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Ame-se!

Música/Inspiração:
Like Myself- Elizabeth Grace

"Eu quero me ver da mesma maneira que Você me vê. Eu só quero gostar de mim. Deus, eu preciso da Sua ajuda, mude a maneira como me vejo."

💠💠💠

Meus amigos estouraram uma garrafa de champagne e depois de cada um ser servido, tomamos um gole e erguemos as taças no ar.

-Aêêêêê!!! Viva os dez milhões da Lari!!!

-Dez milhões não é pra qualquer um, meu amor!!!

Raffa, meu câmera, me filmou mais de perto e pediu para eu dizer como me sentia.

Exibi um enorme sorriso, para mostrar o quanto estava feliz.

-Estou radiante! Não poderia estar mais feliz, hoje. Estamos planejando a festa dos dez milhões já algum tempo e tudo o que eu posso dizer é: muito obrigada! Vocês são a luz da minha vida!- Terminei assoprando um beijo em direção à câmera, como se assim, pudesse direcioná-lo aos meus agora, dez milhões de seguidores no YouTube.

Raffa me filmou mais um pouco, interagindo com os meus amigos e depois saiu para filmar os arredores.

Estávamos na casa de campo de uma conhecida minha e também fã, que havia cedido o local, para que fizéssemos a festa dos dez milhões.

-Ei, Lari!

Olhei e vi Alícia, minha melhor amiga, acenando para mim, do outro lado da enorme sala.

Acenei de volta para ela, sorrindo, mas ela não parou de gesticular. Parecia apontar para algo no meu rosto.

-...mas me fala, qual foi a sensação de quando você atingiu os primeiros cem mil inscritos?- Alguém ao meu lado me perguntava, mas eu tentava prestar atenção no que Alícia queria me dizer.

Ela percebeu que eu não estava conseguindo entender, então veio até mim, me puxou bruscamente, sem nem me dar tempo de pedir licença à pessoa que falava comigo e me arrastou para o banheiro mais próximo.

-Mas o que foi hein, Alícia?- Reclamei.

-Ai Larissa, não sei o que seria de você, sem mim!

-Por que, o que foi agora?

Ela fez eu olhar para o espelho.

-Não está vendo? Sua maquiagem está saindo. Passou o dia inteiro com ela, também. Olha aqui.- Ela apertou a maçã do meu rosto, do lado direito.- As sardas estão aparecendo. Essas horríveis sardas que você tem.

-Ahh...

-Deixa eu retocar pra você. Sabe que não pode aparecer na frente da câmera sem make. Seria um desastre!

Eu me aquietei e deixei ela fazer o trabalho dela.

Alícia era minha melhor amiga há muito tempo e desde que eu me tornara uma pessoa influente na internet, ela fazia vários papéis na minha vida: me ajudava a criar conteúdo para o canal no YouTube, me assessorava e, como ela também entendia do assunto, volta e meia me maquiava, apesar de que em ocasiões especiais eu tinha um profissional para fazer isso.

Alícia era meu braço direito.

No entanto, as palavras dela não deixavam de me machucar. Eu sabia, é claro, aquelas sardas eram terríveis, escondê-las era algo que eu fazia sempre.

Apenas Alícia e minha mãe sabiam que eu as tinha, e somente na frente delas eu aparecia sem maquiagem.

-Pronto! Agora sim, está perfeita de novo!- Ela disse, guardando os apetrechos de maquiagem.

-Vamos?

-Eu... Já vou. Logo logo saio.- Respondi, sorrindo para ela, que deu de ombros.

-Ok, estamos te esperando!

E saiu, fechando a porta.

Encarei meu rosto perfeitamente maquiado e parei de sorrir.
Era lindo assim, não dava pra negar.

Mas por que eu não podia mostrar para as pessoas como eu era, de verdade?
Aquilo estava começando a me cansar.

Mas odiava, odiava aquelas sardas com todas as minhas forças e aquele rosto branco demais, sem graça.

Percebi meus olhos se encherem de lágrimas.
Eu não estava bem, definitivamente.


💠

Eu nem sempre fui uma youtuber de sucesso e nem sempre odiei meu rosto sardento.

