- HATHAWAY -

Deixe-me contar para vocês uma coisa.

O bolinho que roubei de Jimin estava delicioso, então não imaginam o quanto fiquei decepcionado quando minha mãe me tirou do caminho que eu estava trilhando e me levou para perto dos instrumentos.

Faltavam tão poucos metros para que eu encontrasse a felicidade, mas minha felicidade foi roubada por minha mãe e pela bendita dama de vestido preto.

Quando percebi que eu havia perdido a chance de ter meu bolinho eu fechei a fisionomia completamente, mas como todos sabem, não sou tão difícil de ser conquistado, então quando minha mãe pediu para que eu tocasse piano enquanto canto uma das minhas músicas preferidas durante o baile, meu rosto se iluminou como os fogos de ano novo.

A música do salão estava parada desde o momento em que parei de dançar com Vênus, então após falar com minha mãe eu me sentei no banquinho à frente do piano e comecei a tocar.

É claro que nem todos conseguiriam escutar minha voz, o salão é grande e naquela época não existia microfone, então eu apenas cantei para mim mesmo e para os que estavam perto enquanto focava em entregar uma melodia de qualidade para os presentes usando as teclas do piano.

Foi magnífico, alguns dançaram, outros se aproximaram mais pra escutar minha voz, mas o que mais me encantava era ver o quanto a música alegrava as pessoas, foi nesse dia que eu decidi de verdade que ser músico era a escolha certa pra mim.

Quando minha apresentação acabou todos aplaudiram. Desci do palanque revigorado, então fui diretamente para a salinha atrás do palanque onde todos que se apresentam musicalmente ficam, imfelizmente minha alegria acabou pouco antes de eu me fazer ser notado para os que estavam ali dentro.

As irmãs Hastings conversavam com mais algumas damas enquanto se preparavam para entrar, provavelmente a próxima apresentação era delas, mas o que me incomodou não foi o fato de estarem conversando, mas o assunto da conversa.

— Ele toca piano tão bem, queria ser tão incrível quanto ele na música. — Vênus estava com um sorriso um tanto contido, ela realmente havia gostado de me ver tocar, aquilo aqueceu meu coração.

— Não crie esperanças, Vee. Sabe o que mamãe diria. — Gregória olhou para a irmã com um olhar de repreenda, Vênus se encolheu.

— Ah irmã, você não pode negar que o pequeno Sr. Kim é um colírio para os olhos. O rapaz é lindo, o mais lindo dentre os três irmãos, se não o mais lindo dentre todos os homens desta cerimônia. — Hyacinth comentou e uma das damas que estavam lá presentes aproveitou pra fazer um comentário também.

— O Sr. Kim Taehyung é realmente muito charmoso e atraente, mas beleza não significa nada onde vivemos, mesmo sendo da família de um duque, ele está muito distante na linha de sucessão. Querem um Kim? Invistam no duque de Devonshire, Kim Seokjin está solteiro. — Gregória balançou a cabeça várias vezes, concordando com todas as palavras da dama.

— Sei que ama o piano, Vênus. Mas por favor, não invente de se apaixonar por alguém tão baixo quanto o Sr. Kim Taehyung, pense alto, pense na nobreza em sua plenitude, é isso o que a mamãe deseja de nós, acredito que a mãe de todas pensa assim. — As outras damas concordaram, eu não estava com vontade de ouvir mais nada então apenas entrei na sala onde as garotas estavam, elas arrumaram a postura e apresentaram uma fisionomia desconfiada, como se estivessem tentando adivinhar se eu escutei algo e o que escutei.

— Senhoritas. — Fiz uma reverência as cumprimentando, elas devolveram. — A próxima apresentação é com as irmãs Hastings, podem assumir. — As irmãs acenaram e sairam, logo depois todas as outras fugiram da sala, me deixando sozinho.

Estiquei minhas pernas no sofá e olhei para o teto.

Status social elevado. Apenas isso importa para todas as pessoas que estão aqui neste salão. Tenho plena consciência que tenho uma aparência considerada bela entre os homens de Londres, mas ser visto apenas como um rosto bonito que não é importante por ser o terceiro na linha de sucessão é horrivel. Não tenho uma posição boa na sociedade pra conseguir uma esposa e se alguém se interessar por mim vai ser apenas pra desfilar com um rapaz bonito do lado.

Odeio com todas as forças essas temporadas sociais.

Tirei a fita que estava prendendo meu cabelo e o deixei cair em singelas ondas, depois a amarrei acima da testa para que as mechas da frente não caíssem em meus olhos, mamãe sempre disse que manter meu cabelo preso me dava um ar mais sério, mas eu cansei de viver de aparências, então preferi usar meu cabelo do jeito que eu gosto.

