•Décimo Primeiro•
Pov's Sophie
5 anos atrás...
- filha, por favor tem que comer algo- minha mãe bate na porta mas eu nem me mexo, não viro de lado da cama, não tiro meus fones e nem da seleção de músicas tristes que estou ouvindo, comi uma sopa e um lanche que Richard conseguia colocar na minha mesa subindo pela janela já que eu não conseguia levantar pra abrir a porta
Eu sei que não é justo com eles
Eles perderam um filho
E eu já estava praticamente morta
Mas só fazem três dias
Três fucking dias que perdi meu irmão
Por culpa dele
Na segunda semana vi minha mãe chorar de alegria por simplesmente me ver levantar pra pegar água.
Na terceira meu celular estava travado te tantas vezes que me ligaram pra saber como eu estava, eu não queria ver ninguém.
Na quarta semana ouvi minha mãe falar com o Richard que eu estava com stress pós traumático porque eu simplesmente não chorava, eu ouvia todo dia minha mãe literalmente urrar em meio ao choro, ela e meu padrasto raramente conversavam e o clima da casa estava terrível
Mas eu não derrubava uma lágrima.
Já havia se passado um mês e literalmente todo mundo veio até minha casa
O Liam, a Emma, o Louis, o Zayn meus vizinhos
Eu não quis ver ninguém.
E pra piorar ele
Desde aquela noite ele não para de me ligar
Eu queria atender e gritar com ele, mas isso me deixaria mais fraca
Queria bloquea-lo também, mas eu também não tinha forças pra isso
Então eu ficava ali encarando a tela enquanto ele me ligava até que ele desistisse
Meus pensamentos são interrompidos por um barulho na minha janela
Eram pedras
E só tinha uma pessoa que podia estar fazendo isso
Abri a janela e Ashley estava lá embaixo me encarando com um sorriso amigo e levanta um pacote de donuts do DuckDonuts uma doceria que fica no fim de nossa rua. Desde crianças quando os pais da Ashley discutiam ou algo do tipo ela passava lá comprava um pacote de Donuts e jogava sempre três pedras na minha janela, assim eu sabia que era ela e eu abria a janela e ela subia pela calha e viravamos a noite rindo e conversando
Minha mãe descobriu depois de um tempo, óbvio
Mas nunca nos entregou
Mas sinto que hoje ela não veio por ela
- posso subir?- ela pergunta calma e eu apenas aceno que sim com a cabeça e me afasto, caminhando com dificuldade para a minha cama e depois de um minuto ela já está aqui dentro, me olhando com um olhar surpresa e acho que é porque já não nos vemos a um tempo
Lhe dou o máximo de sorriso que posso dar e ela coloca o pacote na minha cabeceira e se senta ao meu lado na cama
- Sophie estamos muito preocupados com você... A sua mãe, ela está sem saber o que fazer- ela me diz triste mas eu estou simplesmente anestesiada
- acha que não sei? Acha que não sei que ela está preocupada? Acha que não sei que ninguém sabe o que fazer comigo? Pois eu sei que estou sendo um fardo pra todo mundo, mas o que quer de mim? Meu irmão morreu!- grito na cara dela e meu peito começa a apertar pela dor de finalmente falar isso alto e em bom som
- eu sei Sophie, todo mundo sabe disso! Seu irmão morreu, o filho da sua mãe morreu e é triste eu sei que é, só que nesse momento deviam estar passando juntas mas ao invés disso ela está perdendo você também- ela se levanta gritando e eu me encolho
Ashley sempre foi sincera comigo e dessa vez não foi diferente
E foi bom
Porque finalmente estou chorando
Muito
