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🔥51 - Tremular de sombras

A neve caía como se estivesse pesada do céu. Klaus olhou para seu relógio pela terceira vez em questão de poucos minutos. Seu coração parecia apertado. Nenhuma sensação diferente desde que reencontrou Diana naquele dia. Em seu íntimo ele sentia que ela estava precisando dele, por mais que ele soubesse que ela era absolutamente forte.

Ele olhou para o padre sentado no caixote no convés com uma caneca de chá preto em mãos. O homem tremia e secava o suor da testa de tempos em tempos. Oregon observava o homem com os braços cruzados e de cara fechada. Ele não parecia de fato ser um homem confiável, mesmo que sendo um padre. Mas se Mathias confiava nele, ele daria o voto de confiança.

— Então, Ezequiel. Disse que duas mulheres precisam de ajuda?

— Sim. — O padre começou a dizer olhando para trás por cima dos ombros na direção do cais. — Uma engeliana e uma mulher alta... muito ferida.

Klaus se levantou rapidamente sentindo o coração batendo cada vez mais rápido. O desespero parecia invadir seu corpo como um veneno se esparramando em suas veias.

— Alta, rosto sardento, cabelos pretos, olhos verdes? — Klaus descreveu a amada com a voz trêmula.

— Ela está desacordada... mas o resto da descrição bate sim.

Klaus se aproximou do padre e o segurou pela gola da camisa de forma violenta. — O que fez com ela?

— E-eu... não... f-fiz nada...

— Klaus! Deixe o padre! Estamos chamando atenção... — Mathias tocou o ombro do baixinho que afrouxou o aperto ainda encarando o homem trêmulo.

— O que fez com ela?

— Ela foi levada à minha igreja pela engeliana que pediu desesperada que ajudassem as duas a saírem de Nordwein.

— Me leva lá! Agora!

— As ruas estão cercadas... soldados por todos... os lados...

— Klaus, se acalme! — Oregon disse tocando o ombro de Klaus. — Se matar o homem, jamais saberemos onde elas estão.

— Eu vou soltar, mas você vai me levar lá!

O padre acenou com a cabeça positivamente. Klaus soltou o padre com relutância, mas a raiva ainda ardia em seus olhos. Ele mal conseguia conter a angústia que o consumia. A simples ideia de Diana ferida, desacordada, e em perigo o fazia esquecer qualquer senso de razão. Ele precisava chegar até ela, não importava como.

Mathias deu um passo à frente, colocando-se entre Klaus e o padre para evitar outra explosão de violência.

— Ezequiel, você mencionou que a cidade está cercada. Como espera que entremos? — Mathias perguntou, com sua habitual calma.

— Existem túneis por todos os lados. — o padre respondeu, ainda ajustando a gola da camisa. — Antigos corredores de contrabandistas que levam diretamente à minha igreja. É perigoso, mas é o único caminho.

O coração de Klaus parecia saltar no peito. A menção de um caminho direto reacendeu sua esperança, mas ele sabia que o tempo era curto. Diana estava em perigo, ferida e isso o atormentava de uma maneira que ele não imaginava.

— Perigoso como? — Oregon perguntou, estreitando os olhos para o padre.

— Os túneis não são seguros há décadas. Desmoronamentos, infestações de ratos... e, mais recentemente, há rumores de que os soldados começaram a usá-los como armadilhas para capturar fugitivos.

— Ótimo. Não bastava tudo o que está acontecendo, agora temos que arriscar sermos enterrados vivos ou capturados. — Oregon cruzou os braços, mas Klaus ignorou o sarcasmo.

— Não temos escolha. Vamos agora.

Mathias suspirou e acenou para Oregon, que bufou, mas assentiu. Eles não podiam abandonar Klaus naquele momento, mesmo que as chances fossem mínimas.

— Muito bem, padre. Guie-nos. E não tente nada estúpido — Oregon alertou, colocando a mão no ombro do homem. Ezequiel engoliu em seco e fez um gesto para que o seguissem.

Eles desceram do navio discretamente e seguiram para debaixo do porto em direção a um barco pequeno de pesca que parecia encalhado na areia. Klaus franziu o cenho ao sentir o cheiro de peixe e tentou ignorar o lodo e a água suja que vinha debaixo do barco.

— Por aqui... — Ezequiel apontou para uma fenda no barco que dava acesso ao que parecia ser uma rede de esgoto.

Klaus levou a mão ao rosto imediatamente tentando impedir o péssimo cheiro que vinha do local. Ele queria perguntar ao homem como um padre tinha acesso a túneis como aquele, mas o cheiro ruim o impediu de racionar ou formular qualquer pergunta.

Os túneis eram úmidos e mal iluminados, a lanterna que o padre carregava mal fornecia luz suficiente para enxergar os próprios pés. Cada passo ecoava nos corredores estreitos, e o ar tinha um cheiro forte de mofo e umidade.

— Esses túneis... não têm saída alternativa? — Oregon perguntou, sussurrando.

— A única saída além da igreja está bloqueada. Um desmoronamento, anos atrás. — Ezequiel não virou para responder, mantendo o foco no caminho.

Klaus não dizia nada, mas cada minuto parecia uma eternidade. Quando finalmente viram uma luz fraca no fim do túnel, ele apertou o passo, quase tropeçando em pedras soltas. Ezequiel parou diante de uma porta de madeira grossa e empurrou-a com dificuldade, revelando o interior da majestosa igreja.

A cada passo que dava, Klaus sentia o coração cada vez mais apertado. O medo de ver em que estado sua amada estava. Ele desejava em seu íntimo que fosse mentira daquele padre. Diana era praticamente invencível. Ela não poderia ser derrotada assim tão facilmente.

