Vagavam pela noite, entre as altas árvores da floresta negra, pouco distantes entre si. As árvores, com suas cascas secas e enrugadas e seus numerosos galhos, tornavam a caminhada mais estreita e calculada. A terra, molhada por uma recente chuva, denunciava na lama os leves e quase inexistentes passos de animais.

No breu da noite sem lua, duas figuras avançavam entre os galhos, esquivando-se de seus cortes secos, que nada lhes fariam mal. As figuras, enfim, pararam de correr, suas auras se estabilizaram, revelando seus corpos baixos e compridos. Eram raposas.

Seus olhos brancos e o pelo fino refletiam a luz da lua ausente naquela ocasião. Seus ouvidos se aguçaram, captando um som que se destacava entre os demais. Haviam sido atraídas até ali por aquele som. Entre a penumbra, viram então uma menina, encolhida, soluçando baixinho.

"Não chore, minha criança!", falou uma das criaturas ao se aproximar.

"O destino te reserva algo maior do que aquilo que te foi tirado", completou a outra.

A pobre menina ergueu timidamente o olhar marejado para as luzes à sua frente. Seus olhos eram de um profundo cinza, vagos como a bruma que cobria elegantemente o chão da floresta.

"Vamos, minha pequena, este mundo não tem mais nada a oferecer."

Cessando os soluços, com lágrimas ainda escorrendo quentes sobre as bochechas, ela se colocou de pé. Sentiu uma enorme dor em seu corpo, seus ouvidos zuniam e suas roupas estavam sujas de vermelho e marrom. Mas ao tocar no pelo luminoso das raposas, tudo se esvaiu, e em seu lugar, uma calma profunda a invadiu.

Seguiu, leve e serena, ao lado das duas figuras de luz. Aos poucos, ela também se tornou luz, misturando-se à imensidão da noite e perdendo-se no ar.

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