- sinto falta dele- meu peito sobe e desce em descontrole e sinto uma falta de ar terrível mas não consigo parar de chorar- eu sei que minha mãe precisa de mim e estou sendo uma péssima filha, mas eu não consigo, eu simplesmente não consigo descer e conversar sem pensar que o Ben não está mais aqui- choro alto e com certeza minha mãe e Richard devem estar ouvindo mas provavelmente não vão tentar entrar
- eu sei querida eu sei- ela me abraça e eu a aperto o máximo que posso enquanto choro na sua barriga e ficamos um tempo assim até que ela se abaixe e olhe nos meus olhos
- Sophie você precisa ser forte agora está bem? Você não pode continuar assim olha o que está fazendo com você- Ashley se levanta e vem rodando o grande espelho que tenho no canto do quarto e
Caralho
É a primeira vez que me vejo em não sei quanto tempo
Eu devo ter perdido uns 20kg chutando baixo
Nunca me vi tão magra
Nunca me vi tão pálida
E nunca me vi tão triste
- Sophie não faça isso ok? Está morrendo também você não percebe? Sua mãe não merece perder dois filhos, eu não vou deixar isso acontecer- ela me olha severa e eu limpo o rosto fazendo sinal pra ela vir até mim e se deitar comigo na cama igual quando éramos pequenas e ela me dá a mão
Ela me conhece como ninguém
Sabe que não quero falar nada, mas que sei que ela está certa
Depois que ela pegou o pacote de donuts comemos o saco todo sem dizer uma palavra
- esqueci de te mostrar algo- ela me sorri e pega o celular me mostrando a foto de um bebezinho
- que fofo, quem é?- pergunto chupando os dedos
- esse, é o Ben Sophie, nosso Ben!- ela diz toda orgulhosa e meus olhos ficam vidrados em seu rosto
- o que... Como?- estou sem palavras, quando isso aconteceu?
- é por isso que Emma não tem mais vindo, ele nasceu faz três dias e assim que ele nasceu a gente soube, que ele devia se chamar Ben
Ela me sorri
Essa é a atitude mais linda que alguém poderia fazer por mim
Eu estou sem palavras e lhe sorrio ao mesmo tempo que minhas lágrimas descem então não consigo dizer nada e apenas me levanto com dificuldade
- onde vai?- ela pergunta preocupada
- tomar banho... E depois quero que me leve pra conhecer meu afilhado!- lhe sorrio cansada porém sincera e ela fica radiante na mesma hora
(...)
- filha, não se esqueça de nos ligar quando sair, a gente vem buscar você- minha mãe chora ao me olhar
Infelizmente essa cena está muito recorrente nos últimos tempos
- eu já disse que pode deixar mãe!- sorrio cansada
Resolvi por conta própria me internar numa clínica especializada em bulimia e anorexia
Pelo que me falaram já se passou 5 meses desde que tudo aconteceu, 5 meses onde eu só fiquei deitada sem ver luz do sol e comendo e bebendo quase nada do que minha mãe me dava e vomitando esse pouco o que aparentemente contribuiu pra que eu tivesse transtorno alimentar
Eu precisava disso
Estava na hora de começar a pensar em mim de novo
E na minha família
Depois de me despedir 30 vezes da minha mãe como sempre começo a deixar minhas coisas no pote já que não pode entrar com nenhum tipo de eletrônico ou coisa do tipo é quando vejo meu celular tocar e o nome Louis aparece no ecrã
Arrasto para o lado e atendo sem entender
- alô?
- Sophie? Sophie sou eu por favor me escuta! Eu te amo entendeu? Eu te amo muito por favor fala comigo...
Desligo
Estou paralisada
Sua voz bêbada do outro lado da linha me paralisa
Como ele pode ainda tentar falar comigo? Como ele ousa?
- senhora?- a guarda me chama me fazendo olha-la
- perdão!- sorrio e lhe entrego meu telefone
Vai ser bom na verdade assim não corro o risco de ele me ligar
Porque eu sei que hora ou outra
Eu atenderia
4 anos atrás...
