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Capítulo 3

 Eleanor Lynn olhou para o ambiente a sua volta. 

Era uma sala mal iluminada e um tanto poeirenta. Cadeiras brancas, dispostas em um semicírculo, disputavam espaço com estantes abarrotadas de livros envelhecidos. Na entrada, alguns biscoitos em uma travessa, acompanhados de suco de laranja e chá de pêssego. Pegou um biscoito. Mordeu. Gosto engraçado, pensou, e discretamente jogou o resto do biscoito em uma lata de lixo.

Observou então as outras pessoas que agora ocupavam as cadeiras brancas de plástico. Próximo da entrada, um homem de bigode e óculos olhava distraído para os próprios pés. Ao lado dele, uma mulher de cabelo loiro chanel conversava com uma senhora sobre Bob, o cachorro ladrão, e Eleanor não pode deixar de sentir pena do pobre Bob, que tinha que escutar aquela voz esganiçada todos os dias.

Do outro lado da sala, um burburinho de duas mulheres falando sobre uma promoção de bolsas e sapatos. Acima delas, um pequeno palco decorado com papel E.V.A. e flores coloridas. "A dor compartilhada é a dor curada", dizia um cartaz em garrafais letras vermelhas, pendurado entre as flores, e a cola que o segurava já deveria estar gasta, pois estava a ponto de cair.

Quando o relógio da parede, aparentemente mais velho que o próprio prédio, completou 14 horas, as pessoas rumaram para as cadeiras como um soldado para seu posto. 

—Boa tarde a todos! — falou energicamente o senhor Henry Watson, um homem baixo, com cara de quem tinha uns 50 e poucos anos, os olhos azuis escondidos por sob um óculos de lentes grossas. O cabelo castanho estava cuidadosamente penteado, como se ele tivesse passado tempo demais em frente ao espelho. Usava camisa xadrez, calça jeans e botas —Espero que todos estejam se sentindo confortáveis. E não esqueçam dos biscoitos! Jane não pôde vir mas mandou os biscoitos especialmente para vocês!

Eleanor franziu o cenho. Que coisa tão perversa aquele grupo havia feito para receber aqueles biscoitos em retribuição? Riu para si mesma da piadinha infame, imaginando como seria a pobre Jane.

—Estamos aqui unidos por um motivo — disse Henry, seguindo em direção ao palco, não sem antes parar diante do cartaz para tentar arrumá-lo, o que durou apenas 10 segundos até a cola dar seu último suspiro de vida.— Estamos unidos aqui pela dor. Do luto, da perda, da ausência. Meu nome é Henry Watson, como vocês já sabem. O que alguns talvez não saibam é que, há 10 anos, minha filha Kristen foi arrancada de mim — falou ele, e mesmo sob as lentes grossas, Eleanor conseguiu perceber os olhos azuis marejados, quase uma simbologia para um oceano cheio de tristeza. Ela conhecia bem o que o senhor Watson estava sentindo. — A gente nunca entende o verdadeiro sentido da dor até passar por ela. Eu mesmo, achava que dor era você ver seu time perdendo— ele falou, e então fez uma pausa, a piada usada estrategicamente para quebrar o gelo. — Não, eu não sabia o que era dor. Até o dia em que minha filha foi vítima de um assalto a mão armada. Há 10 anos eu convivo com essa dor. Eu me afundei no álcool, nas drogas, destruí meu casamento e causei dor a minha esposa que também havia perdido uma filha. Agora eu estou aqui, dizendo para vocês que podem encontrar outra vez o caminho de volta. A dor compartilhada é a dor curada.

—Estamos com você, Henry — falaram todos em uníssono, o som ecoando pela sala mal iluminada. Aquele era o mantra do grupo, um lembrete de que não precisavam mais lutar sozinhos. Ellie não sabia dizer se aquilo a fazia sentir confortável ou deprimida. Se ajeitou na cadeira desconfortável.

A mulher do cabelo chanel foi a primeira a falar depois dele. Se chamava Linda, tinha 49 anos e ainda estava lutando contra os sentimentos de negação por ter perdido a irmã mais nova para um agressivo câncer de útero.

Paulie, o homem que encarava os pés, estava saindo de casa pela primeira vez desde que a esposa faleceu. Estava feliz de ter conseguido passar da porta.

— Estamos todos com você, Paulie!

As mulheres das promoções haviam perdido os filhos em um acidente de trabalho, uma usina com equipamentos defeituosos que explodiu. Mal tiveram um corpo para enterrar.

