06. Um Novo Começo
┏─══─━══─⊱❁❀❁⊰─══━─══─┓
"E indo eles caminhando, chegaram a um lugar onde havia água, e disse o enuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado?
E disse Felipe: é lícito, se crês de todo o coração."
— Atos 8:36, 37
┗─══─━══─⊱❁❀❁⊰─══━─══─┛
QUANDO AINDA ESTAVA EM DARIAN, minha avó e meu pai exigiam que eu me fizesse presente, juntamente com Nathaniel, quando algum emissário ou diplomata chegasse em nossa corte, assim como em suas reuniões. Nada orgulhava mais rei Edward — em suas palavras, quando ele estava em seu reino e não em alguma campanha militar — do que ter uma filha bela e inteligente. Bela não seria a palavra exata para me descrever, pois, embora me considerasse possuidora de boa aparência, esta era ofuscada ao ser comparada com outras jovens da corte com quem era obrigada a conviver. Eu não herdara os cachos loiro-avermelhados de minha família paterna e nem os olhos claros, um conjunto que marcava os Príncipes da Casa Eyriss; tinha toda a aparência de minha falecida mãe, com os cabelos espessos e escuros, olhos também escuros, apenas o rosto bem marcado era de meu pai. Uma beleza selvagem, meu tio costumava dizer, nos momentos em que afagava meus cabelos.
Durante um tempo, ressentia-me por não possuir a elegância de Anna ou os cabelos sedosos e avermelhados de Mary, mas esta fase logo passou com a ajuda de minha avó. Ela dizia que eu poderia não ser tão graciosa ou bonita quanto a maioria das donzelas, tanto de Darian quanto de Anglicourt, e nem ter uma aparência que fosse considerada realmente desejável, porém eu tinha a inteligência e as palavras de meu pai. Sagacidade e astúcia, ambas nunca poderiam ser desfiguradas ou tomadas de mim. Sabia, apesar de minha pouca idade e pouca disposição, exatamente como escrever cartas à reis e como conversar de igual com um diplomata; cada teoria política, cada estratégia teórica de batalhas... tudo fizera parte de minha educação.
O que é a beleza perto de tudo isso?, minha avó dizia, A própria beleza murcha diante da inteligência.
Era em tudo isso que pensava enquanto massageava minha mão direita depois de passar metade da tarde respondendo às cartas que vinham de vários cantos de Anglicourt, contendo pedidos, prestações de contas, respostas. Raymond me dissera que Olivier respondia à todas as cartas pessoalmente, todavia, por ele estar fora da corte, eu poderia responder às cartas como representante da coroa, por ser regente. Imaginei Olivier passando seus dias ali, atrás de sua mesa lendo, respondendo e escrevendo cartas, analisando documentos, sozinho. Era algo solitário.
Quando selei a última carta e a coloquei na pilha organizada junto das outras, levantei e caminhei um pouco pelos aposentos do rei, exercitando um pouco minhas pernas. Aneurin logo viria recolher as cartas e garantir que elas fossem enviadas.
Sabina daria um jantar apenas para algumas mulheres da corte, provavelmente as que eram mais próximas de si, e eu, é claro, fora convidada. Não estava com ânimo para passar a noite rindo e conversando, mas não queira dar a impressão de que estava desprezando o convite de minha cunhada, por isso saí do quarto de Olivier e segui até o salão particular da princesa.
— Eleanor! — Sabina exclamou, sorrindo, vindo me abraçar assim que entrei pela porta. Considerando seu rosto rosado, ela havia exagerado um pouco no vinho — Fico tão contente em ver que aceitou meu convite!
Haviam quinze mulheres ali, sentadas e tomando bebidas em suas taças, e todas elas se ergueram para me reverenciar. Comidas eram servidas pelos criados, que logo se retiraram. Sentei ao lado de Rosemarie Devereux, que estava presente — graças aos céus por isso, já que ela era o tipo de pessoa com quem me entendera à primeira vista — e também ao lado Sabina, que me concedeu uma breve apresentação de cada dama ali presente; a maioria eu conhecia apenas pelo nome.
A noite transcorreu agradável, embora eu não tivesse o costume de participar de eventos deste tipo, já que não gostava muito das damas de Darian e nem elas gostavam muito de mim; foi uma boa experiência e permitiu que eu conseguisse analisar cada uma ali, cada comportamento e postura, o que poderia me dizer muito sobre elas. Guardei tudo em minha mente, e me diverti conversando com Rosemarie, ela era inteligente e tinha opiniões fortes, e eu a admirei. Saboreei o vinho anglicourtiano, mas tentei manter a moderação.
