Capítulo 8
Acordaram cedo no outro dia, sendo chamados pela recepcionista, que queria que eles deixassem o quarto e fossem embora.
Vestiram as roupas correndo, que pareciam tão antiquadas para uma manhã de sol e então saíram para acertar a conta.
Preocupados com o que encontrariam na hospedaria, mas sabendo que não tinham como escapar, tomaram um táxi e pararam algumas ruas antes.
Caminharam silenciosos e atentos, até chegarem ao hall da pensão.
Mrs. Penny estava sorridente e os olhou com suspeita ao os ver chegarem juntos pela manhã.
— A noite foi boa, hein?! — ela disse, com um sorriso malicioso nos lábios.
— Foi sim — disse Cecília, se fingindo de desentendida.
— Alguém esteve aqui procurando por nós? — perguntou Leonardo, que não conseguia sair do modo alerta.
— Não, queridos — disse Mrs. Penny. — Estão esperando mais amigos?
— Na verdade, não — disse Leonardo. — Na verdade gostaria que não dissesse a ninguém que estamos aqui...
Cecília sentiu que estavam entrando em águas profundamente perigosas.
— Estão fugindo da polícia? — a mulher perguntou, assustada.
— Não! — Leonardo disse, sem desviar os olhos da mulher. — Mas do ex-namorado furioso dela sim.
Soltou uma gargalhada para descontrair.
— Romance proibido, sim?! — a mulher disse, gostando muito daquela situação. — Pode deixar que ninguém vai atrapalhar os pombinhos!
Logo em seguida foram para a saleta, de onde desfrutaram de um delicioso desjejum.
— Você não deveria ter feito isso! — Cecília ralhou, somente para disfarçar o quanto havia gostado. — Agora ela está achando que somos um casal apaixonado que fugiu para transar.
Leonardo a encarou com um sorriso divertido nos lábios.
Ele era uma incógnita para Cecília e aquilo a deixava louca.
— Ela já achava isso! — ele disse e deu de ombros. — E é melhor isso do que o Renan descobrir onde estamos. Precisamos falar com o Sam e com o Diogo e meter o pé daqui para outro lugar.
— Eles vão ficar putos de não poderem conhecer melhor a cidade — ela disse, com desgosto. — Ainda mais agora que reencontraram as gêmeas.
— Tenho certeza que vão se importar mais com a sua segurança do que com qualquer outra coisa — Leonardo disse, como se aquilo fosse simples demais.
— E você? Deve estar me odiando mais ainda por tudo isso, né? — ela disse, sabendo que não tinha o direito de estragar a viagem dele e percebendo então que se importava com isso mais do que queria.
— É bom ter algo para contar para os meus netos — ele disse, de maneira descontraída.
Cecília não segurou o ímpeto e também sorriu, pois mesmo sabendo que ele voltaria a agir como um ogro, ele estava sendo gentil e querendo animar ela.
A moça amava quando ele era carinhoso, mas nunca podia esperar quando Leonardo voltaria a agir com animosidade, então sempre se defendia antecipadamente.
Estava tão cansada de apanhar da vida, que às vezes acabava sendo agressiva gratuitamente.
— Não sabia que tinha a intenção de casar e ter filhos — ela disse, curiosa em saber mais do rapaz que sempre foi muito misterioso. — Na verdade não consigo imaginar quem possa conseguir te aturar.
Ela falou aquilo só para provocar o rapaz, então não desviou os olhos dele, observando cada expressão que ele viesse a fazer.
Leonardo soltou uma risada debochada e fixou seus olhos negros nela, ficando parcialmente taciturno.
— Você não sabe exatamente nada sobre mim! — falou e nesse instante não havia o menor sinal de brincadeira em suas palavras.
Ele havia ficado instantaneamente sombrio, fazendo a moça recuar de volta para detrás da sua armadura.
Cecília também voltou a ficar calada e obscura ao pensar em tudo o que escondia sobre si e sobre a vida.
Foi interrompida de seus medos e devaneios pela chegada de Diogo e Samuel, que estavam mais amassados do que nunca.
— Que história é essa que a Mrs. Penny acabou de contar de que vocês são um casal? — Samuel perguntou, desconfiado.
— Não percebeu que estava rolando um clima, brother? — Leonardo perguntou, fazendo troça do amigo.
Samuel ficou calado e encarou a prima, que continuou muda e quieta. Estava tão amuada, que nem ligou para a brincadeira.
— Estamos brincando — Leonardo disse, agora em tom sério. — Dormimos fora porque o Renan Medeiros veio aqui atrás da Cecília.
— O quê? — perguntou Samuel. — Por que ele a está seguindo e como a encontrou?
