Capítulo 3
Diogo e Samuel chegaram no albergue já eram quase seis horas da manhã, então não tiveram tempo de dormir. Apenas tomaram um banho para se refrescarem e lavar também a ressaca da noitada que tiveram.
Passaram a noite com duas amigas mexicanas que haviam conhecido, bebendo e transando. A noite havia sido tórrida e nunca se esqueceriam de como aquela aventura havia começando muito bem.
Tomaram um remédio para dor de cabeça e uma caneca cheia de café bem forte e seguiram para o quarto, para acordarem Leonardo e Cecília.
Eles não sabiam o que havia acontecido, mas Sam desconfiava de que Leo iria ficar muito azedo por ter sido o responsável de levar Cecília para o hostel.
Não importava. Eles o recompensariam depois, deixando que ele tivesse uma noite maravilhosa de sexo na idílica West Bay.
Quando chegarem ao quarto, Leonardo já estava de pé e vestia uma bermuda preta com uma blusa branca, que destacava ainda mais a sua pele levemente morena por causa do sol.
Samuel ralhou ao ver que o amigo fazia isso, com a prima ainda a dormir no quarto.
— Minha prima não é uma rapariga para você ficar seminu na frente dela!
— Ela está dormindo, cara — disse Leonardo, em tom azedo. — E se soubesse o que ela passou ontem à noite, estaria grato por eu não sair desse quarto e ralharia era consigo mesmo por tê-la deixado sozinha.
— O que foi que aconteceu? — Samuel perguntou, começando a ficar desesperado.
Cecília era como a sua irmã e nunca se perdoaria se algo mau lhe acontecesse.
— Uma gangue hondurenha a importunou na festa — Leonardo disse, sentindo ódio daqueles homens. — Estava claro que iam forçá-la a qualquer coisa, então tive que entrar no meio e fingir que ela era a minha mulher.
— Que perigo! — disse Diogo. — Jean Carlos me disse que uma brasileira sofreu um estupro coletivo ainda no início desse mês.
— Obrigada, Leo — disse Samuel, abraçando o amigo. — E desculpa por me enfezar contigo.
— Tudo bem — disse Leonardo. — Mas precisamos ir embora daqui o quanto antes. Os bandidos nos seguiram até o albergue e por um momento achei que eles pudesse nos capturar e torturar. Mas a sorte é que tanto eu quanto a Cecília mantivemos a calma.
A história do beijo iria ficar no mais completo sigilo, ou então aquele assunto nunca acabaria. Samuel nunca o deixaria em paz se ficasse sabendo.
— Vou acordar a Cecília e vamos na próxima hora em direção a La Ceiba — disse Samuel. — O Jean Carlos já deve estar chegando junto com o dono da Kombi que vai nos levar até lá.
— Está bem — disse Leonardo, antes de fechar a sua mochila e ir em direção da saída. — Mas cuide melhor da sua prima na próxima parada!
— Prometo que em West Bay será a sua vez de ter uma noite de prazer com alguma gostosa — Samuel disse e então Leonardo saiu do quarto.
Quando o loiro acordou a prima, ela se levantou e perguntou se poderia tomar um banho rápido. Ela entrou, juntou suas coisas e se encaminhou para o banheiro.
Ao sair, os três rapazes já a esperavam na recepção, com um lanche para ela comer no caminho, pois a Kombi já estava estacionada.
Junto com eles iriam Jean Carlos e mais duas garotas escocesas, que também queriam conhecer o paraíso chamado Caribe.
Samuel empurrou Leonardo para que fosse sentado ao lado de uma das moças, se sentando então ao lado de Cecília.
Diogo foi ao lado da outra moça e Jean Carlos foi na frente, com o motorista. A Kombi era antiga e fazia alguns barulhos pelo caminho, mas Jean Carlos havia dado certeza de que o motorista era responsável e confiável.
Cecília adormeceu e quando acordou percebeu que Leonardo e a escocesa conversavam animadamente, sentados no primeiro banco. Ele ria de alguma coisa que a moça dizia e Cecília percebeu como era raro ver o rapaz sorrindo.
Na sua opinião ele era o mais bonito dos três amigos. Era muito alto, tinha a pele de um tom moreno claro, pois costumava ficar no sol e os olhos e cabelos muito negros. Tinha um corpo forte e atlético, que conquistava muitas garotas por onde passava.
Mas a verdade era que o jeito marrento e mandão de Leonardo a tiravam do sério e muitas vezes a sua vontade era lhe bater e xingar.
Eles já haviam se dado muito bem um dia, mas Cecília havia desaprendido a lidar com a maioria das pessoas e a principal delas era Leonardo.
Passou então a observar a escocesa que estava junto ao rapaz. Era ruiva, magra e tinha singelos olhos azuis. Era exótica e bonita, mas não era maravilhosa.
