Capítulo 6
No outro dia decidiram logo pela manhã que deveriam conhecer as outras praias da ilha de Roatan, pois em breve seguiriam viagem.
Em comum acordo, combinaram de voltarem antes do planejado para La Ceiba e pegarem um voo para New York, para que Cecília pudesse conhecer a magnífica Big Apple.
Ficariam lá apenas por uma noite e já na manhã seguinte, viajariam diretamente para Montreal.
Passaram um dia movimentado em Pristine Bay e West End, conversando e conhecendo os nativos da ilha, assim como aprendendo mais sobre a cultura hondurenha.
Voltaram à West Bay no início da noite e todos pareciam exaustos demais de tanto pegar sol e nadar nas águas salgadas e paradisíacas do Mar do Caribe.
Decidiram que já bem cedo no dia seguinte voltariam a La Ceiba e encontrariam um voo para NY.
Sentados na beira da praia, olhando o mar e comendo peixe assado, resolveram conversar mais sobre a trajetória que fariam ao redor do mundo.
─ Eu acho que depois do Canadá devemos ir para a África e depois para a Austrália... ─ opinou Samuel.
─ Depois partiríamos para alguns destinos na Ásia, indo logo depois para a Europa ─ disse Diogo.
─ Depois da Europa deveríamos conhecer mais algum país da América do Sul, voltando por fim para o Brasil ─ finalizou Leonardo. ─ Porém, depois de voar do Canadá para a África, deveríamos buscar por conduções alternativas, para que tenhamos dinheiro para conhecer mais lugares.
─ Ótima ideia! ─ exclamou Samuel. ─ Quais lugares tem vontade de conhecer, prima?
O rapaz se virou para Cecília, que estava estranhamente taciturna e pensativa.
─ Eu tinha vontade de conhecer a Tailândia e a Indonésia, mas para mim tanto faz! ─ falou, dando de ombros.
Leonardo que era muito observador, percebeu que algo não ia bem com a garota, mas não eram mais próximos para que pudessem conversar.
Como ela era orgulhosa, ele suspeitava que estivesse incomodada com o fato de não estar ajudando nas despesas.
─ E você, Jean? Não vai nos acompanhar? ─ perguntou Diogo ao velho amigo.
─ Infelizmente não tenho condições de fazer esse tipo de viagem no momento ─ ele disse, com um sorriso no rosto. ─ Mas seguirei pegando carona e conhecerei outros países aqui da região, depois irei até o Peru e por fim, irei conhecer a Amazônia.
─ Com certeza também será uma viagem valiosa ─ afirmou Diogo, dando um tapa no ombro de Jean Carlos. ─ A gente vai se comunicando por mensagem!
Samuel começou a discorrer sobre como era apaixonado pela África e como também sempre sonhara em conhecer a Austrália. Nesse meio tempo, Cecília pediu licença e foi caminhar mais perto do mar.
A brisa marítima estava gostosa e ela adorava ver a lua e as estrelas, ainda mais tão perto do oceano.
Leonardo se levantou logo em seguida, pois não podia negar que estava incomodado com o olhar de Cecília. Ele começava a pensar que os pensamentos da garota estavam em Renan Medeiros e ele precisava saber, pois não iria permitir que aquele pária destruísse a viagem da sua vida, assim como havia destruído várias outras coisas.
Deixou os rapazes conversando e se aproximou de Cecília, que tentou o ignorar. Mas ele insistiu em seguir a moça.
─ Se veio me passar sermão porque eu te beijei e acabei com o seu romance, pode voltar! ─ ela silvou, já na defensiva, pois a verdade era que não sabia agir de outra maneira mais, depois de tanto ser usurpada pela vida. ─ Você também me beijou na outra noite e eu não dei nenhuma pirraça por isso.
─ Eu não me importo! ─ ele disse. ─ Eu não queria magoar a Louise, mas a verdade é que eu não queria formar casal e nem que ela nos acompanhasse nessa viagem também...