Tudo começou quando eu tinha sete anos de idade.
Naquela época, eu adorava meu rosto.

Meu pai era comerciante. Sua vida era viajar por muitas cidades e até fora do estado, vendendo seus produtos e fazendo cobranças. Mas ele sempre encontrava um jeito de voltar para casa no fim de semana, para ficar comigo e a minha mãe.

Eu me lembro de que ele me colocava em seu colo, acariciava meus cabelos e sempre dizia o quanto as minhas sardas eram bonitas.

-Sabe, filha, elas destacam seus olhos verdes. Eu tenho orgulho de ter uma filha tão linda assim. E melhor do que isso, tenho orgulho por você ser essa menina tão boa.

Eu sorria, toda boba, adorava os elogios dele.

Quando papai não estava em casa, eu me colocava na frente do espelho e namorava as sardas por um longo tempo, me vendo através dos olhos do meu pai.

Ele dizia que eu era linda. E se meu pai dizia, então era verdade. Ele jamais mentiria para mim.

Até que um dia a tragédia bateu à nossa porta: numa de suas viagens, meu pai sofreu um acidente no carro com o qual trabalhava e depois de muitos dias de luta no hospital, faleceu.

Logicamente, meu chão se abriu.

Eu e minha mãe nos apoiamos uma na outra, na esperança de aplacar, pelo menos um pouco, a dor que a ausência dele nos causava.

Porém, naquele tempo, mesmo sofrendo com o luto, eu ainda era uma garotinha que tinha brilho nos olhos.

Eu ainda amava me olhar no espelho e ver o meu rosto. Ele me fazia lembrar do meu pai e de como ele me admirava.

💠

No ano seguinte, no primeiro dia de aula, conheci vários dos que, pelos próximos anos, seriam meus colegas de escola e na vida.

Entre eles, Alícia Mendes.

Ela era a típica garota que, mesmo tendo apenas oito anos, era líder de turma, muito popular entre os colegas e extremamente inteligente.

Com sua facilidade em se aproximar das pessoas, ela logo também fez amizade comigo.

Num primeiro momento, foi cordial e muito simpática. Mas, depois de me observar bem por uns trinta segundos, ela disse:

-Como você tem coragem de vir pra escola com o rosto desse jeito?

Eu, completamente inocente, questionei:

-Como assim?

Ela apontou:

-Essas coisinhas nojentas aí no seu rosto.

Entendi logo do que ela falava.

-Ah, são minhas sardas!

-Sardas?

E o que eu disse a seguir foi a primeira e única vez que eu tive coragem de defender o meu rosto, do jeito que ele era.

-Sim, meu pai adora... adorava minhas sardas. Ele diz que elas são meu charme e realçam a cor dos meus olhos.

-Seu pai não deve enxergar muito bem, não é?-Ela falava com muita calma.- Essas sardas são simplesmente a coisa mais feia no rosto de alguém que eu já vi!

Eu nunca tinha ouvido aquilo. Ninguém nunca tinha me dito algo sequer parecido.
Nem positivo, nem negativo.
Com exceção do meu pai, é claro.

Mas Alícia conseguiu destruir com aquelas palavras, em questão de minutos, todo o amor que eu tinha pelas minhas sardas.
Meu pai não estava ali para me dizer o contrário disso.

E então, dali por diante, eu só sentia vergonha. Vergonha de olhar para as pessoas e elas acabarem olhando para as sardas; vergonha de sorrir e o sorriso evidenciar as sardas.
Vergonhas de tê-las, vergonha de ter nascido com aquele "defeito" como Alícia costumava dizer. Vergonha, vergonha, vergonha.

Até a vontade de ficar me olhando no espelho por horas, desapareceu.

E o pior foi que ela conseguiu fazer com que todos os nossos demais colegas também pensassem como ela.

Se Alícia Mendes dizia que uma coisa era bonita, era porque era.
E se dizia que era feia, era porque também era.

Talvez eu possa afirmar que Alícia conseguiu acabar com a minha auto estima?
Ou talvez tenha sido eu mesma quem a destruiu, por acreditar cegamente e por tanto tempo, numa mentira.