Saí do sofá decidido a só aproveitar o que os bailes poderiam me oferecer de bom, como se por providência divina a senhora Drummond passou com mais uma bandeja daqueles bolinhos deliciosos. Esfreguei minhas mãos uma na outra e segui em frente para pegar pelo menos uns cinco bolinhos, mas parece que todo o salão pensou o mesmo que eu, já que caíram como abutres em carniça em cima dos bolinhos.

Apressei o passo pra pegar pelo menos um, quando cheguei perto o suficiente para esticar a mão na bandeja, uma mão feminina apanhou o último dos bolinhos, quando a multidão se dispersou ao perceber que não tinha mais eu percebi quem foi.

A mesma garota dale vestido preto que pegou o bolinho da outra vez.

Ela tinha cabelos escuros, praticamente pretos, mas seus olhos eram de um azul tão profundo que eu podia jurar que a garota herdou parte dos genes de Park Jimin, porque eu nunca havia visto em qualquer outra pessoa um azul tão lindo quanto o dele.

Até agora.

Independente, a única coisa que me importava era o bolinho em sua mão, ela teve coragem de pegar o ultimo mesmo já tendo outro.

Ela tinha dois bolinhos, e eu não tinha nenhum.

Ladra de bolinhos.

— É a segunda vez que você pega o ultimo bolinho da bandeja e me impede de comer, tente deixar um pra mim da próxima vez. — Falei enquanto me encostava na parede ao lado dela, pensei que a garota iria se curvar para me cumprimentar ou perguntar de que família eu era pra descobrir se eu tinha uma boa posição para um marido, mas ela incrivelmente me surpreendeu com suas próximas palavras.

— Suas mãos têm que ser mais rápidas se quiser me ganhar, isso aqui se chama comida, não me arrependo de ter pegado não. — Ela me olhou por alguns segundos e depois deu uma mordida em um dos bolinhos.

— Mas eu queria um! Era meu bolinho... — Eu não tinha nada pra falar, então apenas imitei minha irmã quando quer brincar com os gatos da casa. Eu queria aquele bolinho, oras!

— Achado não é roubado, peguei primeiro. — Ela mordeu o bolinho de novo e eu só conseguia olhar para o outro que estava em suas mãos, eu não tinha ideia se a senhora Drummond iria preparar mais, talvez eu devesse apenas me dar por vencido e ir embora, ela mora na minha casa, posso pedir pra fazer pra mim quando quiser.

Mesmo convicto disso, eu não fui embora.

— Você podia me dar esse outro, você tem dois... — Tentei uma última investida, ela respirou fundo e olhou pra mim como se estivesse cogitando a ideia.

— O que eu ganho se te der meu bolinho? — A garota me perguntou me olhando de canto.

— Posso te apresentar meu irmão mais velho, todas as damas daqui estão ansiosas para conhecê-lo. — Aceita vai! Estou te oferecendo o primogênito da família Kim... — Seokjin, me perdoe, mas quero o bolinho.

— Quem é seu irmão? — Ela perguntou enquanto mordia o bolinho outra vez.

— Kim Seokjin, o duque de Devonshire. — A garota fez um sinal com a mão como se estivesse rezando, aquele do pai, filho e espirito santo.

— Deus é mais, garoto! Não quero conversar com caras importantes não, me apresenta pra alguém mais simples, tipo... Sei lá... O cara que cuida dos cavalos. — A garota tinha uma linguagem um pouco estranha, mas gostei dela de uma forma bem improvável.

Estendi minha mão para a garota e a cumprimentei logo em seguida.

— Me chamo Kim Taehyung, muito prazer. — Então fiz uma reverência.

— Você é o cara que cuida dos cavalos? Isso explica o cabelo maneiro. — Tentei não pensar muito no adjetivo estranho que ela usou pro meu cabelo.

— Não cuido dos cavalos, mas você pediu pra eu a apresentar para alguém simples, aqui estou eu. — Então abri os braços, ela me olhou de cima a baixo.

— Você não é simples, é irmão do duque. — Dei de ombros.

— Sou o terceiro na linha de sucessão, isso me torna tudo, menos importante. — Ela pensou um pouco e depois me estendeu a mão, mão essa que eu apertei um pouco desajeitado.

— Prazer em conhecê-lo, Taehyung. Me chamo Madison. — Senti meu interior se aquecer um pouquinho por ser chamado de forma tão informal, mas não deixei transparecer.

— Prazer em conhecê-la, senhorita Madison. — Ela sorriu e levantou a mão.

— Bolinho? Pode ficar com esse, você venceu. Só espero que não me abandone aqui, agora que já conseguiu o que queria. — Peguei o bolinho da mão de Madison e estendi meu braço pra ela em seguida.

— Quer dar uma volta? — Ela aceitou meu braço ainda sorrindo.

— Adoraria.

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Fanfic também é cultura

No século XIX era normal um grupo musical ser formado por irmãos ou irmãs, além de homens e mulheres da nobreza se apresentarem nas temporadas sociais para que pudessem ser mais vistos, lidar com música era o sinal de uma pessoa extremamente inteligente e culta naquela época.