Camila point of views

Eu tinha meus olhos parados sobre a água cristalina do mar. Ele estava agitado, tão agitado quanto a minha mente nos últimos dois dias.

Uma música que tocava em meus fones estava alta, me impedindo de ouvir qualquer coisa que acontecesse próximo a mim. Eu tentava ao máximo prestar atenção nas ondas do mar e ignorar os meus pensamentos que tanto me assustavam nos últimos dias.

O dia estava quente, o Sol parecia estar disposto a castigar qualquer pessoa que quisesse sair de casa ou sair de um simples sombra e por isso, eu optei por ficar em baixo de um coqueiro que fazia uma sombra consideravelmente boa.

Fecho meus olhos e tombo minha cabeça a encostando no tronco da árvore que me impedia de deitar naquela areia fofa. Respiro fundo diversas vezes me sentindo cansada e brinco com o coco que estava em minhas mãos.

Me assusto ao sentir alguém puxar um dos meus fones, me fazendo abrir os olhos rapidamente e encarar quem se sentava ao meu lado. Um suspiro aliviado sai de meus lábios assim que vejo Mali, com seu rabo de cavalo no topo da cabeça, como normalmente usava.

- Você sumiu nesses últimos dois dias... - comenta olhando para o mar - Olha, desculpa ter insinuado aquilo... Eu sei que você não é uma irresponsá-

- Eu estou grávida. - a corto, olhando em seu rosto.

Mali arregala os olhos, vira seu rosto para mim e ela abre a boca diversas vezes, porém, nenhum som saí.

- Naquele dia eu comprei dois testes de gravidez... Eles deram positivo. - meu olhar cai sobre o coco em minhas mãos - Estou grávida dela. - ergo o coco até minha boca, levo meus lábios até o canudo e sugo o líquido - Você estava certa, parabéns. - forço um sorriso para ela e volto a olhar para o mar.

- E agora?

- E agora é o momento que eu tomo no cu.

- Você não vai contar para ela?

Pisco lentamente, tomo fôlego e volto a olhar percebendo pelos seus olhos que ela estava tão apavorada quanto eu, mesmo não tendo nada a ver com tudo isso.

- Não.

- Por que?! - sua voz sai exaltada e aperto meus lábios.

- Ela está ocupada em subir de cargo na empresa do pai dela. Lauren não tem espaço na vida dela para esse bebê ou para mim. - dou de ombros - Não quero atrapalhar a vida dela.

- Camila, pelo amor de Deus! Seja sensata um único momento da sua vida. - Mali bate as mãos em minha coxa - É um direito dela saber disso. Você está esperando um filho dela. - da ênfase no "dela" me fazendo suspirar.

- Agora não, Mali. - me levanto - Não quero conversar sobre isso. - nego com a cabeça e Mali também se levanta.

- Se você esconder isso dela, vai se arrepender. - suspiro jogando o coco dentro do lixo que estava do lado do coqueiro e volto a encarar Mali.

- Não estou com cabeça para essa conversa. Eu tenho que pensar em como explicar para os meus pais daqui algumas semanas que a minha barriga começou a crescer milagrosamente e torcer para eles acreditarem que eu sou a nova virgem Maria do século XXI.

- Cami, você sabe que eu estou aqui para o que você precisar, não sabe? - Mali pergunta e eu olho em seus olhos vendo que ela realmente se preocupava comigo.

A culpa de estar a tratando dessa forma me atinge como um caminhão. Céus, o que eu estava fazendo? Mali não tinha culpa daquilo e eu estava descontando a minha frustração nela.

- Me perdoa. - murmuro me aproximando dela e passo meus braços por seu pescoço - Desculpa por estar te tratando dessa forma, é muita coisa para digerir. - Mali apenas passa os braços por minha cintura e afirma com a cabeça enquanto eu vou falando - O estresse de ter Lauren longe, de saber que os meus pais vão surtar quando verem minha barriga crescer feito um balão e... - minha voz começa a ficar embargada.

- Ei, está tudo bem. Respira. - pede acariciando minhas costas.

Mali começa a dizer que me entendia, que estava tudo bem e falando que dá para eu me acalmar.

- Obrigada. - falo envergonhada me afastando e ela toca meu ombro.

- Camila, se ponha no lugar da Lauren. - diz com uma expressão seria - Se você fosse a pessoa com um pênis, gostaria que a pessoa que você engravidou, escondesse de você?

- Não. - minha voz sai baixa e meus cabelos voam pelo vento fresco que me atinge.

- Pense nisso, Lauren já é uma mulher formada, tem uma vida estável pelo o que eu pude ver... Ela seria a pessoa mais indicada para te dar apoio para passar por isso.

Não digo nada, apenas afirmo com a cabeça e ficamos em silêncio.

- Eu vou ir, sinto que você quer ficar sozinha e você precisa pensar sobre o que vai fazer sobre isso. - aponta para a minha barriga - Lembre-se Camila, isso não é um boneco que você pode esconder de baixo da cama, isso é uma vida que está crescendo e você precisa ir a um médico para saber se está tudo bem com esse bebê. - afirmo com a cave ao sentindo a firmeza daquelas palavras. Mali se inclina em minha direção, fica na ponta do pé e beija minha testa - Tome cuidado. - pede antes de se afastar.

A acompanho com o olhar vendo-a se aproximar do quiosque onde um homem com uma barba rala estava sentado em um dos bancos.

Aperto meus olhos soltando um suspiro frustrado sentindo minha cabeça absorver aquelas palavras com sucesso e se sobrecarregar ainda mais. Volto a me sentar e coloco minha mão sobre minha barriga, ela ainda não estava crescendo, tinha me engordado um pouco mais.

Meu celular tocando atraí a minha atenção e vejo a foto de Lauren na tela. Aperto meus lábios e pego o aparelho, levo meu polegar até o círculo vermelho para rejeitar a ligação, aperto meu maxilar e o arrasto até o verde, atendendo a chamada.

- Céus, você está bem? - sua voz preocupada é a primeira coisa que eu ouço ao levar o celular até minha orelha, me dando vontade de chorar.

- Oi... Estou bem sim. - afirmo com a cabeça soltando um suspiro baixo.

- Eu fiquei preocupada, você sumiu. - ouço sua risada aliviada e meus olhos ameaçam se encher de lágrimas, trato de piscar rapidamente para não deixar nenhuma lágrima escorrer. - Eu senti a falta de ouvir a sua voz, meu bem. - confessa baixinho.

- Eu também senti a sua falta. - minha voz fica trêmula.

- Você está bem? Aconteceu alguma coisa? - sinto vontade de rir.

Ah se ela soubesse...

- Aconteceu uma coisa sim, mas nada tão grave. - trato de engolir o choro.

- Se você quiser conversar sobre isso, eu estou aqui... Para qualquer coisa mesmo, tá?

- Eu queria te ver, estou com saudade. - assim que falo isso, o choro me atinge deixando impossível que eu o segure.

- Não chore, por favor. - diz rapidamente - Eu também estou morrendo de saudades de você... Se eu pudesse, estaria pegando um avião para te ver agora.

Uma risada chorosa sai dos meus lábios e eu trato de fungar enquanto enxugava as lágrimas que teimavam em rolar. Fico em silêncio sem saber o que dizer, apenas ouvindo algumas conversas no fundo da ligação e sua respiração baixa.

- Vamos conversar por vídeo chamada hoje?

- Não vai dar... - nego com a cabeça - Desculpe.

- Ah tudo bem. Eu me contento em apenas ouvir sua voz. - sorrio ouvindo seu tom mais suave e animado.

- Onde você está? - pergunto ouvindo um falatório no fundo da ligação.

- No refeitório da empresa... Estou no meu horário de almoço.

- Lauren, pelo amor de Deus. - resmungo - Não era para você estar me ligando, era para você estar comendo.

- Eu estou comendo... E falando com você.

Lauren e eu ficamos conversando por mais alguns minutos até que ela diz que seu horário de almoço terminou e ela precisava voltar ao trabalho, claro, ligação não foi encerrada até ela dizer que era para eu me cuidar.

Ao encerrar aquela ligação, eu estava mais calma e com uma sensação gostosa em meu peito.

Lauren era a razão da minha paz, mesmo que fosse momentaneamente.

As palavras de Mali começam a martelar em minha cabeça e eu aperto o celular entre meus dedos. Respiro fundo e penso em ligar para ela para dizer: "Ei, advinha? Estou grávida de um filho seu", mas ainda não era a hora certa para isso

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