- HATHAWAY -

Caminhei com a senhorita Madison por toda a propriedade de minha família, enquanto isso ela e eu comíamos os nossos bolinhos em silêncio. A música que as irmãs Hastings tocavam no salão ecoava do lado de fora, em outra situação nós não poderíamos estar sozinhos andando por aí, mas como a temporada social é bem movimentada, não é incomum que casais saiam para caminhar em busca de uma privacidade um pouquinho superficial já que todo mundo está de olho em tudo.

— Nunca a vi por aqui, a senhorita mora aonde? — Perguntei tentando puxar assunto, eu sou um pouco hiperativo, então aquele silêncio estava me matando.

— Ah... — Madison olhou em volta um pouco... Perdida? — Moro em um lugar bem distante, estou apenas de passagem. Vim pra cá com meu primo. — Ela comeu o ultimo pedaço do bolinho que estava enrolando pra comer agora pouco e esfregou as mãos uma na outra pra tirar o açúcar.

— Então a senhorita não veio para encontrar um pretendente aqui, não é? — Madison sorriu.

— Com certeza não. Aonde moro a forma de começar um relacionamento é um pouquinho diferente, então vim aqui por curiosidade, com as temporadas sabe? — Eu assenti.

— Onde você mora funciona como? — Paramos perto do jardim de casa e me sentei na fonte, indicando o lugar para que a senhorita Madison se sentasse também.

— É bem legal, você conhece a pessoa sem intenção nenhuma, 'tá ligado? Aí do nada você começa a sentir um friozinho na barriga perto daquela pessoa? Aí vocês sentem uma atração maluca e uma vontade absurda de se beijarem ou de fazer cafuné na cabeça um do outro. É muito bom. — Ela sorria enquanto falava. Seus olhos brilhavam um pouco e suas mãos mexiam na costura do vestido, como se já tivesse sentido algo assim.

— Você tem alguém? No lugar do qual você veio, existe alguém que sinta isso por você e vice versa? — O sorriso de Madison foi sumindo, me perguntei se eu havia dito algo errado.

— Não existe mais, passei pouco tempo com ele. — A garota não olhava pra mim ao falar, ela olhava para o céu, encarando as estrelas.

— O que aconteceu? — Tomei coragem para perguntar, eu estava curioso apesar de perceber que era um assunto um pouquinho delicado.

— Foi diagnosticado com câncer antes de eu o conhecer, morreu há alguns meses. — Entendi o motivo de seu sorriso ter desaparecido, meses são pouco tempo pra superar a morte de alguém amado. Eu mesmo ainda sinto falta do meu pai, e já faz bastante tempo.

— Meus pêsames. — Ela deu um sorriso de canto, como se fizesse isso para que eu não me abalasse tanto com a sua história.

— E você, já amou alguém dessa forma? Ou é regido pelas normas sociais deste lugar? — Madison olhou pra mim novamente e perguntou um pouco divertida, como se estivesse tirando uma graça comigo. Olhei para o céu tal como ela fez ainda pouco.

— Não gosto muito destas regras sociais, mesmo assim, não faço ideia de como é estar apaixonado por alguém. Meu melhor amigo parece estar um pouco encantado por minha irmã, acho que é o que tomei como exemplo de amor puro, mas não sei como é senti-lo. — Me senti um pouco envergonhado em falar algo tão profundo sobre mim, mas aquela garota me dava a sensação de que eu poderia falar qualquer coisa sem julgamentos, e ela me contou sobre seu amor perdido para a morte, o mínimo que eu podia fazer era demonstrar o mesmo nível de confiança que ela teve em mim para contar aquilo, então não me arrependi de falar mais do que eu devia, por mais que a tenha conhecido agora.

— O que você acha de pegarmos mais bolinhos? — Ela perguntou e logo em seguida ficou de pé.

— Acho uma ótima ideia. — Fiquei de pé também e estendi o braço para que ela segurasse, então caminhamos de volta ao salão.

— Meu primo vai pensar que acabei me engraçando por você. — Eu ri.

— Acho que todos que nos verem entrando vão pensar isso. — Madison apertou ainda mais meu braço enquanto gargalhava sozinha.

— Estou louca para ver a cara de todos. — Ela ainda sorria. — É só fazer a egípcia, vai ser engraçado.

— Fazer a egípcia? — Parei de andar e olhei para Madison sem entender, ela puxou meu braço para voltarmos a andar.

— Fazer a egípcia, se fazer de sonso, fingir que nada mudou no universo, andar pleno como se nada diferente do normal estivesse acontecendo ou que nós dois andarmos juntos durante a temporada social não quer dizer nada.

— O que é verdade. — Eu completei.

— O que é verdade. — Ela confirmou. Chegamos na porta do salão e eu respirei fundo, então me virei para Madison antes de entrar.

­— Como eu posso saber se estou apaixonado? — Ela sorriu, um sorriso genuíno.

— Se tiver vontade de fazer cafuné no cabelo da garota, a abraçar sem nenhum motivo aparente e querer colar a sua boca na dela porque tem a impressão de que seus lábios macios são extremamente bons de saborear, meu amigo... Pode ter certeza de que é ela e você está de quatro. — Madison balançou a cabeça satisfeita consigo mesma e sua resposta.

Só teve uma coisa que não entendi.

— Estou de quatro? — A olhei com a sobrancelha franzida, isso quer dizer que estou apoiado no chão como um cavalo? Talvez cavalos tenham uma versão de amor verdadeiro melhor que nós humanos.

— Algo de onde eu vim, isso quer dizer que está completamente apaixonado. ­— Eu assenti entendendo e não entendendo ao mesmo tempo.

— Tem algo a ver com cavalos? Essa linguagem de onde você veio é muito estranha. — Cocei a cabeça sentindo ela doer um pouco devido ao esforço para entender Madison, mas até que valia um pouco a pena.

— Em algum momento eu te explico o significado da expressão, estou ansiosa pra ver você horrorizado, Taehyung. — Então ela apontou pra frente. — Vamos entrar? Quero mais bolinhos.

Assenti e nós entramos no salão, foi um pouco estranho ouvir meu nome saindo de sua boca sem nenhum tipo de pronome de tratamento, mas confesso que gostei.

Um pouco.

Depois de mais uma rodada de bolinhos, Madison se despediu para ir dormir, então aproveitei para fugir das festividades e dormir também, como todos sabem, sono pra mim é sagrado.

No dia seguinte marcamos um almoço em família, mamãe convidou o conde, já que a família de Jimin sempre foi próxima da nossa (e eles também estavam hospedados em uma de nossas propriedades). Jennie se arrumou como uma princesa quando descobriu que iria almoçar com Jimin e as irmãs, pensei em amarrar meu cabelo em um rabo de cavalo baixo como antes, pra parecer mais maduro, então lembrei da história de Madison sobre ficar de quatro e ri sozinho por um tempo, decidindo então deixar meu cabelo solto. Peguei a tira de pano que eu usava para amarrar e a enrolei em minha testa, para impedir do cabelo cair em meu rosto, estão fui até a sala esperar Jimin.

Quando ele chegou eu fiquei de pé e o abracei, Jimin me soltou após alguns segundos e colocou as duas mãos em meus ombros.

— Eu havia te dito que minha prima veio passar um tempo com a família, então decidi apresenta-la a você antes do almoço, já que ela vai comer com a gente.

— Ainda acho que demorou pra fazer isso, Park. Onde a garota está? — Perguntei sorrindo, eu acordei com um humor bom.

— Vou chama-la. — Jimin me soltou e foi até a porta pedir para alguém entrar, acho que já devem imaginar minha cara de surpresa quando descobri quem era a prima distante de Jimin.

— Taehyung, essa é a senhorita Madison. Prima, este é o senhor Kim Taehyung, meu melhor amigo. — O sorriso de Madison ia de orelha a orelha, eu não conseguia parar de sorrir também. Ela fez uma reverência exagerada que me fez gargalhar, devolvi a reverência à altura.

— É um prazer reconhece-lo, Taehyung. — Sorri ainda mais com a cara de Jimin olhando pra gente.

— Digo o mesmo, senhorita. — Jimin nos encarava um pouco perdido.

— Calma, vocês já se conhecem? — Madison passou a mão no braço de Jimin e veio andando para o meu lado.

— Conversamos bastante no baile de ontem, gosto do seu amigo, primo. Agora podemos comer? Estou morrendo de fome! — Madison entrelaçou seu braço no meu e apontou para a cozinha, então apenas saí andando com ela.

Nós dois rimos de Jimin, que nos seguiu de perto após assimilar o que estava acontecendo. O almoço seria divertido afinal.

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Fanfic também é cultura

Fazer a egípcia remete as artes egípcias, onde todos são retratados com ar de indiferença e superioridade, não se importando com opiniões ou pensamentos acerca de si e os ignorando caso questionados.