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•Trigésimo Sexto•

- puta que pariu!- ele repete pela terceira vez com as mãos no rosto andando de um lado pro outro e eu permaneço parada, em pé, no pé da cama- quando?

Ele pergunta me encarando com seus olhos escurecidos mas o choro preso em minha garganta não me deixa nem abrir a boca

- quando descobriu Sophie?- ele grita me fazendo assustar e minhas lágrimas começam a cair e dou um passo pra trás sinceramente com medo
- três semanas depois de entrar na clínica ok, eu não sabia Harry eu... Eu estava vulnerável e chateada...

4 anos e meio atrás...

- aqui, mais tarde vamos voltar e ver se comeu tudo está bem?- Trudy minha enfermeira me alerta ao colocar um prato de comida na minha frente e sair andando pra conversar com o faxineiro e eu fico ali

Encarando aquele prato

Eu já estava aqui a uma semana, no primeiro dia me debati e chorei dizendo que queria ir embora então eles decidiram me sedar e no segundo e terceiro dia a mesma coisa

Até que resolvi obedecer e comer uma pequena porção que me deram para o almoço mas assim que deram as costas fui rápida em vomitar tudo, consegui fazer isso por três dias mas novamente fui pega

Agora não tenho mais privacidade, me observam o tempo todo e só posso comer no refeitório ao invés do meu quarto assim podem me monitorar

- se eu fosse você comeria, está ótimo- uma mulher loira se aproxima se sentando ao meu lado e eu lhe dou um sorriso fraco

Não queria prestar atenção nisso, até porque depois que desenvolvi esse distúrbio sei o quão chato é quando as pessoas te encaram espantadas com seu corpo ou aparência

Mas aqui, acho que sou a mais gordinha de todas, fico triste em saber que a maioria aqui está nessa situação por estética

Mas eu não

Eu queria voltar ao meu normal mas não consigo

Eu olho pro prato a minha frente e minha vontade é vomitar

- meu nome é Lucy!- ela diz depois de todo esse meu tempo de reflexão e percebo o quão rude fui
- perdão, sou Sophie!- lhe estendo a mão e ela me sorri
- sabe Sophie, sei que não quer isso mas, enquanto não comer não vão te deixar em paz- ela olha pra Trudy e depois volta seu olhar pra mim
- acontece que não é só a fome, eu, eu não tenho vontade de fazer nada entende? Eu quero querer ter vontade de viver de novo mas não vejo isso acontecendo tão cedo- suspiro brincando com o brócolis do meu prato com meu garfo
- meu Deus garota, o que houve com você?- Lucy se inclina se aproximando mais de mim e eu lhe encaro

Acabei de conhecê-la

Mas pelo o que me explicaram eu sairia daqui conforme eu colaborasse

E analisando minha colaboração até agora acho que não sairei tão cedo daqui, hora ou outra precisarei desabafar com alguém

- eu... Eu perdi meu irmão recentemente- dou de ombros e meu coração se aperta

Não conversei a fundo com ninguém sobre isso ainda

Falei pouco com minha mãe, e também desabafei com Ashley mas no geral estava nisso sozinha

Eu e minhas emoções

- oh, sinto muito por sua perda- ela diz sincera e já sinto minha lágrima cair
- você não sabe nem da metade...- começo a contar pra ela tudo inclusive sobre a traição de Harry

Caralho eu não consigo acreditar nisso

Como posso ter sido traída e perdido meu irmão no mesmo dia? Quero dizer é muita coisa pra assimilar

- esse cara é um cretino- ela comenta depois que termino de contar e só aí me dou conta que limpei o prato conforme fui lhe contando
- é, e acredita que ele teve a coragem de me ligar antes de eu entrar aqui? Como ele pode achar que vou querer ouvir a voz dele de novo? Eu espero ter deixado claro que não quero vê-lo nunca mais. Como posso amar alguém que faz esse tipo de coisa? E minha mãe? Como posso continuar com o cara que devia ter ajudado o filho dela mas estava ocupado transando com outra e esperar que ela fique numa boa?- enfio os dedos no cabelo e coço tentando buscar respostas mas não as encontro
- não deve se cobrar disso agora, ele fez merda não você e está proibida de sofrer por ele. Tem que ficar focada pra sair daqui o quanto antes- ela me sorri confiante e crio um amor instantâneo por ela
- a quanto tempo está aqui?- mudo de assunto mas vejo que não foi um bom já que ela suspira cansada
- mais do que gostaria com certeza- ela comenta e lhe sorrio triste até me assustar com uma mulher gritando, olho pra frente e vejo dois seguranças levarem uma moça contra sua vontade pra dentro de um quarto

