Capítulo um
A segunda feira amanheceu ensolarada, o céu limpo de nuvens fazia com que os raios de luz entrassem pela janela do quarto de Emanuel. O garoto coçou os olhos e tirou a coberta de cima do corpo, caminhou em direção ao banheiro para fazer sua higiene matinal, tomou um banho morno e escovou os dentes, se olhou no espelho constatando que não estava tão mal para alguém que mal dormira de tanta ansiedade. Sorriu e deu um jeito de arrumar os cachos ruivos, saiu do banheiro e parou em frente a sua escrivaninha onde havia um calendário com a data de hoje marcada, primeiro dia de aula do segundo ano, suspirou, vestiu o uniforme, pegou seu material e desceu para a cozinha onde se encontravam seus pais e Maria (a pessoa com quem tinha claramente mais intimidade naquela casa), deu um bom dia a todos sentando-se para o café da manhã que logo foi servido.
O silêncio reinava na casa, os únicos barulhos ouvidos eram os da família comendo, louça sendo lavada e os que vinham de fora da casa, porém o silêncio foi quebrado quando o membro mais novo da família se pronunciou.
— Estou indo, não quero me atrasar.
— Não quer que o motorista lhe leve filho? - a mãe de Emanuel comentou – Você não precisa ir andando.
— Não mãe, vou encontrar o Caio no caminho. - O garoto pode ver o rosto de reprovação de seus pais.
— Não gosto desse garoto, ele não é uma boa influência para você. - o pai do ruivo comentou abaixando o jornal que estava lendo.
— Já estou de saída, tchau mãe, tchau pai, tchau Maria.
O menino pegou sua mochila, abriu a porta e saiu o mais rápido que pode, estava cansado da mesma conversa desde que os pais descobriram que seu melhor amigo é gay, sempre fechando a cara e dizendo que ele não era uma boa influência, tentava ao máximo ignorar porém já estava a um tris de responder seu progenitor de maneira grosseira. Foi caminhando e mal se deu conta que já não estava mais tão longe da escola, todavia o que o acordou de seus pensamentos foi um grito animado chamando seu nome, já sabia quem era, afinal Emanuel reconheceria a voz de seu melhor amigo mesmo a quilômetros de distância.
Assim que o loirinho chegou perto o suficiente ambos se abraçaram com saudade, ficar quase três meses sem se verem era realmente complicado.
— Seu cabelo está maior. – Emanuel sorriu pegando nas mechas naturalmente loiras de Caio, estas que agora quase batiam nos ombros, lembrava do quanto o amigo queria deixar o cabelo crescer. – Ficou muito bem em você.
— Você acha? - Caio sorriu e enroscou uma mecha no dedo – Mamãe disse que iria me levar ao cabeleireiro para dar um toque final e ele ficar mais bonito.
— Sim, Caio você é lindo de qualquer maneira.
— Queria que o James achasse isso. - o loiro fez um biquinho e olhou para a direção que o citado se encontrava.
Tudo bem, vamos voltar do começo certo? Vamos conhecer com clareza estes queridos personagens e suas histórias até o presente momento.
Emanuel Martin, dezesseis anos e Caio Oliveira de também dezesseis anos; Emanuel nasceu e cresceu em uma família rica e extremamente conservadora, estudou em casa até seus doze anos e aos treze foi pela primeira vez a escola onde conheceu Caio, seu melhor amigo até hoje, ambos ficaram amigos de uma maneira extremamente rápida. Visitavam a casa um do outro com frequência até os quinze anos, porém foi nesta época que os pais de Emanuel descobriram que Caio é gay, proibindo então os garotos de se verem com tanta frequência, a partir desse momento eles se encontravam apenas em períodos de aulas ou quando os pais de Emanuel estão fora. Com apenas catorze anos Caio contou a Emanuel sua história, o que fez com que ambos se aproximassem ainda mais e a amizade ficasse mais forte.
Agora falando de Caio, ele foi abandonado em um orfanato aos quatro anos por seus pais biológicos por apresentar um "jeito de viado" como ele mesmo escutou em uma conversa no passado, passou um ano no local até ser adotado por um casal deveras animado que infelizmente não podiam ter filhos devido ao marido ser infértil. A afeição foi instantânea de ambas as partes, que levou o casal a adotar aquela pequena criança que cresceu extremamente feliz e saudável. Aos treze anos um pouco antes de conhecer Emanuel, Caio contou aos pais estar apaixonado por um garoto de sua sala mesmo com medo de ser novamente abandonado, todavia o alívio foi maior quando seus pais o abraçaram e disseram que o amariam não importando sua sexualidade, e naquele dia o garoto teve certeza que existiam pessoas boas no mundo e que seus pais eram uma daquelas pessoas.
Voltando agora para o presente momento, ambos os amigos chegaram na escola, indo diretamente para o mural de informações saber suas salas, sorriram ao ver que ficariam juntos novamente., caminharam em direção a sala e escolheram seus lugares, logo dois garotos entraram na sala e Emanuel pode ver ambos se sentarem na fileira ao lado, porém um pouco mais afastados. Eram James, o garoto por quem Caio é apaixonado, e Samuel o melhor amigo do moreno.