💠

Sofri um tempo com a exposição das minhas sardas e quando completei onze anos, minha mãe finalmente me deu permissão para usar maquiagem.

Aquilo pra mim foi um alívio que eu não sei dizer o tamanho.
A base, o blush, o batom, o corretivo e tudo quanto era apetrecho de maquiagem, viraram meus melhores amigos. Além de Alícia, é claro.

Como alguém que foi capaz de destruir o amor que eu sentia por mim mesma pôde se tornar minha melhor amiga?
Simples.

Alícia era, ao mesmo tempo, o meu pior terror, e a minha maior motivação.

Ela percebeu que eu tinha talento para cantar, dançar e interpretar e vivia me dizendo que no futuro, eu teria muito sucesso, se investisse em mim mesma e, é claro, se escondesse as sardas.

Alícia era empreendedora e visionária.
Foi ela quem teve a ideia de gravar o  meu primeiro vídeo que alcançou um milhão de visualizações e também foi ela quem me deu a minha primeira câmera.

-Você, Larissa, vai brilhar muito ainda. Eu já posso ver!- Ela dizia, quando nos trancávamos no meu quarto, discutindo várias e várias idéias.- Você, famosa, cheia de fãs e seguidores. E por trás disso tudo, eu, Alícia, sua melhor amiga, sempre planejando tudo e visando mais e mais sucesso pra você.

-E você, também não quer fazer sucesso?- Perguntei-a.

-Ah, olha pra mim, Lari, eu já sou um sucesso!- Exclamou, toda pomposa, sorrindo. Depois, balançou a cabeça e ficou séria:

-Mas, não. Não quero os holofotes em mim. Eu serei apenas a mente genial por trás do seu sucesso! Eu acredito em você.

Eu sorria, sonhando alto, junto com ela.

E de fato, tudo aquilo aconteceu.
Meus vídeos fizeram sucesso, meus seguidores triplicavam, eu passei a ganhar dinheiro e a ser patrocinada por renomadas marcas de roupas e maquiagem.

Era uma vida corrida, muito glamourosa e claro, eu era muito bajulada.

Tudo isso poderia ter servido para me fazer esquecer um pouco meu trauma com a minha aparência e até serviu, sim, por um tempo.

No entanto, o momento que devia ser o mais relaxante para mim, que era o banho, se tornou o pior momento, porque era quando eu via o meu reflexo no espelho, de cara limpa.

Aquilo era insuportável para mim.
Tanto que, depois de um surto, saí correndo do banheiro e no minuto seguinte, já estava fazendo ligações para que tirassem todos os espelhos que havia no banheiro da casa, a bela casa que comprei, depois da fama.

Espelhos, só quando estava maquiada. Aí sim, eu adorava.

💠

Conforme o tempo foi passando, e o efeito do "uau, sou famosa, todo mundo me conhece e me acha bonita!" se dissipou um pouco, eu percebi que estava vivendo uma mentira.

Adorava atender os pedidos dos fãs e responder perguntas sobre a minha vida porém, quando me pediam para gravar um arrume-se comigo ou qualquer coisa em que eu tivesse que aparecer sem maquiagem, eu me fazia de desentendida.

Meu rosto e como ele era verdadeiramente era algo que, segundo Alícia, meus fãs não poderiam ver porque senão, no minuto seguinte, eu teria perdido milhares de inscritos.

-E você não é doida de fazer uma coisa dessas né? Suamos para conquistar o que temos hoje, você não pode por tudo a perder aparecendo na frente das pessoas desse jeito.

Eu apenas sorria e concordava, mas tinha vontade de dizer que nada daquilo fazia sentido e me lembrava do meu pai, me cobrindo de elogios. Mas não dizia absolutamente nada. Talvez eu possa dizer que, por um bom tempo, quem controlou a minha vida e até mesmo os meus sentimentos, foi a Alícia.

E quanto a minha mãe?
Eu não sei se posso criticá-la por não saber o que se passava, de verdade, comigo.

A imagem que eu passava para ela e para todo o mundo, era de que eu era uma garota feliz e realizada, em relação à tudo, na minha vida.

Ela realmente não estava a par de tudo isso.

