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•Vigésimo•

2 anos e meio atrás

POV'S Harry

- pode negar o quanto quiser, mas está começando a se abrir comigo- a doutora Altman me sorri e me esforço para não lhe sorrir de volta

Ok, talvez eu goste dela

Só um pouquinho

- já posso ir?- pergunto tentando ser o mais ignorante que consigo mas ela me sorri satisfeita e assente com a cabeça

Sem dizer nada me levanto pegando minhas coisas e caminhando até a porta

- está fazendo progresso Harry, sempre se lembre disso. Está se tornando alguém melhor, não deixe ninguém estragar isso- ela me sorri amiga e eu apenas assento com a cabeça sem esboçar emoção, mas a verdade é que eu estava feliz pra caralho

Eu não tinha mais aquele sentimento angustiante crescendo em mim

Eu ainda tomava antidepressivos, ainda estava tratando minha ansiedade com a doutora Autman, fora que só concordaram em me recontratar se eu concordasse com a terapia e que eu me inscrevesse no grupo dos alcoólicos anônimos, pois aparentemente eu era um alcoólatra em potencial

Mas no final foi bom

Eu não tinha controle de nada

De mim muito menos

Agora que estou sendo obrigado a resolver, me faz bem

Um bem inimaginável

Pego meu telefone e ligo pra Louis duas vezes e ambas caem na caixa postal, e me lembro que ele disse que ficaria até mais tarde no trabalho hoje

Ele teve uns problemas pra fazer a cópia da chave de seu apartamento pra mim então pediu pra que eu fosse para as meninas, mas sinceramente já sei que vou ouvir Emma me xingar e Ashley ficar com cara de bunda por não poderem assistir suas novelas ou sei lá o que elas vêem

Era o último jogo do campeonato, e eu tinha que assistir numa tela grande sem ser incomodado

Bufo e guardo o telefone no bolso e antes de destravar meu carro olho pro outro lado da rua e vejo várias pessoas conversando dentro de um barzinho

Não está muito lotado mas muito menos vazio

Eu fico ali encarando alguns segundos

Ali vai ter bebidas obviamente, e o que meu grupo do AA sempre diz é pra evitar tentações

Mas acho que não é mais uma tentação

Não tenho mais vontade de beber como antes, e entendi o problema que eu causava, então se eu tenho essa consciencia creio que não há problema

Espero...

Sem pensar muito atravesso a rua e adentro o estabelecimento já sorrindo para o que eu vejo. Um telão imenso onde já está começando a ser anunciado o jogo e uma bancada próxima que me dá uma boa visão

- o que vai querer amigão?- um cara bigodudo me chama e eu penso por uns instantes

Se fosse o Harry de anos atrás eu pediria cinco doses de vodka só para me esquentar

Mas o que esse novo Harry pediria?

- só uma água, por favor!- forço um sorriso e ele me faz um joinha ainda que tenha estranhado um pouco

Sim! O novo Harry gosta de água

É um homem, controlado e hidratado

Que porra estou falando? Eu odeio

Odeio do fundo do meu coração

Mas é oq vai ter por hoje

Queria não ter que me conter, queria não ter esse monstro descontrolado dentro de mim que eu sei que ainda pode sair a qualquer minuto

Basta saber quando...

- aqui senhor!- o velho de trás do balcão coloca a garrafa na minha frente e eu lhe agradeço já destampando e dando um gole naquela água que eu estava fingindo ser tequila quando sinto uma presença sentar bem ao meu lado, o que é estranho porque haviam vários bancos livres mais distantes uns dos outros

- e aí Harry!?- olho pro lado e vejo o Zayn

Ótimo

Estou bebendo água e o Zayn apareceu

Tudo que eu mais gosto de uma vez só

- O que faz aqui?- pergunto sem muito rodeio, e nem quis dizer aqui no bar, mas aqui quase sentado no meu colo de tão perto
- eu, eu vim ver o jogo, afinal é o jogo mais esperado do ano- ele ri e eu literalmente não sei o que fazer

Quero dizer, é o Zayn!

Ele não troca uma palavra descente comigo a anos, se ele me via ele fazia questão de ir em outra direção, e sem a Sophie como um motivo pra sairmos na mão, simplesmente não conversávamos

- er... Legal, tive a mesma idéia pelo visto- forço um sorriso e volto a olhar pro telão esperando que ele vá embora mas isso não acontece
- bebendo água?- ele aponta e eu aperto um pouco a garrafa para não ser rude

É óbvio que é água, caralho

- é, é sim! Eu... Eu não bebo mais- balanço a cabeça e volto a olhar pra grande tela vendo os jogadores começando a entrar no campo

E ele continua ali

- fico feliz que tenha parado Harry... Desde pequeno você sempre foi meio, sem limites- ele ri e eu lhe encaro claramente impaciente
- pois é, eu estou tentando melhorar isso!- dou o sorriso mais debochado que posso e dessa vez até me viro meio de costas para que ele entenda que não quero papo com ele
- é uma pena...- ele continua e já reviro os olhos- uma pena mesmo isso já não adiantar mais de nada

Minhas sobrancelhas franzem e sou obrigado a me virar pra ele que tem a feição neutra mas com um fundo de maldade

Como sempre!

