Pêndulo XVII
Antes mesmo que as sombras se agrupassem no portão,
eu fiz um sinal como superstição,
e então parti em direção a segunda casa,
essa equipada de móveis novos e tecnologias desconhecidas,
nada que comova.
Ao entrar, ordenei que as sombras se embrenhassem à minha espera,
e soltei uma expressão de alívio
ao deparar com minha face rude e velha
refletida nos vidros das janelas —
meus olhos sérios, minha boca áspera.
Foi um encontro de poucas palavras,
longo como as missas de páscoa,
mas não é disso que se trata.
A memória relativiza,
mas em memória de quem viveu,
é preciso corrigir os rumos, adequar os ventos,
os sopros ao norte açoitando as costas como um capataz cumprindo ordens,
cego, surdo, e mudo.
A segunda casa revela o calvário de pedras e peregrinações perversas,
repletas de dedos atrofiados e vozes asfixiadas.
Seu guardião se alegra, sorri
e devora seu prato como uma fera.
Quanto a mim,
sinto dores nas pernas,
mas a caminhada acelera a purificação que me prometera,
me cobre em tecidos ungidos,
bolsas de água para lavar a sujeira que corrompe minha alma,
oh, essa alma tão pequena,
que assim permaneça!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro