Capítulo 22
Dirigimos o resto do caminho em silêncio. Ao chegarmos em casa Victor me garantiu que Louis já havia chegado. Disse que podia ouvi-lo trocando de roupa no quarto. Descemos do carro e caminhamos até a sacada da minha casa, agora a chuva se encontra em uma leve garoa. Na porta lhe devolvo seu paletó.
- Obrigada por me emprestar - Digo enquanto tiro seu paletó do meus braços.
- Se quiser ficar com ele, eu tenho muitos outros - Eu balanço a cabeça negativamente enquanto lhe entrego seu casaco deliciosamente cheiroso.
- Eu posso ficar com esse vestido? A não ser que vá querê-lo de volta.
- Pode ficar, eu comprei exclusivamente para você. Ademais eu não ficaria bem neste vestido, já em você ficou perfeito.
Ele sorri e eu também.
- Boa noite Victor - Eu abro a porta e antes de entrar sinto sua mão na minha, eu me viro e olho para ele.
- Boa noite Sarah - Ele leva a minha mão até seus lábios e a beija.
Seu toque gelado aquece todo o meu corpo. Droga! Use a cabeça Sarah!
Ele se afasta em direção ao seu carro e eu fecho a porta. Escuto o som do seu carro ir para longe. Eu subo as escadas e encontro com Louis no corredor, de pijama azul claro.
- Eu já estava indo abrir a porta para você - Ele diz se aproximando de mim.
- Estava dormindo? - Perguntei gentilmente.
- Não, resolvi esperar você chegar primeiro, mas eu cochilei.
- Jura? - Pergunto cinicamente.
Louis olha para mim sem entender e eu passo por ele, vou em direção ao seu quarto. Assim que abro a porta, vejo sob a cama seu terno e máscara jogados de qualquer jeito.
- Pois se me recordo bem, eu o vi no baile hoje. A não ser que seja sonâmbulo ou tenha transtorno de múltiplas personalidades, a desculpa do "eu cochilei" não cola - Faço aspas com as mãos e ele respira fundo. - O que você estava pensando!!? Peter podia ter descoberto que é você por baixo dessa máscara ridícula de bobo da corte e feito sei lá o que com você! - Eu pego a máscara e jogo na sua direção, batendo no seu peito e ele a segura nas mãos. - Ou algum outro bruxo podia ter pego você e ter te machucado! Ou um vampiro se alimentando de você! Você tá maluco é!? Brincando com a sua vida assim!
Louis, parado na porta, me olhava com os olhos arregalados. Eu respiro fundo, bem fundo, e depois solto o ar.
- Você podia ter morrido de várias maneiras diferentes hoje, seu idiota!
- Digo o mesmo a você! Eu fiquei deveras preocupado com você, lá, sozinha! Decidi ir junto e pense em como me senti quando Marcelo cravou as garras no seu pescoço. Eu a vi ali sangrando e eu não pude fazer nada porque o Peter lançou uma barreira mágica ao seu redor. Eu me desesperei, e se o efeito daquela poção já tivesse acabado? Então aquele vampiro a tirou de lá e sumiu com você. Pensei que ia te perder, Sah! Pensei que tinha perdido você! Eu não ligo para a minha vida se você não estiver nela Sarah. - Dito isto ele joga a máscara no chão e me abraça. - Você é minha família Sah. Eu só tenho você.
- Eu estou bem. - Eu o abraço de volta. Como ficar brava com ele? Não consigo.
- Fiquei preocupado contigo - Ele repete só que dessa vez sua voz saiu falha pelo choro.
- Eu estou bem - Repito apertando o abraço.
- Eu só voltei para casa depois que te vi, saindo acompanhada de Victor. Fiquei tão aliviado de vê-la bem - Eu não o vi, mas também, não estava prestando atenção em ninguém naquele momento.
Depois de um tempo nos separamos do abraço e ele enxuga as lágrimas do seu rosto.
- Ainda assim foi uma ação muito imprudente e idiota indo naquela festa - Digo pegando a máscara do chão.
- Eu só estava te imitando - Ele pega a máscara da minha mão e a joga na cama novamente.
Eu tiro a minha máscara e saio do seu quarto.
- Foi uma noite e tanto. Eu vou tomar um banho e depois vou me deitar. Boa noite Louis.
- Amanhã conversamos mais, boa noite Sah.
Tomei um rápido banho e depois me joguei na cama, onde adormeci de pressa. Tive um sonho onde eu dançava tango com Victor, nós dançávamos como aquela vampira de vestido vermelho dançou com aquele vampiro loiro. Mas nossa dança era mais…..quente que a deles, com mais pegada da parte de Victor. Foi um bom sonho, sem pesadelos.