Já havia se passado tanto tempo.... O que ela fez nesse período? Por onde andou, ou o que ela viu? Queria vê-la, abraçá-la, sentir seu cheiro e o calor de sua pele.

O ex-major ergueu o queixo para ver a estrutura do local. O enorme salão imponente acima deles. Klaus seguiu o padre acompanhado de Oregon ouvindo o bater dos solados de seus sapatos ecoarem por todo o salão. Ezequiel entrou numa sala atrás do altar, tirou as chaves dos bolsos, destrancou e puxou uma pesada porta de madeira.

O corpo inteiro de Klaus gelou. Diana estava deitada, com vários ferimentos em seu corpo. As faixas que as cobriam não escondiam o sangue vívido dela. A pele pálida, olheiras profundas e lábios secos. Estava mais magra, frágil. Ao lado dela, estava Mia, com os cotovelos sobre a mesa em sinal de oração. Seu olhar dourado se virou para ele, e suas sobrancelhas se ergueram rapidamente.

Ele não perguntou nada para Mia, nem tampouco avançou sobre ela lhe enchendo de perguntas como queria. Ele apenas se aproximou devagar de Diana e tocou seu rosto delicadamente e sentiu o coração acelerar quando sentiu o toque gélido. A pele que normalmente sempre estava quente, naquele dia estava tão fria quanto a neve que caía naquele país.

Klaus nunca foi de chorar, sempre tentou ser firme em seus sentimentos. Havia prometido a si mesmo que jamais demonstraria fraqueza depois de ter dado fim ao seu pai naquela noite. Mas ver Diana daquele jeito desafiava qualquer resistência que ele tentasse ter. Com a testa encostada na dela, ele chorou tanto que mal conseguia respirar.

Quando finalmente conseguiu se recuperar, ele olhou para Mia com as sobrancelhas franzidas e se aproximou dela a passadas largas que fez a engeliana se levantar bruscamente e se preparar para o que iria vir.

— O que fez com ela?

— Não fiz nada! — Mia disse encarando o baixinho com os punhos cerrados

— Não adianta mentir! Eu sei que isso é culpa sua!

— Não fui eu! Fomos emboscadas e capturadas! Isso foi coisa do imperador de Nordwein!

— E como fugiram?

— Eu tirei a gente de lá!

— Não acredito em você!

— FODA-SE! Não ligo para o que pensa! Eu sei o que vi... — Mia disse segurando o choro na garganta.

Padre Ezequiel se aproximou dos dois tentando acalmar os ânimos. — Não acho que ela esteja mentindo.

— Não sabe de nada, padre. — Klaus disse virando as costas e tirando o próprio casaco. Ele ficou ao lado de Diana, ergueu o corpo dela e a vestiu devagar.

— O que vai fazer? — Mia perguntou franzindo as sobrancelhas.

— Levar minha mulher daqui.

— Não pode levar ela assim! — Mia disse tentando não parecer desesperada. Ouvir Klaus chamar a pessoa por quem ela quis dar a vida de "minha mulher" havia acertado em cheio como um soco na boca do estômago.

— Tenta me impedir. — Klaus pegou Diana no colo e caminhou em direção à porta.

— Não vai a lugar nenhum sem mim! — Mia gritou já não conseguindo segurar o choro que prendia na garganta. — Passamos um inferno juntas, sofremos, choramos... nós... eu não posso deixar que leve ela assim, não sem mim.

— Só quer salvar sua pele. — Klaus disse olhando para a mulher por cima dos ombros.

— Pense como quiser, me leve como sua prisioneira se não acredita em mim. Mas eu só vou sair do lado dela quando ela estiver bem.

Klaus parou por um momento na porta, respirando fundo enquanto olhava para Diana em seus braços. O peso dela parecia maior que apenas seu corpo; era o fardo do que ela havia sofrido, e ele sabia que não poderia protegê-la de tudo o que o mundo cruel jogava em seu caminho.

— Klaus, não temos tempo para isso. — Oregon disse, sua voz firme enquanto mantinha a mão na arma em sua cintura, seus olhos observando o padre e Mia com cautela. — Se vamos sair daqui, tem que ser agora.

Klaus apertou os lábios, seu instinto lhe dizendo para não confiar em Mia. Mas algo no desespero em sua voz, nos olhos dourados dela brilhando com lágrimas mal contidas, o fez hesitar.

— Você quer ficar ao lado dela? Então prove que não é um problema — ele disse, com frieza. — Ande na frente. Se isso for uma armadilha, você vai ser a primeira a pagar.

Mia assentiu rapidamente, passando à frente sem reclamar. Ela entendia o ódio e a desconfiança de Klaus, mas não podia deixar que isso a impedisse de ficar ao lado de Diana. Padre Ezequiel segurou a porta aberta, observando o grupo sair com passos rápidos. E seguiram pelo túnel. Ezequiel tinha plena certeza de que os soldados estavam nas ruas.

— Quanto tempo até sairmos daqui? — Klaus perguntou, enquanto ajustava Diana nos braços.

— Mais vinte minutos de caminhada pelos túneis. Depois disso, é a cidade aberta. — o padre respondeu, tentando não tropeçar enquanto seguia na retaguarda.

Oregon mantinha-se atento, enquanto caminhava logo atrás de Mia. Ele não gostava da ideia de carregar mais um peso, mas confiava no julgamento de Klaus, mesmo que a contragosto.

Mia olhou para trás brevemente, seus olhos caindo sobre Diana. Era difícil ver a mulher que havia lutado ao lado dela, invencível e destemida, reduzida àquela fragilidade.