Entre lágrimas e lembranças desenterradas, a roda de desabafos, por fim, chegou a Eleanor Lynn. Ela se levantou e encarou a pequena assistência que a fitava com expectativa, sentindo aqueles pares de olhos colados na própria roupa e começou a se questionar se estava pronta para dar um passo tão grande.

— Meu nome é Eleanor Lynn...eu perdi meu filho — falou, as palavras saindo de sua boca como se fossem vinagre. Ácidas, desagradáveis. — O meu filho, Ben...Benjamin...ele foi atropelado. O motorista fugiu sem prestar socorro. Ele morreu na hora. — ela terminou, e a cada letra, sentia a voz embargar. Subitamente, seu peito começou a apertar. O ar da sala parecia rarefeito, sufocante.

 Eleanor conhecia aquela sensação, sabia o que viria a seguir.

— Você quer falar mais sobre isso, Eleanor? — perguntou Henry, a conduzindo por um lugar que ela nunca havia estado antes.

Ela tentou, mas não conseguiu prosseguir.

—Sinto muito, eu preciso de ar ...

Eleanor Lynn abandonou o semicírculo de cadeiras brancas, passou pela bandeja de biscoitos e foi em direção a porta. Subiu os degraus o mais rápido que pôde. A avalanche de cortisol retraía seus músculos, fazendo com que a respiração se tornasse dolorosa.

— Meu Deus, eu preciso de ar... — falou para si mesma, até abrir a segunda porta e ser iluminada pela luz do sol que tanto contrastava com o subsolo da Escola Northway.

— Eleanor! — ela escutou uma voz atrás de si. Olhou por cima dos ombros e viu um Henry Watson esbaforido, segurando os óculos com os dedos gorduchos. — Tá tudo bem? Você precisa de alguma coisa?

Eleanor Lynn então começou a chorar, as lágrimas agora escorrendo sem controle sob o seu rosto. Tentou secá-las com a manga da blusa, mas foi em vão.

Se esforçou para falar alguma coisa, mas as palavras saíram como grunhidos desesperados. Era a sensação de pânico que a invadia toda vez que estava em um lugar com muita gente. E com mais o gatilho de falar sobre Ben, a sensação de Eleanor naquele momento é de que ela poderia ter um ataque cardíaco a qualquer minuto.

— Eu...sinto muito... — completou, as palavras entrecortadas pelo choro. A dor em seu peito era sufocante, os músculos agora se retesavam. Eleanor se abaixou, abraçando os joelhos com os próprios braços.

Quando ela fez isso, Henry se agachou ao seu lado.

— Você não tá mais sozinha, Eleanor — falou ele, com a cautela de quem  pisava em ovos. —  Nós estamos aqui para ajudá-la.

Ela assentiu com a cabeça. As crises de pânico haviam se tornado um episódio constante em sua vida.

— Eu só queria saber se um dia as coisas vão voltar ao normal...Tenho medo de isso nunca mais acontecer... é sempre assim? —ela disse, mas Henry Watson não tinha certeza se ela perguntava para ele ou para si mesma, então permaneceu em silêncio. — Ele era tão pequeno, Henry... meu Ben... —falou, entre soluços. —Como a vida volta ao normal depois disso? —e terminou a frase olhando para o chão, como se a resposta fosse surgir na calçada.

— Preciso ser sincero com você, Eleanor — falou ele, os lábios finos esboçando um sorriso tímido, enquanto a levava para um banco que estava ao lado deles.— Nunca volta. Perder alguém deixa em nós um buraco que nunca vai ser preenchido. O que você pode fazer é não deixar que a dor te condene. Tenho certeza que não era isso o que Benjamin queria para você. Eu sei que a falta dele está doendo agora, mas ele nunca vai morrer nas suas lembranças, elas sempre estarão com você, até o dia que seu coração parar de bater. A gente morre realmente quando não é lembrado. Benjamin foi lembrado, e tenho certeza que sabia que era amado.

Mas, Eleanor Lynn se sentia condenada. Toda noite desde a morte de Benjamin, era como se parte dela também morresse um pouco. Eleanor havia pensado muitas vezes naquilo. Desejava com todas as suas forças morrer para que o filho pudesse viver. Descobriu porém, da maneira mais cruel que, não importa o quanto você chore, lamente ou ameace a si mesmo, o tempo nunca volta atrás.

Eleanor Lynn morreu com Benjamin Lynn. Benjamin, tão pequeno, atingido em cheio por um carro que invadiu a pista. Benjamin, que foi ignorado por um motorista que nem ao menos teve a capacidade de assumir os próprios erros. E era isso o que mais machucava o coração de Ellie. Para ela, Ben era o mundo, mas para aquele desgraçado, ele foi apenas um desvio, um obstáculo no caminho.

Por meses a fio depois do acidente, foi até a polícia em busca de respostas. 

Não pode conseguiu passar pelo luto. Mesmo destruída, precisava lutar por justiça.

Mas nada podia ser feito. A placa do carro foi fotografada por uma câmera, notícia que lhe trouxe um pingo de esperança. No entanto, foi atingida por um raio ao descobrir que o carro havia sido roubado e a placa fora adulterada.

Tudo o que ela recebeu naquele dia foi um café amargo e um "sinto muito". O caso foi arquivado e todos ficaram com a consciência tranquila, menos a mãe que toda noite ia para a cama com a sensação de que mais um dia havia se passado sem que a justiça fosse feita.

— A gente aprende que nada dura pra sempre, não é? — perguntou Eleanor, com um sorriso, se sentindo mais aliviada ao ver que o senhor Watson a encarava de maneira paternal.

—Nem a dor —respondeu ele. —Vamos lá, eu sei que você vai conseguir! Todos estamos com você, lembra?

—Obrigada, senhor Watson.—falou Eleanor, agradecida.

—Por favor, Eleanor, me chame de Henry. Assim você vai me fazer sentir mais velho do que eu sou! Você quer voltar? — disse ele, e então se aproximou dela, estendendo-lhe as mãos. — Eu sei que os biscoitos não estão muito bons, mas Jane briga comigo se eu não os trouxer! — cochichou, e os dois caíram na gargalhada.

Como uma cena que confundiria facilmente um transeunte, achando que eram pai e filha, Henry e Eleanor voltaram para a salinha poeirenta da Escola Northway.

Os últimos participantes compartilharam suas dores e pontualmente as 15:00 a reunião se encerrou. Enquanto olhava para aquele grupo tão distinto, Eleanor teve o que viria a chamar de um insight. Não há nenhum ser humano inteiro no mundo. Somos todos quebrados, uns mais, outros menos. Estamos todos só tentando encontrar o caminho pra casa.

—Como é que nós dizemos, pessoal? — falou Henry, a voz anasalada ecoando pela sala.

—A dor compartilhada é a dor curada. — respondeu o pequeno grupo, antes de todos levantarem e seguirem o rumo de suas vidas.

Quando chegou em casa, 18 minutos depois, Eleanor Lynn tirou o casaco e os sapatos e se jogou no sofá. Ao seu lado, Galileu dormia como se o mundo lá fora houvesse acabado. Parte de Eleanor sentia inveja de como o gato parecia confortável e descansado. Ela se sentia cansada na maior parte do tempo. Deveria estar lavando roupas e fazendo a lista do supermercado, mas, em vez disso, ficou deitada no sofá, os olhos fixos no teto branco, imaginando mil coisas desconexas. Lá fora, o sol brilhava tímido e as folhas se balançavam, anunciando o vento do outono.

Eleanor morava em uma viela bem iluminada, onde árvores de todas as espécies formavam um tapete amarelo na rua aquela altura do ano. Era um apartamento pequeno, mas não havia necessidade de algo muito maior. As paredes estavam pintadas com alguma cor berrante e desconhecida, mas ela não se dera ao trabalho de mudá-las. Quando chegou lá, há 5 anos, tudo o que queria era um lugar para chorar.

No apartamento, a cozinha e a sala disputavam espaço, sendo divididas por uma mesa de madeira que já havia visto dias melhores. Dois quartos pequenos, um banheiro com ladrilhos verdes e uma sacada completavam o que Eleanor chamava de lar. Não havia se dado ao trabalho de decorá-lo, de modo que ele ainda parecia um tanto impessoal. "Nota mental: comprar alguma decoração".

Não conhecia os outros vizinhos, com exceção da proprietária, que morava no andar logo abaixo do seu. Therese Collins era uma adorável senhora de cabelo branco, bochechas coradas e olhos castanhos e esbugalhados que sempre pareciam olhar através de seu telespectador. No começo, Eleanor ficara um pouco decepcionada ao saber que sua senhoria morava ali, mas o valor do apartamento era atraente demais para perder a oportunidade.

Ela recapitulava com frequência a sensação de que teve logo que chegara. Parte de si achava que, quando se mudasse do apartamento anterior, a dor sumiria, quase como se a nova residência tivesse o poder mágico de realizar sonhos. No entanto, tudo o que Eleanor percebeu é que, uma dor que mora dentro do nosso coração, estará conosco até no fim do mundo.

