07. Ópion
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"Um belo jovem cavaleiro está apaixonado por uma princesa e ela também está apaixonada por ele, embora ela não esteja de todo consciente disso."
— L'Heptaméron, por Margarida de Angoulême
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CARMOUCHE FICAVA HÁ DOIS DIAS DO CASTELO, em cavalgada direto.
Após receber a notícia do conde de Homereau, meu coração se aliviou ao saber que Olivier estava vivo, para logo em seguida se encher de preocupação, pois ele não conseguira suportar o cansaço. Pelo que ouvira, ele havia sido ferido, porém apenas superficialmente, entretanto, isso deixava-me aflita. Portanto, dei instruções a Raymond para que preparasse tudo para a chegada do rei, enquanto Ali e eu iríamos para Carmouche acompanhados de alguns guardas.
Descartei a carruagem, fui livremente, montando meu cavalo, deixando que todas as pessoas vissem o rosto de sua rainha. Acenava e sorria para todos por quem passava, mesmo que não diminuísse o ritmo da cavalgada. Não montei de lado, como a maioria das mulheres, mas sim normalmente, como fazia em Darian. Como sentia falta disso, da liberdade de cavalgar! Mesmo usando o gorjal, este não me impedia de sentir o vento em meu rosto.
Partimos antes do sol nascer, e chegamos em Carmouche um pouco antes do sol se pôr. A Fortaleza de Carmouche não era tão grandiosa quanto o castelo de Anglicourt, onde Olivier e eu vivíamos; esta era mais rústica. Henri Brousseau, o Duque daquelas terras, veio nos receber pessoalmente. Era um homem que aparentava ter a idade de meu pai, com cabelos mais claros que escuros e olhos azuis. Havia bondade em seu olhar, mas também havia força.
— Minha rainha — o duque se curvou, beijando minha mão quando eu desmontei — É um prazer vê-la e conhecê-la pessoalmente.
— Henri, Duque de Carmouche, é um prazer conhecê-lo também — sorri — Ali, o segundo médico do rei, me acompanha para examiná-lo. Como está meu marido? Eu gostaria de vê-lo.
— Minha senhora... — ele abaixou o tom de voz, parecia indeciso em como continuar. Dei a ele um sorriso gentil, o encorajando — Eu lhe peço, deixe-me lhe dar minha hospitalidade. As criadas prepararão um banho e roupas confortáveis, e, enquanto isso, Ali examinará o rei. Logo depois, eu mesmo a levarei até ele, tem minha palavra.
Era de minha vontade ver Olivier assim que chegasse em Carmouche, mas Henri parecia tão preocupado em não me ofender que concordei com suas palavras. Seria melhor que Ali visse o rei primeiro.
Fui levada até um quarto de banho, onde uma banheira de água quente estava preparada, juntamente com óleos perfumados. Meus cabelos estavam limpos e cheirosos, não havia necessidade de lavá-los, portanto os mantive presos enquanto duas criadas me ajudavam.
Conversei com elas e perguntei seus nomes, que eram Mahelt e Amee; me trouxeram algumas frutas e vinho enquanto ainda estava na banheira. Meu vestido foi recolhido para ser lavado e outro — um cor de terra e dourado, bonito e simples — me foi entregue. Quando terminaram de me ajudar, coloquei novamente o gorjal de seda; não pela intenção de cobrir meus cabelos, já que não era costume usá-los em Darian ou Anglicourt, mas porque não queria deixá-lo de lado.
Fiel à sua palavra, o próprio Duque de Carmouche veio me escoltar até os quartos cedidos para o rei. Trocamos algumas palavras durante o percurso e, na entrada do quarto, encontramos Ali e Godfrey se retirando. O último tinha dois cortes recentes no rosto, e provavelmente mais alguns no resto do corpo, porém nada grave. O saudei sorridente, e ambos os médicos me informaram que deram ao rei uma mistura extraída da papoula, chamada ópion pelos gregos, e opium em latim. Servia para aplacar a dor e ajudar a adormecer.
Entrei no quarto — grande, embora não tão majestoso quanto o do rei no castelo —, e logo o encontrei na cama, meio sentado e meio deitado. Os olhos de Olivier logo encontraram os meus, e ele sorriu abertamente.