Até por que os mimos, os presentes, os hotéis de luxo, as viagens para o exterior e tudo o que eu fui conquistando supriam a falta de amor próprio que eu tinha.

Mas, existe uma verdade na qual eu acredito. Todo mundo tem um limite. Isso é fato. E eu estava prestes a chegar no meu.

💠

Depois que Alícia retocou minha maquiagem e saiu, fiquei ali me observando naquele espelho.

Completamente pintada.

Aquela não era eu. Meu rosto não era daquele jeito.
Eu mal me lembrava de como ele era porque só vivia maquiada e, nos raros momentos que não estava, me recusava a olhar para o espelho. Pra quê olhar, se o que veria só me traria desgosto?

"Eu tenho orgulho de ter uma filha tão linda assim. E melhor do que isso, tenho orgulho por você ser essa menina tão boa."

A voz querida do meu pai, há anos perdida dentro das minhas memórias, se fez ouvir, de repente.

-Ah, papai! Se você soubesse o que eu me tornei...- Falei, deixando que as lágrimas corressem livremente.

Quer dizer, eu não tinha perdido minha essência. Eu ainda era eu mesma por dentro, mas não era isso que eu demonstrava.

E o fato de não mostrar para as pessoas quem eu era de verdade, acabava por tornar-me alguém completamente diferente.

Meu coração dizia insistentemente que aquilo não era certo. Não era certo eu odiar meu próprio rosto, só por que minha amiga achava que  ele era feio.

Mas e se Alícia tivesse razão?
E se de repente eu mostrasse minha verdadeira face e as pessoas me odiassem? E se não me aceitassem como eu era?

Eu segurei o choro com muita força.
Por dentro, eu estava gritando.

Abri a porta do banheiro e dei de cara com Alícia.

-Nossa! Já estava indo ver se você tinha morrido aí dentro!- Ela suspirou e segurou minha mão.- Anda, vem. Estão te esperando, Larissa! Espera...- Ela me reparou melhor.- Que olhos vermelhos são esses, você...?

Eu não suportava mais ficar ali, nem olhar para Alícia.

Tudo bem que era a festa em comemoração aos meus dez milhões de inscritos, mas como eu disse: tudo tem um limite.

Me soltei de Alícia e saí dali.

-Ei, espera! Larissa, o que está acontecendo? Pra onde você vai? -Ela gritou.

Não respondi. Eu não sabia o que seria capaz de dizer, se abrisse a boca.
Só corri. Corri para o mais longe possível dali.

💠

Cheguei em casa depois de dirigir muitas horas desde a casa de campo onde estava, até a minha própria casa, na cidade.

Uma palavra que me definia naquele momento? Cansada.
Melhor, tenho duas. Cansada e sobrecarregada.

Apenas entrei em casa, disse à moça que trabalhava para mim que ela estava dispensada e caí no sono no sofá da minha sala, mesmo.

Quando acordei, provavelmente lá pelo meio da manhã, me levantei, peguei minha bolsa e subi para o meu quarto, no intuito de tomar um bom banho.

Olhei meu telefone, várias ligações perdidas e mensagens não lidas.
Não li nada.

Os acontecimentos do passado e os do presente dançavam confusamente na minha memória.

Preparei tudo e fui me lavar.

Uma idéia foi nascendo em minha cabeça e tomando forma.

Tomei um banho demorado.
Enquanto lavava o meu corpo, parecia que estava lavando a minha alma.

Fiquei limpa, porém, não lavei apenas uma parte do meu corpo.
Meu rosto.
Meu rosto maquiado e pintado. Deixei-o como estava.

Saindo da banheira, enrolei-me no roupão e caminhei até o lugar onde deveria haver um grande espelho (que eu havia mandado retirar quando tive o surto) mas que agora havia apenas o balcão repleto de produtos de beleza e um grande vazio à frente.

Voltei ao quarto, peguei meu telefone e retornei ao espaço do banheiro onde eu me arrumava, geralmente.

Liguei o telefone, acessei a minha conta no Instagram e cliquei na câmera para começar uma live.
Assim, sem aviso prévio aos meus seguidores. Era exatamente isso. Quem tivesse de ver, veria.

💠

Celular posicionado à minha frente, comecei a falar.