— Se eu fosse você, manteria os olhos na frente — Oregon murmurou, seus olhos estreitos fixos em Mia.

Ela virou-se imediatamente, mas não disse nada. Apenas encarou Oregon de maneira fria, apertou os lábios um no outro e se virou para a frente mais uma vez. Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, a luz do fim do túnel apareceu. O ar frio da superfície entrou pelo túnel, fazendo Klaus apertar Diana mais contra si para protegê-la do vento cortante.

— Lá fora estará pior — Ezequiel alertou. — Os soldados patrulham a área constantemente. Se formos pegos...

— Não vamos ser pegos — Klaus interrompeu, sua voz tentava esconder a raiva que sentia. Ele estava disposto a matar quem fosse para tirar Diana dali.

— Vamos seguir por este caminho aqui. — Ezequiel disse apontando para um túnel à sua esquerda. — Alguém pode ter nos visto.

Eles saíram no que parecia ser o porão de uma casa abandonada. O lugar estava repleto de entulho, e as janelas eram cobertas por tábuas. Oregon foi o primeiro a sair, empurrando a porta com cuidado e espiando para fora.

— Limpo, por enquanto — ele disse, voltando-se para o grupo.

— Para onde vamos? — Mia perguntou, cruzando os braços enquanto olhava para Klaus.

— Para o navio — ele respondeu, ajustando Diana em seus braços novamente.

— E como vamos passar pelos soldados? Eles cercaram o porto. — Ezequiel disse secando o suor que escorria em sua testa com a manga do blazer.

— Deixe isso comigo — Oregon disse, com um sorriso sombrio. Ele puxou um pequeno frasco do bolso, contendo um pó escuro.

— O que é isso? — Mia perguntou, desconfiada.

— Algo para distrair os soldados. Agora andem, e me deixem fazer o resto. Eu alcanço vocês.

Com isso, o grupo seguiu pelas ruas desertas, movendo-se pelas sombras enquanto Mathias os aguardava no porto. Klaus sentia que só podia rezar silenciosamente para que Diana sobrevivesse tempo o suficiente para escapar daquele inferno.

— Eu tenho que me despedir. — Ezequiel disse ofegante, o que fez Mia se virar.

— Nem pensar!

— Eu não posso ir.

— Se ficar aqui vai ser muito pior!

— Não tenho escolha — respondeu o padre, ofegante e olhando para a saída do beco. — Se eu for com vocês, comprometo tudo. Meu papel é dar a vocês uma chance de escapar, não me juntar à fuga. Além de que eu ainda tenho um trabalho a fazer.

— Não seja estúpido, Ezequiel! — Mia rebateu, o tom desesperado enquanto dava um passo em sua direção. — Você nos trouxe até aqui, agora tem que vir até o fim!

— Minha presença vai levantar suspeitas. — O padre balançou a cabeça. — Se os soldados me encontrarem aqui, posso inventar uma desculpa. Eu sou só um servo da fé. Vocês, por outro lado, são os procurados.

— Não seja ridículo, seu padre de mer...

— Chega! Não temos tempo para isso. — A voz de Klaus era firme. Ezequiel nem era tão importante assim.

— Não acredito que você vai aceitar isso! — Mia gritou.

— Não temos escolha — ele respondeu, ajustando Diana em seus braços. — Se ele quer ficar, é problema dele.

Ezequiel deu um passo para trás.

— Que a luz de Erste guie vocês. — ele disse, sua voz quase inaudível. Sem mais palavras, Klaus e o restante do grupo se viraram e continuaram seu caminho, deixando o padre para trás.

As ruas estavam ainda mais desertas, mas cada esquina parecia cheia de perigos invisíveis. Oregon liderava, com um frasco de pó em sua mão. Ele parava ocasionalmente, avaliando os sons ao longe antes de dar o sinal para avançar.

— O que exatamente é isso que você está carregando? — Mia perguntou, baixando a voz.

— Pólvora. — Oregon respondeu, com um sorriso de canto. — Isso vai fazer os soldados ficarem bem ocupados.

Ao se aproximarem do porto, o som de vozes se tornou mais evidente. As sombras das patrulhas podiam ser vistas movendo-se ao longo das docas.

— Chegamos. — Oregon se agachou, indicando para os outros fazerem o mesmo. — Agora, fiquem aqui e não façam barulho.

Antes que alguém pudesse protestar, ele se esgueirou pela escuridão, movendo-se sorrateiramente. Klaus olhou para Diana em seus braços. Ela estava tão pálida, tão frágil. Ele sentiu um nó na garganta ao ver a linha tênue que separava a vida da morte em seu rosto.

— Aguente firme, meu amor... — ele sussurrou, como se suas palavras pudessem alcançá-la mesmo em seu estado inconsciente.

Um som repentino explodiu à distância, seguido por gritos e o som de soldados correndo. Oregon voltou correndo para o grupo, um sorriso satisfeito no rosto.

— Pronto. Isso deve mantê-los ocupados por um tempo.

— Para o navio, agora! — Klaus ordenou, ajustando Diana enquanto começavam a correr.

Os soldados corriam na direção do barulho da explosão. A confusão criada por Oregon deu a eles a brecha necessária. Em poucos minutos, eles chegaram ao cais onde Mathias os aguardava no convés de um pequeno navio, gesticulando freneticamente.

— Vamos, rápido! — ele gritou avistando de longe a enorme quantidade de guardas se movimentando.

Klaus subiu a bordo com Diana, seguido por Mia e Oregon. Assim que estavam todos a bordo, Mathias gritou para o timoneiro:

— Levantem as âncoras! Vamos sair daqui agora!

