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2. A Hora Mais Sombria

Romana ajeitou seu robe sobre os ombros, deixando-o de maneira impecável. Como presidente de Gallifrey, ela era a responsável por manter a ordem naquela sociedade tão antiga e respeitável. Porém, ordem era uma das palavras que ela com certeza não empregaria naquele momento. Não com o que se aproximava.

- Senhora - Leela chamou-a e Romana encaminhou-se em direção à porta de saída de seu gabinete, a qual a mulher segurava, deixando para trás seu reflexo preocupado no vidro da janela, que possuía uma enorme vista para a paisagem vista de tão alto.

Até mesmo os céus pareciam estar com um tom alaranjado mais escuro, prevendo a hora que se aproximava. A hora mais negra de Gallifrey, segundo ela mesma nomeara.

Leela cumprimentou-a com um sorriso, tentando acalmar um pouco aquela tensão da amiga que ela sentia emanar de longe.

- Como encontram-se os ânimos dos membros do Conselho? - A senhora do tempo questionou logo de cara, não dando margem para que a outra dissesse nada.

Romana estava preocupada, sentimento este que exalava por todos os seus poros. Naquele momento, entretanto, a preocupação era dirigida principalmente para os membros do Alto Conselho.

- Aos cochichos, pelo que os guardas estavam comentando - Leela deu de ombros e elas viraram um corredor, sendo cumprimentadas por guardas alertas às portas de salas importantes no Capitólio. - Tenho certeza que um deles espalhou boatos sobre a situação e alarmou todos antes da hora. Quando... - Sua voz tornou-se mais dura conforme falava, contudo, foi interrompida por um toque suave no ombro.

- Deixe-me lidar com eles, Leela, é o meu dever - Romana pediu com um sorriso para a amiga. Por dentro, ela era inteira nervosismo, mesmo que portasse um sorriso gentil por instantes. - Você já tem me ajudado bastante nos últimos tempos.

Desde que Romana retornou para Gallifrey, atuando, primariamente, como membro do Alto Conselho, as duas aproximaram-se cada vez mais, compartilhando além da amizade em comum com o Doutor. Aos poucos, tornaram-se confidentes, chegando a participarem de missões juntas. A ação serviu para fortalecer ainda mais os laços entre elas.

- Nós vamos vencê-los mais uma vez - Leela garantiu com certeza para a outra, que assentiu, mesmo que no fundo estivesse em conflito. Uma das qualidades de Leela era seu otimismo e, naquele momento, era realmente necessário.

- Nos vemos depois da reunião - despediu-se da outra com a sua voz firme, que tanto inspirava respeito, junto de sua postura aristocrática.

- Devo chamar Narvin e Braxiatel para mais tarde? - inquiriu, referindo-se ao encontro que Romana requisitara a seus confidentes para a parte da noite.

A presidente assentiu em resposta a outra. Preparada para empurrar as portas de acesso ao Panopticon, teve seu braço segurado por Leela.

Esperou que a amiga dissesse algo, contudo, nada veio a seguir. Apenas trocaram olhares cheios de significado, ambas desejando forças para a outra. Ambas deveriam ser fortes em suas posições.

Leela liberou o aperto da outra, que finalmente empurrou as portas, sendo saudada por dois guardas na entrada do mezanino. A movimentação logo foi percebido por Draxtel, o alto conselheiro.

- Senhora presidente Romanadvoratrelundar - ele anunciou seu nome completo, afinal, apenas seus amigos próximos dirigiam-se a ela pelo apelido, desde que retornara a seu planeta de origem.

Logo, todos os murmúrios cessaram na sala do Panopticon, em respeito à figura tão importante para a sociedade gallifreyana.

Romanadvoratrelundar, talvez pela primeira vez que assumira o cargo, estremeceu ao descer as escadas do mezanino até o centro do ambiente. Ela precisava ser forte e transmitir confiança naquele momento. Já havia enfrentado tanto até ali - coisas até piores -, portanto, não podia permitir abalar-se. Entretanto, o que ela não sabia era que aquilo seria pior do que tudo que ela já passou. Nem em seus pesadelos mais temidos ela poderia prever o que viria depois daquele dia.

Ao terminar a descida, junto de Draxtel, dirigiu-se ao centro dos presentes, que logo abriram espaço para que ela passasse, sempre com uma aura respeitosa para com a presidente.

Romana encarou os membros com seu semblante sério habitual, que inspirava respeito - e até certo temor - para todos que ela dirigia aquele olhar.

Passou a língua pelos dentes, preparando-se para tomar a palavra e sentindo os símbolos nas paredes do Panopticon serem um peso a mais sobre seus ombros. Uma sociedade tão antiga quanto a deles não cairia tão fácil. Ao menos ela não deixaria.

- Caros membros do conselho - a presidente elevou a voz, sendo ouvida por toda a sala. Ela passou os olhos rapidamente por um dos selos de Rassilon na parede, ao sentir os olhares pesados dos senhores do tempo - e algumas senhoras do tempo - presentes. - Solicitei essa reunião de última hora para um anúncio de extrema urgência.

Pausou sua declaração por segundos, sentindo aquela tensão que carregava pesar ainda mais sobre o peito, quase dando a impressão de incomodar a sua respiração. Porém, ignorou tudo o que sentia, tentando transmitir toda a confiança possível para aquelas pessoas. Confiança essa que ela não tinha naquele momento.

- Como é do conhecimento geral de todos, viemos nos preparando há anos para os conflitos com um de nossos maiores inimigos de todos os tempos: os Daleks.

Murmúrios explodiram por todos os cantos do Panopticon, sendo, é claro, reprovados pelos outros membros que encontravam-se em silêncio.

- É e neste momento, a hora mais negra de Gallifrey, que eu peço a vocês que preparem-se, pois é a hora de reunirmos nossos maiores esforços. É hora de sermos mais fortes do que antes, mais cautelosos do que antes. - Romana elevou sua voz carregada de autoridade, silenciando todos os sussuros e exigindo silêncio, mesmo que ela não o fizesse com palavras.

O ar dentro do Panopticon pareceu tornar-se mais rarefeito e alguns até seguraram o fôlego, já temendo qual seria a constatação a seguir.

- Nós estamos em guerra contra os Daleks.

A voz firme de Romana pareceu ecoar por aquelas paredes, dando a sentença por qual todos temiam.

Em questão de segundos, aquele silêncio foi exterminado pelas vozes altas dos membros do Alto Conselho, alguns questionando a presidente e outros desesperados entre si. Contudo, um pensamento era claro: eles não sabiam o que fazer, e, apesar do título de lordes do tempo, o futuro obscuro era temido por eles.

Romana empertigou a postura, pronta para acalmar aquela balbúrdia.

Dessa vez, mais do que nunca, ela deveria ser forte, pois sua maior preocupação não seria apenas com a sua própria sobrevivência ou a de alguns poucos amigos. Sua responsabilidade agora seria pela sobrevivência de seu próprio planeta.



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