- o que vão fazer com ela?- pergunto curiosa e desesperada com seu desespero mas Lucy nem se surpreende
- com ela? Vão levá-la ao hospital da clínica e interna-la provavelmente lhe darão remédios pra abrir o apetite até que ela aceite comer algo, fizeram isso comigo na minha terceira semana, eu me recusava a pôr qualquer coisa sólida na boca- ela diz sem emoção comendo uma gelatina e eu suspiro

Eu não quero ficar assim

Meu Deus, o que eu estou fazendo comigo?

- tem esses remédios por aqui?- pergunto curiosa e ela assente
- oh sim, aqui tem remédio de tudo que possa imaginar, sedativos, antidepressivos, remédios para enjôo, ficam todos na enfermaria- ela comenta e meus olhos brilham

Talvez se eu tomasse esses remédios que ajudam a dar fome eu saísse daqui mais rápido

- como faço pra conseguir?- pergunto desesperada esperando que ela não note
- não tem como "conseguir", você só toma esses remédios se eles forem prescritos pra você, mas você acabou de chegar provavelmente vão esperar sua cooperação, por isso que te disse que sempre é melhor comer sua comida- ela comenta simples mas não lhe dou ouvidos

Preciso pegar os medicamentos.

Já estava tomando remédios a uma semana

Consegui pegar escondido três recipientes quando fui fazer uma consulta lá

Achei melhor aproveitar e pegar uns sedativos e antidepressivos

Parecia bem propício

Eu só queria dormir acordar e comer, não queria socializar, ou participar das palestras horríveis que fazem aqui.

Eu estava depressiva e sei disso, sei porque me sinto exatamente como me sentia quando me cortava quando criança

Na verdade me sinto ainda pior

Meu único ponto de luz aqui dentro era Lucy, ela me fazia ter vergonha de toda minha reclamação

Ela perdeu a mãe e o pai a uns cinco anos e tem uma filha linda chamada Stacy mas ela se mudou pra Ohio com o pai porque ele alegou que ela não tinha condições de cuidar de uma criança

Claro que isso não a ajudou a melhorar

Mas nós ficamos bem e na maior parte do tempo éramos felizes

- vomitei hoje de manhã- comento com ela e ela revira os olhos
- qual é Sophie já falamos disso- ela briga e eu nego
- não tentei eu juro, simplesmente veio é como se eu estivesse sempre enjoada ou sei lá- comento sincera

Lucy se propôs a me ajudar e ela fica furiosa toda vez que recuso comida ou tento por pra fora

Mas ultimamente parece que não importa o quanto me esforce meu corpo continua a rejeitar os alimentos

A noite chegou e depois que foi feita a revista nos quartos e me despedi de Lucy entrei no meu quarto e tirei de lá alguns recipientes que havia roubado

Era a terceira vez que tirava remédios da enfermaria e sei que já estavam desconfiando porque antigamente não revistavam os quartos

Mas que se dane

É a única coisa que tem me deixado sã por aqui

Abro os antidepressivos e os sedativos e tomo os dois juntos

Tomo dois de cada e sei que essa porção está totalmente errada mas é a forma que me dopa e e que encontrei pra me deixar em paz por algum tempo.

Acordo com meu corpo tremendo

Demoro pra entender mas sinto um suor frio descer por minha testa e sinto calafrios incontroláveis, olho ao redor e vejo Trudy com uma luz no meu rosto, ela me diz algo mas não ouço nada

Ela parece desesperada e chama mais alguém

O quarto se enche por um médico três enfermeiras e dois seguranças

Tudo está silencioso pra mim

Não consigo me mover

Todos parecem desesperados mais por quê?

Olho pra porta Lucy está lá segurando seu soro que sempre a acompanha

Tento abrir a boca e perguntar o que foi

Nada sai

- vamos rápido!- uma voz ao longe se pronuncia e vejo que é o doutor que a diz, o que é estranho porque ele está logo do meu lado
- ela está tendo uma overdose!- Trudy grita desesperada e aí começo a ter uma noção do que está acontecendo

Meu Deus!