─ Então o que você quer comigo? ─ Cecília perguntou, sabendo que ele não costumava ser amigável e que ela não deveria ser também, como forma de se proteger depois de tanto apanhar.
Havia sofrido muito quando a amizade deles acabou e sentia que precisava se defender de todo mundo, para não ser ainda mais destruída pela vida.
Leonardo a segurou pelo braço, para que pudesse olhar em seus olhos e perguntar o que precisava.
Cecília pareceu não gostar, mas parou de andar e o encarou.
─ Naqueles meses em que você ficou sumida foi o Renan que te prendeu em casa? ─ ele foi direto ao ponto e ela se assustou, pois achou que o rapaz nunca notaria a sua ausência.
─ Não! ─ ela respondeu, começando a ficar arredia, por medo de ele descobrir toda a verdade que ela escondia. ─ Por que isso lhe interessa?
─ Você está fugindo dele? ─ Leonardo ignorou a pergunta dela, segurando Cecília para que ela não fugisse. ─ Quando você sumiu, pensei que ele pudesse a estar mantendo em cárcere. Ele já fez isso antes, com uma garota que conheci no La Cave, quando ainda estávamos no Ensino Médio...
Cecília tentou desviar os olhos dos dele, mas ele ergueu a face da moça com a mão livre.
─ Eu já não estava com ele ─ ela disse, sentindo as lágrimas queimarem nos olhos e um bolo se formar em sua garganta.
─ Então você estava se escondendo dele... ─ Leonardo afirmou e Cecília sentiu medo, pois ele estava chegando muito perto da verdade.
Ela não queria arriscar que Leonardo soubesse tudo, pois era perigoso.
─ Pare de se importar tanto com o Renan! ─ ela disse, tentando fugir daquela conversa. ─ Ele nem se lembra da sua existência. Eu sei que o que aconteceu com a sua irmã foi horrível, mas ele não tem nada a ver com isso!
Nem mesmo Cecília acreditava mais naquilo, mas precisava afastar o rapaz, ou então ele descobriria todos os seus traumas e segredos.
Leonardo ficou irado, mas tentou se controlar e não deixar que ela visse que tudo aquilo lhe afetava profundamente.
─ É claro que ele se importa muito com a minha existência ou então nunca teria... ─ ele pausou as palavras, não querendo que ela soubesse de seus sentimentos e nem mesmo dos de Renan. ─ Eu vejo que mesmo ele tendo te feito mal, você continua defendendo esse patife, então não vou me preocupar e nem falar mais nada.
Leonardo fez menção de se afastar, mas Cecília o puxou pela camisa, para que ficasse.
─ Você não sabe nada dos meus sentimentos! ─ ela disse, sentindo que estava à beira de um abismo. ─ E eu gostaria de saber o que ele não teria feito, hein?!
─ Você que pensa que não, mas os seus olhos são transparentes demais ─ ele cuspiu as palavras, como se elas fossem fel. ─ Eu só espero que esse sujeito não venha atrás de você, pois isso eu não irei aceitar!
Leonardo ignorou o que ela mais queria saber e saiu em disparado para a casa onde estavam hospedados.
Cecília sentou na areia e começou a chorar.
A verdade era que aquele era o ponto que ela não queria que ninguém desconfiasse. Para seu próprio bem, desejava que Renan e seu relacionamento com ele fossem esquecidos.
─ Ele não pode nunca descobrir onde estamos ─ ela falou para o mar, como se o universo a pudesse a ajudar. ─ Nunca mesmo!
Cecília se rendeu ao pranto e então voltou a se lembrar de tudo o que havia vivido nas mãos de Renan, logo após o fatídico dia em que havia perdido a virgindade.
Nos meses que se passaram depois da festa de quinze anos de Cecília, as coisas ficaram mais confusas e estranhas, pois Renan não deixava que ela falasse direito nem mesmo com o Samuel e com o Diogo mais.
