Capítulo 4
Era noite e Cecília ainda não havia voltado do passeio na praia. Samuel começou a ficar apreensivo e Leonardo se ofereceu para ajudá-lo a procurar.
Porém, percebendo que Louise queria a companhia do moreno, Diogo se ofereceu para ir em seu lugar.
Encontraram Cecília sentada em um canto isolado da praia. Estava pensativa e a olhar o mar.
― O que está fazendo aqui? ― questionou Samuel. ― Eu estava preocupado contigo!
― A verdade é que preferi ficar sozinha do que na companhia daquela menina grudenta ― ralhou Cecília, embirrada e tomada por uma inveja que nunca imaginaria que sentiria algum dia. ― Não sei como suportam um grude como aquele, que fica forçando aproximação a todo momento.
― Está falando da Louise? ― perguntou Diogo, de uma maneira divertida.
O rapaz se aproximou de Cecília e fez uma festa em sua cabeça. Ele gostava muito da sinceridade da garota e era por isso que nunca se incomodara com a presença dela no grupo.
Ela não era manhosa e nem puritana. Nunca comentava nada que os rapazes fizessem e estava sempre pronta para os maiores desafios.
― Você sabe que ela está querendo nos seguir para o Canadá? ― perguntou Samuel.
― Sim e fiquei bastante incomodada por ela saber o nosso próximo destino antes de mim ― ela foi direto ao ponto, sem dar um único sorriso.
―
Desculpe, prima ― disse Samuel. ― Eu acabei esquecendo de te falar.
Cecília deu de ombros, como se aquilo não importasse na verdade. Estava tão conturbada, sem entender os próprios sentimentos, perdida na própria mente, que aquilo era o de menos.
― Eu também não queria que elas fossem com a gente ― falou Diogo diretamente. ― Vou ver se o Leo consegue fazer elas desistirem.
Cecília achava difícil aquela ruiva desesperada desistir de ir atrás deles, mas só se pôs a caminhar em direção da casa onde estavam, em silêncio.
Nunca havia odiado tão gratuitamente uma pessoa antes e se assustou com isso. Cecília sabia que estava sendo ridícula, mas não conseguia se controlar naquele instante.
Quando chegaram lá, Louise estava choramingando, com medo de que algum caranguejo subisse em seu saco de dormir durante a noite.
De saco cheio da presença daquela garota e decidida a afastá-la de Leonardo, Cecília decidiu que não estava a fim de ser obrigada a ouvir as lamúrias daquela escocesa.
― Deixa de ser fresca, garota! ― falou Cecília. ― Você vem para um mochilão e acha que iria encontrar uma cama de palácio para você dormir? Se está insatisfeita, junte as suas coisas e vá embora!
― Não queria falar nada não, mas a Ceci tem razão ― disse Diogo. ― Estamos em um paraíso como esse, não sei por qual razão alguém poderia perder tempo por causa de uns caranguejos. Devia era estar grata pelos pescadores nos darem abrigo.
Leonardo se aproximou de Louise e colocou a mão no ombro dela.
― Se não está preparada é melhor desistir, pois com certeza vai haver coisas piores no futuro ― ele disse, com franqueza e sinceridade.
― Vocês têm razão ― ela disse manhosamente. ― É uma besteira!
Em seguida fez-se uma fila para tomarem banho em um chuveiro precário, onde a água era fria.
Cecília estava torcendo para que aquela experiência fizesse as escocesas desistirem, mas se isso não acontecesse, teria que colocar as suas artimanhas em prática, pois não aguentaria muito mais na companhia de Louise, sem que enlouquecesse.
A verdade era que a garota escocesa havia acendido nela sentimentos desconhecidos e muito preocupantes, e Cecília sentia medo de sua própria mente naquele instante.
Depois do banho se encaminharam para uma festa que acontecia ali perto e Cecília decidiu que queria ir bem bonita, então colocou um vestido florido que havia levado e logo apanhou uma flor exótica que havia ali perto e a espetou no cabelo.
Todos elogiaram a sua beleza e ela pôde sentir que Louise havia ficado mordida, sentindo ciúmes de Leonardo. Então Cecília percebeu exatamente o que deveria fazer para que pudesse as afastar para bem longe e pudesse enfim, parar de enfrentar os monstros que sua mente lhe apresentavam naquele instante.
