Me encanta a tristeza que emana dos seus olhos pretos,
mas nada compreendo sobre ela.
Queria ser triste a ponto de feder,
de sair feridas na pele, chagas pálidas.

Queria me entristecer no derreter da vela que clareia este poema,
nas águas das cheias,
nos pensamentos alucinatórios, fuga do meu fracasso poético.

As figuras de linguagem infestam os versos tirados dos delírios antepassados,
nas sentinelas quietas, o ar parado,
o tempo como testemunha das nossas fraquezas mundanas,
dor que nos torna vivos,
e nos credencia ao paraíso.

Falo por mim, mas é como se falasse por todos,
e calo as tormentas que me agitam vez ou outra.

Meu coração queima,
se consome em chamas frescas e paisagens neutras,
sem lembrança alguma de alguma coisa.

Eu arrisquei uma caminhada por essa paisagem gélida,
inédita para meu sentir,
mas me faltou a coragem de lhe dar as mãos
e atravessar os céus em penitência.

Uma a uma, eu dei nome às estrelas,
e redesenhei as constelações,
reagrupei planetas, e plantas.

Quando me dei conta, o tempo já se tornara um refúgio,
um afago do qual eu ainda fujo pelo caminho mais curto.

O tempo a se tornar um acúmulo.
A tristeza a me fazer ridículo.