Lembrei das vezes em que Darron e eu nos encontrávamos em segredo e dividíamos um odre de vinho, sentados lado a lado; não ficávamos bêbados, mas a alegria da bebida nos fazia trocar beijos mais longos e toques mais ousados. Por algum motivo, pensar nele e no fato de que apenas queria se aproveitar de mim não fazia meu coração doer, apenas pesar... Talvez seja pelo fato de sentir-me adaptada em Anglicourt. Não estava sendo tão aterrorizador quanto eu pensei que fosse, e Olivier fora gentil e galante, um verdadeiro cavalheiro. Mal conseguia acreditar em minha sorte com ele.
Assim que as vozes e as conversas e risadas ficaram mais altas, indicando que todas estavam cada vez mais alegres pelo vinho, falei a Sabina que iria me retirar. Ela tentou me convencer a permanecer mais um pouco, assim como Rosemarie, porém recusei; estava cansada e o barulho das vozes começavam a fazer minha cabeça doer.
Tomando o corredor um pouco afastado da sala particular de minha cunhada, esfreguei o os olhos já sentindo minha mente cansada e meu corpo pesar. Parei de caminhar ao ver que ali, em minha frente, um menininho loiro brincava sentado no chão, sozinho, com alguns cavaleiros entalhados em madeira. Eu o reconheci; era o filho de Sabina, de seu primeiro marido, e sobrinho de Olivier — o que agora o fazia igualmente meu sobrinho; seu nome também era Alain.
Me aproximei, sorrindo, e, quando ele notou minha presença, também sorriu, embora timidamente. Tinha os olhos azulados que o tio e a mãe compartilhavam, era uma criança bonita.
— Olá, querido — me abaixei em sua frente — Lembra de mim?
— Sim — ele continuou com o sorriso acanhado — É a senhora minha tia.
— Pode me chamar só de tia, doce Alain — falei com gentileza — O que faz aqui? Já está tarde e você deveria estar na cama.
O pequeno príncipe abaixou os olhos, encarando o brinquedo em suas mãos.
— Queria ver minha mãe — respondeu — Mas ela está ocupada. Queria ver maman antes de dormir.
Acariciei seus cabelos com carinho.
— Quer que eu o ponha na cama? — perguntei — Posso contar uma estória para você dormir.
A perspectiva de ouvir uma estória o fez se levantar. Ajudei-o com os cavaleiros de brinquedo e segurei sua mão, deixando que ele me guiasse até seu quarto.
Seus aposentos eram tão grandes quanto os meus, e também com uma mesa e cortinas ao redor da cama, porém cheio de brinquedos. Coloquei os cavaleiros de madeira dentro de um baú que ele havia apontado e levei o menino para a cama, cobrindo-o como Nathaniel costumava fazer comigo quando eu era pequena.
— Que tipo de estórias gosta de ouvir? — perguntei, sorrindo, enquanto sentava na cama ao lado de onde estava deitado.
— Estórias de cavaleiros e batalhas! — Alain respondeu com animação, embora bocejasse.
— Muito bem, irei contar uma estória com cavaleiros valentes e batalhas — falei — Mas voce precisa fechar os olhos e se concentrar em sua imaginação, sim?
Ele assentiu, sorrindo.
Comecei a contar a estória sobre um cavaleiro corajoso que fazia parte da corte de um rei bom e justo. Mas esse rei justo possuía inimigos, tanto dentro de seu reino quanto fora, e esse cavaleiro era o responsável por defender o rei, sendo leal a ele, tanto na corte quanto em batalhas e guerras.
Antes mesmo que eu chegasse ao fim da estória, Alain já havia adormecido. Meus olhos pesaram e eu adormeci também.
───────⊰•❁❀❁•⊱───────
Um toque insistente em meu ombro fez com que eu abrisse os olhos, piscando para afastar o sono. Alain ainda dormia, mas Sabina estava de pé ao lado da cama, sorrindo.
— Parece que você se diverte mais com meu filho do que com as damas de Anglicourt — ela falou, mas seu tom não era ríspido ou chateado. Ela parecia divertida.
— Ele é um bom menino — sentei na cama lentamente, com cuidado para não acordá-lo — Eu o trouxe para o quarto e contei uma estória... Devo ter adormecido também.
