Pêndulo XV
O calor medonho do verão em janeiro é sempre um inimigo a qual me rendo.
A baforada quente traz consigo os maus agouros da infância,
lembranças inoportunas e oportunistas.
O trajeto
que percorro com os pés ensanguentados
é coberto de rochedos e alguns poucos pontos verdes,
que sobrevoo com minhas asas de anjo.
Eu sigo o caminho, pois, se paro,
me perco,
e logo me vejo em fantasias tristes e desejos nublados,
esse peso absurdo nos meus olhos
e ombros gastos,
ânsia de vômito.
Sofro mais pela ideia do que pelo fato,
e isso me machuca mais do que o próprio inferno.
As fumaças descem das nuvens cheias,
formam uma poça no ar etéreo por onde trafego e me apego,
me afogo no seco.
Meus medos me catequizam e justificam,
me acompanham de perto, se certificam de que não irei longe;
o mundo é onde eu o faço,
no calor e mormaço,
meus pés ensanguentados sobre o asfalto,
enquanto sombras pálidas mergulham num vale de lágrimas,
— meu Deus, que visão horrorosa!
Estou disposto a abrir novos caminhos pela mata,
pelos céus através das estrelas quentes,
fundar uma terra nova,
onde eu possa ser anfitrião,
não um rei vestindo uma coroa idiota.
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