Desci pra beber água e Richard estava na cozinha e me sorriu levemente
- palavras cruzadas?- sorrio me sentando no banco ao seu lado
- perdi o sono!- ele me sorri cansado tirando seu óculos de leitura
Eu e Richard nunca conversamos muito, nem sei bem o porquê
- eu... Eu fico feliz que esteja de volta- ele me sorri verdadeiro, eu havia voltado a apenas um mês e não era nem sombra de quem eu era desde a última vez
Eu havia engordado 10kg nesse um ano, eu ainda estava abaixo do ideal mas eu estava tentando
Estava mesmo tentando
- eu também, senti saudade de tudo aqui, da minha mãe... E de você também- ele me encara surpreso e eu lhe sorrio- nunca te agradeci Richard, na verdade nunca nos falamos muito mas, saiba que te agradeço por ter entrado na vida da minha mãe, ser quem é, estar sempre com ela... Ter sido um bom pai pro Ben, e bom, pra mim também- sorrio tímida porém sincera
Ele era um homem excelente
E homens como ele não é fácil de achar
Não mesmo!
Ele faz um sinal pra que eu chegue mais perto e vejo seus olhos marejados e lhe abraço forte como nunca fiz antes
- onde já se viu um homem velho chorar- zombo o fazendo rir
- quem disse que estou chorando?- ele diz em meio ao choro o que só me faz rir mais mas sem, em momento nenhum, sair de seu abraço
(...)
Já era meio do ano quando finalmente me senti com coragem de pedir meu emprego de volta, eu precisava ocupar minha cabeça com algo
E assim que mandei mensagem pro senhor LeBlanc ele me atendeu na mesma hora, ele não perguntou muito sobre o que aconteceu e nem sobre minha aparência que ainda não era das melhores e eu lhe agradeço por isso
Minhas olheiras ainda eram fundas e escuras mas as coisas estavam aos poucos se encaixando
(...)
- Senhor LeBlanc, assinei o acordo com o Michigan posso pedir pra eles virem?- digo entrando em sua sala e o encontro com a cabeça na mesa totalmente parado
- senhor LeBlanc?- chamo novamente sem resposta e ali eu já entendo o que está acontecendo
- Nathan!- grito e ele vem correndo- chama a ambulância!
Digo apenas e ele fica imóvel na porta enquanto eu caminho até o senhor LeBlanc para tirar sua cabeça da mesa
- Vai logo!- grito para Nathan que sai do transe e corre para ligar pra alguém
(...)
- porra, essa grama coça- Nathan reclama enquanto tento observar as estrelas em paz
- já me arrependi de ter te trazido- suspiro irritada com sua reclamação
- quando disse que queria sair pra espairecer pensei num barzinho ou um cinema, não que me traria pro meio da mata- ele debocha e eu lhe encaro
- gostava de vir aqui quando namoravamos- dou de ombros
- éramos crianças, e eu achava que sendo um lugar escondido você daria pra mim- ele diz tranquilamente me fazendo rir
- e o que te fez pensar que eu perderia minha virgindade no meio do mato?- rio sincera com sua feição desentendida
- eu sei lá eu tinha quinze anos, minha testosterona estava no auge aquela época- ele se deita ao meu lado finalmente ficando em silêncio
- ainda não conversamos sobre o que aconteceu- ele diz ainda olhando pro céu e eu suspiro
- e nem vamos... Ele morreu, acontece- dou de ombros, não porque eu não me importasse
Eu o adorava
Mas eu simplesmente não queria chorar mais, quando olho pra trás parece que tudo que fiz foi chorar
- bem e o que vai fazer agora?- ele pergunta e eu encaro a estrela a acima de nós pensando no que lhe responder quando meu telefone toca
Era ele
De novo
- porra!- digo nervosa e Nathan olha pra tela também
- ele não desiste né- ele observa e eu bufo
- deixa tocar, logo para- bufo novamente e fecho os olhos
- tá brincando? É isso que você faz? deixa tocar? É por isso que ele não para de te ligar!- como assim?
- como assim?- pergunto sem entender
- Sophie você não atender só faz com que ele te ligue mais, não pode deixar isso assim. Se quer que ele pare tem que deixar isso claro!- ele me aconselha e ele tem razão
Nunca pensei que diria isso
Mas Nathan tem razão
Arrasto o verde
- Sophie?- ouço sua voz e surpreendentemente olho pro Nathan como se pedisse socorro
- confiança!- ele sussurra
- essa vai ser a última vez que me liga ok? Não quero ouvir sua voz, não quero suas explicações e nem quero que tente. Eu quero você longe. Quero que seja como se você tivesse morrido, porque pra mim você já está morto!- desligo determinada e vejo Nathan me encarar de boca aberta
- caralho!- ele diz rindo e me estendendo a mão em hi-five e eu bato logo na sequência
Ele teve o que mereceu!
Provavelmente encheu a cara de novo e vem me ligar, mas dessa vez não, dessa vez eu dei o ponto final
- sobre o que eu vou fazer...- continuei nosso assunto- acho que tive uma ideia!
Sorrio pensativa
3 anos atrás...
- por que quer abrir uma empresa comigo?- Zayn pergunta sem entender nada e eu lhe sorrio
- você é uma das pessoas que mais confio, trabalha na mesma área que eu e bom... Acho que é isso- rio e ele também
- você é doida!- ele ri
- sou! E aí? O que me diz?- lhe sorrio e ele se inclina mais pra mim
- sabe que faço qualquer coisa por você!- ele está sério agora e pisco algumas vezes
- Zayn...- digo em tom de atenção
- Ah Sophie qual é? Eu te amo, você sabe disso sempre soube, eu só não me aproximava por causa...
- por causa do Harry!- digo firme, fazia tempo que não tocava no seu nome e as pessoas ao meu redor agiam como se sua existência fosse um delírio coletivo
- isso! Mas agora, agora é tudo diferente, você terminou com ele, está livre- ele sorri e eu lhe encaro com um sorriso cansado
- mas estou machucada Zayn!, Meu irmão morreu, meu chefe morreu e pra piorar toda vez que eu como algo eu tenho que fingir que estou bem mas no fundo tudo que eu desejo é vomitar tudo por causa da porcaria do meu distúrbio alimentar, mas eu não vou voltar pra clínica, eu vou ser forte! Mas pra ser forte eu preciso de um amigo... Por favor Zayn, seja meu amigo!- eu praticamente imploro
Imploro mesmo
Eu precisava tanto de pessoas estáveis na minha vida
Ashley, Louis e Emma estavam tão cansados pelo bebê e Liam morava tão longe e meus pais... Eles tinham a própria dor
Eu precisava do Zayn
Mais do que nunca
- certo! Me desculpa, tudo no seu tempo- ele levanta as mãos em rendição me olhando compreensivo e eu agarro sua mão quase que em desespero como se lhe agradecesse
- posso te pedir mais uma coisa?- pergunto baixinho e ele assente com a cabeça- pode me ensinar a dirigir?
Ele me olha chocado e ri
- sério?- ele diz ainda sem entender
- bom se eu quero virar uma mulher de negócios eu preciso parar de torrar minha grana no Uber- rio e ele faz que sim com a cabeça me fazendo abraça-lo fortemente
- obrigada!
(...)
- vai dar tudo errado!- coço a cabeça freneticamente enquanto Zayn me encara sem saber o que fazer
- não vai não, vamos arranjar o dinheiro- Zayn me acalma mas não adianta de nada
- como a gente vai arranjar tanto dinheiro em tão pouco tempo me diz? Olha, me desculpa Zayn eu que te enfiei nisso, eu sei que gastou suas economias nessa empresa e eu juro que te recompenso eu só preciso de um tempo...- ando atordoada de um lado pro outro mas Zayn é rápido em pegar meu rosto e me fazer encara-lo
- Sophie, relaxa!- ele me sorri e me beija a testa me fazendo sorrir e relaxar
- senhorita Baltimore?- um dos pedreiros caminha até nós e me entrega um papel nas mãos- isso estava debaixo da porta de entrada, como se tivesse sido jogado aqui dentro por debaixo dela
Ele me explica
- não viu quem deixou isso aqui?- pergunto sem entender
- não senhora!- ele diz sincero
- obrigada!- digo apenas e ele sai deixando Zayn e eu sozinhos novamente
- o que é?- ele pergunta se aproximando e eu abro o envelope encontrando um cheque
Um cheque bem gordo
- isso aqui? Isso aqui é exatamente o que estávamos precisando!- mostro pra ele e ele arregala os olhos e eu só consigo rir e pular
- mas como? Quem fez isso?- ele vira o cheque várias vezes como se fosse achar o nome de alguém nele
- eu não sei, um investidor talvez- digo completamente feliz
- investidor anônimo? Essa é novidade- ele ri e eu lhe dou um tapa na brincadeira
- isso importa? Meu nome está nesse cheque e isso significa que temos o dinheiro- eu dou pulinhos e Zayn finalmente para de encarar o cheque e me encara
- conseguimos!- ele me encara chocado
- conseguimos!- pulo diversas vezes até pular no seu colo e ele me rodar
Parecíamos duas crianças
Mas esse momento era único
- eu te amo!- digo em meio a comemoração e Zayn para tudo e me encara sério
- o que?- ele me põe lentamente no chão e eu o encaro profundamente também
Ele é lindo
Lindo e sempre aqui
Ele sempre esteve aqui
- eu te amo, Zayn!- digo séria agora e não demora pra nossos lábios se encontrarem de maneira quente e feroz
Não acredito que estou fazendo isso, é tão estranho
Mas é bom
Muito bom!
2 anos atrás...
- Lucy você não está entendendo, ele me chamou pra ir morar com ele, isso é sério!- digo séria enquanto minha amiga come uma salada gigantesca
Lucy foi uma das únicas coisas boas que tirei daquele ano infernal internada nessa clínica, ela ainda não recebeu alta então eu ainda vinha visitá-la
- ah pobre de mim, olhem só um homem gato quer me amar incondicionalmente o que eu faço?- ela zomba e eu lhe atiro um mini tomate na cabeça- ei!
- é sério, será que eu não estou me precipitando quero dizer, da última vez que morei com alguém não acabou nada bem- suspiro cansada e ela pega minha mão me fazendo olha-la
- Sophie... Não tem passado uns anos fáceis, eu lembro quando você entrou aqui, estava péssima, toda acabada fisicamente e psicologicamente...
- valeu!- digo irônica e ela ergue a mão pra que eu espere
- mas, desde que você me disse ter começado a namorar com esse cara você está muito melhor, mais feliz, com certeza vai dar certo, você o ama mais do que o cara com quem morou antes não?- ela me encara
Não
Desejava com todas as minhas forças ama-lo como eu amei ele
Mas eu não podia me enganar assim
Nunca amaria ninguém daquele jeito de novo
- claro!- minto e ela sorri
- pois então querida, vá em frente- ela me olha decidida e eu forço um sorriso
(...)
Chego em casa e vejo minha mãe e Richard conversando num tom alto na cozinha
- não podemos ir agora, não depois de tudo!- ouço minha mãe choramingar e vejo Richard passar a mão várias vezes no cabelo
- e o que vamos fazer Meredith? Ficar numa casa revivendo o fantasma do nosso filho? Vamos enlouquecer!- ele grita e eu resolvo aparecer na porta
- o que foi?- eles me encaram surpresos e em seguida preocupados
- querida...- minha mãe começa
- o que houve?- me direciono à Richard que sei que não vai enrolar em me dizer a verdade
- um tio meu do interior faleceu, ele me criou desde pequeno, não teve filhos nem ninguém só a mim... Ele deixou a casa no meu nome...- eles me encaram preocupados
- querem se mudar pra lá!- concluo calmamente e minha mãe logo caminha em minha direção
- mas não vamos, sabemos que as coisas não estão fáceis pra você, depois do Ben, e bom, depois do Harry e do seu problema com a comida, isso não foi nada- ela segura meu rosto e eu calmamente pego suas mãos e as seguro firme
- deviam ir!- digo apenas vendo a reação surpresa de ambos- essa casa é sensacional, sempre vai ser nossa casa, mas, o Ben morreu, eu passei por tudo aquilo e convenhamos que praticamente não fico aqui e vocês dois, vocês dois nunca gostaram de cidade grande mesmo. Temos que encarar que esse lugar não é mais nosso!
Meus olhos lacrimejam assim como os da minha mãe que olha pra Richard com um sorriso e depois volta a me encarar
- mas e você?- ela pergunta passando a mão em meus cabelos
- passou a vida se preocupando com a gente mãe, vai ser feliz um pouco... Não sei se percebeu mas sua filha já é adulta!- brinco fazendo ambos rirem e Richard se aproxima abraçando minha mãe
- agora que sabe dirigir acho bom ir nos visitar sempre!- minha mãe avisa e já começa a chorar tal como eu que abraço os dois fortemente pra que não me vejam desabar
Mas era de felicidade
- claro que eu vou!- sorrio contente em meio ao choro
Passei a tarde com eles, rimos, choramos quando pegamos o álbum de fotos e vimos todas aquelas lembranças, ajudei eles a começarem a empacotar as coisas e por fim fui embora, como sempre me despedindo duzentas vezes e assim que entro no carro pego o telefone
- alô Zayn?- sorrio quando escuto sua voz- a resposta é sim! Eu vou morar com você
Sorrio quando escuto sua comemoração do outro lado da linha
1 ano atrás...
- desculpa ter demorado tanto pra vir... Mas eu ando tão enrolada com as coisas, estamos começando a ser reconhecidos, é tudo bem pequeno ainda mas é um sonho. E a mamãe e Richard aprenderam a falar por chamada de vídeo a propósito, seu pai ainda deixa a câmera muito perto mas temos que dar um desconto pra ele- rio ao lembrar de Richard confuso mexendo com a câmera- eles já decoraram boa parte da casa, você ia amar, é espaçoso e aconchegante, realmente ia amar
Sorrio triste lendo o nome Ben Baltimore na lápide a minha frente
Ao contrário do que todo mundo diz não acho que me faz mal vir aqui e conversar um pouco com meu irmão
Na verdade me faz um bem absurdo
Sei que ele não está aqui
Mas é bom sentir só por um segundo, que ele me escuta
- Sophie, acho bom já irmos, temos que ver o piso pra colocar no banheiro e as lojas já vão fechar- Zayn avisa um pouco distante e com um último sorriso me levanto e caminho até ele e depois caminhamos abraçados até o seu carro
- colar bonito, nunca te vi com ele- Zayn comenta encarando o brilhante colar no meu pescoço
Ele me deu
A mais ou menos um ano, um ano e meio Liam veio até mim pra me entregar esse colar, disse que Harry foi até sua casa com ele e disse que como era meu eu deveria ficar com ele
Na época me lembro de ter ficado brava por ele não ter me dado pessoalmente
Ou pelo menos podia ter tentado
Talvez se ele tivesse tentado eu teria surtado, ou o xingado ou até ter dito coisas piores do que disse da última vez
Talvez tenha sido melhor assim!
Acontece que desde que Liam me devolveu o colar eu o mantive na minha penteadeira e ele me encarava todos os dias, ele me lembrava muita coisa
Muita coisa boa
Até que um dia eu percebi que se eu for deixar de fazer coisas porque elas me lembram dele
Eu praticamente não faria nada
Absolutamente tudo me lembra dele
Então apenas coloquei o colar essa manhã e decidi que ele não será um colar com um valor sentimental, que me lembra de coisas e me faz sentir coisas, afeto, amor, lembranças
E saudade
Ele seria apenas um colar...
- presente de formatura... Do Richard, havia me esquecido dele- minto e sorrio falsamente e ele me sorri dando um selinho demorado e em seguida liga o carro
Ele não precisa saber
O que importa é que estamos juntos
E com o tempo, isso será suficiente
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