"Faça bom proveito da sua primeira fodida nessa viagem", pensou Cecília com relação à Leonardo, sentindo-se irritada sem nem saber por qual motivo.
Mas logo decidiu que devia parar de pensar naquele rapaz que a tirava do sério e também em todos os problemas que ainda teria que enfrentar e apenas decidiu que também merecia diversão.
Assim que descessem em West Bay, ela também encontraria um rapaz do qual pudesse aproveitar a vida.
Quando chegaram em La Ceiba por volta das quatorze horas, logo ficaram encantados com o clima quente e a beleza da orla. O Mar do Caribe era muito mais bonito pessoalmente do que em qualquer foto. E o ar que vibrava ali era de pura diversão e alegria.
Por sorte e ajuda do motorista da Kombi, conseguiram um hostel com bom preço bem próximo da praia. Os rapazes ficaram tão animados que deram uma gorjeta ao homem, que voltou feliz para Tegucigalpa.
Naquele hostel homens não podiam dormir no mesmo quarto de mulheres, então ficou decidido que Cecília ficaria na companhia das escocesas e de mais uma italiana, que ali se encontrava.
Cecília não ficou feliz, mas nada disse. Decidiu que seria fria e ficaria calada, pois não estava a fim de ser carismática ou fazer amizade com aquelas mulheres. A verdade era que devido à uma sucessão de maus relacionamentos com outras garotas, Cecília não havia aprendido a lidar com outras mulheres e nem mesmo a se sentir confortável em um ambiente completamente feminino.
Ela queria então apenas dormir no quarto e não fazer daquele cubículo um lugar para conversas amenas, onde provavelmente Cecília nem saberia o que dizer.
Era uma realidade triste, mas ela nunca havia tido mais de uma amiga de verdade.
Mesmo já sendo tarde, todos decidiram saudar a cidade com um belo mergulho no mar. Comeriam uma sopa de caramujos ali mesmo, à beira da praia.
Cecília vestiu um biquíni vermelho, que se moldava muito bem ao seu corpo.
Por cima vestiu uma saída de praia branca leve e elegante.
Percebeu os olhares invejosos das meninas pelo seu corpo curvilíneo, mas nem se importou. Já tinha suportado aqueles mesmos olhares uma vida toda durante os anos no colégio, onde a maioria das garotas a perseguiam pelo simples fato de ela ser desejada pela maioria dos garotos.
Todos foram juntos para a praia e enquanto a escocesas flertavam com Leonardo e Diogo, Cecília mergulhou de corpo e alma naquele mar, revigorando toda a sua energia.
Depois se voltou para a parte onde todos estavam sentados, bebendo drinques, decidida a viver aquela viagem como um presente dos céus.
Não faltaram homens a se aproximarem, a fim de conhecer Cecília, mas Samuel afastava todos, vociferando contra eles.
Porém, naquela noite e naquela cidade mágica da qual só passariam aquela noite, ela decidiu que procuraria alguém com o qual pudesse se aventurar.
Depois de algumas horas ali na praia, Jean Carlos anunciou que alguns turistas brasileiros fariam um luau e que eles estavam convidados a participar.
Nem foram até o albergue para trocar de roupa, pois todas as pessoas resolveram ficar com as roupas de banho, por causa do calor e para poderem dar um mergulho no mar, quando bem entendessem.
Logo no princípio da festa, colocaram reggaeton para tocar e a agitação começou a rolar solta.
Pelo canto do olho Cecília percebeu que Leonardo beijava a escocesa e ela sentiu algo se revolver dentro de si, ao lembrar da sensação dos lábios dele contra os seus. Samuel conversava com uma brasileira, também já em clima de romance.
Nem se via sinal de Diogo e Jean Carlos e então Cecília decidiu que naquele dia, não ficaria para trás. E como em um passe de mágica, um rapaz negro e forte se aproximou dela, com um olhar de interesse.
— Olá, eu sou o Fred e você como se chama? — ele falou com um sotaque que fez Cecília perceber que ele não era nem hondurenho e nem brasileiro.
— Cecília — respondeu, decidindo se aquele seria o seu alvo da noite. — De onde você é?
— Haiti — ele respondeu, com um sorriso de dentes muito certos e brancos. — Você é brasileira?
— Sim — ela respondeu, ainda estudando o rapaz minuciosamente.
— Bem que ouvi dizer que o Brasil é terra de mulheres muito bonitas — o rapaz respondeu com alegria. — Será que posso pegar uma pina colada para você?
─ Claro! — Cecília respondeu, com um sorriso no rosto.
Definitivamente havia gostado do jeito manso de Fred e estava decidida a se aventurar ao lado dele.