Olho pra cama e os remédios estão espalhados

Geralmente os escondo antes de dormir pra que ninguém veja mas aparentemente apaguei antes de conseguir o fazer

Me levantam e me colocam numa maca, passamos por Lucy que chora descontrolada e todos ao redor olham sem acreditar

Eu queria levantar, queria gritar, queria dizer que estou vendo eles falaram de mim

Mas nada sai

Novamente meu corpo começa a se debater e ouço umas pessoas gritarem que eu estava tento outra convulsão

Outra?

Eles me colocam numa sala que nunca estive antes, tentam conversar comigo mas não consigo dizer nada, colocam uma luz no meu olho e por mais que tente não consigo acompanhá-la

Era como se eu já tivesse morrido

- doutor? Pode vir ver uma coisa?- ouço uma enfermeira dizer e me forço e esforço para conseguir acompanhar o médico que caminha ao pé da minha cama e olha horrorizado pra baixo

- preparem os sedativos e uma sala, essa mulher está abortando- ele diz rápido e todos começam a correr para obedecer seus comandos

Abortando?

Eu não posso estar abortando!

Como? Desde quando?

Eu queria gritar, tentava bater meu pé piscar, fazer qualquer coisa e nada

Permanecia imóvel, apenas com alguns espasmos hora ou outra

Trudy enfia uma agulha em minha veia e indentifiquei ser a anestesia

Não!

Eles precisam saber que tem que salvar meu filho

Eles precisam salvar meu filho independente de qualquer coisa

Nem que eu morra por isso

Olho pra Trudy esperando que ela me entenda

Minhas lágrimas descem e isso é tudo que consigo transmitir

Por favor, por favor, salvem meu filho!

- vai ficar tudo bem!- ela me sorri passando a mão na minha cabeça

Não...

Eu só preciso....Que salvem o meu...

Narrador

Sophie adentrara na cirurgia enquanto Lucy chorava do lado de fora de seu quarto, não era uma pessoa muito religiosa mas rezava pra qualquer coisa que fosse deixar sua única amiga ali dentro bem

Ela percebe uma correria de um lado pro outro e falarem sobre um tal caso 23;14, ela sabia que isso era um código usado com complicações com mulheres grávidas

Ela não conseguia entender

Nunca vira uma grávida ali, até porque com as condições de fraqueza do corpo raramente haviam sobreviventes

Isso só a apavorou mais

- licença, o que está havendo?- ela pergunta aos prantos a um segurança que sai da sala
- tem que voltar ao seu quarto- o homem careca lhe diz sério
- não antes de saber o que está acontecendo com minha amiga, então comece a falar- ela diz decidida

O segurança suspira rendido

- ela teve uma overdose de remédios, aparentemente ela veio roubando semanalmente frascos de remédios bem pesados e em quantidades bem alarmantes- o segurança diz sentido pela menina tão jovem ter sido tão estúpida
- caralho Sophie!- Lucy esfrega o rosto totalmente desnorteada- obrigada!

Diz e sai andando ainda inconformada que não percebera antes o que estava acontecendo

- ei, só por curiosidade, ouvi que tem um caso 23;14, tem alguma grávida nesse andar?- Lucy pergunta sem entender ao segurança que lhe encara sem saber ao certo se fala ou não
- a grávida é sua amiga... Ela está de 3 meses e está tendo um aborto espontâneo, aparentemente a fraqueza no corpo, a overdose de remédios e a falta de cuidados na gestação ajudaram isso a acontecer

Lucy abre a boca em total choque

Como Sophie não havia lhe dito isso?

Será que a mesma sabia dessa gravidez?

Será que sabia e tomou todos aqueles remédios de propósito?

Sua cabeça roda em confusão e preocupação

Ela corre até o banheiro onde se tranca e torce para que nada dê errado.

