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Capítulo 6 Na busca Pela Vida.

Sai do hospital, com doze quilos a menos, recebi visita de alguns poucos amigos, e descobri por um deles que existia um comentário de que eu tentei me matar... Eu não disse nada! Nada havia para ser dito, o jeito agora era seguir a vida encarando o olhar das pessoas! Vida que segue, então eu tentei não abaixar a minha cabeça, por mais difícil que fosse!
Pra muita gente eu nasci de novo recebendo uma nova oportunidade, mas eu mesmo me sentia condenado a viver, e isso me dava um certo desespero, e para me sentir aliviado eu me apegava as palavras de Laura. Ainda assim, eu sentia muita vontade de conversar com alguém e que esse alguém de certa forma me compreendesse, sem julgamentos, porque, no fundo eu me sentia como um galho que caiu longe da árvore... Porém o que eu não esperava é que a minha vida estava prestes a mudar!
Foi uma mudança devagar, suave com uma brisa, porém definitiva! Nada veio de um rompante ou como um passe de mágica. Tudo começou com o meu pai que teve a ideia de me indicar para uma terapia com um psicólogo, que não foi aceita no início, eu confesso, achei a ideia meio absurda, coisa de doido sei lá. Imagina eu falar de mim e das coisas da minha vida com um estranho.
Mas meu pai insistiu dizendo que nada melhor do que pedir ajuda a quem realmente possa ajudar, e de quebra ainda recebi o apoio de minha irmã que falou que não custava nada tentar... O fato é que o tratamento não ficou apenas no psicólogo, por recomendação do mesmo, eu acabei fazendo um acompanhamento com um psiquiatra, e clinicamente fui diagnosticado com depressão!
E logo eu comecei a fazer o uso de medicamentos que me ajudavam a controlar a ansiedade, foi um momento muito importante de autoconhecimento, onde eu entendi que os sintomas da depressão assim como o tratamento são muito individuais e o acompanhamento é de vital importância para a cura.
Aceitei o desafio, entrei de cabeça no tratamento, usava regularmente a medicação e frequentava semanalmente as sessões com o psicólogo, que de início foi um pouco estranho, parecia que eu falava com as paredes e eu não entendia qual era o objetivo daquilo tudo, em outras sessões eram como se eu estivesse com um amigo trocando confidências e com uma grande vantagem, eu não seria julgado por isso.
O tempo foi passando e eu fui gostando da experiência, às vezes eu acabava repetindo frases que eu mesmo dizia, para eu me ouvir, outras vezes escutava certas verdades que realmente eu não queria ouvir...
E foi assim que dei os primeiros passos para me conhecer melhor, pude olhar para mim mesmo; entendi de verdade o que era a famosa empatia, os erros e acertos faziam parte da construção da minha personalidade, e o que era mais legal era saber que isso acontece com todos... Eu fui remexendo em algumas "gavetas" de minha vida, isso foi incrível um processo de cura!
E nem tudo foram flores, houve um momento em que tudo estava muito longe de ser bom, parecia que o mundo estava de mal comigo, nesse dia a tristeza ia tomando conta do peito, e a esperança gradualmente foi sumindo... Parecia que estava em uma recaída porque tudo o que um dia já foi sólido, agora parecia se esfarelar, as crenças, ideais e tantos conceitos haviam se perdido e nem eu mesmo sabia o que restava de mim, parecia que eu depois de tanto esforço estava voltando a estaca zero; mas ele me ouviu, com calma me falou:
—É assim mesmo! Se nem a sua vida nesse mundo é eterna, porque a sua opinião tem de ser? Mude, repense e seja diferente, é tão humano e é tão lindo! Quanto maior for o número de cacos que ficar, maior será a sua capacidade de se remodelar! Não existe borracha para apagar o passado, mais ainda existem muitas páginas para escrever o seu futuro! Não se envergonhe de mudar, isso é crescer! Você está apenas revelando o ser humano incrível, que eu sei que sempre existiu dentro de você! E foi assim, no aconchego daquelas palavras que eu vi a minha esperança renascer...
A vida seguiu o fluxo trabalho, família e as minhas sessões... Em um dia que era pra ser o mais comum de todos, chega a vida e me faz o favor de me surpreender; Júlia estava na recepção do hotel e eu na cozinha conferindo as compras, então sou chamado na recepção para ajudar os hóspedes com as malas... Vou com passos de tartaruga e com uma imensa má vontade, sei que sou o faz tudo, mas não gosto de interromper o que estou fazendo mesmo que isso seja necessário...
E lá estava o novo hóspede, um rapaz de pele bronzeada, com os olhos castanhos brilhantes e muito expressivos, o cabelo era preto liso e com um corte social alto, possuía um rosto muito harmonioso e uma boca muito bonita, sua estatura era mediana, corpo bem-feito e forte, se vestia de forma simples, calça jeans, camisa social um pouco aberta que deixava ver os pelos de seu peito e uma medalhinha dourada, ainda um sapato social bem moderno. Ele era muito bonito, até parecia apresentador de programa de TV!
Nossos olhos se encontraram, eu meio constrangido desviei o olhar e senti o meu coração bater mais forte e a garganta foi ficando seca, Júlia parece que percebeu e de forma descontraída nos apresentou, o seu nome era Martim Pereira, um português, que morava em Lisboa e que passaria alguns dias de férias em nossa cidade. De forma gentil e muito cortês ele apertou a minha mão que estava gelada e suando frio. Levei a sua bagagem até o quarto e tentando ser cordial me prontifiquei a lhe ajudar caso precisasse...
Voltei ao meu trabalho na cozinha, calado, a imagem de Martim não saia da minha cabeça, a maneira como me olhou, porque mexeu tanto comigo? Tá, certo que ele era um homem muito bonito! Eu não sei o que aconteceu, até aquele momento nenhum olhar de quem quer que fosse me abalou daquela forma! Era estranho aqueles olhos transmitiam doçura e talvez um pouco de tristeza... Ele parecia ser um homem enigmático! Será que é um homem solitário? Ah, duvido muito! Um homem jovem e bonito daquele jeito fica sozinho porque quer... A sua imagem aguçava a minha mente, e eu desejei saber mais sobre ele...
Será que Júlia tinha percebido algo? Será que realmente existia algo para se perceber? Ah Flávio! Isso tudo é bobagem dessa sua cabeça... Para de viajar na maionese! Foi pensando assim que resolvi ir dormir, mas, não foi fácil conciliar o sono naquela noite!

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