Epílogo
Nove anos haviam se passado e como um presságio de que coisas muito boas estavam por vir, Cecília recebeu a notícia de que estava grávida incrivelmente no mesmo dia em que recebeu alta da terapia.
A mulher já estava naquele ciclo de sessões com vários psicólogos há oito anos. Fizera aquilo em uma tentativa de se curar de todas as feridas causadas por Renan Medeiros.
E ela havia conseguido resignificar todos os traumas do passado, sim, principalmente com o apoio de Leonardo, da filha e dos amigos.
A mulher então resolveu preparar uma surpresa bem fofinha, para contar ao marido e para a primogênita, a notícia de que a família iria aumentar.
A pequena filha Olívia, que havia completado nove anos, vinha pedindo uma irmãzinha há muito tempo, mas Cecília só se permitiu viver aquela dádiva novamente agora, que já estava curada dos seus piores traumas.
Ela queria que tudo fosse simples, claro e maravilhoso, sem complicações da sua mente para atrapalhar aquele momento incrível.
Cecília então caminhou até em casa e encontrou o esposo cuidando de Olívia. Leonardo vinha sendo um paizão para a menina, mesmo não sendo o pai biológico dela.
O homem estava sentado na mesa da sala de estar com a garotinha sentada em um dos seus joelhos, enquanto eles brincavam de cafeteria.
Aquele era um ritual sagrado na tarde dos dois, que passavam horas dando gargalhadas juntos, enquanto imitavam atendentes e fregueses muito malucos, que sempre pediam as coisas mais inusitadas na cafeteria particular deles.
Leonardo tinha uma paciência enorme e sempre aceitava ser o cliente cobaia no estabelecimento de mentirinha de Olívia.
― Oi, meus amores! ― Cecília disse, dando um beijo na cabeça da filha e logo em seguida, beijando os lábios do marido. ― Tenho uma surpresa para vocês...
― Surpresa, mamãe? ― perguntou Olívia com animação. ― Papai, a gente pode brincar outra hora então?
― Claro, princesa! ― Leonardo disse, beijando a bochecha da filha. ― Agora vamos ver o que a mamãe tem para nós!
― É isso mesmo, eu tenho uma surpresa para os meus dois amores ― Cecília disse, colocando uma pequena caixa na frente deles. ― Abram!
Leonardo olhou por um instante dentro dos olhos muito expressivos da esposa e então sorriu, abraçando uma Olívia muito irrequieta, que pululava em seu colo.
― Abra a surpresa para o papai, Oli! ― Leonardo pediu, totalmente compenetrado naquele momento.
Ao Olívia levantar a tampa da caixa com suas mãos pequenas, eles encontraram um pequeno sapatinho de bebê ali no centro e na tampa da caixa havia uma mensagem colada, com os seguintes dizeres: VOCÊS FORAM PROMOVIDOS A IRMÃ MAIS VELHA E A PAPAI EM DOBRO!
Leonardo olhou aquilo tudo somente por um segundo, sendo dominado então pela emoção. Em seguida se ergueu de uma só vez, com Olívia em seus braços e então foi logo abraçar a esposa.
― Isso é sério? ― ele perguntou, com os olhos marejados.
― Sim e também devo te contar que recebi alta da terapia hoje, então eu posso dizer é um dia muito feliz!
― Mamãe, finalmente vocês vão me dar a Gabriela! ― Olívia disse, dando risadas e pulando no colo do pai. ― Eu nem quero presente de aniversário ou de Natal, pois agora eu vou ter uma irmãzinha para eu brincar.
― Olívia, o papai já te disse que pode ser que não venha uma irmãzinha, mas sim um irmãozinho! ― Leonardo advertiu, com medo da menina ficar frustrada.
― É uma menina sim, papai! ― ela disse, de maneira sabida. ― Os anjos já me contaram tudo nos sonhos.
Em seguida os três se abraçaram e se beijaram, fazendo planos para a vinda do bebê. E quando Cecília foi se arrumar para o trabalho, Olívia pediu para o pai que cantasse para ela dormir.
O homem cantava para ela todos os dias, desde quando Olívia era ainda um bebê de seis meses e ele havia se apaixonado pela garotinha, assim que pôs os olhos sobre ela e então, a partir daquele instante, havia passado a ser o pai dela, assumindo-a de todo o seu coração.
Deitados na cama de Olívia, a menina passou a acariciar os cabelos macios e muito negros do pai, enquanto olhava para o homem que mais admirava no mundo.
― Papai, canta a música do sabiá? ― ela pediu, pois ultimamente estava viciada naquela canção.
― Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho, voou...voou...voou...voou. ― Leonardo cantou, enquanto ele e a garotinha se olhavam nos olhos e um acariciava o cabelo um do outro. ― E a menina que gostava tanto do bichinho chorou... chorou... chorou... chorou. Sabiá fugiu do terreiro e foi cantar no abacateiro. E a menina vive a chamar: vem cá sabiá, vem cá! A menina diz soluçando: sabiá, estou te esperando! Sabiá responde de lá: não chores que eu vou voltar!
Olívia olhou vidrada para o pai, enquanto ele carinhosamente a aninhara em seu ombro.
― Papai, por que o sabiá não quis viver na gaiola junto com a menina? ― ela perguntou, interessada, mas também já muito sonolenta.
― Porque ninguém gosta de viver aprisionado, Oli! ― ele disse, acariciando os cabelos cacheados e em tom de caramelo da garotinha. ― É possível apreciar a beleza das coisas e das pessoas, sem precisar trancafiá-las só para a gente.
― Do abacateiro todo mundo pode ouvir o sabiá cantar, não é? ― ela perguntou, sorridente. ― É só a menina ir se encontrar com ele no terreiro não é, papai?
― É isso mesmo, princesinha! ― ele disse, beijando a testa dela.
― Papai, quando a Gabi nascer você canta a música do sabiá para ela também?
― Claro que sim! ― ele respondeu, muito sorridente.
― Será que ela vai ser linda como você, papai? ― ela questionou, curiosa. ― Eu queria ser igual a você!
Leonardo sabia que aquilo não era possível, pois ele não era o pai biológico dela, mas esse fator em nada lhe importava. Ele amava a Olívia com toda a sua alma, exatamente como ela era.
― Eu não sei como ela vai ser, mas de uma coisa eu sei, minha pequena: eu queria que você fosse exatamente como é!
Olívia sorriu uma última vez, antes de mergulhar em um sono profundo.
Leonardo ficou olhando a menina dormir, sabendo que de uma forma inexplicável, ele havia nascido para ser o pai daquela garotinha.
Afinal, o amor não poderia ser explicado através da genética, mas sim, pelas pequenas e grandes nuances do coração.
Ele se levantou e olhou as fotos dos dois juntos, com o coração batendo palmas de alegria, agora que ele sabia: em breve seria papai em dobro!
E não tinha nada que lhe fizesse mais feliz que aquilo, tanto que havia optado por fazer o seu trabalho ali mesmo, de casa, somente para poder cuidar e aproveitar cada instante da infância de Olívia.
E agora ele teria ainda mais um serzinho para apreciar.
Leonardo suspirou profundamente, pensando que se aquilo não era ser verdadeiramente um pai, então ele não sabia o que mais poderia realmente ser.
E no final de tudo, aquela conexão que tinha com Olívia também era perfeita, assim como a que sempre tivera com sua esposa, Cecília.
FIM.
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