— Minha esposa. Ali me avisou que viria aqui para me ver — ele tentou fazer um gesto com a mão, provavelmente me chamando para perto, mas pareceu ter certa dificuldade, pois o ópio já começava a fazer efeito.
Aproximei-me dele e sentei ao seu lado, me ajeitando na cama.
— Como você está? — perguntei, gentilmente.
Ele piscou os olhos, parecendo cansado.
— Agora estou bem — respondeu — Não aguentei a viagem de volta, e paramos aqui para que eu me recuperasse. Minha perna doía, mas agora não sinto mais nada — franziu o cenho, como se estivesse confuso, mas então sorriu novamente para mim — É a sua presença, ma fleur de lys, que alivia minhas dores.
Senti meu rosto esquentar e sabia que minhas bochechas estavam enrubescidas devido minha compreensão da forma como o rei me chamou: flor de lírio. Eu sabia que suas palavras eram apenas efeito da medicação, porém meu coração traiçoeiro batia feito um tambor de guerra. Ele... ele era tão adorável, enchia-me de afeto olhar para esse rei.
Olivier ainda me observava com um pequeno sorriso e uma expressão carinhosa; seus olhos eram tão azuis que pareciam ser capazes de brilhar até mesmo no breu. Lentamente, toquei a lateral de sua face, surpreendendo-me quando ele aninhou o rosto em minha mão, fechando as pálpebras por um momento, como se tentasse aproveitar ao máximo meu toque. Olhei seus lábios; eram bem desenhados e não totalmente finos, em tom rosado. Senti vontade de beijá-lo. Na verdade, senti vontade de empurrá-lo na cama, deitar sobre ele, morder seu rosto adorável, e então beijá-lo até perder o fôlego.
Tirei a mão de seu rosto, um pouco constrangida por pensar tudo isso sobre o rei, e ele pareceu um pouco decepcionado por eu parar de tocá-lo.
— Vamos, Olivier, deixe eu lhe ajudar a deitar — murmurei com gentileza, segurando seu braço enquanto ele deitava a cabeça no travesseiro e eu ajeitava os lençóis.
Ele encarou meu gorjal.
— Eu gosto de seus cabelos — falou, em um tom quase infantil — Não pode tirar o gorjal e soltá-los?
— Claro — respondi, desenrolando o tecido de seda — Sinto-me mais confortável sem ele para dormir.
Deixei o longo lenço na pequena mesa ao lado da cama e em seguida me virei para o rei, que já me olhava atentamente.
— Eu sonhei com você, já havia lhe contado? — me lançou um sorriso.
— Como é? — perguntei, surpresa com suas palavras.
— Sonhei com você antes de nosso casamento — explicou — Lembro que estava tão mal, até mesmo pensei que iria morrer. E então eu vi você, aparecendo em minha frente, como um anjo enviado por Deus para dizer que eu ficaria bem — ele suspirou, fechando os olhos — E eu realmente fiquei bem. E quando sua mão tocou a minha em nosso matrimônio, tive a certeza de que você era o meu anjo.
Meu coração bateu feito milhares de tambores dessa vez, e o calor, antes apenas em meu rosto, se espalhou por todo meu corpo. Ele se lembrava de mim, de quando entrei em seu quarto escondida e sem saber que os aposentos lhe pertenciam.
Eu não sabia o que dizer, o que responder.
— Minha Eleanor... — ele murmurou, ainda de olhos fechados.
O encarei por um tempo, até notar que sua respiração se tornara lenta e profunda. Só então levantei e, com certa dificuldade, desfiz os laços de meu vestido, tirando-o e deixando-o em uma cadeira. Fiquei com o vestido fino de baixo, igual aos que usava para dormir, e me deitei novamente.
Devagar, aproximei meu rosto do seu, do jeito que ele havia feito antes de partir, até sentir sua respiração calma em meu rosto. Beijei sua testa gentilmente, mesmo que já estivesse dormindo, e depois toquei a ponta de seu nariz com o meu, lutando contra a vontade de sentir seus lábios.
Deitei minha cabeça próxima ao ombro de Olivier, e apoiei minha mão em seu peito. O deixaria sentir, mesmo dormindo, que não estava mais sozinho.
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