Minha cunhada riu baixo.
— Suas criadas pessoais, Clemence e Louise, não? Elas quase se desesperaram ao verem que você não estava em seu quarto ou no do rei — contou — Imagine minha surpresa ao encontrar você aqui.
Sabina tinha ao seu redor o mesmo ar gentil que Olivier, e isso me fazia gostar cada vez mais dela. Notei que ela parecia mais leve e alegre agora que seu desprezível marido, Bartolome de Châtellerault, não estava na corte, já que partira para Olirk com os cavaleiros e soldados.
Não demorei mais que o necessário para encontrar Clemence e Louise em meus quartos, nem para tomar meu banho que já estava preparado. Pedi que meu desjejum fosse servido nos aposentos do rei, onde eu responderia mais cartas, que não paravam de chegar, usando o selo de Olivier.
Raymond, o conde de Homereau, me ajudou durante alguns momentos, explicando o que cada região mais precisava. O conde era um bom homem, fora regente até Olivier chegar a maioridade, e era um bom conselheiro. Depois de um tempo, precisou se retirar para cuidar de seus próprios deveres.
Na altura do meio do dia, quando Clemence me trouxera comida, já havia terminado todas as cartas e deixado em uma pilha para que Aneurin as buscasse; só então notei o quanto estava faminta.
Enquanto comia, permiti que Aneurin entrasse e recolhesse as cartas, mas, antes que saísse, pedi que procurasse o bispo Perceval e desse a ele o recado de que gostaria de sua companhia para um passeio pelos jardins. Pude notar que Aneurin ficou um pouco surpreso, mas seguiu meu pedido.
Eu admirava o bispo de Anglicourt, já ouvira falar dele antes mesmo de pisar nesse reino, quando ainda estava em Darian. Perceval de Cartia, além de clérigo, era também historiador e estudioso, e fora responsável pela educação do Rei que agora era meu marido. Era um homem inteligente e mais do que isso: era legitimamente bondoso. Uma combinação infelizmente difícil de encontrar nos membros da Igreja atualmente.
O bispo era uma companhia agradável e espirituosa; estando apenas nós dois, em tom leve, trocávamos os idiomas conforme conversávamos: francês, depois grego, até latim. Ele havia se estabelecido em Anglicourt no início do reinado do pai de Olivier, Louis II, que deixou o filho sob sua tutela e o incumbiu de documentar o que pudesse sobre a história de seu reinado.
Passamos um tempo em silêncio, mas este não era desconfortável, e paramos em frente ao lago que havia na área dos jardins. Observei atentamente ao redor; a estrutura de Anglicourt era semelhante a de Darian, pois ambos os reinos ainda conservavam parte da arquitetura romana.
Ao redor do castelo havia a vila romana, composta por altas muradas, reforçadas e vigiadas por guardas noite e dia, divididas em três áreas: a pars urbana, onde costumava viver o proprietário e sua família — que agora era onde estava o castelo que abrigava o reis de Anglicourt —; a pars rustica, onde moram os servos e trabalhadores; e a pars frumentaria, onde haviam pequenos campos, bosques e lagos, assim como os jardins ornamentados pelos quais o bispo e eu caminhamos.
A divisão entre espaço reservado para o castelo — pars urbana —, para onde haviam os jardins — pars frumentaria — era linda, com belos pátios que continham árvores bem podadas e variados tipos de flores.
Nathaniel estivera certo, Anglicourt parecia com Darian, e isso trouxe um gosto agridoce em minha boca. Em parte sentia o consolo de estar em um lugar muito parecido com o que eu vivera dezoito anos de minha vida, porém, também sentia saudades e certa solidão por estar longe de minha família.
Olhei para minha mão direita, onde em meu dedo estava o anel que Olivier ali colocara quando nos unimos em matrimônio dias atrás. Somente agora percebia a beleza simples da jóia, bem ao meu gosto; era uma circunferência de ouro puro com três pedras de safiras azuis incrustadas lado a lado. De certa forma, enquanto Olivier estivera comigo eu não sentira tanta falta de Darian, mas, agora que ele estava em Olirk tentando afastar os homens de Raynald, volta e meia sentia um aperto em meu peito, pois... bem... Olivier se tornara minha família aos olhos das Leis dos Homens e de Deus.
Suspirei.
— Está tudo bem, minha senhora? — a voz preocupada do bispo dispersou meus pensamentos — Se estiver indisposta, podemos retornar ao castelo.