E depois de uma pina colada e outra, não tardaram a trocar beijos quentes, em uma área afastada da praia. Ao ver os rapazes se afastarem com suas respectivas paqueras, Cecília decidiu que também queria alguém para esquentar o seu corpo naquela noite.
Nunca havia transado em uma praia paradisíaca, mas haveria uma primeira vez para tudo. Fred era agradável e bonito e depois de muito tempo na sua vida, Cecília estava muito feliz.
De manhã Cecília foi a primeira a se levantar e correu para tomar um banho, pois a maresia que vinha do mar deixava o seu corpo melado e pesado.
Depois se sentou para tomar café sozinha na área comum do hostel. Enquanto comia com bastante apetite, lembrava da noite quente que havia partilhado com Fred. Ao se despedir dela, o rapaz perguntou se voltaria a vê-la, mas Cecília disse que provavelmente não, já que estava partindo de La Ceiba dali há algumas horas.
Depois de alguns minutos imersa em seus pensamentos, viu Leonardo se aproximar e se sentar perto dela.
Estava com uma expressão de poucos amigos no rosto, mas ela decidiu que não o deixaria azedar o seu humor.
— Bom dia! — ela disse.
— Bom dia! — ele respondeu, prontamente a encarando. — Percebo que o incidente em Tegucigalpa não a intimidou nem um pouco.
O ar de sarcasmo e deboche dele fez o sangue de Cecília ferver, mas ela decidiu que ele não merecia saber que a incomodava e afetava com tanta intensidade.
Por que saía tão fora de si perto daquele rapaz cheio de mistérios?
— Nem a você — Cecília respondeu, com um sorrisinho de escárnio nos lábios. — Espero que sua noite tenha sido boa ao lado da escocesa.
— Posso dizer que a companhia de Louise foi muito agradável, sim — ele disse, jogando o corpo contra a cadeira e abrindo um sorriso provocativo nos lábios.
— Então aproveite bastante, pois ela vem aí! — Cecília disse, se levantando para sair.
Logo em seguida surgiu Louise, que logo passou os braços pelos ombros morenos de Leonardo e então beijou a sua boca, como se fossem namorados.
Cecília sentiu vontade de vomitar, pois sempre havia achado ridículo garotas grudentas, que ficavam a andar atrás dos homens, como se fossem um cachorrinho carente a abanar o rabo.
Mas a verdade não era só essa, mas Cecília preferia ignorar o fato de que tudo aquilo lhe abalava, se enganando com qualquer motivo frívolo.
Decidiu que se tivesse que aguentar aquela cena por mais algum tempo, teria enjoo pelas próximas vinte e quatro horas.
Não tardou muito para que Diogo e Samuel aparecessem, muito felizes. Se sentaram junto de Leonardo e Louise e então começaram a falar da noite passada.
Passadas umas meia hora, Samuel se aproximou da prima, que estava na calçada a olhar o mar.
— Vamos pegar o barco logo mais — disse ele, com entusiasmo. — Percebi que conheceu alguém ontem há noite. Você gostou do luau?
— Sim — falou Cecília. — Conheci um rapaz do Haiti. Ele está indo para El Salvador encontrar uns amigos.
— Que ótimo! — Samuel falou e então abraçou a prima. — Estou feliz que esteja comigo nessa aventura. Você sempre foi a integrante feminina do nosso grupo e o mochilão não seria o mesmo sem a sua alegria e beleza.
Cecília beijou a bochecha de Samuel e o abraçou ainda mais forte.
— Eu que fico feliz por me ter socorrido e me trazido contigo — ela falou, com verdadeira alegria.
— Agora sinto em te dizer algo que a fará ficar ressentida comigo, mas eu não tive escolha e tudo o que faço é pelo seu bem — ele falou, já percebendo o semblante de Cecília se fechar. — Seus pais estavam desesperados, então pedi a minha mãe que dissesse que você estava em segurança, aqui conosco.
— Eles só estavam pensando neles mesmos — ralhou Cecília, que sempre havia sido pisoteada pelos pais, simplesmente pelo fato de ter vontade própria. — Mas tudo bem, duvido que venham atrás de mim aqui em Honduras.
Antes que continuassem a conversar, Diogo, Leonardo e Jean Carlos surgiram e para o desgosto de Cecília, as duas escocesas estavam junto à tiracolo.
Cecília revirou os olhos, decidida que não ia aturá-las para agradar ninguém.
Em seguida todos pegaram os seus pertences e se encaminharam para o píer, de onde pegariam a balsa que os levaria até a ilha de Roatan.
Cecília caminhou calada e entrou muda dentro do barco e toda tentativa por parte das escocesas de se entrosarem, era cortada por ela com mais silêncio. A verdade era que ela estava com ódio de si mesma por ter gostado tanto de beijar Leonardo e como possuía uma mente muito conturbada, acabava descontando aquilo nos outros.