Em questão de minutos estariam longe daquele inferno gelado. Estavam todos sentindo o alívio de se estar indo para casa. Finalmente. Mia se apoiou na beirada do navio e ficou olhando de longe os cidadãos apontando para eles.

— Andem rápido! Nos descobriram!

— MAIS RÁPIDO! — Mathias ordenou e a enorme âncora foi sendo recolhida com dificuldade pelo timoneiro. O enorme navio começou a se mover lentamente e se afastar do porto. Baren e Trigun, que ficaram a bordo, se posicionaram na proa. Cada um com um fuzil.

— Se alguém se movimentar de forma suspeita, atirem! — Klaus ordenou levando Diana para dentro dos aposentos do navio, mas parou quando ouviu gritos vindo do cais. Os passageiros se entreolharam, Baren engatilhou a arma e olhou pela luneta.

— É um... padre? — Baren disse com a voz rouca. Observando o homem correndo. — Nunca pensei que um padre corresse tanto.

Atrás dele havia um grande número de soldados no seu encalço.

— Esperem! — Ezequiel corria no cais desesperado, tentando ganhar distância dos soldados que atiravam na sua direção. Trigun firmou a arma no ombro e acertou um dos soldados que revidaram na direção deles.

— Se abaixem! — Klaus ordenou virando-se tentando proteger Diana. Oregon pegou sua arma e começou a atirar na direção dos soldados.

— Klaus! Temos que nos distanciar o mais rápido possível antes que chamem reforços!

— Temos que ajudar ele! — Mia gritou para Klaus.

— Não temos tempo!

— Se não fosse por ele, Diana já estaria morta! — Mia disse com as sobrancelhas franzidas.

Klaus soltou um suspiro pesado e olhou para Diana em seu colo.

— Se quiser trazer ele á bordo, fique a vontade, mas não podemos voltar.

— PULA! — Mia gritou para o Padre que correu na direção do mar e se jogou na água. Ele voltou à superfície com os lábios tremendo por causa do frio.

— ME AJUDEM!

— Eu disse para você vir, seu padre maluco! — Mia gritou para o homem que começou a nadar na direção do navio. A engeliana pegou uma das boias, presas a uma corda e jogou na direção de Ezequiel.

Ezequiel agarrou-se à boia, ofegante, enquanto as ondas batiam contra ele. Mia, sem hesitar, segurou a corda e começou a puxá-lo para o navio. Klaus, ainda segurando Diana, lançou um olhar impaciente para a cena.

— Ele vai acabar nos atrasando e chamando atenção! — Klaus rosnou, seus olhos fixos no cais, onde sombras de soldados começavam a se formar ainda atirando na direção da água. Klaus pensava no quanto a fé dele era forte. Se fosse outro já estaria como uma peneira.

— Alguém me ajude! — Mia respondeu, sua voz carregada de exaustão e frustração.

Oregon, com um sorriso sarcástico, aproximou-se e puxou a corda e com um único movimento forte, trazendo Ezequiel para perto. O padre, molhado e tremendo, agarrou-se à borda enquanto era puxado para o convés por Mathias e Oregon.

— A próxima vez que decidir bancar o herói, escolha outro navio! — Oregon disse, sua voz cheia de sarcasmo enquanto ajudava o homem a se levantar.

— Graças à Erste! Vou embora deste inferno! — Ezequiel respondeu, ofegante, mas com um leve sorriso no rosto.

— E o lance de "tenho muito a fazer aqui"? — Mia debochou.

— Eu já fiz, não tem mais nada a fazer aqui.

— Continue atirando! — Oregon ordenou os outros dois que posicionaram suas armas tentando defender o navio que se afastava cada vez mais do porto de Frotsheimer. Os soldados aos poucos foram desistindo.

— Eles vão nos seguir? — Mia perguntou olhando ainda aflita para o porto enquanto um dos marinheiros levava roupas quentes para o padre.

— Não acredito nisso... — Ezequiel disse pegando uma caneca de chá quente das mãos de Mathias. — Soube que o imperador não está muito bem... Eles não vão se arriscar indo atrás de forasteiros.

— Hum. — Mia desviou o olhar para Klaus que apenas ignorou a troca de palavras, voltando sua atenção para Diana. Ele caminhou com ela no colo até o quarto e a ajeitou cuidadosamente em uma das camas improvisadas no convés inferior do navio, onde o frio era menos cortante.

Mia o seguiu, fechando a porta atrás de si.

— Ela vai aguentar?

— Ela tem que aguentar. — Klaus respondeu, enquanto ajeitava as cobertas ao redor do corpo de Diana. — O que mais ela passou, Mia?

A engeliana hesitou, seus olhos dourados evitando os de Klaus.

— Muitas coisas que ela nunca deveria ter enfrentado sozinha — Mia respondeu finalmente. — Ela lutou por mim. Por nós duas. Até o último segundo.

— Isso não responde minha pergunta. — Klaus a encarou, a voz carregada de raiva contida.

Mia cruzou os braços, o olhar endurecendo.

— Não vou te dar detalhes. Isso é algo que Diana deve contar, se ela quiser. Agora, o que importa é tirá-la viva daqui.

— Ela sofreu?

— Muito mais do que imagina.

Klaus apertou os punhos, suspirou, exausto, e se voltou novamente para Diana, passando a mão pelos cabelos dela com cuidado.

— Vamos sobreviver a isso. — ele murmurou, como se falasse mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa. Mia engoliu seco e depois caminhou para a saída do quarto. — Ainda é minha prisioneira. Não pense em fugir.

— Não vou a lugar nenhum.

— Vou providenciar um lugar para você. Caso tente uma gracinha.

— Não confia em mim?

— Ninguém confia, devia ter se acostumado com isso.

Mia manteve-se encarando o homem ainda sentado ao lado da cama de Diana e depois desviou o olhar para a mulher ainda desacordada. Tudo dali em diante seria por ela, até que ela finalmente abrisse os olhos e elas pudessem continuar a luta em caminhos opostos. Até lá, ela iria aguentar tudo.

(...)

No convés, Mathias observava o horizonte enquanto Oregon ajustava as velas do navio.

— Tem certeza de que não estamos sendo seguidos? — Mathias perguntou, a preocupação evidente em seu tom.

Oregon ergueu os olhos para o céu nublado e depois olhou para o porto que agora era apenas um borrão na distância.

— Não por enquanto. Mas não duvide que eles vão nos procurar.

Mathias assentiu, lançando um último olhar preocupado para a direção de Nordwein antes de voltar sua atenção para o mar aberto.

— Que Erste nos proteja — murmurou.

Enquanto o navio se afastava lentamente do porto, Klaus olhou para Diana, prometendo silenciosamente que faria de tudo para salvá-la. Atrás deles, Nordwein começava a desaparecer na neblina. E no coração de Klaus, a única coisa que pensava era em Diana sobrevivendo.

(...)

A viagem era longa. E o mar parecia ainda mais agitado do que de costume. Klaus cuidou da amada nesse tempo, deu banho, ajudou o padre a cuidar dos ferimentos. Passava as noites praticamente em claro, não conseguia dormir.

Ele ainda não entendia como os ferimentos não cicatrizaram. Ele observou o padre trocar as bandagens em silêncio, enquanto ajeitava lenços úmidos para passar no corpo de Diana.

— Diga-me, padre. Ela vai sobreviver?

O padre soltou um suspiro e fechou o último curativo.

— Não sei. Confesso que ela tem sido muito forte e resistente. Precisava ver como ela chegou. Ainda tinha flechas presas ao seu corpo.

— Não acredito que fizeram isso com ela.

— Nordwein cultua o deus da miséria e da calamidade. Coisas como essa não são raras. Além de que, o imperador sempre foi um sádico.

— Sabe como elas saíram de lá?

— Sua amiga engeliana não é muito de falar. Então não faço ideia.

— Ela não é minha amiga, aliás, aquela lá não é amiga de ninguém. Ela é muito perigosa.

— Ela pareceu muito preocupada com a sua esposa. — A palavra "esposa" deu a Klaus uma satisfação pessoal que o fez manter o equívoco do padre.

— Não acredite nela. Mia é capaz de coisas tão absurdas que irão te assustar.

— Enquanto isso, ela ficará presa? — Ezequiel perguntou com as sobrancelhas franzidas.

— Ficaremos quase 10 dias em alto mar. Não posso me arriscar desse jeito. Eu vou repetir, padre: Ela é muito perigosa.

Ezequiel deixou Klaus junto com Diana e seguiu para um quartinho onde Mia estava. A escuridão do pequeno compartimento era cortada apenas pela chama trêmula de uma lamparina. Mia estava sentada no chão, com os pulsos acorrentados a um dos pilares do navio. Seus olhos frios, ergueram-se lentamente quando Ezequiel entrou.

— Veio rezar por mim, padre? — ela perguntou com um sorriso debochado.

O padre ignorou a provocação e se ajoelhou à sua frente. Observou seu estado: marcas de luta ainda visíveis na pele, os cabelos emaranhados e os lábios rachados de sede.

— Parece não ter muitos amigos por aqui.

— Nenhum para ser mais exata.

O homem tirou do bolso interno um cantil desenroscou e levou a boca de Mia que fez uma careta.

— É água. — Ele disse sorrindo. Mia aceitou a gentileza e bebeu toda a água apreciando a suavidade da mesma descer por sua garganta.

— Obrigada... Quantos dias se passaram?

— Cinco dias.

— E a Diana?

— Ainda na mesma.

Mia engoliu em seco e abaixou o olhar entristecida.

— Aquele nanico miserável nem me diz como ela está.5

— Ele tem passado dia e noite ao lado dela.

— É claro que passou.

— Fez algo grave?

Mia ficou em silêncio observando o padre sentado ao lado dela. Depois soltou um suspiro pesado e o encarou novamente.

— Fiz sim.

— Entendo.

— Não quer saber o que fiz?

— Não. Seja lá o que for, será responsável por seus atos.

— Hum. Belo discurso.

— Eu só queria saber uma coisa, Mia — disse ele, cruzando os braços sobre o peito. — Como vocês escaparam de Nordwein?

Ela inclinou a cabeça de lado, avaliando-o.

— Por que quer saber? Klaus não está satisfeito com a versão que inventou na cabeça dele?

— Klaus está preocupado com Diana.

— Claro que está.... — Ela esticou os braços, fazendo as correntes tilintar. — Não vai acreditar em mim.

— Ao menos tente.

— Não. Eu queria deixar o que vivemos em Nordwein, lá em Nordwein. Ainda tenho o direito disso.

Ezequiel franziu o cenho.

— Claro que tem... Ouvi rumores que o imperador está em estado de choque. Que o encontraram na sala do trono murmurando coisas sem sentido. Parece que não teve muitos sobreviventes, e os que ficaram para contar história, mencionaram: "Lobos feitos da própria escuridão.". Isso quer lhe dizer algo?

— Não... Assim como o fato de um padre ex-trambiqueiro saber sobre túneis embaixo de sua igreja, também não lhe lembra nada, não é?

— Então é melhor deixarmos nosso passado onde está...

Ezequiel observou a engeliana com mais atenção. Havia tantos sentimentos em seu olhar que ele mal conseguia decifrar. Raiva, tristeza, angústia, arrependimento, dor, medo. Todos refletidos naquelas orbes douradas.

— O que farão com você?

— Quem sabe? Como deve ter percebido, não sou a mais querida.

— Entendo. — Ezequiel se levantou devagar e ajeitou as mangas da camisa. Uma tatuagem apareceu em seu antebraço. Um desenho de uma mulher com longos cabelos pretos e uma coroa em forma de cabeça de leão.

— E essa tatuagem? — Mia apontou para o braço do homem que sorriu de forma orgulhosa e ergueu mais a manga.

— Eu apanhei muito por causa dessa tatuagem quando cheguei aqui, tive que esconder ela por muito tempo. A primeira vez que viram essa tatuagem quiseram arrancar à força, aí eu disse que foi uma punição de Elend por meus pecados antes de ser um pároco. Tatuagens não são bem vistas aqui. Eu disse a eles que era uma imagem qualquer de uma mulher que conheci na minha vida mundana. Mas esta mulher aqui salvou a minha vida.

— Quem é ela?

— A maravilhosa e única deusa Tier. A protetora dos animais e das coisas vivas. Tudo estava ruindo. Eu era um.... Golpista.

— Nossa, que surpresa. — Mia disse sarcástica.

— Eu não me orgulho disso, tá? Eu tinha outros pontos de vista naquela época. Mas um dia dei um golpe numa pessoa errada. Em Wurzen. Um homem rico, poderoso... eu achei que ia morrer. Tive hematomas e fraturas em lugares que jamais imaginei que fossem possíveis.

— Em Würzen? — Mia perguntou, ajeitando o corpo mais para frente.

— Sim, o lugar onde tem as mulheres mais bonitas do mundo.

Mia ergueu as sobrancelhas de maneira debochada. — Isso é uma cantada?

— Não! Que isso! De forma alguma! — O padre corou as bochechas e tentou remendar o que havia dito de forma sem pensar. De fato, foi lá que conheceu as mulheres mais lindas do mundo na sua opinião. O tom de pele, os cabelos, as roupas coloridas e os adornos e joias e os olhos marcantes.

— Padres podem sair por aí cantando os outros?

— Por favor... não me leve a mal, foi só o pecador em seus devaneios de uma vida ao qual não me pertence mais.

— Hum. Sei.

— Continuando sobre a sua pergunta... eu... onde parei mesmo?

— Quando levou uma surra de um homem rico em Würzen.

— Sim! Isso. Eu... quase morri. Fiquei dias preso num buraco rezando para que Tod me levasse. A minha alma estava em pedaços. Aí em meio a toda confusão mental que senti, adormeci e sonhei com ela. A mulher mais linda que já vi na vida. Era muito alta, tinha olhos dourados e cabelos longos, negros e esvoaçantes, usava um sari amarelo e dourado e uma coroa em forma de cabeça de leão. Onde ela passava um mar de flores a seguia e seu cheiro emanava pelo lugar. O melhor cheiro que já senti. Ela me segurou neste braço e me tirou de dentro do buraco e caminhou ao meu lado por um longo caminho. Nunca senti tanta paz na vida. A única coisa que ela me disse naquele dia foi: "Faça tudo por amor e Erste jamais o abandonará". Acordei dentro de um navio, dentro de um dos barcos salva vidas. Até hoje não sei como fugi e nem como cheguei até lá.

Mia engoliu em seco o choro que estava prestes a surgir. Mas jamais iria admitir que se emocionou com o relato do padre.

— Como sabe que é Tier?

— Eu simplesmente sei. Ela salvou minha vida e desde então segui o conselho. Fiz tudo por amor. À Erste, ao próximo. Minha vida tá longe de ser perfeita, mas pelo menos eu ganhei um propósito.

— Acha que temos mesmo um propósito nesta vida? Que deuses se dão ao trabalho de vir até nós? Que somos... especiais?

— Eu me sinto especial. Devia se sentir também... Bom, eu vou indo. Mais tarde trago algo para você comer. — Ezequiel caminhou até a saída, parou e olhou por cima dos ombros. — Se não tivéssemos em alto mar, te ajudaria a fugir daqui.

— Por que quer me ajudar?

— Sei lá. Vai ver fui com a sua cara.

— Eu não fui com a sua, padre.

— Eu sei...

Mia viu o padre sair e esboçou um sorriso fino. Estava acostumada a hostilidade, talvez o padre tivesse outras intenções, mas ouvir ele falar de Tier a deixou feliz. A fez sentir-se especial como há muito tempo não sentia.

Ela fixou o olhar no chão e viu a sombra subir pelas paredes até o teto e se infiltrar. Mia respirou fundo e fechou os olhos. Um poder estranho, que ela ainda estava se acostumando. Era como se as sombras fossem uma extensão de seu corpo.

De fato... Tier havia a escolhido. Disso não havia dúvidas.

(...)

Oregon observava Klaus ao lado da cama de Diana pela fresta da porta. Sua mente tentava esquecer que a mulher deitada ali naquela cama, parecendo tão frágil e inocente, tinha matado centenas de pessoas. Um monstro cruel e impiedoso que enganava a todos ao seu redor.

Um dragão destruidor.

Ainda lembrava dos casos que sua avó lhe contava. De como esses seres eram perigosos. A ilha Drachnnest foi o berço destas feras. Ouviu histórias durante toda a sua vida, mas diferente dos demais habitantes da ilha, sua família sempre temeu a ira dos dragões. E ele viu isso com seus próprios olhos.

O fogo consumindo tudo ao redor, a morte de Moretz. Jamais iria esquecer aquela cena tão aterrorizante. Oregon respirou fundo e caminhou em direção ao quarto de Diana.

— Precisa descansar. — Ele disse tocando o ombro de Klaus.

— Eu tô bem. — Klaus segurou o topo do nariz e alisou devagar. Sentia os olhos arderem e os ombros pesados.

— Precisa dormir, Klaus. Está a cinco dias ao lado dessa cama.

— Quero estar com ela quando ela acordar.

— E deixar ela ver você barbudo desse jeito? Vai descansar, eu fico aqui com ela caso ela precise de algo. Se ela acordar eu te chamo.

Klaus olhou para Oregon meio desconfiado, depois olhou para Diana ainda desacordada e soltou os ombros tensos.

— Ok, eu vou dormir um pouco. Qualquer coisa, você me chama. — Klaus se levantou e tocou o braço de Oregon. — Obrigado.

— Por nada.

Quando o ex-major saiu do quarto, Oregon aguardou alguns minutos olhando fixamente para a porta. Ele prendia a respiração de forma tensa, quase trêmulo. Quando viu que o baixinho não retornou, ele empurrou a porta devagar e a trancou, virando-se para a enferma sobre a cama.

Oregon travou o maxilar e levou a mão até a bota e tirou uma adaga de dentro dela. A mesma que Moretz tinha em mãos quando morreu nas garras do dragão de Diana. Iria dar um fim aquela mulher de uma vez por todas.

A luz fraca e amarelada do abajur tremulava sobre o rosto da mulher. As sombras pareciam dançar de forma irregular. Diana parecia dormir profundamente, não havia nenhuma expressão em seu rosto.

Ele pensou em cada detalhe. Perfurar seu coração por debaixo da roupa e fazer parecer que foi em decorrência dos ferimentos graves. Ninguém desconfiaria. Ao menos ele achava isso. Se alguém suspeitasse, ele também estava pronto. Já havia abdicado de tudo. Iria morrer em paz.

Oregon parou ao lado da cama de Diana, tirou o cobertor que cobria seu corpo, ergueu a camiseta branca que Klaus havia vestido nela, e posicionou a adaga em cima do seu coração. Iria ser rápido.

A lâmpada fraca tremulou mais uma vez como se fosse apagar e depois voltou ao normal. Ele sentiu o suor escorrer em seu rosto e prendeu a respiração mais uma vez. Voltou a posicionar a lâmina, mas parou quando viu o quarto escurecer brevemente como se a luz tivesse mudado de lugar.

Ele olhou ao redor desconfiado sentindo a respiração ofegante ainda com a adaga sobre a pele de Diana, o quarto parecia escurecer cada vez mais e ele começou a perceber que havia algo estranho. Decidiu então dar um fim em tudo aquilo, quando firmou a adaga para cravar no coração dela, uma mão surgiu de dentro das sombras, bem embaixo dos seus pés e o puxou.

Oregon se viu caindo na escuridão até cair de joelhos no quarto onde Mia estava. A engeliana tinha o olhar fulminante em sua direção. Estava de pé, as correntes quebradas, cercada de lobos feitos de sombras com olhos brilhantes.

— Como... eu vim parar aqui? — Oregon não teve muito tempo entre conversar e reagir, já que Mia já estava indo em sua direção com um chute. Ele se defendeu de forma desengonçada, caindo para trás.

Mia começou a golpeá-lo com chutes fortes antes mesmo que ele pudesse se levantar direito. O homem procurou por sua adaga caída no chão, mas um dos lobos já estava em posse dela. Oregon deu um empurrão em Mia e firmou os pés no chão, conseguindo finalmente se levantar.

Oregon respirou fundo, tentando ignorar a dor pulsante em seu corpo. Ele fitou Mia, que permanecia imóvel, cercada pelos lobos de sombra. Seus olhos brilhavam, frios e calculistas, como se avaliassem cada movimento dele.

— Você estava tentando matar a Diana?— A voz dela era firme, mas carregava um tom de desdém.

— Você não entende... — Ele cuspiu para o lado e cerrou os punhos. — Essa mulher... é um monstro!

— E você acha que é diferente? — Mia inclinou a cabeça, os lobos rosnando ao seu redor. — Quantas vidas você já tirou? Quantas decisões justificou pelo bem maior? Ou vai me dizer que é um santo?

— Eu vi Moretz morrer diante dos meus olhos! Meu melhor amigo! — Oregon ergueu o tom de voz. — Eu vi a destruição com meus próprios olhos! Não posso deixar que isso aconteça de novo!

— E por isso você vai enfiar uma lâmina no peito dela enquanto ela está inconsciente? — Mia sorriu, mas não havia humor em sua expressão. — Que coragem a sua! Diana teria ao menos esperado você acordar e lutar! Ela jamais bateria num cachorro morto!

Oregon avançou, mas antes que pudesse dar mais um passo, sentiu o chão desaparecer sob seus pés. As sombras o puxaram para baixo mais uma vez, e, em um instante, ele se viu jogado contra a parede do navio. O chão parecia se mover, as sombras respiravam como se estivessem vivas.

Mia caminhou até ele, pegando a adaga do lobo que a segurava. Ela a girou entre os dedos, analisando-a.

— Você quer vingança? Quer justiça? Então lute por ela de verdade. — Ela jogou a adaga no chão, entre os dois. — Sem ataques pelas costas. Sem covardia.

Oregon encarou a arma e depois olhou para Mia. Seu corpo estava tenso, mas algo dentro dele hesitava. Ele sabia que Mia era forte. Forte o suficiente para matá-lo sem esforço. Ainda mais com as sombras ao redor dela. Jamais tinha visto nada daquilo. Era mais um monstro.

— Vocês duas não eram inimigas?

— Vá se foder! Pega a porra da adaga e vem pra cima se você for homem!

Ele fechou os olhos por um breve momento, respirou fundo e tomou sua decisão. Agarrou a adaga e se levantou, preparando-se para a luta.

Mia sorriu.

— Agora sim...

Os lobos de sombra uivaram ao redor, e então, Mia avançou para cima de Oregon que lhe deu um soco no estômago e a fez dar três passos para trás. Em seguida, ela afundou nas próprias sombras e surgiu atrás de Oregon lhe acertando em cheio.

Oregon tentou acertar Mia com a adaga que desviou, o homem a puxou pelo braço e a arremessou no chão, mas foi puxado por ela e caiu junto. A engeliana se pôs sobre ele e segurou seu braço tentando pegar a adaga de sua mão. A força do homem era superior a ela, mas seu poder das sombras tornou a luta justa.

Oregon via os olhos dourados de Mia brilhando intensamente enquanto as sombras ao seu redor continuavam dançando. Ele segurava a faca com força mesmo com Mia insistindo em desarmá-lo.

A atenção dele se voltou para a porta que se escancarou bruscamente. Mia aproveitou e tirou a adaga das mãos do homem e tentou golpeá-lo. Oregon se protegeu com o antebraço e sentiu a dor latente em seu antebraço.

— QUE PORRA TA ACONTECENDO AQUI? — Mathias disse encarando os dois. — Baren, chame o Klaus!

O capitão deu a ordem ao enorme homem que surgiu atrás dele e apenas soltou um rosnado e seguiu obedecendo às ordens. Oregon tirou Mia de cima dele e olhou para o braço ensanguentado. Não demorou até Klaus chegar acompanhado de Trigun e Baren.

— Oregon? — Klaus viu o homem segurando o próprio braço ensanguentado e Mia do outro lado do quarto olhando para Oregon com ódio. — Trigun! Segure Mia!

— SE ENCOSTAR EM MIM EU TE MATO! — Mia gritou e as sombras começaram a tremer ao redor dela. Os homens ali presentes olharam para a cena assustados. Sombras tremulando e uma pressão ao redor deles como se cada vez mais o quarto ficasse menor.

— Mia, não me faça ir até aí. Não tenho medo de nada. E não vai ser você que vai me fazer ter medo. — O olhar de Klaus tinha uma expressão de fúria. Não havia um pingo de medo ali.

— Ele queria matar a Diana! — Ela disse apontando para Oregon.

— Não ouça nada do que ela diz, Klaus! — Oregon começou a dizer, ofegante, entre uma palavra e outra.

— Não é mentira e você sabe! — Mia gritou para Oregon furiosa!

— CALADOS VOCÊS DOIS! — Klaus encarou Mia friamente e depois seu olhar se voltou para Oregon. — Não disse que ia cuidar da Diana? O que faz aqui?

— Eu... estava lá... mas ela me arrastou para cá e... — Oregon soltou um suspiro pesado e soltou os ombros olhando para Klaus e depois olhando para o chão.

— Kaoro? — Klaus apertou os punhos com força sentindo as unhas machucarem sua pele.

— Você sabe o que a Diana é? — Oregon voltou a encarar Klaus que tinha as sobrancelhas franzidas.

— Eu sei o que ela é, Oregon. Sei perfeitamente.

— Que ela era aquela coisa que sobrevoou Santer? Ateou fogo em civis e matou o Moretz? Sabia disso? — Oregon sentiu a voz falhar ao se lembrar do amigo. — Ela matou pessoas inocentes e mesmo assim ela está lá deitada na cama como se não tivesse feito nada! Atravessamos o mundo por ela! Por uma assassina! Um monstro!

— É melhor medir as suas palavras! Ainda está falando da minha mulher! — Klaus gritou furioso e deu um passo para a frente. — Somos melhores que ela, Oregon? Quantas vidas você tirou lutando por Sonnig? Untotes, engelianos, guemeisanos? Quantos? Porque as minhas mãos não estão mais limpas que as da Diana! As suas estão?

— Aquele ser dentro dela é incontrolável!

— Por isso temos que ajudar! Iria matar ela e fazer parecer um acidente? Pensei que fosse um homem nobre.

— Venha então, Cão de Guerra! Não tenho medo de você!

— Não vou lutar com você! Não enquanto Diana luta para sobreviver! Ou enquanto o mundo inteiro está sucumbindo diante de uma guerra!

— Você não entende, Klaus!

— Você que não entende! Depois que matar ela ia fazer o quê? Se juntar à Heide e assistir o mundo inteiro queimar? Eu sinceramente não tô nem aí! Só quero que a Diana fique bem.

Klaus virou as costas e saiu andando a passadas largas. Mathias tocou o ombro dele e acenou para os dois brigões.

— O que faço com eles?

— Mantenha os dois presos até Eiseges Tal. Não tô com cabeça pra decidir nada agora. — Seu olhar encontrou o de Mia. — Obrigado. Mas ainda não confio em você.

— Eu sei.

Klaus seguiu para o quarto de Diana e viu a mulher descoberta. O homem a cobriu, tirou os sapatos e deitou ao lado dela. E desejou estar num pesadelo longo e doloroso, e que quando acordasse estariam os dois deitados na cama numa cabana em algum lugar ensolarado.

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