Nos primeiros seis meses, chorou dia e noite. Os olhos estavam sempre inchados, a aparência externa evidenciando quão destruído estava seu interior. Todo dia, Eleanor tentava juntar forças apenas para ir trabalhar e poder pagar as contas. Quando chegava em casa a noite, sentava no sofá e ficava olhando para o vazio, pensando até que ponto seria capaz de suportar.

Certo dia, quando estava prestes a sair para o trabalho, Eleanor foi tomada de surpresa ao ouvir uma batida na porta. Era discreta, como se a pessoa do outro lado estivesse com medo de encará-la. Ela abriu a porta e se deparou com a figura de Therese, sorridente.

— É pra você, querida. —disse, entregando um pote azul e desaparecendo tão rápido quanto surgira.

Sem entender o que havia acontecido, Eleanor abriu o pote e se deparou com um pedaço de bolo e um bilhete escrito a mão, com escrita trêmula, hesitante.

"Minha querida

As vezes eu escuto você chorar. A vida é complicada, não é? Não sei o que aconteceu, mas espero que o sol volte a brilhar na sua vida.

Com carinho, Therese"

Subitamente, Eleanor sentiu vontade de chorar. Mas aquele não era um choro de dor. Ela chorou por que alguém se importou, alguém que não conhecia sua história trágica e nem havia convivido com Benjamin, mas se importou o bastante para querer consolá-la. 

Esse havia sido um dos motivos que a levaram a ir cada vez menos a casa dos pais. Toda vez que chegava lá, os olhos deles a destruíam.

A pena. A culpa. A sensação de que ela estava perdendo o controle. Não conseguia suportar.

Naquela noite, ao voltar do trabalho, Eleanor foi até a casa da senhora Collins. Bateu à porta com resignação, sentindo o nervosismo aflorar. Nunca havia sido boa em fazer contato social e estabelecer primeiras conversas.

— Olá. — disse o homem que abriu a porta, reconhecendo a moradora do andar de cima. — Elizabeth, certo?

— Oi... Eleanor, na verdade. — falou, o constrangimento se tornando quase palpável no ar.

— Isso, Eleanor. Olá, Eleanor.

— Oi. Eu só queria agradecer a sua mãe... a senhora Collins, pelo bolo.

— Eu posso chamar ela, se você quiser. — falou o homem, sorrindo. Ele era bonito, com cabelos e olhos castanhos. Usava uma camiseta do Pearl Jam, calças jeans rasgadas na altura dos joelhos e chinelos. Pela aparência, parecia ter uns 30 e poucos anos.

— Não, é que... — mas antes que ela pudesse completar a frase, Therese Collins apareceu, sorridente, usando uma blusa cotelê azul e calças marrons.

— Boa noite, Eleanor. Como você está? Meu Deus, Mike, por que você não a convidou para entrar? — falou ela, repreendendo o filho.

— Não, não tem problema. Eu só vim agradecer pelo pedaço de bolo e dizer que estava delicioso. Não precisa se preocupar comigo.

— Minha querida, não é nenhum incômodo! Você quer ficar para o jantar? Eu fiz um purê de batatas com queijo que, modéstia a parte, ninguém coloca defeito! É receita de família, trazida pela minha bisavó da Nova Escócia.

Apesar de inventar uma desculpa fajuta, Eleanor foi persuadida pela mulher de bochechas coradas e olhos escrutinadores. Seria bom jantar algo que não se resumia a embutidos e industrializados. Além disso, a senhorinha e o filho não pareciam ser do tipo que faz perguntas demais.

— Obrigada. —falou.

Depois do jantar, Eleanor ajudou Therese e Mike a lavar e guardar a louça e eles ficaram conversando sobre as coleções literárias que Therese guardava como um tesouro precioso na estante de madeira que parecia pesar mais do que ela.

—Não deixa esse sorrisinho enganar você, Eleanor. Essa senhora gosta tanto de livros de mistério que é capaz de cometer o crime perfeito! — falou Mike, e Ellie meneou a cabeça, os lábios tomando a forma de um sorriso.

— Ele só está brincando com você, Eleanor. E além disso, não existe crime perfeito, só mal investigado.

Eleanor assentiu com a cabeça. Gostaria que aquilo fosse mesmo verdade.

Ela encontrou os Collins muitas vezes depois daquele dia. Descobriu que Therese havia sido casada por 35 anos com o amor de sua vida, Jim, que faleceu vítima de um ataque cardíaco há sete anos. Descobriu também que Mike não tivera a mesma sorte e que acabou se casando em Vegas com uma mulher que roubou todas as suas economias e o deixou apenas com a roupa do corpo e uma montanha de dívidas para pagar.

