• I • UM ALFAIATE ABUSADO & DESCARADO
CAPÍTULO 1 - PART 1
Música: Johnny B.Goode - Back to the future (1985)
* Filme favorito do nosso Adrian.❤
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O destino parece gostar de brincar com as pessoas. Na maior parte das vezes, as vidas não têm valor. As pessoas vivem e só. Infelizmente, é só isso mesmo. Mas mesmo assim, tantas coisas acontecem... Uma pequena curva é o bastante para alterar todo o resultado. No caso da Nina foi ir a um bar. Deu tudo certo? Vai dar! Eu sei. Só que a vida não é um conto de fadas, pelo menos não para mim. Porém, podemos viver bem, sem arrependimento. Essa sim sou eu, tão diferente da minha amiga sonhadora. Como vocês me chamam? Ah é! Diaba.
Saindo do prédio em que trabalho, olho para o chapéu. Chapéu de um cara louco, mas com um bom gosto. Será que deveria apelidá-lo de Chapeleiro Maluco? Bom, dentro do objeto diz que é de uma alfaiataria. Estranho? Sim, muito! Um marginal ou um delinquente, é cada um que conheço. Porque, com certeza, não me parece um alfaiate. Essa é a possibilidade mais realista, principalmente pelo modo que pegou meu gato de pelúcia. Aliás, eu deveria devolver o gato, mas não vou. Tenho um senso ético, mas nem tanto.
Enquanto caminho, pego o celular e ligo para o número da etiqueta. Rapidamente uma voz feminina atende.
— Alfaiataria Mr. Bianco. Boa tarde. Com quem falo?
— Boa tarde, me chamo Diana. Estou procurando por um rapaz moreno, cabelo baixo e cheio de tatuagens. Um marginal...
Sou interrompida pela atendente, que me responde como se isso fosse rotineiro.
— Ah sim! Conheço. Mas está mais para um delinquente juvenil desde que se têm notícias. Ele trabalha aqui. O que aprontou agora? — E agora vem mais essa. Ele trabalha lá? Nunca imaginei um marginal trabalhando, ainda por cima de alfaiate! Vamos pagar a língua? Vamos sim.
— Hum... Nada. — Já que, em parte, é minha culpa. — Esqueceu algo comigo e gostaria de devolver.
— Compreendo — diz ela tranquilamente, como se tudo fizesse sentido. — Vou te passar o endereço daqui. Anote aí. É Rua Borgo Stretto, nº 3891, no terceiro andar. Mr. Bianco Alfaiataria.
Pego um bloco de notas na bolsa e escrevo o que ela me diz. Ainda com dificuldade em crer que ele é um alfaiate, me distraio e, quando vejo, a mulher já desligou. Educação faltou, não sei se minha ou dela, mas faltou! Não que eu seja lá muito educada.
O endereço é no sentido oposto ao meu caminho para casa. Suspiro pesadamente. Bom, acho que já está em tempo de gastar meu dinheiro com algo útil. Desde que comprei a minha casa, não tive gastos exorbitantes. Acho que em parte por influência da Nina. Na verdade, é certeza. Tudo culpa dela. No intervalo do trabalho, já chequei tudo que tinha para ter certeza, o dinheiro é mais que o suficiente e ainda terei mais para investir em alguma outra coisa. Economizar tem lá as suas vantagens.
Faço uma pesquisa na internet e procuro concessionárias de automóveis, mas, por um acaso, encontro um anúncio de um rapaz vendendo os carros do pai, com urgência e por motivos pessoais. Dou uma olhada para ver se não são pré-históricos e, por incrível que pareça, não são. Não estão com os preços ruins, os valores estão até abaixo da média. Entro em contato e marco de encontrá-lo em um lugar público. Escolho o conversível usado vermelho. Por que justamente vermelho? Porque vermelho combina comigo.
Combinamos um adiantamento de cinquenta por cento para eu poder sair com o carro imediatamente e os outros cinquenta quando estiver com todos documentos em mãos. Com o trato virtualmente feito, vou de táxi até o ponto de encontro e faço a transferência pelo celular. Ele tenta puxar assunto comigo, falando do pai que sofre de uma doença, que o senhor compra coisas que não precisa. Apenas sorrio educada e saio de fininho.
Depois de comprar meu veículo, vou até o endereço indicado pela atendente da alfaiataria. Vejo facilmente a rua comercial, especificamente o prédio em questão. É bem movimentado, não parece um lugar suspeito. Ou foi isso que pensei antes de chegar ao elevador. Na placa ao lado do botão do terceiro andar está escrito "Moda: Alfaiataria Mr. Bianco e Sex Shop Valentim.". Após cinco segundos de silêncio e um suave sorriso, penso na Nina. Só que esta conversa é de outra história.
Vamos devolver logo este chapéu.
Aperto o botão e aguardo pacientemente. Não demora nem dois minutos, mas é o suficiente para me fazer criar teorias de como é atrás dessas portas. Quando o elevador abre, vejo um bonito corredor bem organizado e elegante. Totalmente fora do que imaginei. Ainda bem que não fiz uma aposta valendo dinheiro!
As portas são de vidro fosco, com letras douradas dizendo do que se trata cada uma das salas. Bem diante do elevador está a que procuro. Sem demora, vou até a porta e a abro, dando de cara com uma linda mulher sentada atrás de um balcão de recepcionista. Suponho que foi com ela que falei ao telefone. A mulher é excepcionalmente bonita, com cabelos bem penteados no estilo Cleópatra e uma franja curta lisa. Usa como tiara um lenço de bolinhas, no melhor estilo pin-up, e um corset que destaca sua cintura e seus seios. Além das suas delicadas tatuagens. Não é um estilo popular para a massa, assim como o do marginal, mas ambos são bonitos. Sensual sem ser vulgar.
— Olá. Falei com você hoje no telefone. Vim devolver ao rapaz delinquente o que ele deixou comigo — digo, mostrando minha bolsa.
— Ah! Diana, certo? Pode ir lá atrás. Ele está sozinho terminando um terno. Pode ir — ela fala, piscando para mim.
Hã? Ela está pensando que sou... Ah, dane-se. Que recepcionista mais doida que deixa as pessoas irem entrando assim. Ela quer vê-lo se foder mesmo ou talvez apenas seja normal garotas aparecerem por aqui. Tanto faz.
Caminho, passando por ela e observando alguns manequins de madeira. Sinto um cheiro diferente, um misto de limpeza, madeira, tecido e cigarro. O lugar é bastante peculiar, apesar de organizado, assim como quem trabalha nele. Ando, observando alguns manequins de madeira. Vejo uma única entrada tampada por uma cortina de bolinhas e passo por um espelho de corpo inteiro, observando disfarçadamente se o meu cabelo está no lugar, mas acabo parando para me olhar e me alinhar.
Mesmo sendo curtos sobre os ombros, os fios negros ainda têm o costume de bagunçar, nunca vi coisa igual. Cortei curto para facilitar, só que nem sempre dá certo. Só que, para a minha surpresa, o cabelo não está uma bagunça. A claridade deste lugar realça a minha pele clara e meus olhos também, mostrando que não são azuis nem verdes, mas uma mistura de azul com castanho, que fica levemente esverdeado. Até meus olhos são diferentes. Minha roupa social está um pouco fora do lugar, então a arrumo.
Quando termino de me olhar, coloco a mão para abrir a cortina que divide os ambientes, porém alguém segura o meu braço e me puxa bruscamente para dentro. Sou jogada contra a parede, fazendo com que minha bolsa caia no chão. Acabo deixando o ar fugir dos meus pulmões em um arfar. Mas que caralho está acontecendo aqui?
Um corpo quente se pressiona contra o meu, colocando a perna entre as minhas. Segura firme o meu antebraço sobre a minha cabeça e com a outra livre contorna minha cintura, pousando-a na base da minha coluna. Está tão próximo que posso sentir a sua respiração contra a minha boca.
— Quem é você? — Sua voz está rouca e seus olhos tão próximos que até poderia ficar animada, no entanto, "quem é você?" me quebra e brocha. Mas que porra de filho da mãe! Está mesmo perguntando isso logo após sair agarrando-me assim? É louco. Só pode! Calma, Diana. Respira.
— Eu sou a garota do shopping. Vim devolver seu chapéu. — Olho para ele com a maior tranquilidade. Se me importar com esse tipo de coisa, só irei me estressar ou dar mais motivo para sua diversão. Não que ele pareça estar brincando, na realidade, está bem sério e sedutor. Admito novamente, o cara é quente.
— Ah sim! Salvou a minha vida e o meu salário! — diz ele, soltando-me como se nada tivesse acontecido. Abaixo-me e pego a peça na minha bolsa.
— Seu trabalho pode até ser, eu acho. Mas sua vida? Fala sério! — Olho-o e lhe entrego o chapéu.
— Realmente. Talvez o velho não me mate. Talvez sim. Quem sabe? Mas este chapéu custa três mil dólares, então é provável... — diz ele como se eu não estivesse presente. Afasta-se e coloca o chapéu na cabeça de um dos manequins.
— Como assim? Três mil dólares? Você é doido? Não, não... A pergunta é: isso aí é feito de quê? De ouro? — pergunto, incrédula, pois travei no valor.
— Isso mesmo. Quer dizer... Não sobre a parte do ouro. Mas sim, foi feito com um excelente material e com a medida certa da cabeça do dono. — O delinquente caminha até uma prateleira e o vejo pegando um aerossol e jogando no chapéu. Pelo cheiro parece até laquê. — Mas diga, moça, você não sabe de nada e não viu nada. Isso aqui? Nunca saiu daqui! OK? — Ele sorri matreiro para mim e pisca, parando para me olhar atento. — Já que está aqui... Que tal irmos tomar um café juntos?
Só sei me perguntar "onde fui me meter?". Ele age diferente de toda a imagem que supus dele. Surpreende-me, segurando a minha mão, e se usa de guia, fazendo-me apertar seu braço para acompanhar seus passos apressados.
— Eu disse que iria com você? — pergunto falsamente esnobe diante do seu abuso e excesso de confiança.
— Você não recusou. Quem cala, consente.
— Sorte a sua que eu não tenho nada melhor para fazer! — digo, enquanto dou risada da sua cara de pau e tiro minha mão do seu braço. — Não preciso de guia.
— Então a sorte é nossa, pois eu também não tenho nada melhor para fazer — fala ele, rindo. Ele é diferente... Realmente não se importa com as minhas provocações? Interessante.
Novamente segura a minha mão e coloca em seu braço. Cara do caral... persistente. Ele vai andando comigo para sair do estabelecimento, apenas dando um tchau com a mão para a recepcionista antes de sair. Ouço o grito dela de longe.
— Adrian! Espero que tenha terminado o terno! Seu avô irá te matar e me matar caso contrário! Diana, cuidado com ele! Não ama ninguém, nem ele mesmo!
Hum... Com toda a sua confiança, não parece isso.
— Então seu nome é Diana. Assim como a Mulher Maravilha — diz divertido quando já estamos fora do prédio.
— Você é o Adrian. Nenhuma referência sobre você me vem à mente — provoco. Mesmo que não seja uma completa mentira, não consigo me lembrar de ninguém.
— Isso, querida, é porque eu sou ÚNICO. — Paro de caminhar e olho para ele.
— Descarado e convencido! — falo, achando o maior absurdo. Ele me olha, abaixando-se para se aproximar do meu ouvido.
— Nunca reclamaram disso para mim... na cama — sussurra de maneira astuta e sensual, fazendo-me arrepiar. Porém, recupero-me rápido e logo um sorriso rápido surge em meus lábios.
Ele quer brincar? Ele não me conhece, mas tenho certeza de que vai me conhecer. Em minhas veias com certeza não corre água. Corre sangue. E sangue quente, amigo!
— Têm muitas coisas que são únicas e não são tão geniais — rebato sarcástica, em um tom baixo que imita o dele.
— Estou sentindo um atrito... — fala, aproximando-se mais, totalmente despreocupado enquanto sorri.
— Foi você quem me chamou para o café. Ainda quer reclamar? — pergunto e ergo a sobrancelha, colocando a mão no quadril e olhando-o de cima a baixo.
— Estou sendo analisado? — indaga na maior cara de pau. Ele está claramente mordendo a boca para segurar o sorriso.
— Desculpe, mas não sabia que para tomarmos café tinha que me tornar sua amiga. — Sorrio cordialmente, assim como no trabalho.
— Boquinha nervosa a sua. Gosto disso — diz, abrindo um grande sorriso desta vez, e volta a andar quase me arrastando com ele.
Esse cara me surpreende e parece não se cansar de fazê-lo, mas agora, além de marginal e delinquente, me parece um cafajeste! Contudo, admito, é divertido estar com ele. Dificilmente irei conseguir ir a uma cafeteria de novo sem pensar nele. É interessante. Durante o café que tomamos juntos, descobri que Adrian é tranquilo, doido, safado, ousado e caótico. É impossível se entediar com seu jeito. O clima não fica chato e nos "bicamos" de igual para igual. Não sei o que esperar dele, mas ele também não sabe o que esperar de mim.
Por onde o cara passa alguém o cumprimenta. Mulheres em sua maioria, o que só confirma minha teoria de cafajeste. Não que seja da minha conta, porque também tenho meus "acasos". Só não deixo, e nem preciso, que o mundo todo saiba disso. Seria problemático demais.
No final do café, após uma hora ter passado voando, já é tempo de partir. Isso me deixa muito surpresa. Logo que nos levantamos para irmos pagar o café, até a garota do caixa procura sua cara, querendo a sua atenção. Dou risada, tentando ser delicada para não ferir o coração da moça, pois acho que ele não é um homem que queira mais do que sexo de qualquer mulher.
— O que foi? Parece pensativa — pergunta ele quando já estamos saindo pela porta do café.
— Estava pensando em como é popular — respondo automaticamente.
— Ciúmes? Sou seu, amor. Só pedir — diz, rindo.
— Ciúmes? Nunca senti. Não se ache tanto. Amor? Com quem acha está falando? — falo, séria, e ele parece se surpreender, talvez porque não pareço estar brincando, mentindo ou algo do tipo. Realmente não estou.
Ele não diz mais nada além disso e, em seguida, fica pensativo. Não demoramos a nos despedir e volto para onde estacionei o carro. Só para lembrar que deixei minha bolsa na alfaiataria. Merda! Volto ao prédio da alfaiataria e chego logo depois dele, que se vira surpreso ao me ver.
— Já sentiu a minha falta?
— Por mais que você queira isso, apenas esqueci a minha bolsa.
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