17 capitulo
Camila point of views
Quando aquela onda de choro passa, eu fico sentada na cama encarando a janela, um pouco irritada com a hipocrisia dos meus pais, se é que posso os chamar assim.
Os três sempre tentam passar a imagem da família perfeita, para os cristãos no caso. Um homem que respeita e zela pela sua família, uma mulher que cuida da casa e duas filhas perfeitas.
A questão era que, nada era o que parecia. Meu pai além de não ter controle sobre a raiva, já traiu minha mãe, o que gerou uma filha, Sofia, agora ela tinha sete anos. O pior de tudo era que meu pai não assumiu a menina, minha mãe sabe dessa traição e eu tinha pouco contato com a minha meia irmã. Já a minha mãe, usava a religião para justificar tudo, traiu? Foi porque se desviou. Bateu na esposa? Ela não agradou o marido. E muitas outras coisas. Agora a minha irmã, acho que a mais cobra dessa família tentava a todo custo passar a imagem de uma mulher santa e resguardada para o futuro marido.
Na verdade, minha irmã era uma megera. Maria Eduarda sempre foi tudo ao contrário do que tenta parecer, ela aponta o dedo mas não se mexe para ajudar. Condena a pessoa sem saber os seus motivos e algo que ela herdou da minha mãe, usava a religião para justificar tudo. Além do mais, ela era tão "perdida" quanto a mim. Nunca comentei com ela ou com ninguém mas eu já a peguei fazendo um ménage no meio da praia uma vez.
Eu poderia ter contado isso para os meus pais, ontem mesmo, mas ao contrário dela, eu não gosto de fuder com as pessoas.
Incrível que a minha família aceita traição, hipócrita e o caralho A4 mas homossexualidade não. Parece até piada. Tenho certeza que se eu não estivesse grávida, eles iriam ficar calmos, dizer que era um tipo de demônio e me levar para igreja para ser exorcizada pelo pastor que mais parecia um disco riscado, mas como uma gravidez não pode ser escondida por muito tempo, eles optaram por me jogar fora.
Não vou ficar surpresa se em menos de um mês, todo mundo esteja com meu nome na boca dizendo: "vocês souberam que os Cabello expulsaram uma das filhas por estarem grávidas?", "A Maria?", "Não, a Camila!", "Tadinha, sempre foi uma perdida".
Muitas vezes eu me questiono se eu realmente sou filha deles ou se eu fui trocada na maternidade. Se não fosse por eu ser parecida fisicamente com meu pai, eu procuraria meus documentos de adoção.
Pensando bem, eu me denominava a ovelha em pele de lobo da família mas vendo por esse ângulo, aquela família são uma matilha de lobos em peles de cordeiros que tentam se passar por ovelhas.
Naquela noite, pouco dormi. Minha mente trabalhava buscando uma forma de eu conseguir um emprego ou criar coragem para ligar para Lauren, eu não podia ficar a vida inteira com Mali, mesmo sabendo que se fosse necessária, ela não reclamaria e iria me ajudar, porém não era justo ser um peso na vida dela, assim como eu não queria ser um peso na vida de Lauren.
Minha mente criou vários cenários possíveis quando eu ligasse contando da gravidez. A maioria deles era ela não acreditando, desligando na minha cara e sumindo, dizendo que eu estava louca e esse filho não era dela, e outros diversos onde ela sumia. Sim, eu sabia que ela poderia não reagir assim mas eu ainda sentia medo, medo por ela surtar por eu não ter contado antes ou coisa do tipo.
Quando finalmente consegui dormir, já estava amanhecendo. Mali não conseguiu me acompanhar então dormiu ao meu lado, segurando a minha mão como se dissesse "mesmo dormindo, eu estou aqui por você".
Dormir não foi uma boa ideia, eu tive um pesadelo com à noite anterior. Eu ia comer o meu suculento bife de fígado, então eles se transformavam em testes de gravidez e meus pais surtaram enquanto Maria ria.
Quando consegui acordar, era quase uma da tarde. Mali me obrigou a comer um café da manhã com torradas, leite — café não, ela disse que não faria bem para o bebê —, um pedaço de mamão e uma banana. Mesmo sem fome, eu me forcei a comer sob seu olhar cuidadoso.
Era bom ter alguém que se preocupava verdadeiramente com você.
- Você está bem? - Mali pergunta retirando a bandeja na qual tinha os recipientes do café da manhã, agora vazios, e os deixa de lado.
- Melhor do que ontem. - suspiro soltando um sorriso amarelo - Estou com um pouco de dor de cabeça...
- Eu não vou te dar remédio porque eu não sei se você pode tomar dipirona. - segura a minha mão de uma forma protetora e eu afirmo com a cabeça.
- Posso ir tomar banho? Às vezes isso ajuda.
- Claro, você pode usar o meu shampoo. - sorri se inclinando para beijar a minha testa.
- Tá bem. - afirmo com a cabeça me levantando.
Olho para minha mala e solto um suspiro triste, eu ia me aproximar para procurar alguma roupa até que a voz de Mali me faz parar:
- Vai tomar banho, eu escolho uma roupa para você. - me viro para ela e sorrio.
- Obrigada. - sorrio de verdade, indo até seu guarda roupa para pegar uma toalha.
Vou para o único banheiro da casa, no caminho eu cumprimento o seu Valdir, pai de Mali. Ele me parou para dizer que soube o que aconteceu e eu poderia ficar na casa dele o tempo que eu quisesse, Mali e ele estavam de braços abertos.
Isso resultou em eu chorando e o abraçando.
Ele disse que não entendia muito bem isso de homossexualidade mas se um dia eu quisesse explicar para ele, mesmo ele sendo crente, ele estava disposto a entender para não dizer algo errado no tempo que eu ficasse ali. E também me aconselhou a contar para Lauren que eu estava grávida.
Seu Valdir era fofo. Claro, era pai de Mali, eu não fiquei muito surpresa com isso.
Desde que eu era pequena e vinha brincar com Mali, seu Valdir e sua falecida esposa, Márcia, me tratavam muito bem. Eu até chegava a brincar falando que ele era o meu segundo pai.
Não tomo um banho longo, mas o suficiente para eu me ganhar, lavar meus cabelos e fazer minha higiene.
Antes de sair do banho, fico encarando minha barriga. Ela não tinha crescido, quase não se dava para notar mas ela estava minimamente mais redonda, bem pouco mesmo, só consegui notar por conhecer muito bem a minha própria barriga.
Ao entrar no quarto, vi um bilhete sobre a cama com uma muda de roupas, Mali dizia que foi resolver algumas coisas e que seu pai tinha ido no mercado. Dizia também que eles voltariam em menos de uma hora.
Dou de ombros e começo a me vestir, tento secar ao máximo meu cabelo com aquela toalha, olho pelo quarto a procura do meu creme de pentear que deixava na casa de Mali. Sorrio o achando e passo uma boa quantidade em meus cabelos, penteio e jogo para frente e para trás, na tentativa de os deixar menos lambidos.
Aquele bilhete da Mali me faz lembrar os quais Lauren deixava junto com una rosa, sempre que saia da cama antes que eu acordasse. Sempre era uma frase ou um "você fica linda dormindo".
Suspiro procurando meu celular e tento o ligar, percebo que estava sem bateria e então o coloco para carregar, o deixo em um canto e me sento na cama. Abraço minhas pernas e encosto minha cabeça na parede.
Eu me livrei de um problema mas criei outros mil.
Fecho meus olhos e fico em silêncio, abraçando minhas pernas, como se aquilo fosse me proteger do que estava por vir.
Me arrasto para fora da cama, ando até a janela, apoio una de minhas mãos nela e olho para o céu azul. Mordo meu lábio e respiro fundo, levo uma mão até minha barriga e fecho os olhos iniciando uma oração para que Deus, se ele não estivesse decepcionado comigo, me ajudasse.
Aos poucos, cada palavra dita naquela oração curta, faz com que eu me sinta melhor. Quando eu estava terminando, una lágrima grossa escorre por minha bochecha e sinto uma segunda presença no quarto, resolvo ignorar por pensar ser Mali mas franzo o cenho sentindo um perfume que eu tanto conhecia.
- Camila... - ouço a voz rouca e suave de Lauren. Meu coração dispara e a olho rapidamente.
Fico parada no lugar, sem nenhuma reação, sem saber o que fazer, sem acreditar que ela estava ali.
Seus olhos estavam claros, quase cinzas e seu cabelo bagunçado. Ela apertava as próprias mãos parecendo estar nervosa e suas grossas sobrancelhas contraídas, seus olhos estavam ficando vermelhos e marejados enquanto ela me olhava com tanta intensidade e carinho.
Meu coração batia tão rápido que eu podia sentir minha pulsação, minhas mãos começam a tremer e pisco diversas vezes para ter certeza que não era uma alucinação.
- Meu amor... - sua voz sai mais baixa e trêmula. Dito isso, ela caminha ao meu encontro e me envolve em um abraço apertado e protetor.
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