Capítulo 6
******Gael******
Coisas ruins acontecem com pessoas ruins, logo, coisas boas acontecem com pessoas boas.
Se essa filosofia estiver certa, eu sou uma espécie de reencarnação de Adolf Hitler.
Não é que eu esteja sendo castigado, não é que eu esteja sendo perseguido por um assassino em série.. mas sabe, eu estou exausto. E para mim, a exaustão nunca havia existido.
Eu estava deixando de ser um anjo aos poucos, Rafael me garantiu que eu continuaria com meus poderes e que apenas não voltaria ao céu.
Ally continuaria sofrendo e eu teria vindo a Terra a toa. E não sei para vocês, mas para mim, isso não faz o menor sentido.
Desde que meus pensamentos começaram a tomar outro rumo, eu cheguei a uma conclusão: eu vou ajudar Ally, custe o que custar.
Acredito que cada um pode traçar o seu próprio destino, buscar caminhos diferentes e seguir suas próprias regras, sem ferir o direito de ninguém.
Eu acredito que todos podem ser felizes, mesmo que sua felicidade incomode.
Cada um pode gostar daquilo que achar melhor, um homem pode amar outro homem, uma mulher pode amar outra mulher e tudo isso não faz mal a ninguém. O amor não faz mal a ninguém. É simplesmente amor.
Nas duas semanas em que fiquei longe de Ally, passei a observar os outros humanos e meu Senhor, como são fúteis!
Existem inúmeras coisas para se fazer na Terra e os humanos, em vez de aproveitarem cada segundo para serem felizes, preferem gastar seu tempo e energia, julgando a vida do outro, se matando de trabalhar para no fim do dia chegar em casa e não curtir a família ou pelo menos beber uma taça de vinho para relaxar.
A humanidade é estranha.
Se Adão não tivesse sido tão idiota, talvez não tivesse sido expulso do paraíso por causa de Eva, uma bonequinha sem pensamento próprio. Lilith era inteligente e assim que pôde, se mandou.
Mas, mesmo com tantas coisas ruins, eu também consegui observar coisas boas.
Gestos tão simples, como um bom dia ou um sorriso, que melhoraram o dia de tanta gente triste, que saiu de casa sem disposição para continuar vivendo.
Poucas coisas, pequenas demonstrações de gentileza, fizeram pessoas desistirem da ideia de morrer. Ah, se a humanidade soubesse o poder que um simples sorriso tem...
Ficar pensando e revivendo esses acontecimentos, era o melhor que eu tinha para fazer, até Ally chegar.
Eu me sentia um monstro por necessitar tanto dela e por não ter perguntado ao menos como ela estava, antes de dizer que precisava vê-la.
Três batidas leves na porta me tiraram de meus devaneios e de repente eu me vi sem saber o que fazer.
A primeira coisa, obviamente, era abrir a porta. Mas e depois? O que eu diria a ela?
Decidi não mais pensar e abri a porta.
Foi inevitável não olhá-la dos pés a cabeça. Ela usava um vestido preto. Mangas longas, porém curto em comprimento, o que acabou por ressaltar cada parte de seu corpo. Ela estava linda.
Os cabelos dourados, pareciam diferentes. Mais bonitos que da última vez... Naturais.
- Perfeita! - foi a primeira coisa que veio em minha cabeça, assim como na primeira vez em que a vi.
Ela sorriu e eu sorri de volta, instantaneamente. Notei que suas bochechas estavam vermelhas, e percebi ainda mais impressionado, que ela ficava linda com aquele rubor colorindo sua pele.
- Eu posso entrar? - ela perguntou, um tanto incerta.
- Ah, claro.. desculpe. - dei espaço para ela passar e seu perfume deixou um rastro tão inebriante, que eu não pude evitar inalar profundamente.
- Bem.. como você está? - perguntou de costas para mim, enquanto olhava os quadros na sala, mais uma vez. E só então, percebi o decote em suas costas, decote esse que culminava em dois pequenos furinhos em seu quadril. E aquele volume mais embaixo... Céus, eu ficaria louco antes mesmo de poder tocá-la. Diante meu silêncio, ela se virou e me pegou olhando para sua bunda, descaradamente. - Você está bem, Gael?
Repetiu com um tom irônico. Eu só não sabia o que ela estava tentando dizer com aquela pergunta.
- Ah, estou sim.. você aceita alguma coisa? - me senti patético ao dizer isso. Mas o que mais eu poderia dizer?
- Você tem vinho? Eu amo vinho. - ela sorriu e se virou novamente. Me dando uma visão privilegiada de seu corpo maravilhoso quando abaixou para ver meu peixe, recém comprado.
- Tenho sim, eu vou buscar. Só um minuto... - fui para a cozinha o mais rápido que consegui. Peguei o vinho e depositei em duas taças.