Vivendo tantos anos convivendo basicamente só com Renan, Cecília não sabia mais como agir adequadamente no meio daquelas pessoas, que de uma forma assustadora, ativavam gatilhos tão grandes dentro dela.
Já na festa, Cecília pegou uma pina colada e começou a dançar, enquanto um reggaeton ribombava no ar.
Enquanto rebolava com sensualidade, percebeu muitos olhares da festa se voltarem para ela. Cecília esperou Louise e Beth irem procurar um banheiro e também Samuel e Diogo saírem atrás de um rabo de saia, para se aproximar de Leonardo. Ela logo o puxou para dançar.
O rapaz a encarou com um olhar interrogativo, mas não se afastou. Cecília acreditou que talvez ele pensasse que ela estivesse em apuros e precisasse da sua ajuda para afastar algum homem inconveniente.
O que o rapaz não sabia era que Cecília queria afastar a companheira irritante de Leonardo, pois pensava a todo instante no beijo que ele havia lhe dado em Tegucigalpa e não desejava vê-lo beijando mais ninguém, mesmo que não tivesse esse direito.
Colou seu corpo ao dele e começou a rebolar, de maneira sensual. Hora ou outra olhava dentro dos olhos do rapaz e pôde notar um brilho misterioso e quente em seu tom de azeviche.
Como gostaria de saber o que ele estava pensando, mas não teve muito tempo para se questionar sobre isso, pois logo Louise se aproximou deles, completamente histérica, ameaçando bater em Cecília.
― O que é isso? ― berrou, avançando para cima de Cecília e Leonardo.
Todos da festa voltaram os seus olhares para eles, interessados na briga.
― Pare de dar cena, Louise! ― pediu Beth.
― Estamos apenas dançando ― falou Cecília, que empurrou Louise de volta para a amiga. ― Não conhece?
O ar de deboche de Cecília divertiu Leonardo e indignou Louise. A verdade era que a bebida não permitia que nenhum dos dois raciocinasse direito naquele instante.
― Tire as suas mãos de cima dele! ― berrou Louise. ― Afaste-se dela, Leonardo!
― Pare de dar cena! ― ele falou, começando a sentir raiva do ataque de ciúmes da ruiva, pois eles não eram namorados. ― Estamos apenas dançando.
― É, nós estávamos apenas dançando ― disse Cecília. ― Mas já que resolveu dar seu ataque de loucura, não vou fazer você passar vergonha à toa.
Com rapidez Cecília se pôs na ponta dos pés e puxando Leonardo pelos cabelos, colou seus lábios nos dele, enfiando a língua para dentro da boca dele com bastante lascívia.
A moça sentiu todo o sangue ferver ao sentir os lábios dele sendo pressionados ainda mais fortes contra os seus.
Sentia raiva de si mesma por desejar aquele rapaz que a havia ignorado por anos, mas naquele instante o desejava com bastante intensidade.
Louise saiu gritando e chorando e para o espanto de Cecília, Leonardo retribuiu o beijo, da mesma maneira intensa e quente com que a beijara em Tegucigalpa.
Ao perceber que seu corpo estava completamente quente e que o beijo já se estendia durante algum tempo, Cecília se afastou de Leonardo e ao perceber que não havia nem sinal das escocesas, se afastou para bem longe dali, mesmo quando o ouviu gritar pelo seu nome.
Estava decidida a provocar, mas não imaginara que iria tão longe para se livrar de Louise.
E não imaginava que se sentiria tão vulnerável ao beijar aquele rapaz, mas estranhamente se sentia completamente rendida pelo toque dele.
Cecília se amaldiçoou por não ter autocontrole e por estar agindo de maneira tão maldosa, somente para sentir o prazer que seu corpo tão insistentemente lhe pedia.
Samuel e Diogo se aproximaram de Leonardo, ao saberem de toda a confusão que havia acontecido. Estavam um pouco bêbados e confusos.
― Louise veio chorando até nós, dizendo que você beijou a Cecília ― disse Samuel. ― Eu não pude saber se ela estava chapada ou louca, mas você pode me explicar o que está acontecendo e onde está a minha prima?