O dia seguinte amanheceu chuvoso. Eu me obriguei a sair debaixo das cobertas quentinhas e ir ao banheiro. Tomei um banho rápido e depois fiz minha higiene bucal e saio do banheiro vestindo o meu roupão rosa favorito. Dei de cara com um Louis de cabelos bagunçados, por mais que curtos, e com cara de sono saindo do seu quarto. Ele me deu um bom dia sonolento em meio a um enorme bocejo e entrou no banheiro logo em seguida. Eu fui para o meu quarto e tranquei a porta.
Na cozinha, já vestida apropriadamente com minha adorável calça jeans e uma blusa azul marinho que eu amo, estou terminando de fazer o café da manhã quando um Louis mais acordado aparece pela porta. Vestindo uma calça moletom preta e uma blusa cinza.
- Bom dia - Ele pega uma caneca e despeja o café recém coado nela.
- Bom dia - Retribuo enquanto despejo leite quente sob o cereal, numa vasilha verde. Depois caminho até a mesa e me sento. Louis se senta ao meu lado e eu espero ele dar um gole do seu café.
Ele bebe um longo gole e depois abaixa a caneca amarela sob o porta copos na mesa. Ele respira fundo e depois olha para mim.
- Pronto, pode começar com as perguntas Sah - Ele concede calmamente.
- Como você conseguiu entrar na festa ontem sem convite? - Tomo cuidado com as palavras para não deixar escapar que Victor me contou essa parte.
- Eu fui como acompanhante de alguém - Ele responde calmamente.
- Humm…Quem? - Perguntei, mexendo com a colher o meu cereal.
Louis leva a caneca aos lábios e antes de tomar mais um gole de café, ele responde sem olhar para mim.
- Uma mulher - Diz por fim.
- E quem seria essa mulher? - Pergunto encarando cada movimento seu.
- Uma bruxa - Ele descansa novamente a caneca na mesa. Ainda sem olhar para mim.
Eu junto as sobrancelhas confusa.
- Pensei que todos os bruxos e bruxas te odiassem.
- A maioria - Ele responde a minha não pergunta, olhando para a sua caneca.
- Mas essa bruxa pelo visto não te odeia. Então…quem é ela?
- Isso não é importante - Ele olha de relance para mim e depois suspira. - Por que quer saber?
- Eu poderia citar muitos motivos, tipo a Josie não vai gostar de saber disso e principalmente de saber que eu estou sabendo disso antes dela, mas o que se adequa melhor agora, já que não quero uma briga com a sua mulher, é: por que você não quer me contar quem é essa bruxa?
- Isso não é importante - Ele repete irritado, soletrando cada palavra.
Merda! Eu citei o nome dela, não era para fazer isso, mas aconteceu.
Pelo menos ele não brigou comigo por isso. Escolhi ignorar, assim como ele, deixar isso de lado e continuar no presente.
Eu semicerrei meus olhos para ele.
- Eu a conheço? - Depois de alguns segundos ele balança a cabeça afirmando a minha suspeita. - E você não quer me contar quem é para preservar a identidade bruxesca dela - Concluo recebendo um balançar de cabeça positivo vindo dele.
Volto minha atenção ao meu cereal a minha frente, e finalmente pego uma enorme colherada e levo a boca. O gosto doce preenche a minha boca enquanto eu mastigo pensativamente. Quem é essa bruxa amiga de Louis? Conheço poucas mulheres dessa cidade então a lista fica curta. Mas se bem que pode ser alguém que eu conheço a mais tempo, de minha cidade natal talvez. Agora a lista aumentou.
Eu solto um grunhido irritada.
- Desistiu? - Louis pergunta, se referindo exatamente aos meus pensamentos.
- Uhum - Respondo de boca fechada, mastigando mais uma colherada de cereal.
Ele levanta e pega mais café e depois retorna ao seu lugar ao meu lado.
- Como que o Peter não reconheceu você? Sabe…, pelo cheiro. O cara é metade vampiro, então há de reconhecer os outros pelo cheiro, certo? Assim como Victor disse reconhecer você naquele dia. Ou o fato de ser só metade vampiro implica nessa desvantagem?
- Peter é um vampiro como qualquer outro, com a diferença de uma adição de habilidades, no caso a sua parte bruxa. E… - Ele faz uma pausa para beber mais um gole de café. - ..aquela bruxa que eu acompanhei, fez um feitiço para que eu ficasse “invisível” para os de olfato aumentados não me reconhecerem.
- Interessante - Como mais uma colherada de cereal.
Uma batida na porta nos faz ficar alerta.
- Esperando alguém? - Fiz que não com a cabeça. Louis se levantou e caminhou até a porta.
- É o Sherwood - Ouvimos do outro lado da porta. Louis abre a porta meio hesitante, depois de respirar bem fundo, enquanto eu me dirijo para a mesma.
- O que está fazendo aqui a essa hora? - Louis perguntou ficando carrancudo.
- Bom dia pra você também! - Victor disse com ironia na voz, e depois se volta para mim. - Bom dia Sarah, você esqueceu isso no meu paletó ontem - Ele disse me entregando o cartão que Peter me deu ontem.
- Bom dia Victor - Digo enquanto pego o cartão da sua mão, por um breve momento nossos dedos se tocam e eu sinto aquela eletricidade que gela e depois aquece novamente. - Obrigada - Digo meio sem jeito, afastando minha mão da sua.
- De nada, e eu coloquei o meu número aí também, caso precise de algo - Ele diz meio sem jeito também.
- Ela não vai! - Louis diz bruscamente interrompendo Victor.
Diante do clima tenso que se instalou na porta de entrada da minha casa, entre os dois, seguro no braço de Louis de uma forma que espero que o acalme, e me dirijo ao falar com o vampiro bonitão a nossa frente (é, eu usei o apelido que Isa deu a ele, "bonitão").
- Agradeço, me poupou o trabalho de pedir ao Louis - Digo com um pequeno sorriso nos lábios.
Demora, mas o clima entre eles ameniza, e eu respiro aliviada.
- Eu vou terminar de comer e daí podemos ir, ok? - Perguntei a Louis, que acena com a cabeça concordando. - Se quiser pode entrar, mas logo sairemos, então, não se acomode - Digo rindo um pouco, sozinha, porque os dois ainda estão carrancudos. Eu era boa em fazer os outros rirem, perdi isso também no acidente de carro?
Parece que sim.
- Eu já vou indo, tenho alguns assuntos a tratar. Me ligue se precisar de algo Sarah - Victor diz e antes que eu ou Louis pudéssemos dizer alguma coisa, o vampiro desaparece da nossa frente, usando a sua supervelocidade.
Em resumo rápido, terminei de comer, peguei o que faltava enquanto Louis se arrumava rápido, e fomos para o trabalho juntos. Louis me deixou na porta da Fihan, como de costume, e depois seguiu para o departamento de polícia.
A manhã de trabalho foi como de costume. Perto da hora do almoço, eu estava com o cartão de Peter em mãos, o mesmo que continha o número de Victor. Eu estava girando o cartão nos dedos da mão enquanto olhava pensativa para a tela do computador. Até que decidi salvar os dois números no meu celular, e enviar uma mensagem para um deles.
De início, pensei que ele não ia responder. Mas, a resposta veio quase que imediatamente, como se estivesse esperando a notificação de minha mensagem, que era um oi com meu nome em seguida.
Tivemos uma conversa curta e divertida, até eu me levantar da cadeira para ir comer.
Comprei um x-salada, noutro andar mais abaixo do meu, e uma garrafa pequena de suco de laranja, na grande máquina de venda automática.
Resolvi almoçar na varanda do andar de esportes, "por que eles sempre tem a melhor vista?" - me perguntei em pensamentos enquanto comia.
Indignada por não ter escolhido a área de esportes ao invés da de investigações, terminei de comer e saí dali.
- Segura a porta do elevador pra mim! - Pedi enquanto jogava o meu lixo na lixeira rapidamente e corria para o elevador.
Graças a Deus que a pessoa me ouviu e aceitou meu pedido.
- Obrigada - Agradeço ao entrar na caixa de metal e as portas se fecharem.
- Não há de que - O homem responde roucamente antes de me olhar e ficamos assim, nos olhando.
Seus olhos são em um tom claro de verde. São olhos muito bonitos.
Este homem é aquele belo moreno do bar. Será que ele se lembra de mim? O que ele está fazendo aqui?
- É você - Digo com um pequeno sorriso surgindo nos meus lábios. - Ahm, não sei se, se lembra, mas você me salvou de um babaca num bar, numa noite.
Ele balança a cabeça que positivamente, se lembrando.
- Eu me lembro sim - Sua voz rouca diz em meio a um sorriso.
Desvio o olhar para a porta que se abre, dando passagem para o meu andar.
- Foi bom revê-lo - Digo saindo do elevador, e me surpreendo quando o mesmo me segue. - O que está fazendo? - Pergunto curiosa.
- Estou te seguindo - Ele responde com simplicidade.
Eu pisco algumas vezes, sem entender.
- Por quê?
- Porque a senhorita estava com o colar que pertence a minha família na festa daquele híbrido, e eu o quero de volta - Ele diz seriamente, em um tom baixo o suficiente somente para eu ouvir.