Dava crises extremas de ciúmes e como Cecília era rebelde e insistia, passou a deixar que ela saísse de casa só quando ele estava junto.
Logo ele a mudou de colégio e sempre que algum familiar perguntava pela moça, agia como se estivesse tudo bem.
Os pais de Cecília estavam de boa com o fato de ela morar ali e disseram que iriam emancipar a garota, assim que ela fizesse dezesseis anos.
Então até ali, era Renan quem tinha controle sobre a vida de Cecília.
Naquele tempo a única menina que era mais próxima dela no colégio, estava indo para um convento no Rio Grande do Sul e então, Cecília passou a se sentir completamente sozinha no mundo.
Renan agia com possessividade, mas estranhamente, pedia que a garota usasse vestidos sensuais, quando eles iriam sair de casa.
Nesses momentos ele era carinhoso com Cecília e ficava beijando a garota o tempo todo, sempre que tinha pessoas por perto. E ficava ainda mais meloso, quando os melhores amigos da moça estavam por ali.
Cecília havia tentado conversar com o Leonardo pela internet, mas ele a bloqueou logo que recebeu a primeira mensagem.
Renan havia comprado para a moça e a obrigado a tomar remédio anticoncepcional e só falava com Cecília dentro de casa, quando queria transar com ela.
Por sorte ele passava muito tempo fora, trabalhando nas coisas misteriosas dele e então, Cecília não tinha que ficar demonstrando que gostava muito dele.
Como ela se sentia sozinha, tentou arrumar um cachorro para si, mas o animal apareceu envenenado logo na primeira semana, o que a deixou desolada e depressiva.
A moça passava muitas horas do seu dia chorando e muitas vezes, nem se alimentava direito.
No entanto, quando ia ver alguém da família, era obrigada a comer até quase fartar.
Porém, Cecília tinha medo de denunciar Renan, pois ele ameaçava as pessoas que ela mais amava no mundo.
E com o medo, ela apenas seguia o fluxo que a mantinha aprisionada.
Depois daquela conversa tensa entre Leonardo e Cecília, ambos ficaram bastante soturnos. Samuel e Diogo só não perceberam, pois estavam extasiados demais com a viagem.
Então conversaram até a hora de dormir sobre aonde queriam ir e o que fariam nas próximas paradas.
Quando o outro dia amanheceu, todos arrumaram as suas coisas e pegaram a balsa de volta para La Ceiba. No trajeto, Leonardo e Cecília não trocaram um olhar ou palavra e o único que percebeu a tensão foi Jean Carlos, mas nada comentou.
Quando atracaram em La Ceiba, se encaminharam para um restaurante, almoçaram e depois se despediram de Jean Carlos, que lhes arrumou um táxi confiável para os levar até o aeroporto.
Haviam conseguido um voo para NY ainda durante a tarde, o que lhes permitiria passar aquela noite na Big Apple.
Chegaram em Nova York nas últimas horas antes do entardecer e logo tomaram um táxi para Manhattan.
Cecília se maravilhou com toda a movimentação da cidade e a aura agitada que os envolvera, que até se esqueceu dos problemas.
Durante a sua infância havia sonhado conhecer a Quinta Avenida e o Central Park.
Manhattan era tão colorida e iluminada, com seus arranha-céus, que ela imaginou que era impossível ser triste ali, no meio de milhares de pessoas que caminhavam em meio àquelas luzes.
Samuel e Diogo começaram a falar que um dia deveriam voltar aos EUA e irem direto para Las Vegas e depois conhecer o que a noite da Califórnia podia lhes oferecer.
Leonardo continuara calado, mas como ele era uma pessoa de poucas palavras, ninguém percebeu que ele estava cheio de tempestades em sua mente.
Depois de se divertirem e comerem em algum restaurante em Manhattan, se encaminharam para o hotel, para que pudessem dormir.
No outro dia logo pela manhã voariam para Montreal.
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