Pêndulo XXXIII
Vemos as ruas abarrotadas e quentes sem controle,
os falatórios indesejáveis,
o volume insuportável das vozes cortando o ar e o silêncio,
os cheiros misturados num único frasco de perfume,
o arrastar de pés sem pressa para chegar.
Uma orgia de sentimentos se concentra,
e nos liberta dos nossos próprios zelos.
Vemos a dor germinar em cada corpo,
florescer em cada rosto que se desenha em traços cotidianos,
desses que ninguém repara,
aquém de qualquer ideia de beleza;
vemos as revoltas, as tiranias,
e nos calamos por medo e conivência,
mas sabemos o que mais nos cala.
É tempo de se refazer nas valas e nas sarjetas,
ressurgir como um santo anarquista,
realizando milagres num sábado,
disposto a peregrinar sozinho por desertos árticos e vales pungentes,
cidades e vilarejos encardidos pela absoluta pobreza,
e finalmente
emergir aos céus sem qualquer suspeita.
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