Eu congelo no lugar. Mas como ele sabia disso?
- Eu sabia que você era encrenca, mas não sabia o quanto - Ele diz e um estalo se faz na minha cabeça.
"Você tem cara de quem atrai encrenca", foi o que ele me disse no beco atrás do bar.
"Senhorita encrenqueira", foi o que o caçador me disse na festa.
Puta merda! Ele estava na festa do Peter. Eu dancei com ele! Ele é o caçador!
- Você é o caçador - Digo num sussurro.
- O não, mas sim um. Sou só mais um dentre vários caçadores espalhados no mundo - Ele diz calmamente, se aproximando de mim. - Já você, é a humana dos vampiros.
A porta do elevador se abre e Clara sai dele. Ela parou e olhou para mim e o homem próximo a mim. Mas não disse nada, apenas desviou o olhar e continuou a andar.
Eu agarro o braço do caçador e o puxo para uma sala vazia, entro e fecho a porta.
- Tá maluco é!? Falando dessas coisas aqui! Pensei que isso fosse um segredo que ninguém devia saber! - Apesar de minha fúria, consigo falar tudo em um sussurro.
- Eu não ligo para essa coisa de segredo - Ele diz olhando seriamente nos meus olhos.
- Pensei que fosse um caçador, não é esse o lance de vocês? Manter o sobrenatural em segredo dos humanos? - Pergunto em tom provocativo.
- É. Mas eu tenho uma filosofia, onde todos deveriam saber que os monstros são reais e se proteger deles.
Eu fico em silêncio por um tempo, ponderando o que ele disse.
- Você não está de todo errado - Digo cruzando meus braços. - Mas o mundo não está pronto para isso, nem todos vão receber a notícia de braços abertos junto às suas carteiras.
Ele me olha incrédulo.
- Ah, qualé! Você é um caçador, tenho certeza de que iria cobrar pelos seus serviços.
Ele sorri e coloca suas mãos nos bolsos da jaqueta de couro preta, a mesma que estava usando naquela noite no bar.
- Não direi que está certa e nem que está errada.
Eu reviro meus olhos.
- Por que está aqui?
- Eu já disse. Quero meu colar de volta!
- Se era teu, por que não estava contigo? Por que estava numa joalheria prestes a ir para o museu? Hein?
- O colar foi roubado de minha família há muito tempo atrás. Quando enfim consegui a localização dele, o dono daquela joalheria não quis me devolver.
- Então você é o cliente rico do tal advogado que foi na joalheria, querendo comprar o colar - Digo confiante.
- Não tem cliente rico nenhum, na verdade eu era o advogado - Ele dá um passo à frente, se aproximando de mim. - Eu não sei como, mas o colar foi parar nas suas mãos. Você deve ser uma boa ladra.
Eu solto um riso anasalado, irritada com tal acusação.
- Eu não roubei nada, foi Joaquim quem me deu! - Digo encarando o par de olhos verdes à minha frente.
- E por que ele fez isso? Até onde eu pesquisei, vocês não se conheciam.
- Eu não sei os motivos pelo qual ele fez isso. Deve ter sido para que os assaltantes não pegassem o colar.
- Mas então por que você não o entregou à polícia?
- Porque eu prometi a Joaquim que o manteria em segurança - Digo me lembrando de quando ele me fez prometer isso, em seu leito de morte.
- E acha que estando com o híbrido, o colar está em segurança? - Ele pergunta debochado.
- Sim - Digo com convicção. - Olha, se quer tanto o colar, invada a casa do Peter e pegue. Agora me deixe em paz e vá embora daqui!
Digo e me viro para sair da sala, mas ele agarra meu braço e me vira para ele, me prensando contra a porta.
- Eu já invadi a casa dele uma vez, entrei de penetra na festa. Não será fácil fazer isso novamente.
- O problema é seu!
- O colar é meu, e como estava em seu pescoço ontem, vai me ajudar a pegá-lo de volta - Ele disse calmamente.
- E por que eu faria isso, sendo que finalmente consegui me livrar daquilo?
- Bem, primeiro eu pensei em matar o seu amigo vampiro, Victor, é o nome dele né? Eu pensei em entregar a cabeça dele numa bandeja para os lobos, soube que eles querem isso a muito tempo. Depois eu pensei em conversar com o seu amigo policial, tem alguns bruxos que querem ele morto. Você e suas amizades, eu disse que tinha cara de encrenca - Ele dá um sorriso cínico. - E aí, o que vai ser?
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Mais um capítulo proceis genteh lindah 🤗
Quem será essa bruxa amiga do Louis hein? Teorias? 👀
Que caçador babaca hein, aff 🙄
É isso por hoje e até o próximo sábado 🤭❣️✨
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