Lancei a ele um sorriso gentil.
— Estou bem, senhor bispo — respondi, observando o lago novamente — Só estava pensando em meu marido, preocupo-me com ele.
— Compreendo sua preocupação, minha rainha. Olivier sempre está em minhas orações, e tenho certeza de que Deus o protegerá, mas não podemos evitar a apreensão que sentimos.
Ele realmente compreendia essa preocupação, talvez até mais do que eu, pois fora o responsável pelo jovem monarca desde que este tinha oito anos.
— Como ele era? — perguntei, mantendo o tom de voz inocente — Como era Olivier quando mais jovem?
Foi a vez do homem suspirar, assumindo uma expressão saudosa.
— Ele era um menino charmoso, sabia exatamente como usar suas palavras e o que dizer em cada situação. Era vivaz, alegre, ágil nos exercícios físicos. Era um perfeito cavaleiro, mesmo tão novo — o tom do bispo era carinhoso, ele realmente tinha Olivier como um filho — Tinha uma excelente memória também, ainda tem. Apesar de se destacar tanto nas artes militares, ele sempre aproveitou muito as aulas, principalmente as de Letras e História. Como ele amava História!
Imaginei Olivier, anos mais novo, escrevendo avidamente enquanto os cachos loiros caíam pelo rosto. Eu conseguia imaginá-lo assim, e também podia imaginá-lo facilmente montado em um cavalo com a espada erguida em sua mão.
— Olivier nasceu para ser rei — falei, sem esconder o orgulho em minha voz. Poucos eram os príncipes ou reis como Olivier IV, tinha plena noção disso. E surpreendi-me ao sentir orgulho por ser sua esposa.
— Sim, ele nasceu — deu um sorriso triste — Eu chorei quando dei a notícia aos pais de Olivier. A notícia de que ele sofria com a Syndrome de la Sueur Sanglante.
— Acalenta-me saber que ao menos Godfrey partiu com o rei para a batalha — falei — Ao menos ele está com um de seus médicos. Mas por que levar Godfrey e deixar Ali?
— Minha rainha, a senhora não sabia? — o bispo ergueu as sobrancelhas, surpreso — Godfrey, antes de chegar em Anglicourt, era um Hospitalário. Ele é treinado em artes da guerra, além de estar acostumado a servir em campos de batalhas.
Não deixei que a surpresa que senti transparecesse em meu rosto, porém voltei a sorrir para o clérigo.
— Então Godfrey foi uma escolha adequada.
— Godfrey sempre o acompanha quando o rei marcha — ele retribuiu meu sorriso.
Ficamos em silêncio por mais algum tempo; o vento soprava, não muito forte, mas o suficiente para que me sentisse agradecida por estar com meu cabelo preso em trança e rede.
— Sempre quis ser cronista ou historiadora — falei novamente, revelando ao bispo algo que ninguém sabia sobre mim — Relatar, como testemunha ocular, os acontecimentos contemporâneos a mim — deixei toda honestidade se derramar em minhas palavras — Eu o admiro, bispo. Por seu trabalho.
— Ora, minha querida menina, o que a impede de ser uma historiadora? — o homem segurou minha mão e a apertou, com um ar paternal — É a princesa de Darian por nascimento e rainha de Anglicourt por casamento, tem conhecimento de ambas as cortes, além de estar testemunhando acontecimentos que, com certeza, serão estudados daqui à muitas gerações. Todo tempo, ao nosso redor, história está sendo feita. Imagine que honra seria para as gerações futuras lerem escritos de uma rainha.
Meu sorriso se aumentou sem que eu sentisse, ao ver que bispo Perceval incentivava-me a realizar o desejo de meu coração. Nunca poderia imaginar que um clérigo incentivaria uma mulher a seguir um de seus desejos; nem mesmo meu pai provavelmente me apoiaria nisso!
— Talvez eu me torne a próxima Anna Comnena — deixei que uma risada espontânea e alegre saísse de meus lábios.
— Não, você se tornará a primeira Eleanor da Casa de Eyriss, princesa de Darian e rainha de Anglicourt.
Suas palavras me emocionaram e voltamos ao silêncio.
Vários pensamentos passaram por minha mente. O principal deles era o que mostrava-me como haviam sido os últimos dias, como eu havia assumido meus deveres como rainha, e também rei, visto que Olivier estava ausente. Tinha sido cansativo, mas eu me acostumaria, e aceitava este cansaço agora com prazer, pois era o marco do fim de minha infância.
