Magia Ancestral - Kaurãn
Corria pela imensidão da noite, com o estrelado céu sendo seu único guia, de vezes olhava para trás e via o iluminar das lanternas que os seguiam, o que fazia com que continuasse apesar do cansaço. Avançava pela imensidão de areia que era Kaurãn, sem rumo certo, a dias, apenas fugindo dos cães e lanternas que perseguiam a ele e sua irmã, que vinha pouco atrás carregando um manto com o pouco de suprimento que lhes restava. Sabia que toda essa fuga poderia não adiantar de nada, iriam pegá-los mais cedo ou mais tarde, mas ainda assim, iam tentar, não podiam desistir, mas a sorte já estava os deixando.
Indo a frente guiava o caminho, o desespero de ser capturado, não o fazia parar, o cansaço e a sede apenas serviam para aumentar sua resistência, a fuga só fazia crescer o tom da voz que seguiam, sentia a marca em suas costas arder, e essa ardência começar a se espalhar por toda ela. De repente tropeçou, mas por sorte não caiu com tudo, ao contrário de sua irmã que havia despencado no chão logo atrás. Correu até ela.
– Vamos! – chegou até ela já pegando em seu braço para erguê-la – Temos que continuar – olhava para trás a cada instante, os latidos estavam mais perto.
– Você deve ir – falou se ajeitando, e encarando os olhos escuros do pequeno irmão.
– Não vou te deixar aqui! – falou com certeza do que dizia.
Já haviam ido muito longe para deixá-la para trás, conseguiram escapar da base onde eram mantidos junto de outros, nunca soube o motivo de estarem naquele lugar cinza e isolado, sabia apenas que tinha algo haver com sua marca e a voz que o chamava. A mesma voz que cantava para ele naquele momento, os guiando para longe de seus perseguidores.
– Kai – chamou o segurando pelo rosto, segurando o choro para não demonstrar fraqueza ao mais novo, precisavam ser fortes, principalmente ele, para deixar mais uma coisa importante para trás.
Seus olhares se entrelaçaram vagamente, dando força um para o outro. Kai observou sob o céu claro da noite, o rosto de sua irmã, os olhos negros como os seus, o cabelo crespo em uma fina camada em sua cabeça, contrariando o liso de sua pele negra que se intensificava com o escuro da noite.
– Nitakuwa na wewe wakati... – falou serena deixando de conter uma única lágrima, e completou com um sorriso – Kati ya nyota.
Negou com a cabeça, não queria deixá-la, não queria vê-la entre as estrelas, queria tê-la ao seu lado — Nama — soltou em um sussurro, fora quem cuidará dele desde sempre, já teve que deixar um mundo para trás, agora mais isso.
– Vá – disse em definitivo lhe dando um forte tapa na perna.
Com isso sabia que não havia mais discussão, as luzes se aproximavam, os uivos e latidos também. Pegou o manto de sua irmã e colocou pendurando em seu braço, partindo às pressas, correu o mais rápido que pode, se recusava a olhar para trás, mas seu corpo o desobedecia. Em uma dessas olhadelas, viu quando meia dúzia de homens trajados e com lanternas a mão a cercaram, os cães, pelados que só, cessaram os latidos mas iniciam com os rosnados. Parou para observar a cena, por mais que não quisesse.
Um sétimo homem apareceu acompanhado por seu dingo de pelagem caramelada, a jovem ergueu as mãos em rendição enquanto cantarolava algo baixinho em um inexistente sussurro. Uma arma lhe foi apontada, o coração de Kai apertou, a vontade de correr de volta até a irmã o tomou mas seus pés estavam cravados no chão, não percebeu mas a voz que lhe canta o chamando para longe havia se calado, sua marca brilhou de leve. Um forte estalo ecoou pelo ar seco do deserto, no mesmo instante em que uma marca se formou no céu, com um forte e intenso brilho verde, que iluminou tudo ao redor, cessando um grito abafado.
Tradução: Nitakuwa na wewe wakati... Kati ya nyota
Estarei sempre com você... Entre as estrelas
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