"A suspeita sempre persegue a consciência culpada; o ladrão vê em cada sombra um policial.

- William Shakespeare"

Seis semanas haviam se passado desde o dia que Lauren e Camila dormiram juntas pela primeira vez e Camila começava a sentir os efeitos que aquilo havia causado.

A mulher encarava o calendário a sua frente contando os dias do seu último ciclo e vendo que estava atrasada, uma semana para ser exata. Um suspiro sai de sua garganta e ela coloca o calendário sobre a sua cama.

- Que merda, não fico nem três meses seguidos com a menstruação regulada. - reclama sabendo os malefícios de uma menstruação desregulada.

- Falando sozinha, Camila? - Maria pergunta com um sorriso divertido.

- Minha menstruação está desregulada, tenho que ir marcar um médico para ver isso. - leva as mãos até seu rosto e Maria se senta na cama do outro lado do quarto.

- Eu tinha uma menstruação desregulada, igual a sua. - pausa tirando os sapatos e se deita na cama - Fui naquele médico que a mamãe indicou e ele disse que era estresse que acaba desregulando.

- Deve ser estresse mesmo. - olha para sua irmã e só então vê um ursinho diferente - O Matheus que deu? - aponta para o ursinho e ela afirma com a cabeça - Vocês já transaram? - pergunta franzindo o cenho vendo a aliança prata no dedo da irmã.

- Por Deus, Camila! Claro que não, isso não é da vontade de Deus. - diz horrorizada com a fala de sua irmã mais nova.

Camila solta uma risada baixa e debochada, seu olhar vai para o teto e solta um suspiro baixo lembrando de Lauren sobre ela.

- Você está namorando? - Maria pergunta fazendo Camila a olhar rapidamente.

- Óbvio que não, por quê?

- Você está saindo bastante, mais do que o normal. - leva a mão até seu queixo e o toca  - O pai e a mãe podem acreditar que você vai mais de cinco vezes para a casa da Mali em menos de uma semana, mas eu não acredito. - faz um barulho de desaprovação com a língua.

- Ah Maria, não começa. - Camila diz ficando de mal humor e se vira encarando a parede branca porém em um tom encardido ao lado da sua cama.

- Não fique brava, Mila. Eu não vou contar, só quero saber quem é que você está encontrando.

- Não estou encontrando ninguém, não enche. - repetiu de forma grossa fazendo sua irmã suspirar e deixar o ursinho de lado.

- Não me diz que você se desonrou. - Maria se levanta da cama e caminha até a cama da irmã fazendo a mesma a encarar.

- Quê? - levanta a sobrancelha.

- Você na transou? Não é mais virgem? - pergunta.

Camila morde lábio para não responder: óbvio que não, desde os meus dezesseis ou esboçar um sorriso debochado por saber que sua irmã insistia em tentar a convencer com a sua máscara de santinha.

- É claro que não sou mais virgem, Maria. - seu tom sai irônico mas ela sabia que não era  verdade. Ao contrário da sua irmã, que revirou os olhos e soltou uma risada baixa pela brincadeira de Camila.

Seu celular vibra e ela se vira de barriga para cima para o pegar rapidamente, no instante que a tela acende, Camila vê três mensagens de Lauren.

Lauren: Oii

Lauren: Podemos nós ver hoje?

Lauren: Estou preparando um pequeno cineminha para nós :)

Ao ler aquelas mensagens, Camila salta da cama atraindo a atenção de sua irmã.

- Avise o pai e a mãe que eu vou para a casa da Mali. - diz apressadamente indo para fora do quarto e entra no único banheiro da casa. Tranca a porta e coloca o celular sobre a tampa do vazo sanitário tendo certeza que ninguém iria mexer no aparelho.

Camila toma um banho rápido, volta para o quarto enrolada em uma toalha e vê sua irmã mexendo no notebook, resolvendo algumas coisas na lojinha online na qual ela trabalhava.

A mais nova se veste tão rápido quanto saiu do quarto, ela se perfuma e penteia os longos cabelos prendendo os mesmos em um rabo de cavalo alto, deixando apenas a franja e algumas mechas soltas.

- Certeza que vai na casa da Mali? - Maria questiona levantando a sobrancelha ao ver sua irmã arrumada.

- Claro que sim. - afirma com a cabeça colocando o celular no bolso da calça e pega a toalha molhada sobre a cama para colocá-la no varal - Tchau. - da um rápido aceno, vai para o quintal e pendura a toalha azul no mesmo, passa pelo pequeno corredor na lateral da casa passando pela lavanderia e então a garagem, Camila abre o portão e o fecha no momento seguinte.

Ao ir subindo a rua, ela vê várias crianças com a idade de quatro a quinze anos jogando futebol, algumas mulheres de meia idade sentadas nas calçadas conversando ou simplesmente mexendo no celular. Camila cumprimenta algumas e apressa o seu passo, ao chegar na esquina, a pega seu celular e liga os dados móveis para mandar uma mensagem para Lauren.