Demorou cerca de duas horas para chegarem em West Bay, mas quando atracaram, perceberam que havia valido a pena aquela viagem, expostos ao calor e ao balanço do mar.
Ao chegarem ali, Jean Carlos procurou uma família de pescadores que havia aceitado os receber enquanto exploravam a ilha.
Todos teriam que usar sacos de dormir em uma espécie de depósito para se abrigarem.
Enquanto Cecília organizava suas coisas em um canto, Louise se aproximou novamente, a fim de entrosar.
— O Leo me disse que estão pensando em ir para o Canadá depois daqui — ela falou animadamente. — Eu e Beth estamos pensando em acompanhar vocês.
Cecília estava irritada por aquela garota saber das informações antes dela e decidiu que faria de tudo para que ela e Beth desistissem de os acompanhar.
Ela não sabia de onde tinha surgido tanta ira dentro de si e se arrependia por não estar conseguindo se controlar.
— E daí? — ela disse com desdém, sentindo pela primeira vez na vida, inveja de outra garota. — Acho que você ainda não percebeu que não precisa ser minha amiga para dormir com o Leonardo. Então não desperdice o seu tempo!
Louise pareceu ficar chocada com a grosseria de Cecília, fazendo a outra moça se questionar o que estava acontecendo com os seus sentimentos.
Tendo vivido uma vida toda ao lado de garotos, Cecília havia aprendido a ser direta e rude e isso muitas vezes assustava as outras garotas.
— Nossa, não precisa ser grossa! — falou a ruiva.
— Não estou sendo grossa — respondeu Cecília, com desdém — estou sendo prática e direta. Eu não quero ser a sua amiga!
Mas a verdade era que Cecília sabia que estava sendo grossa sim e que só o fazia porque não sabia lidar com os próprios sentimentos.
Logo em seguida a brasileira saiu dali, decidida a passar o resto do dia na praia, longe do restante do grupo.
Ali bem perto, Leonardo viu Cecília se afastar e Louise se aproximar, com lágrimas nos olhos.
— A sua amiga me odeia e eu nem fiz nada para ela — choramingou a escocesa.
— Não se importe, pois ela odeia todo mundo — ele disse, sem se importar demais com a mágoa de Louise. Se ela queria seguir viagem com eles, teria que lidar com o mau gênio de Cecília por si só. — Ela inclusive odeia a mim também e muito provavelmente deve estar descontando em você, pois sabe que ficamos juntos ontem a noite.
— E se quiser podemos passar essa noite juntos de novo e muitas mais depois desta — ela disse, toda manhosa.
Não estava nos planos de Leonardo fazer casal naquela aventura, mas ele não queria que a garota se sentisse como um objeto.
O rapaz não gostava de magoar os sentimentos das pessoas e por isso, não conseguia ser sincero com Louise naquele momento.
— Primeiro vamos aproveitar e conhecer melhor o lugar junto com a galera — ele disse, de maneira descontraída. — Mais tarde podemos passar um tempo juntos.
Depois disso, os outros rapazes se aproximaram, chamando-os para comer alguns camarões e peixes que haviam comprado em um restaurante ali perto.
Todos se reuniram perto da praia e comeram as iguarias tomando cerveja. Cecília então se despediu do grupo, dizendo que daria uma volta pela orla.
Leonardo a acompanhou com o olhar e acreditou que apesar da praia estar cheia de turistas, não teriam problemas por ali.
— Quando estão pensando em ir para o Canadá? — perguntou Beth para o grupo de meninos. — A Louise me falou que está pensando em acompanhar vocês, mas eu não sei se estou animada, já que faz tanto frio na nossa cidade e viajei em busca de calor e diversão.
— Estamos pensando em ir daqui há três dias, já que ainda queremos conhecer muitos outros lugares — disse Samuel.
— Se não forem com a gente, tomem cuidado para aonde vão e o horário com que andam sozinhas — disse Diogo. — Duas mulheres viajando sozinhas pode ser perigoso, ainda mais em países conhecidos pela violência contra as mulheres.
— É verdade — disse Jean Carlos. — Mas caso fiquem, podem contar com a minha proteção e companhia.
Samuel percebeu que Louise ficara apreensiva. Dava para ver como ela estava apaixonada por Leonardo e queria segui-lo aonde quer que fossem, mas com a falta de inclinação de Beth, as intenções da ruiva seriam frustradas.
Sam preferia que elas não fossem, pois havia percebido que Cecília não havia simpatizado com as garotas. Na verdade durante toda a vida, a prima havia se dado bem com muito poucas moças.
— Talvez possamos nos reencontrar em algum lugar um pouco mais quente como África, Austrália ou Indonésia... — disse Beth.
— Quem sabe? — falou Leonardo, dando graças por ninguém perceber que a sua cabeça estava em outro lugar.
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