Uma hora e meia de cirurgia e nada de notícias, ela anda de um lado pro outro em frente ao quarto de cirugia e ninguém entra ou sai do lugar para lhe dar uma luz

- com licença! Tem um homem na porta a procura de Sophie Baltimore, disse que é o contato de emergência dela- um homem pergunta na recepção e Lucy mesmo chorando caminha até o homem
- quem é ele?- ela pergunta determinada e o homem e a recepcionista lhe encaram com estranheza
- ele se identificou como Harry Styles, disse que é o namorado dela- o homem comenta e Lucy lembra sobre tudo que Sophie contou sobre o rapaz

O quanto que ela o odiava

O quão mal ele havia lhe feito

E principalmente, que não queria vê-lo nunca mais

- ele não pode entrar, cheque a ficha dela e verá que o nome dele está escrito para as pessoas proibidas de visitá-la- ela defende com unhas e dentes lembrando de uma conversa que ela e Sophie tiveram uma vez

Sophie conhecia bem Harry, sabia que o último telefonema não o afastaria, então deixou por escrito que sua visita não era bem vinda

- mas ele é o contato de emergência dela- o homem retruca confuso
- não me interessa, se não chutar a bunda dele daqui quem fará isso sou eu. Avise-o que ela não quer vê-lo e que ele não é bem vindo aqui- ela diz séria e o homem resolve não discutir mais e sai andando

Lucy suspira em alívio e volta a cair em lágrimas se sentando em frente a porta da amiga

Pov's Sophie

Acordei vendo tudo embaçado

Pisquei várias vezes tentando entender as coisas ao meu redor e aos poucos foi melhorando

- graças a Deus!- uma voz aliviada soa e logo sinto um corpo sobre mim

Lucy

Faço o possível pra retribuir o carinho mas o máximo que consigo é por a mão em seu braço

- tem noção, do que fez comigo? O que tinha na cabeça? É a única pessoa que tenho aqui e você não tem a decência de dizer que estava tomando todos aqueles remédios? Queria se matar é? Pois eu devia te matar, eu devia...
- Lucy! eu tô bem!- sorrio fraca pra mulher que começa a chorar e volta a me abraçar

Sorrio mais abertamente ainda

- quase me matou de susto!- ela soluça no meu peito
- sinto muito por te fazer passar por isso- digo sincera vendo ela se levantar e caminhar pra buscar papel e limpar os olhos

Minhas memórias voltam em flashes mas tem algo que assim que abri os olhos me lembrei

- e o meu bebê?- pergunto e vejo daqui seu corpo endurecer- antes de me doparem disseram que eu estava abortando, olha eu juro que não sabia da gravidez, meu sonho é ser mãe eu nunca prejudicaria meu bebê, se eu soubesse eu jamais teria...
- o bebê não aguentou Sophie- ela me corta e meus olhos se enchem de lágrimas e eu fico lhe encarando em silêncio- seu corpo não recebia nutrientes suficientes a muito tempo e a medicação...

Ela suspira arrasada e me olha emocionada

- sinto muito querida!

Eu grito

Simplesmente grito

Não grito nenhuma palavra

Apenas grito, alto, enfurecida e ineterruptamente

Lucy me olha sem saber o que fazer, ela me abraça e eu não paro, minhas lágrimas descem e eu grito até minha garganta doer

Minhas lágrimas descem até meu olho arder

Enfermeiras entram no meu quarto e pedem pra eu me acalmar mas meu único reflexo é pegar a bandeja e atira-la contra a parede

Todas resolvem me segurar e Lucy se encosta na parede parecendo estar impressionada com a cena

- sinto muito Sophie- Trudy me diz antes de injetar um sedativo em mim

Mas antes que eu esteja totalmente apagada eu não paro de gritar e me debater por um segundo sequer

Uma semana depois outro surto, não consigo ainda falar direito devido a dor de garganta pelos gritos, e acho que não tenho mais lágrimas pra dar

O que me resta?

Meu irmão morreu

Minha mãe não está aqui e como chama-la pra ver isso?

Eu nem sequer me reconhecia no espelho

Se é que era possível eu estava ainda mais magra

Não tomava nem mais banho sozinha

Como ela veria algo assim?

Como meus amigos me veriam assim?

E ainda tinha ele

Meu peito morria cada vez que imaginava seu rosto, imaginava ele aqui comigo ou imaginava o por que de ele não estar aqui comigo

Talvez porque deixei claro que sua presença não era bem vinda

O que me resta?

Olho pro lado e vejo o armário de equipamentos dos enfermeiros

Não penso duas vezes em me levantar e ir atrás de um bisturi até achar um embalado

Volto a cama e o tiro da embalagem e pressiono sobre o braço

O que eu tinha a perder?