Agora eu era mais rainha de Anglicourt do que princesa de Darian, mas somente porque estava na corte do primeiro. Ainda era dariana em minhas veias, porém aceitara Anglicourt em meu coração também. Enquanto vivesse, me reconheceria como a princesa dariana e a rainha anglicourtiana, e nada menos que isso.
O que antes era medo transformou-se em determinação dentro de mim.
Olhando o lago em minha frente, tomei uma decisão.
— Bispo, me batize nesse lago — falei, decidida.
Perceval de Cartia me encarou surpreso, com as sobrancelhas erguidas.
— A senhora não havia sido...
— Sim — o interrompi, sorrindo — Mas sinto que uma nova etapa de minha vida começou. Começou no momento em que Olivier desceu a coroa sobre minha cabeça. Por isso, quero ser batizada mais uma vez aqui, em Anglicourt. E não quero esperar nem mais um momento.
— Bem, isso é entre Deus e a senhora — ele sorriu — E quem sou eu para negar batizá-la? Venha, minha rainha.
E foi ali, em um dos lagos de um dos jardins, que o bispo de Anglicourt, Perceval de Cartia, batizou sua nova rainha, eu. Não me incomodei por ter me molhado por inteira. O sol brilhava no céu azul acima de nós, o dia estava lindo.
— Ego te baptizo in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti — a voz calma do clérigo ecoava em meus ouvidos.
— Amen — murmurei, enquanto saía do lago — Initium novum.
Em nossa caminhada de volta ao castelo, atraímos muitos olhares, porém ninguém nos questionou. Clemence e Louise não conseguiram evitar suas expressões assustadas ao me verem toda molhada, o que me fez rir, e logo me ajudaram a tirar o vestido e me secar.
Assim que estava novamente seca e confortável, pedi que Louise chamasse Aneurin para mim. Observei o modo como suas bochechas se avermelharam, e nada comentei ou demonstrei para que ela não se sentisse constrangida.
Para minha surpresa, Aneurin já estava vindo até mim, e eu o sorri, pois parecia agitado.
— Minha senhora, o conde de Homereau deseja vê-la urgentemente — ele falou.
— Deixe que ele venha, Aneurin — desfiz meu sorriso.
Raymond entrou apressado em meus aposentos, fazendo uma reverência também apressada em minha direção.
— Minha senhora, acabo de receber notícias — começou — Nossos homens conseguiram fazer Raynald recuar, porém o rei se estabeleceu nas terras de Henri, duque em Carmouche. Estava retornando para cá após ser ferido, mas não aguentou o cansaço.
🌟OBSERVAÇÕES🌟
⚜Sobre Anglicourt e Darian conservarem parte da arquitetura romana: meus três reinos fictícios (Darian, Anglicourt e Resa) se localizam entre o antigo Reino da França e o território que viria a se chamar Sacro Império Romano Germânico. Levando em consideração a grande expansão do Império Romano, achei interessante fazer referência a arquitetura nos reinos;
⚜"Olhei para minha mão direita, onde em meu dedo estava o anel que Olivier ali colocara (...)" : eu havia lido que pelos séculos XI, XII, a aliança era usada na mão direita. Somente no século XVI o anel mudou para a esquerda. Porém, já li alguns dados que diziam o contrário. De qualquer forma, decidi usar essa versão;
⚜"(...) Godfrey, antes de chegar em Anglicourt, era um Hospitalário. Ele é treinado em artes de guerra (...)" : a Ordem dos Cavaleiros Hospitalários foi fundada em 1099, e para ela era designado o cuidado com os doentes. Apesar de iniciarem os trabalhos apenas cuidando de feridos, logo os hospitalários precisaram receber treinamento para batalha, e chegaram a participar de algumas Cruzadas - foi a única Ordem que sobreviveu aos conflitos;
⚜"(...) Talvez eu me torne a próxima Anna Comnena." : Anna Comnena foi uma princesa bizantina, filha do imperador bizantino Aleixo I Comneno com Irene Ducena. Tornou-se uma das primeiras mulheres historiadoras ao escrever a "A Alexíada", uma crônica sobre o reinado de seu pai, durante o qual ocorreu a Primeira Cruzada;
⚜"Ego baptizo in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti" : Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo;
⚜"Initium novum" : novo começo;
⚜MÍDIA NO INÍCIO DO CAPÍTULO: Eleanor e bispo Perceval ❤
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro