança.

- Deixe-me adivinhar, fizeram isso porque o Harry conquistou todas as garotas do colégio ali do lado? - Ele pergunta, cruzando os braços em frente ao peito e os garotos que me bateram riem, alto - Oh, não, estou enganado. Isso é sobre aquela coisa dos mais fortes sobrepujarem os mais fracos, não é mesmo? Eu já ouvi falar sobre essa escola, e que os alunos não são os mais amáveis.

- Pode apostar! - O grandalhão que me dera o primeiro soco garantiu com um largo sorriso no rosto.

- Qual é o seu nome, rapaz?

- Andrew Lawrence.

- Se aproxime, Andrew. - Louis pede e Andrew para, com um ar superior, se vangloriando de ser bem mais alto e forte que Louis - Você deve ter um dezessete anos, estou certo? - Andrew concorda e ele prossegue: - Você se acha melhor do que alguém?

- Claro!

- Por que?

- Porque eu sou, oras.

- Não, me dê uma explicação plausível. O que te faz melhor do que, hm, vejamos, do que o Harry? - O garoto olha de soslaio para mim, intimidador, tentando me assustar para que eu não diga nada.

- Eu não tenho nada a dizer sobre o Styles.

- Vamos fale, as pessoas vão pensar que você está com medo de mim.

- De você? - Pergunta em tom zombeteiro, como se a simples ideia de temer Louis fosse absurda.

- Não acha possível me temer?

- Não é por nada não, cara, mas você é cego.

- Eu sou e daí?

- Eu sei que gente como você não consegue nem limpar o próprio rabo sozinho. - Ele diz e as risadas de seus amigos ecoam.

- Não, esse é você. Seu merdinha, filhinho de papai. - Andrew tem um pavio curto e tenta levar suas mãos enormes contra Louis, que se move tão naturalmente que é quase em câmera lenta, tirando o chicote de seu cinto e acertando Andrew no rosto.

- Sr. Tomlinson! - O diretor grita.

- Seu filho da puta! - Andrew berra tentando atacar Louis novamente que lhe dá outra chicotada na cara, arrancando um filete de sangue dos dois lados. O garoto cai e Tomlinson esmaga sua mão com a sola da bota - Porra.

- Há quase vinte anos atrás surgiu um homem, assim como vocês cheio de ideias de superioridade e arrogância. Ele acreditava que era melhor do que os outros, e quem fosse diferente dele merecia a morte. Muitas desgraças aconteceram graças às ideias estúpidas desse homem. Pessoas boas, pessoas inocentes morreram. Eu vi garotos muito mais jovens e dignos do que vocês tendo membros dilacerados no campo de batalha. Eu vi a morte. Eu vi o medo. E vi o pânico. Quando a guerra acabou houveram as exclamações de paz, que enfim nosso mundo estaria livre da raiva e do ódio. Mas não foi o que aconteceu, eu me encolhi numa bolha de autopiedade por muitos anos, acreditando que a tal paz tivesse vingado, entretanto quando esse garoto - Ele aponta para mim e todos me olham -, entrou na minha vida eu descobri que a guerra não é a única desgraça que recaiu sobre a humanidade. Depois de tanta dor, tanto sacrifício, vocês continuam os mesmos, condenando uns aos outros por se acharem melhores. É tudo uma competição. A porra de uma competição! Mas querem saber de uma coisa? Eu já vi, negros, brancos, judeus, ateus, héteros, gays, alemães e britânicos morrerem e adivinhem só? Seus sangues eram vermelhos, o de todos, exatamente igual. E o que mais dói é que vocês sabem disso e simplesmente não se importam, vocês o atacam porque tem medo, porque se sentem ameaçados. O motivo disso? Quem sabe! Eu só sei que vi mal demais para querer o de qualquer outro. - Ele levanta o pé, liberando os dedos brancos de Andrew que rapidamente levanta e sai correndo sem olhar pra trás - Só pra registrar que ser cego não me torna menos do que ninguém.

Ele lhes dá as costas. Liam passa o braço pela minha cintura pronto para me ajudar a caminhar, quando surge uma nova voz entre a multidão que faz meu estômago revirar em desgosto e nojo.

- Eu discordo, ceguinho. - Anthony Murdoch dá um passo a frente. Parando bem as costas de Louis, que não se mexe - Eu bati no seu sobrinho, porque ele merece. Ele é uma vadia, uma aberração e deveria ser morto. - Ele diz olhando para mim e sorrindo, como se quisesse me provar quem ali tinha poder de verdade.

- Senhor Murdoch, retire o que disse, imediatamente. - A vice intervém, batendo os pés.

- Eu...- Ele é cortado pelo som do disparo que faz com que todos prendam a respiração. Com minha visão precária eu consigo ver, Anthony caindo de joelhos, e penso que Louis atirou nele, mas por sorte, ele mirou no chão e Anthony estava apenas assustado.

Não que eu não odiasse, mas eu não queria isso. Não queria Louis surtando na frente da escola toda e ouvindo Anthony falar esse tipo de coisa sobre mim, na frente dele.

- Repete. - Tomlinson rosna. Empurrando o cano da arma em sua testa, os olhos de Murdoch crescendo.

- Não.

- Eu mandei repetir.

- Ele é uma vadia, uma aberração e deveria estar morto. - Ele repete, bem menos arrogante do que antes.

Louis guarda a arma e suspira, passando as mãos nos cabelos. Calmo e quieto demais, parecido com uma cobra.

- Eu penso o mesmo de você. - Então seu joelho está se chocando com o rosto de Anthony que cai para trás, Louis senta em seu peito e começa uma série de socos brutais e com uma força desmedida que faz com que possamos ouvir o som dos ossos se quebrando. Tapo os ouvidos para não ouvir o som dos grunhidos de Anthony cada vez mais agonizantes, não é uma tarefa nada simples conseguir tirar Louis de cima dele. Até que ele mesmo declara ser o suficiente, seus dedos estão em carne viva quando ele se volta uma última vez para os alunos - Eu só quero dizer que se eu não fosse tão velho e tão cego, usaria um lança chamas na porra dessa escola. Vocês não passam de vermes imprestáveis, isso é uma grande palhaçada, vocês poderiam construir um mundo perfeito. Poderiam dar um futuro digno as próximas gerações, mas vocês só vão propagar o ódio e o preconceito, a morte e a mesquinharia. Nenhum de vocês é homem, nenhum de vocês é digno de merda nenhuma e eu quero do fundo do meu coração que todos vocês ardam no inferno.

Dito isso, ele cambaleia, com a perna manca e sem saber que rumo tomar, mas ainda assim anda na frente de todos. Os alunos abrem caminho, com medo de sequer relar em Louis. Tommy corre para tentar garantir a segurança do cunhado e eu deixo que Liam me carregue, sabendo que esse foi o meu último dia no colégio e que qualquer coisa como dignidade não está mais disponível pra mim.

O caminho inteiro passa em um borrão para mim. Restam apenas pequenos lapsos de memória, Tommy descendo em alguma parada, Liam nos deixando em frente a casa e eu entrando na mansão com Louis falando sem parar, só me dou conta de suas palavras quando eu digo ter confiado em Anthony. Acho que eu devo ter contado a ele sobre a noite do drive-in também.

- Santo Deus você parece uma criancinha recém-nascida, deixe-me lhe explicar uma coisa, Harry. As pessoas são assim, elas não se importam, muito menos ficam ao seu lado por ficar, estão apenas interessadas em te usar. - Ele está falando, enquanto eu estou parado ouvindo no meio da escada - É assim que é, elas ficarão com você pelos seus bens materiais, pela sua popularidade, senso de humor ou apenas para evitar a solidão, mas no momento em que uma dessas coisas falta, pode esquecer, porque elas irão partir. Ninguém está interessado no que você sente ou pensa, é assim que as coisas funcionam.

Começo a me concentrar em suas palavras e balanço a cabeça em discordância.

- Você já ouviu falar de empatia?

- Empatia? - Louis pergunta, sem um pingo de interesse, arrancando seu sobretudo.

- Sim, isso mesmo. Pode parecer um conto fantasioso, mas eu acredito nela, acredito que há pessoas capazes e dispostas a entender, respeitar, ouvir e ajudar as outras. - Me viro para ele, sentindo uma força estranha queimando dentro de mim. Talvez se trate de uma explosão de adrenalina. Não há como saber - Você adora falar sobre a guerra, mas há pessoas morrendo todos os dias, não apenas por armas de fogo, desastres naturais ou genocídios, mas pelo isolamento, afogando-se em sua própria angústia. Porque eles olham pra você e vem aquilo que querem, ninguém olha para um garoto com uma família "perfeita", boas notas e uma casa bonita e pensa, será que ele se sente bem? Será que ele está feliz? Será que alguém ao menos se dá ao trabalho de perguntar? E quer saber de uma coisa? Eles não pensam isso! Ninguém pensa! Eles tem uma ideia pré-programada na qual se você sorri é porque está feliz e se veem alguém nessas condições chorando, sofrendo ou até se matando eles dirão sempre a mesma coisa: que estranho, ele tinha tudo. Mas tinha mesmo? Você não acha que esse garoto trocaria a sua família "perfeita" por um abraço sincero? Uma palavra de conforto? Por qualquer coisa que fosse diretamente para ele e não para o fantoche que ele apresenta na frente das multidões. Não é de hoje que as pessoas morrem no aconchego de seus lares, no seio de suas famílias por tristeza, porque falta compreensão, interesse e o mínimo esforço para se aproximar e eu sei que eu seria uma dessas pessoas, porque por mais incrível que a minha vida fosse e eu adorasse dar a minha bundinha cor de rosa, eu perdi as contas de quantos jantares eu encarava a janela debatendo comigo mesmo se deveria me jogar naquela hora ou esperar que eles fossem dormir. Ou o quão fundo eu deveria enterrar as facas de carne nos pulsos para que pudesse corta-los o suficiente para não ter concerto. Eu quis isto muitas vezes, porque depois de um tempo você sente que ninguém irá sentir a sua falta, ninguém irá se importar, mas de repente, isso mudou. Sabe como? Eu sei que deve ser egoísta, mas não foi quando eu descobri a gravidez, não, foi quando eu te conheci. Pela primeira vez na vida eu senti a dor de alguém, eu parei de sofrer apenas por mim, porque você estava desesperado e precisava de alguém e eu quis ser esse alguém, eu quis levar essa dor para longe, tirá-la de você, porquê de alguma forma doía em mim também e dói até hoje, a sua dor é a minha dor. É como se fôssemos um só. - Soluço, enxugando as lágrimas que embassam minha visão - Perdão por acreditar que podia haver alguém no mundo capaz de fazer o mesmo pra mim. Alguém que apesar de todos os seus problemas olharia para o lado e pensaria: ora, porque eu não tento arrancar uma informação verdadeira de alguém nessa sociedade de marionetes, an? Porque é isso que eu tenho sido a minha vida toda, a marionete do garoto bonito, eu podia não ser o mais inteligente, mas eles acabavam olhando para mim e dizendo: oh, mas ele é tão bonito. Eu ousei pensar que alguém veria mais do que isso, mas não foi o caso. Ele se prendeu ao que era bonito e quando não conseguiu, simplesmente destruiu.

- Harry! - Louis me chama e eu tento a todo custo secar as lágrimas, embora sinta todo o meu corpo latejando, continuo em pé.

- Não, tudo bem, eu sei que a culpa é minha. A minha estúpida ingenuidade causou isso tudo.

- Harry!

A minha fúria vai tomando forma, se tornando em um grande dragão de sete cabeças com chifres gigantes. Louco para destruir alguém, e ele já tem um alvo.

- Você acharia bem feito se ele tivesse me estuprado!

- Não diga uma besteira dessas, garoto!

- Oh, desculpe, eu me esqueci do quanto você é ciumento com a sua vadia aqui, porque é isso o que eu sou pra você, não é Louis? A sua vadia. Ninguém pode saber de nada, porque não existe nada entre nós, mesmo assim você me fode como bem entende. Eu posso ser muito ingênuo, mas sei o que significa.

- Você não sabe de nada. - Ele rosna, apertando os punhos.

- Eu reconheço uma puta quando vejo uma e infelizmente é isso o que eu tenho visto quando me olho no espelho.

- Hazza, pelo amor de Deus! - Sem querer ouvir o que mais ele tem a dizer, me viro, subindo os degraus de dois em dois e de repente sentindo uma forte pontada no peito que me faz cair no meio do caminho. Um som de esgasgo ao que eu tento puxar o ar e não consigo, sentindo a asfixia dominar - Harry, o que está havendo?

- Lou, e-eu não...

Ouço o som de seus tropeços. Ele não está com a bengala e sozinho e eu estou quase no topo das escadas é quase impossível que ele me alcance antes que eu desmaie ou ele mesmo caia.

- Amor, fale comigo. - Ele pede. Aperto meus olhos, ficando cada vez mais tonto com a dor que se alastra pelo meu peito e então meus joelhos não são mais capazes de me sustentar e eu tombo para trás, milagrosamente sentindo o peito de Louis e seus braços me envolvendo.

- C-consigo respirar. - Balbucio antes de apagar, sem a certeza de que acordarei novamente.

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