-Oi gente, bom dia...

Em menos de um minuto, cinco mil pessoas já estavam conectadas à Live.
A maioria comentando que surpresa era aquela eu aparecer assim, de repente, sem avisar que faria uma live.

Decidi não olhar muito para os comentários e apenas focar no que eu tinha a dizer.

-É isso mesmo, eu resolvi aparecer de surpresa pra vocês. Precisava fazer isso por que hoje, pela primeira vez, eu vim ser cem por cento sincera com vocês.


Olhei a contagem e agora, mais de dez mil pessoas já estavam acompanhando a transmissão.

Peguei um pote de lencinhos umedecidos que estava sobre o balcão e comecei, vagarosamente, a limpar o meu rosto.

-Eu vim aqui conversar com vocês porque sinto que estou no meu limite. Vocês já passaram por isso? Já sentiram que havia uma corda enrolada ao seu pescoço e que se você não a retirasse o quanto antes ia acabar se enforcando? É isso que estou fazendo neste exato momento. Estou cortando a corda. Há muito tempo que eu tenho vivido debaixo de uma máscara, quase que literalmente.- Eu falava enquanto mais e mais camadas de base e corretivo iam ficando no lenço.

- Tenho negado quem eu sou diariamente, tenho me escondido dia após dia, tudo isso para agradar outras pessoas. Eu amo vocês, que são meus fãs e que me acompanham aqui e lá no canal e acredito que, os que realmente gostam do meu trabalho e da minha pessoa, não vão se importar com algo tão sem importância que são os defeitos do meu rosto.

Depois de retirar bastante da make com os lencinhos, passei a usar o creme demaquilante, por todo o meu rosto.

Minhas sardas, as minhas tão amadas e odiadas sardas, estavam ali, expostas para milhares de pessoas, pela primeira vez.
Eu tive vontade de chorar.

-Sim, gente. Eu tenho sardas. Aquele rosto macio, perfeito e sem manchas não existe. Era só maquiagem. Meu rosto de verdade é este aqui.- Aproximei bem meu rosto do celular.- Este é o verdadeiro rosto da Lari.

-Eu quero que fique registrado aqui que eu cansei de me esconder e de me odiar. E se você, aí do outro lado da tela também estiver odiando qualquer coisa que seja no seu rosto ou no seu corpo, pare. Pare agora! Não deixe que as opiniões de outras pessoas a respeito de você definam quem você é. Não se esconda! Não tenha medo de se mostrar como é, verdadeiramente. Encare o mundo de frente com os seus defeitos. Aprenda a amá-los, porque eles fazem parte de quem você é. E se quiser mudar o que quer que seja, mude para agradar você. Deus te fez assim, dessa forma e tudo o que Ele faz, é perfeito. Você é incrível aos olhos de quem te criou. Então quem são as outras pessoas para opinar a respeito?

Meu coração estava aos pulos. Mas o que eu sentia, era alívio.
Uma tonelada havia sido tirada de cima de mim.

Encerrei a Live de repente, porque estava com a respiração ofegante, talvez pela adrenalina do que acabara de fazer. Nem falar eu iria conseguir mais.

Não olhei os comentários. Eram muitos. Meu Instagram pipocava com mensagens e mais mensagens. Eu podia imaginar o alvoroço que havia causado.

A campanhia da casa começou a tocar, insistentemente.
Desci de roupão mesmo, já que ele era bem decente.

Era domingo e a única pessoa ali para atender à porta (e ao portão) era eu.

Corri para fora, de chinelos, tapando o sol com as mãos, tentando ver quem era.

Quando cheguei perto, vi que era um rapaz. Um rapaz comum, vestido com simplicidade, mas muito simpático e de sorriso franco.

Ele estava com uma bicicleta e na garupa desta, uma cesta repleta de biscoitos variados e pãezinhos caseiros.

-Bom dia, moça. Quer comprar alguma coisa?- Ele perguntou, educado.

Me lembrei de que não havia comido nada ainda. E toda aquela emoção me deu fome. Meu estômago até roncou.

-Olha, quero comprar sim.
Você pode entrar pra eu poder me vestir, escolher melhor e poder te pagar?