Tudo que eu tinha medo de perder eu perdi

Eu estava vazia

O sangue jorra na minha camisola, na maca, no chão

Nem dor eu sinto mais

- Sophie, seu jantar... Meu Deus do céu!- um enfermeiro grita da porta e avança em mim tentando tirar o equipamento da minha mão e depois de relutar muito ele finalmente consegue atira-lo pra longe e chamar ajuda

Não importa mais

Nada importa mais

Tudo que desejo é que se me doparem dessa vez, eu não acorde mais

Dias atuais

Harry me olha com os olhos marejados e eu permaneço encostada a porta

- porque não me deixou entrar? Eu, eu podia ter ficado com você- sua voz está mais baixa agora e claramente afetado
- eu nem soube que você foi lá, provavelmente leram na minha ficha que não era pra você entrar, a questão é que já passou, você não tem que voltar nesse assunto- digo olhando o chão

Não posso olha-lo

Não depois de contar isso

- não tenho que voltar a esse assunto? Sophie você passou por uma overdose e um aborto no mesmo dia, aborto do nosso filho!- ele volta a gritar e minha cabeça começa a explodir
- sim, passei, mas quer saber? Eu superei isso, como sempre faço... Está tudo bem- digo ríspida sem lhe olhar

Não estava tudo bem

- não, não está tudo bem, como você não avisa pra ninguém sobre isso? Contou pra Emma? Ou Ashley? Você sequer contou a sua mãe?- seu tom é de julgamento e estou começando a me irritar com isso
- por que preocupa-los com algo que nunca existiu?- digo fria e ele me olha inconformado e confesso que eu também me arrependo na mesma hora do que eu disse
- era o nosso filho Sophie, desde quando isso é insignificante pra você?- ele cospe as palavras e minhas lágrimas descem mais intensas agora
- insignificante? Harry eu quase me matei por perder esse bebê, eu estava sozinha de novo e estava assustada de novo. E quem é você pra falar isso? Caso não se lembre você sempre deixou claro que não quer ser pai, o quanto abominava compromisso, então não haja como se se importasse porque se esse aborto não tivesse acontecido sua reação seria totalmente diferente- cuspo de volta e seu olho está num verde escuro que nunca vi antes

Ele estava transtornado

Ele caminha rápido em minha direção ficando a centímetros de mim sem me dar muita opção me deixando presa a porta

- é isso que pensa? Que eu ia saber que estava grávida e quase morrendo em algum lugar e minha primeira preocupação seria o medo de ser pai?- ele grita no meu rosto o que só faz minhas lágrimas descerem mais- caralho, você é inacreditável, como você pode ser tão arrogante assim? Tem noção do quanto eu te amava? Tem noção do quanto eu te amo? Você sequer tem noção do que aconteceria comigo se você tivesse conseguido se matar aquela noite? Eu morreria Sophie era isso que aconteceria. Acha que ligo pra gravidez ou qualquer coisa mas está errada, eu mudei nesses anos e você finge que não vê, você criou uma barreira e não quer me deixar entrar de jeito nenhum e fica jogando esse velho Harry na minha cara mas tudo bem, não me importo! Agora não haja como se te perder não fosse grande coisa ouviu bem? Porque é a maior das coisas, é meu maior medo e saber que passou por tudo isso sozinha, quero dizer... O que você tem na cabeça?

Ele grita a todo o tempo e meu choro só cai mais e mais

Ele fica ofegante e me encara nervoso

- eu te falei que era um menino?- é a única coisa que consigo dizer antes de me entregar totalmente ao choro e vejo sua postura amolecer na minha frente, ele não diz nada, apenas vejo uma lágrima cair e seu corpo vem rapidamente me envolver em um abraço forte

Eu estava sofrendo um luto

Como nunca tive a oportunidade antes

Eu finalmente estava sofrendo pela morte do meu filho

- sinto muito!- ele sussurra no pé do meu ouvido enquanto eu soluço em seu ombro

Era algo estranho na realidade

Tudo doía, na verdade sinto a mesma dor que senti quando descobri que havia perdido o bebê, eu estava tomada de um sentimento que me deixou cega e surda e praticamente sem ar

Mas ter ele aqui, me abraçando, me confortando, e ter alguém sabendo disso além de mim

Consegue me trazer um resquício de paz

- eu te amo, sinto muito!- ele repete várias vezes no meu pescoço até eu me afastar e encará-lo

Ele me olha e analisa cada centímetro de mim e sem pressa ele me beija me afogando na paz que sua presença me traz

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