Quando voltei para a sala, ela estava se sentando no sofá. Ainda não tinha se dado conta de minha aproximação.
Ela se sentou delicadamente no sofá, e como uma deusa leviana, cruzou as pernas, fazendo com que o vestido subisse e suas pernas ficassem ainda mais à mostra. As coxas foram ressaltadas quando num movimento, que julguei inconsciente, ela se curvou para a frente, ressaltando os seios e deslizando uma das mãos, com um toque quase hipnotizante, a perna de cima. Do pé até a barra do vestido.
Ela não estava fazendo de propósito, acho que essas percepções eram frutos da minha transição.
Joguei esses pensamentos para longe e anunciei minha presença com uma frase mais ridícula do que eu já estava me sentindo:
- Olá querida, cheguei!
Bem, ridícula ou não, ela sorriu. E isso não era, nem de longe, uma coisa ruim.
Entreguei a taça em sua mão e ela a levou aos lábios e provou. Fechou os olhos numa singela expressão de prazer e disse:
- Que delícia! - uma frase comum, sem malícia, mas que minha mente fez questão de conectar com momentos de prazer que eu imaginei. - Qual a safra?
- O quê? - perguntei confuso.
- A safra. - continuei confuso. - A safra do vinho, Gael. Não acredito que você comprou o vinho sem saber a safra.
Ela sorriu, melhor, deu uma risada incrivelmente fofa.
- Você parece gostar muito de vinho. - disse o óbvio, tentando manter uma conversa.
- Eu amo. Vinho é minha bebida favorita.
- Deu pra notar. - disse sorrindo mais abertamente dessa vez.
- Gael, porque me chamou aqui? - ela perguntou com um olhar sério.
- Eu senti sua falta. - disse e abaixei o olhar. Não queria ver sua reação.
- E porque não me procurou antes? - ela se levantou e veio em minha direção, já que eu ainda me mantinha de pé. Ela tocou meu rosto e eu finalmente olhei para ela.
Ela sim parecia um anjo.
- Eu não podia. Eu estava com problemas e.. - ela colocou o indicador sobre meus lábios.
- Shhh... Tudo bem. Está tudo bem agora. - e antes que eu pudesse falar alguma coisa, ela me abraçou.
Meu corpo estava rígido como uma pedra e eu demorei alguns segundos para retribuir o abraço.
Devido ao decote em suas costas, meus dedos frios pela taça de vinho, encontraram sua pele, e ela se aconchegou mais em meu corpo, a pele levemente arrepiada e graças à proximidade eu pude sentir as batidas de seu coração.
Não sei como e nem quem tomou a iniciativa, mas quando dei por mim, eu já estava com meus lábios cobrindo os dela.
O desejo invadiu meu corpo e eu fui dominado. Ela não pareceu se importar. Colocou as mãos embaixo de minha camisa e em questão de segundos a retirou.
Continuei beijando sua boca, o gosto de vinho a deixando ainda mais excitante e por instinto, comecei a caminhar em direção ao quarto.
O corredor estreito e sem obstáculos ajudou bastante no caminho até lá.
Assim que entramos, a levei até a cama, com doçura, beijei seu pescoço e minhas mãos percorreram seu corpo, como um cego percorre com os dedos, as páginas de um livro em braile.
Quando fiz menção de subir seu vestido, ela arranhou minhas costas. Pensei que aquilo era um incentivo e continuei, mas ela logo me parou.
- Gael, não!
- O que houve, Ally? - perguntei preocupado, já que ela tinha no olhar, uma mistura de excitação e medo.
- Eu não consigo. Eu não posso fazer isso. Me desculpe. - ela me empurrou e se sentou na cama.
Quando toquei seu rosto, algumas lágrimas começaram a descer.
- Minha doce menina, porque está chorando?
- Eu sei que essa é sua primeira vez, Gael. Deveria ser especial. Com alguém especial. Olhe para mim, eu sou só uma adolescente com sonhos idiotas e uma autoestima terrível. Você não vai gostar do que eu tenho para oferecer.
Uau. Aquilo foi como uma facada. Ela estava chorando porque não conseguiu ficar comigo.
- Minha Ally, o que o mundo fez com você? - disse a abraçando contra meu peito e ela chorou muito mais, em silêncio, me apertando forte, como seu fosse seu porto seguro.
Eu apenas fiz carinho em seus cabelos, enquanto a ninava. Após muitas lágrimas, ela se cansou e dormiu em meu colo.
Com cuidado, a deitei na cama. Tirei seus sapatos e a cobri com o edredom. Ela se mexeu um pouco e eu paralizei, com medo de fazer barulho e acordá-la. Ela se ajeitou na cama e continuou a dormir. Dei um beijo em sua testa, saí do quarto e fechei a porta.
Essa noite, sofá e vinho seriam minha companhia...
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