— Fecha a boca se não entra mosca. - O ruivo riu ao ver o rosto do amigo se avermelhar e seus olhos castanhos se direcionarem a si – A quanto tempo você gosta dele mesmo?
— Desde os treze. - O loirinho sorriu – Acho que vou ir falar com ele.
— Se é o que vai te fazer feliz, então vai.
— Vem comigo?
— O quê? Claro que não Caio, não vou ser empata foda.
— Por favor Manu. – O garoto olhou com uma carinha de cachorro pidão para o melhor amigo – Você pode ficar falando com o Sam.
— Tá, tá, mas exatamente o que você vai falar pra puxar assunto com ele?
— Eu não pensei nessa parte. – Emanuel revirou os olhos e sentiu o braço ser balançado – Manu por favor me ajuda, sobre o que eu falo com ele?
— Não sei Caio, pergunta, sei lá, sobre que tipo de filme ele gosta ou se ele quer lanchar com a gente. - Viu o garoto sorrir e lhe dar um abraço apertado.
Caio então se levantou da cadeira indo na direção dos dois que estavam sentados e então Emanuel já não podia ouvir o que Caio falava, apenas riu ao ver o amigo e James sorrirem. Foi então que observou Samuel ficar com um olhar estranho, percebeu também que o mesmo olhava em sua direção e estreitava os olhos como se estivesse tentando trazer na memória alguma lembrança sua. Voltou seu olhar para Caio e viu que ele o chamava, levantou-se então e foi de maneira acanhada para perto dos três.
— Esse é o Emanuel, meu melhor amigo.
— Olá Emanuel, sou o James e essa carinha emburrada aqui é o Sam. - Viu o garoto apontar com a cabeça para Sam que apenas fez um "olá" com a mão direita e deitou a cabeça na mochila.
— Olá James. - Sorriu e cumprimentou o garoto.
Ficaram conversando mais um pouco, mas Emanuel e Caio voltaram para seus lugares assim que o professor chegou na sala. As aulas foram se passando de maneira lenta e tortuosa, fazendo com que todos os alunos se levantassem rápido ao som do sinal do intervalo, o loiro pegou o pulso do melhor amigo quando terminaram de arrumar suas coisas o puxando em direção a cantina para pegarem algo para comerem, se sentaram em uma mesa um pouco mais afastada como sempre faziam, mas assim que o loiro avistou James e Samuel, acenou em um convite mudo para se juntarem aos dois e sorriu quando ambos vieram na direção onde estavam sentados, Emanuel pode ver o quanto Samuel parecia desconfiado a todo momento.
Caio e James acabaram por entrar em um mundo próprio na conversa, o ruivo olhou para Sam que parecia extremamente desconfortável com a presença de pessoas novas tão próximas fisicamente de si.
— Você está bem? - viu o moreno se assustar e olhar para si como se estivesse o analisando.
— Estou, apenas não estou acostumado com mudanças repentinas.
— Ah, sim claro. - o mais baixo mexeu os dedos por baixo da mesa – Do que você gosta?
—O que?
— Tipo, qual seu gosto pra filmes? Gosta de ler? Qual seu estilo de música?
— Por que está me perguntando isso?
— Ah, eu apenas queria puxar assunto, mas não precisa responder se não quiser.
— Estou brincando, mas em qual sentido do que eu gosto?
— Ah, sim claro – o menino respondeu rindo de forma acanhada – Qual seu gosto pra filmes e música, se você gosta de ler.
— Bem eu gosto bastante de filmes com uma maior carga psicológica e filmes policiais, amo ler sobre criminologia e quanto a música, eu simplesmente ouço qualquer coisa que me agradar, e você?
— Amo filmes de drama, minha paixão são livros infanto-juvenis e amo músicas calmas.
— Você parece interessante Emanuel, por que eu não me lembro de você aqui nos primeiros anos? - Samuel fez uma expressão confusa.
— Eu estudei em casa por conta dos meus pais até os doze anos, só vim para cá com treze.
— Entendi, parece ter sido difícil, eu não conseguiria me adaptar a tantas pessoas juntas tendo passando tanto tempo sozinho.
— No começo eu pensei que ficaria sozinho até terminar todos os anos da escola, mas logo eu conheci o Caio e tudo ficou mais fácil.
— Entendi – E ali Emanuel pode jurar ter visto um pequeno sorriso – Fico feliz que você tenha se adaptado facilmente, bem, eu te vejo por aí ruivo – o moreno acenou, pegou suas coisas e saiu andando.
Emanuel acenou e ouviu o sinal tocar, indicando que deveriam voltar para a sala, pegou suas coisas e voltou junto de Caio e James, as horas agora pareciam passar bem mais rápido e logo estava indo para sua casa para enfim descansar.
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