Eleanor Lynn muitas vezes. Havia enfrentado por anos a pressão psicológica de um relacionamento falido para logo depois enfrentar a dor do luto. Era bom ter com quem contar.

As vezes, depois de um dia longo de trabalho, ela e Mike tomavam algumas cervejas na sacada. Falavam sobre as dores, amores e perdas. Eleanor contou sobre o filho, falou sobre a casa que moravam, sobre Mark Lancaster. Mike falou sobre a esposa, sobre os planos de terem um filho e sobre como a esposa se envolveu com o chefe dele, que o demitiu. Naqueles momentos, Eleanor Lynn não era uma mãe enlutada. Era só uma mulher bebendo cerveja com um homem. E quando, depois de uns goles a mais, eles se beijaram, ela sentiu que nem todos os sentimentos dentro de si haviam morrido.

— Talvez a vida ainda esteja começando pra gente, Ellie. Talvez a gente ainda viva muitas coisas. — falou ele, tomado da esperança provinda do álcool.

— Talvez. — terminou ela, melancólica, olhando para o céu estrelado.

Nunca mais se beijaram depois daquela noite.

Eleanor e Mike eram muito diferentes. Ela era uma mãe em busca de justiça e ele um divorciado falido em busca de emprego, que decidiu voltar a morar com a mãe. Ainda assim, havia algo entre os dois. Não romântico do tipo "amor a primeira vista". Talvez fossem apenas dois corações partidos reconhecendo um ao outro.

Agora, 5 anos depois, Mike estava abrindo seu escritório no centro da cidade. "Mike Collins, Investigador Particular", dizia a pequena placa de madeira na porta. Era pequeno, entulhado de caixas deixadas ali pelo antigo dono, mas ele já estava recebendo algumas propostas. Esposas, em sua maioria, buscando por provas de um marido infiel. Ele já não morava mais na viela de árvores, mas passava lá toda semana para ver como a mãe estava. Quanto a Therese, continuava fazendo bolos para as vizinhas, como se eles fossem uma poção mágica para todas as dores. Quando não estava na cozinha, mergulhava nos livros de mistério policial, uma eterna apaixonada por Agatha Christie, se sentindo por vezes a própria Miss Marple.

Eleanor Lynn ainda chorava de vez em quando, como havia feito na reunião do grupo de apoio. Mas, aquela altura do campeonato, nunca sentira tanta vontade de viver. Ela precisava viver. Ninguém lutaria pela memória de Benjamin mais do que ela.

No sofá da sala, encarando o pequeno retrato do filho, Ellie pensava sobre o que o senhor Watson lhe havia dito. Não era assim que Benjamin esperava que ela vivesse. Mesmo quando ele era pequeno, odiava vê-la chorar. No entanto, Eleanor jamais voltaria a ter paz interior enquanto não colocasse atrás das grades o assassino de seu filho.

Ela levantou, foi até uma estante que ficava no canto da sala e pegou uma pasta verde, cheia de documentos.

Leu outra vez os arquivos, mas isso não era preciso. Eleanor já sabia cada linha e parágrafo decor. Nos últimos cinco anos, ela havia mergulhado naquela pequena pilha até altas horas da noite, tentando encontrar qualquer indício que a polícia não tivesse encontrado. Recortes de jornais se misturavam com as fotos do corpo estirado no asfalto. Eleanor leu o relatório do legista. Traumatismo craniano. Sentiu um frio na espinha.

Olhou então para o envelope que estava abaixo do laudo. Aquilo havia mudado tudo.

Depois de quase um ano sem resultados, as coisas esfriaram e Benjamin Lynn se transformou em estatística. Eleanor havia ido a delegacia tantas vezes quanto conseguia se lembrar, mas todos os esforços foram em vão. Por muitas noites a fio, ela ficou imaginando se um dia seria capaz de fazer justiça.

Então, os envelopes começaram a chegar.

Eram envelopes amarelos, sem endereço de remetente. Dentro deles, uma chave e um bilhete com instruções que, por fim, levava a caixas postais com quantias em dinheiro. No começo, ela pensou em ir até a polícia. Mas raciocinou que, se algo estava sendo ignorado, como ela de fato achava que sim, aquela seria apenas mais uma folha na pilha de evidências. Se o dinheiro estava chegando, então Eleanor iria usá-lo para conseguir o que queria.

Não era necessário procurar a fonte dos envelopes. Ela sabia de onde vinham. E sentia profundo nojo por alguém achar que calaria sua boca em troca de suborno.

Naquele dia, dentro de si, além da dor, outro sentimento começou a ecoar.

Vingança.



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