Ele deu de ombros.

-Posso sim.

-Então entra.

Abri o portão para ele e pedi que ele esperasse na sala, enquanto eu me trocava, rapidinho.

Cinco minutos depois, eu estava escolhendo com quais dos muitos pacotes de biscoitos e pães iria ficar, quando ouvi o portão lá fora bater bruscamente e logo, passos muito audíveis vindo até nós.

E então, Alícia adentrou na sala.
Ela parecia transtornada pela raiva.

-Larissa! O que foi aquilo que você acabou de fazer?? Que porcaria de live foi aquela???- Ela questionava, quase me triturando com os olhos.

-Foi o que você viu.- Respondi.

Alícia parecia fora de si.

-Pois foi a pior live que você já fez em toda a sua vida. Faça o favor de apagar imediatamente! Que idéia estúpida, revelar para o mundo inteiro como é o seu rosto de verdade! Quem se importa com isso???

-Exatamente, quem se importa?  E se as pessoas não se importam, por que eu deveria me esconder??

-Porque é feio, Larissa, feio!!! Meu Deus, eu...- Ela passou as mãos pelo rosto, parecia fora de si.- Eu trabalho duro todos os dias para que você seja a melhor influenciadora jovem deste país, para que sua carreira profissional só melhore e você cresça cada vez mais! Se digo que seu rosto fica melhor coberto com maquiagem é porque assim é. Como sua melhor amiga eu só quero o seu bem!

Aquilo foi o estopim pra mim.

-Minha amiga? Você nunca foi minha amiga de verdade, Alícia!  Amigas de verdade não fazem o que você fez comigo. Você me quebrou! Você destruiu minha auto estima, você me colocava num buraco toda vez que dizia que as minhas sardas eram horríveis. Eu acatava tudo aquilo por querer agradar você e o resto do mundo, mas por dentro, eu estava quebrada, destroçada, me sentindo um lixo, porque minha "melhor amiga" não gostava do meu rosto do jeito que ele é. Mas adivinha só, Alícia. Eu gosto do meu rosto assim, desse jeito mesmo. Não tem nada de errado comigo, não tem nada de errado com o meu rosto, e a partir de hoje- Me aproximei dela.- Eu não quero mais você na minha vida, eu não quero mais você cuidando da minha carreira, nem dos meus negócios. Você está demitida, se é que eu posso dizer assim. E sinceramente, Alícia, vai se tratar porque o modo como você vê as coisas e as pessoas, chega a ser doentio. Eu desejo do fundo do meu coração que você melhore.

Ela me olhava, imóvel, parecendo incrédula. Sim, era a primeira vez que eu falava daquele jeito com ela.

Mas a hora havia chegado. E eu não iria voltar atrás na minha palavra.

-Por favor, Alícia.- Apontei para a porta.- Vai embora da minha casa.

Ela ainda me encarou por uns segundos e saiu, trôpega.

O rapaz vendedor de pães havia ficado mudo, num canto, enquanto nos observava e nos ouvia. A fome voltou com força quando olhei para ele.

Me sentei no sofá, soltando um suspiro.

-Acredite, eu precisava fazer isso.- Falei.

Ele se aproximou de mim, observando meu rosto pela primeira vez atentamente.

-Sua amiga não devia enxergar muito bem, isso sim. Seu rosto é um dos rostos mais bonitos que eu já vi.

-Mesmo com essas sardas?

-Exatamente por causa das sardas.

Eu sorri e ele também.

-Quer saber? Vamos tomar café comigo na cozinha. Você merece, depois de ter presenciado uma cena dessas. Eu faço questão.

Ele deu de ombros e disse que tudo bem.

Uma palavra que me definia agora? Leveza.
Eu era eu mesma, finalmente.




💠💠💠

Eu poderia falar um monte aqui ainda sobre amor próprio, mas acredito que a história por si só já falou bastante.
Então é isso, gente.
Amem-se!
Cuidem-se e vejam a si mesmos com olhos de amor, assim como Deus faz com a gente.
Ainda não tenho certeza, mas provavelmente essa historinha terá uma parte dois.
Espero ver vocês aqui em breve.
Um beijão!
Tay.❤

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