- como assim?- pergunto curioso
- ah você sabe, tenho conversado com a Sophie e acho que pode parar de beber o quanto quiser, ou beber toda a água do mundo que mesmo assim ela não voltaria atrás com você- ele sorri de canto e meu peito arde em ouvir seu nome

No começo eu tentei todo tipo de contato, ela nunca atendeu

Depois ela até atendeu, mas disse que preferia que eu estivesse morto

E depois disso, fui até sua casa, queria encara-la e dizer que a morte do Ben não foi culpa minha, o que hoje eu vejo com clareza, e dizer que ela está louca se pensa que eu desistiria dela assim

Mas aí desisti

E voltei pra minha casa

- não estou fazendo por ela, estou fazendo por mim- sorrio debochado e giro minha cadeira mas ele segura a mesma me fazendo voltar a ficar de frente pra ele e lhe encaro puto

Esse merda é realmente folgado

- qual é Harry? Vai mesmo querer me enganar? Sei que não somos amigos a um tempo mas já fomos muito e eu te conheço bem- ele sorri pra mim e eu permaneço com as sobrancelhas franzidas sem entender o que ele tanto quer ficando aqui conversando comigo- uma vodka por favor!

Ele pede ao mesmo cara bigodudo e eu engulo um seco enquanto ele se vira pra mim novamente

- eu tenho visto ela, todos os dias na realidade, não sei se ouviu falar mas ela quer abrir uma empresa e me chamou para sermos sócios- ele diz arrogantemente contente e eu tento permanecer neutro
- parabéns?- digo debochado tentando me virar de novo mas dessa vez sua mão segura meu ombro e eu encaro a mesma com todo o ódio que eu tenho
- acho eu ganharei a aposta no final das contas não?- ele diz com um sorriso podre e venenoso e já sinto até meus músculos fritarem
- a aposta era quem ficava com ela primeiro, e sabemos quem foi. Sem contar que ela não era uma aposta pra mim, acho que você mais do que ninguém sabe o quanto o amor que temos é real... Afinal, ela te rejeitou diversas vezes pra ficar comigo- aponto com um sorriso superior como se estivesse ganhando

Mas não estou bem

Nenhum pouco

- o amor que temos? Engraçado dizer essa frase no presente como se ela ainda tivesse qualquer tipo de vínculo com ela... Como se ela não te odiasse- ele sorri maldoso e resolvo não dizer nada apenas concentro meus olhos no meu copo d'água e fico rodando o mesmo entre minhas mãos mas logo sinto ele se aproximar- aliás, valeu a pena esperar, afinal você treinou ela o suficiente pra deixá-la experiente o suficiente pra ser fodida por mim no final das contas

Ele sorri e sem nem pensar viro meu copo na sua cara e pego ele pelo colarinho o levantando e jogando ele no chão dando um chute no seu estômago

Estou vendo tudo preto

E apenas algumas flashes dele em cima dela

Entrando e saindo dela

E seus lábios gemendo outro nome sem ser o meu

Minhas mãos tremiam e meus pés continuavam chutando ele sem parar

Eu nem sequer o via

Estava puto e descontrolado

Como ele sequer ousa dizer isso pra mim?

- senhor! Senhor!- ouço ao longe mas só consigo me abaixar pra ficar mais próximo dele e lhe dar diversos socos no rosto

Eu queria mata-lo ali mesmo

- senhor!- ouço mais alto e logo sinto várias mãos me puxando para longe do corpo que eu queria tanto ferir

Caio em mim novamente e vejo todo o bar perplexo e só o som do jogo é audível mas ninguém prestava atenção no mesmo porque todos olhavam pra mim

- senhor vou precisar que o senhor se retire- o bigodudo pede de trás do balcão e eu olho ofegante para o Zayn que é ajudado a se levantar mas quando olho pro seu rosto ele sorri

O desgraçado me sorri

Ele conseguiu o que ele queria

- tudo bem! Deixe ele ficar, eu que preciso ir- ele diz sem tirar o sorriso ensanguentado do rosto um segundo e puxa dinheiro batendo o mesmo no balcão e me encara maldoso

- por minha conta Harry- ele sorri e sai mancando do bar silencioso e eu fico ali ofegante

Quero ir atrás dele

Quero pegar a cabeça dele e bate-la na guia da calçada

Desejo do fundo do coração a sua morte só pelo fato de ter encostado nela

Mas aí olho pro lado e vejo o copo de vodka com limão reluzir mais forte aos meus olhos e em desespero pego o copo e viro de uma vez só, sentindo a anestesia do álcool de volta em minhas veias

Ele conseguiu o que queria

De novo

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