09. Veritas
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"Conhecendo o sofrimento, aprendi a socorrer o desafortunado."
— Virgílio
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O CASAMENTO DE MEUS PAIS FORA ARRANJADO, como era comum desde o pequeno até o maior nobre. Nunca havia pensado, realmente pensado, se durante o curto período que tiveram juntos tinham se apaixonado, nem mesmo tivera curiosidade de perguntar à minha avó sobre isso. Cresci apenas vendo as amantes de meu pai, mas ele nunca se preocupou em casar-se novamente e tentat ter um filho varão.
Mas... agora... perguntava-me o que meus pais sentiam um pelo outro. Eu sentia por Olivier o mesmo calor que sentia por Darron Forrest, porém com a diferença de que o rei não precisava me tocar para que eu me sentisse dessa forma; bastava que ele me encarasse com seus olhos azuis e sorrisse seu sorriso gentil.
Pensei em tudo isso enquanto permanecia sentada ao lado de Olivier na ponta da longa mesa onde estava acontecendo a reunião com os comandantes militares. Hugh de Pontiers estava ali, com sua voz alta e os cabelos em uma mistura de tons ruivos e grisalhos; Henri, o Duque de Carmouche, estava ali, junto com seu filho, Baudouin, que tinha um rosto solene e cabelos negros. O desprezível Bartolome de Châtellerault, marido de Sabina, também se encontrava presente, embora permanecesse estranhamente quieto.
Olivier deixou que os homens discutissem em voz alta uns com os outros, parecendo distraído, mas sabia que ele ouvia cada palavra sendo dita, assim como eu. Olhei para sua mão esquerda, pousada no braço da cadeira ao meu lado. Ele agora usava luvas brancas com fios dourados delicadamente bordados, combinando com o restante de suas vestes. Encarei sua mão por alguns momentos, antes de desviar o olhar de volta para todos ao longo da mesa.
Disfarçadamente, estiquei minha mão e segurei a sua, continuando a olhar para frente. Senti novamente o calor em meu peito se alastrar por todo meu corpo quando Olivier entrelaçou seus dedos nos meus, e manteve minha mão ali, unida a sua. A textura da luva era suave, mas eu sentia o calor de sua pele.
O rei continuou com a mão entrelaçada a minha durante toda a reunião, que tratava os acontecimentos dos últimos dias.
Por conta das caravanas atacadas, Raynald atacara Olirk como retaliação. Ele partira do princípio de que, como as caravanas foram atacadas próximas à Tilburg, onde residia Hugh de Pontiers, o próprio Hugh tenha sido o responsável. Não acredito que o rei de Resa estivesse enganado, de Pontiers era completamente capaz desse ataque, mas por que Raynald não atacara Tilburg mas sim Olirk?
Eu sabia a resposta para essa pergunta. No fim, Raynald queria apenas pretextos para atacar e conquistar Anglicourt. Pretextos que Hugh de Pontiers o estava dando. E Olivier se encontrava de mãos atadas, pois desonrar Hugh abertamente causaria desprazer tanto na corte anglicourtiana quanto na corte do Reino da França.
Quando por fim a reunião terminou, meu marido se pôs de pé, se apoiando em uma bengala branca, provavelmente para não apoiar tanto o peso na perna ferida, e permaneceu com a mão unida a minha. Os nobres se ergueram de seus assentos, em respeito.
Olivier os dispensou, e quando ficamos sozinhos na sala, ele tirou minha mão da sua e entrelaçou meu braço no seu.
— Passamos horas aqui, vamos caminhar um pouco e ir descansar — ele disse.
— Perfeito para mim — sorri.
Oliver me guiou pelo corredor que levava para o pátio aberto, onde um vento fresco soprava. Gostava disso, de sentir o vento em meu rosto. Andávamos devagar e em silêncio.
Mordi os lábios.
— Me fale sobre você — deixei as palavras escaparem.
Oliver parou por um breve momento, e me olhou, surpreso.
— Sobre mim? — ele repetiu, parecendo confuso.
Senti meu rosto esquentar e lutei contra um grande sorriso; ele era tão adorável!
— Somos casados, porém mal tivemos tempo de nos conhecermos — apertei levemente seu braço — Eu quero conhecê-lo, se não for um incômodo — lancei a ele meu melhor sorriso charmoso.
Os olhos azuis do rei se arregalaram brevemente, mas ele sorriu.
— Não, claro que não, você nunca é um incômodo, pelo contrário... — ele pareceu um pouco desconcertado, apesar da expressão leve. Notei, com muita satisfação, seu rosto ficar rosado.
— Então venha, vamos nos sentar aqui — segurando seu braço, o ajudei a sentar comigo em um banco de mármore no pátio — Agora podemos conversar sozinhos e apreciar o ar livre um pouco.
— O que gostaria de saber sobre mim? — ele perguntou, docemente.
— Tudo — respondi com sinceridade — Mas vamos começar com algo mais fácil, qual a sua cor preferida?
Olivier riu de leve.
— Eu nunca realmente parei para pensar nisso — respondeu — Acredito que azul ou verde — ponderou por um tempo.
O rei acabou me contando várias coisas ao seu respeito, com base em minhas perguntas. Contou que seu assunto favorito era História Antiga; que seus animais favoritos eram cavalos e águias; que não gostava muito de doces e sempre amou ouvir histórias, mais do que ouvir canções.
— Um djinn se oferece para realizar três desejos seus, o que você pediria? — perguntei, deitando a cabeça em seu ombro, sem olhar para ver sua reação por minha ação.
— Estabelecer uma paz duradoura em Anglicourt, conseguir ajudar todos aqueles que precisarem de ajuda, e conseguir ver terras distantes — ele respondeu, com um murmúrio.
— Conseguir ajudar todos aqueles que precisarem... — repeti, sorrindo — Isso é algo muito bonito de desejar.
— Haud ignara mali, miseris succurrere disco — citou, rindo fracamente.
— Conhecendo o sofrimento, aprendi a socorrer o desafortunado — traduzi, sorrindo — Virgílio.
— Se como um rei eu já conheço o sofrimento, imagina as pessoas que não vivem como eu — Olivier falou, sinceramente — Quero acabar com o sofrimento dessas pessoas, facilitar suas vidas, ou ao menos diminuir suas dificuldades enquanto estou vivo — seu tom se tornou um pouco exaltado — Não quero que meu povo sofra, eu devo servir e protegê-lo.
— Você é um bom rei — falei, e movi o rosto para o encarar — E continuará sendo por muito tempo.
Os olhos azuis de Olivier me observavam intensamente.
— Você já beijou alguém? — ele perguntou subitamente.
Senti meu coração acelerar.
— Sim — respondi, descendo brevemente o olhar para seus lábios.
Olivier não me encarou com julgamento ou desaprovação, apenas com curiosidade e intensidade.
— Como é? — perguntou, com a voz repentinamente rouca — Como é beijar uma pessoa pela primeira vez?
Senti meu rosto esquentar, e não o respondi. Sentia sua respiração se misturar a minha, e o súbito desejo de tocar seus lábios com os meus arrebatou-me. Saber que eu seria a primeira a beijar o rei Olivier de Anglicourt fazia meu desejo se aumentar completamente.
Aproximei meu rosto ao dele, e ele também se aproximou, pois nossos narizes se tocaram de leve.
— Eu poderia lhe mostrar... — murmurei.
Sentia um calor em meu ventre que se espalhava por todos os pontos de meu corpo, como fogo; queria saber como seria beijar Olivier com a mesma intensidade que costumava beijar Darron, entrelaçando minhas pernas em sua cintura e apertando seu corpo contra o meu.
Infelizmente, antes que eu pudesse beijar meu marido pela primeira vez, o filho do duque de Carmouche, Baudouin, se aproximou correndo, fazendo com que Olivier e eu nos afastássemos em um pulo.
— Majestades! Meu senhor! — ele gritou — Raynald enviou um mensageiro e ele acaba de chegar. Parece que quer negociar paz.
— Isso... Bem... Isso é uma ótima notícia — Olivier parecia um pouco atordoado — Reúna a todos novamente, e leve o mensageiro até a sala.
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