― Na verdade, nem eu sei o que está acontecendo ― disse Leonardo com franqueza. ― Eu e a Cecília estávamos apenas dançando, quando a Louise chegou dando um show de ciúmes. Todo mundo ficou olhando e no calor da raiva e na vontade de provocar a garota, a Cecília acabou me dando um beijo.
Leonardo deu de ombros, sem saber explicar o que se passava na cabeça de uma mulher, quando se tornava inimiga de outra. Mas a verdade era que não contaria aos amigos que ele havia retribuído o beijo de Cecília.
― E onde está ela? ― perguntou Samuel.
― Eu procurei ela quando saiu, mas não a encontrei ― disse Leonardo, com desgosto. ― Acho que está arrependida e por isso não quer falar comigo.
― Você já olhou na casa? ― perguntou Diogo.
― Não! ― admitiu Leonardo, percebendo que havia se esquecido do lugar mais óbvio.
O moreno fez menção de ir até lá, mas Samuel o impediu, achando melhor ser ele a fazer isso.
Quando entrou no depósito que fizeram de acampamento, Cecília estava deitada em seu saco de dormir e parecia tão triste e sombria, que assustou o seu primo. Samuel percebeu que as coisas da escocesa não estavam mais lá.
― O que aconteceu, prima? ― ele perguntou.
― Não se faça de sonso porque pelo seu olhar eu sei que você já sabe de tudo ― ela falou, meio sem paciência para si mesma e também para os outros.
Ela se sentia tão destruída e quebrada, que percebia até mesmo que não se conhecia mais. Cecília havia se tornado uma desconhecida para si mesma, com todos os seus dilemas mentais.
No fundo não tinha autoconfiança nenhuma, era tudo apenas marra e autodefesa mesmo.
― Você não acha que foi longe demais para somente afastar as meninas? ― perguntou Samuel. ― Eu poderia falar com o Leonardo numa boa e dizer que elas não eram bem vindas.
― Não seja puritano, Sam ― falou Cecília, sem paciência para sermão, mas a verdade era que ela sabia que havia sim, excedido os limites do que era aceitável. ― Foi só um beijo!
Quantas pessoas você já beijou nessa viagem? ― ela perguntou e ao ver que ele não iria responder, Cecília percebeu que o primo havia entendido que não podia a recriminar. ― Foi o Leonardo que pediu para você vir me xingar?
A moça acreditava que como sempre, Leonardo devia estar indignado com ela.
Cecília estava chateada com o fato do moreno talvez se irritar com ela, sendo que duas noites antes, ele havia feito o mesmo, sem aviso prévio.
― Não! ― falou Samuel, como se aquilo fosse loucura da parte dela. ― Ele só estava preocupado porque não a havia encontrado.
― E as escocesas? ― perguntou Cecília, sentindo-se quase como um bicho ameaçado e acuado.
― Foram elas que contaram para mim e para o Diogo ― ele disse e Cecília percebeu que elas queriam que o grupo brigasse. ― Mas pelo visto foram embora, pois as coisas delas não estão mais aqui.
― Já vão tarde! ― silvou Cecília, que sabia que não aguentaria mais lidar com a insegurança que a presença de Louise causava nela.
― Prima, não vamos deixar que isso estrague a nossa aventura! ― pediu Samuel.
― Claro que não! ― afirmou Cecília. ― Foi só um beijo. Mas confesso que me irritei com aquela Louise chorona e prefiro dormir a ter que ver a cara dela de novo.
Ela mentiu, orgulhosa demais para admitir que o problema era outro. E Cecília se sentia miserável demais por não ser forte o bastante para agir de outra forma.
― Então descanse, prima! ― Samuel disse e se abaixou para beijar a testa de Cecília.
O rapaz se afastou e a garota percebeu que seria impossível dormir com aquele barulho ensurdecedor, mas resolveu fechar os olhos e colocar os pensamentos no lugar.
No outro dia queria estar livre de qualquer tensão e agir como se realmente nada tivesse acontecido e principalmente, como se não tivesse sentido nada daquilo que tão fortemente sentia naquele instante.
No entanto, as memórias que a haviam tão cruelmente destruído, resolveram vir com tudo, inundando Cecília e fazendo com que ela chorasse silenciosamente, em posição fetal.
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