Vendo que Cecília estava abalada para responder, Leonardo tomou frente na situação.
— Provavelmente rastreou o celular dela — ele disse, trincando os dentes de ódio. — Mas não podemos esquecer que ele é um bandido e que não quer boa coisa.
Cecília não se dignou a defender o ex-namorado, pois tudo aquilo era verdade.
— Você quis vir com a gente para fugir dele? — Samuel perguntou com cuidado.
Cecília apenas abanou a cabeça positivamente.
— Nós precisamos ir embora de Montreal — anunciou Leonardo. — Por mais que eu não tenha medo do Renan, sei que ele é sujo e pode nos prejudicar.
— Tudo bem — disse Diogo, que pegou na mão de Cecília e a apertou.
— Eu sinto muito por atrapalhar vocês de conhecerem o resto da cidade — Cecília lamentou com sinceridade.
Samuel abraçou forte a prima e beijou o topo de sua cabeça.
— Você é mais importante e podemos voltar a qualquer hora — ele disse, com cuidado e carinho. — E, aliás, Isla e Savana nos convidou para irmos com elas para Skagway conhecer o Alasca. De lá iríamos para Vancouver ou Ottawa e depois para a África.
— E como iríamos para lá? — perguntou Cecília.
— As meninas têm um barco particular, mas hoje em dia também é possível o acesso por terra — respondeu Diogo. — Para nós seria uma alegria passar mais um tempo com elas e ainda mais conhecer o Alasca.
— Vocês sempre gostaram delas, né? — Cecília perguntou para os meninos, percebendo o motivo pelo qual nunca haviam se envolvido profundamente com outras pessoas.
— Sempre! — Samuel respondeu, sem vergonha.
— Por mim está ótimo! — disse Leonardo. — Quando iremos?
— Vamos ligar para elas enquanto vocês tomam banho — disse Diogo, em tom de deboche. — Vocês estão ridículos com essas roupas a essa hora do dia.
Leonardo e Cecília se encaminharam cada qual para um quarto, tomaram banho e trocaram de roupa. Quando voltaram, Diogo e Samuel já tinham arrumado as coisas e pagado a conta com Mrs. Penny.
— Isla e Savana vem nos buscar — disse Samuel. — Iremos de trem até Vancouver e de lá pegamos o barco particular delas para ir até Skagway. Vai ser uma viagem maravilhosa e lá Renan não poderá nos encontrar!
Cecília ficou calada, mas percebeu que os rapazes estavam mesmo animados.
Quando saíam para pegar a minivan de Isla e Savana, Mrs. Penny correu para se despedir deles.
— Quando voltarem a Montreal, venham me ver — ela disse. — E quando vocês dois tiverem um bebê, me mande uma foto! — falou animadamente para Leonardo e Cecília.
Leonardo olhou divertidamente para a senhora e sorriu.
— Pode deixar! — ele falou, ao perceber que Samuel e Diogo já estavam na minivan.
Cecília ficou perplexa com a ousadia do rapaz, mas resolveu que não valia a pena falar nada. Queria sair o quanto antes dali.
Já dentro da minivan, Isla chamou a atenção do grupo, falando sobre o barco delas.
— O barco possui três cabines com camas de casal — ela disse. — Nós temos um piloto muito discreto. Quando atracarmos para abastecer e conhecer algumas localidades, ele aproveitará para descansar. Mas não se preocupem com a presença dele, pois é realmente muito discreto.
— Obrigado por nos levar nessa viagem! — disse Leonardo, que imaginava que as gêmeas haviam chamado apenas Diogo e Samuel.
— É um prazer! — disse Savana. — Amamos Skagway. Já lemos muitos romances que se passaram lá, mas nunca tivemos a oportunidade de irmos com alguém especial.
Leonardo logo percebeu que as gêmeas e os amigos viam a viagem como uma lua de mel.
— Então se não se importarem, queríamos que você e a Cecília dividissem uma cabine... — falou Isla.
Saber que os amigos passariam o próximo mês fazendo amor à bordo de um barco de luxo, deixou Leonardo particularmente desanimado, mas não diria nada e nem abandonaria a viagem.
— Por mim tudo bem — disse ele.
— Por mim também — respondeu Cecília, que apesar de incomodada, seria incapaz de reclamar, afinal as meninas a estavam salvando.
Isla sorriu profundamente e Samuel retribuiu, mostrando o quanto a amava e sempre havia amado.
Cecília fechou os olhos e tentou adormecer por alguns segundos, lutando para não vomitar de nervoso.
Tendo descartado o seu celular, sabia que não tinha mais nenhuma maneira de se comunicar com quem precisava.
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