Camila: Acabei de sair de casa, chego ai em vinte minutos.

Ela olha em volta e se assusta ao ver um homem parecido com seu pai vindo em sua direção mas solta um suspiro aliviado ao ver que não era ele, e sim, sua consciência pesada, por estar mentindo por tanto tempo, se fazendo presente.

Camila tira a capinha do celular para ver quanto dinheiro tinha e sorri vendo uma nota de cem. Ela entra no aplicativo do uber e pede um carro, o mesmo chega em menos de dez minutos e a deixa na frente do hotel em alguns minutos.

Assim que ela entra no hotel, ela encontra Lauren com os braços cruzados e uma cara nada boa.

- Boa tarde? - diz confusa beijando a bochecha da mesma, ela respira fundo e sente o cheiro de pós banho vindo da mais velha.

- Não precisava gastar dinheiro, o seu Márcio poderia ter te buscado. - fala desaprovando a idéia de Camila gastar dinheiro para ir a ver.

- Para de ser boba, não é justo com você. - suas mãos vão de encontro as de Lauren e segura apenas os dedos da mulher.

- Mas não precisa. - suspira e Camila sorri vendo a birra da mulher mais velha - Vem. - começa a andar para fora da recepção indo em direção ao jardim onde os quartos ficavam localizados.

- Mulher braba. - murmura com um ar risonho fazendo Lauren parar de andar e a encarar. A mulher fica seria e levanta a sobrancelha para ter certeza do que tinha acabado de ouvir.

- O que?

- Mulher braba. - repete e Lauren solta a sua mão.

- Vou te mostrar a mulher braba. - sua voz sai em um tom de ameaça e divertido.

Camila solta uma risada e se põe a andar na frente da mulher para o quarto vendo que ela estava parada no mesmo lugar. Quando Camila vira seu rosto em direção a mesma, Lauren começa a andar apressadamente atrás de Camila, quase que correr e a outra corre em direção ao quarto.

Assim que ela entra no quarto, deixa a porta aberta e Lauren entra como um furacão fechando a porta atrás de si. Seus olhos percorrem a suíte a procura de Camila e vê a mulher entre os travesseiros.

- Vem cá, eu vou te mostrar a mulher brava. - fala soltando uma risada se aproximando da cama e se joga em cima de Camila antes mesmo que a mulher possa fugir.

- Me solta. - Camila fala já rindo apenas por pensar que receberia cócegas.

- Nem pensar. - nega com a cabeça segurando os pulsos de Camila, leva seus braços para cima da cabeça dela e senta sobre sua barriga.

- Não faz cócegas, pelo amor de Deus. - Camila implora vendo Lauren a olhar atenciosamente com um sorriso divertindo no rosto que não deixava seus dentes amostra - Lauren, pelo... - antes que diga algo, Lauren cola seus lábios a calando com um beijo deixando Camila fora de órbita por alguns instantes.

Ela solta um grito assim que uma das mãos de Lauren solta seu pulso e começa a fazer cócegas, agora com uma única mão prendendo os braços da mais nova em cima de sua cabeça.

- PARA CARALHO. - Camila grita se contorcendo em baixo da mulher - Inferno, MULHER PARA. - xinga entre risadas e gritos desesperados.

- Lindinha. - Lauren ri alto beijando sua bochecha e saí de cima da mesma ao ver seu rosto vermelho - Vou fazer pipoca, pode escolher o filme na televisão. - aponta para a televisão que estava na parede.

Camila começa a tossir quando seu riso vai parando aos poucos e põe as mãos sobre a barriga sentindo a mesma doer pela pequena sessão de tortura a poucos segundos.

- Camila? - Lauren grita da cozinha.

- Que foi, caralho? - grita de volta demonstrando seu mal humor depois das cócegas fazendo Lauren tombar a cabeça para trás e rir.

- Você está perfeitamente linda. - responde fazendo um sorriso bobo crescer nos lábios da cearense e o mal humor evaporar no mesmo.

As duas assistem vários filmes abraçadas, dentre eles comédias românticas, suspense e terror. Na metade do terceiro filme, Camila acaba por dormir nos braços de Lauren, ela estava cansada e com o cafuné que ela recebia de Lauren, ela não conseguiu resistir ao sono.

- Não se assus... - Lauren começa a falar assim que o filme de terror termina mas se cala ao sentir o corpo de Camila relaxado sobre o seu.

Um sorriso aparece nos lábios da mais velha ao ver o rosto adormecido do Camila que estava apoiado em seu ombro. Ela aproxima seus lábios da testa de mesma e deixa um beijo na testa da mesma.

Camila se mexe e abraça Lauren com ainda mais firmeza deixando impossível que ela saía dali sem a acordar. Lauren fica a olhando de perto, seus olhos passam por todo o rosto de Camila decorando cada detalhe da mulher cujo era dona de seus pensamentos a semanas.

- Perfeita. - sussurra deixando um beijo na ponta do nariz de Camila e a abraça de volta com a mesma firmeza.