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🔥48 - Foi por amor

O padre Ezequiel não gostava dos tons do céu naquela manhã. Nordwein era sempre um lugar assombroso e frio, mas ficava ainda pior quando o nascer do sol era tingido de vermelho como aquele dia. Os boatos que corriam pelas ruas eram de que o Palácio das Virtudes tinha sido atacado durante a noite, mas ninguém mencionava por quem.

A especulação era de que os soldados haviam trazido duas mulheres que andavam causando tumulto em outras cidades como Bitterhold. Mas como tudo em Nordwein, a população só tinha acesso às informações que o governo queria.

O homem alto, de cabelos claros grisalhos, ajeitou a batina, levou a mão aos bolsos e pegou a chave da Igreja. Ele nunca quis ser padre de uma igreja que cultuava o deus da Calamidade. Mas era isso ou ser morto pelo governo, ou sumir misteriosamente.

Ele resolveu adaptar a doutrina de Elend, embutindo coisas da doutrina de Erste. O livro das virtudes de Elend que o Padre usava em suas pregações era basicamente uma cópia do livro Santa Criação que tinha os fundamentos da doutrina de Erste. Era uma forma de pregar o amor, a liberdade, a compaixão, empatia, disfarçado dos olhos dos soldados do Imperador.

Padre Ezequiel secou o suor das mãos e abriu a porta da Igreja. A igreja exibia uma imponência singular, característica das construções de Nordwein. Sempre queriam mostrar sua superioridade aos demais países. Suas cúpulas em forma de cebola brilhavam ao sol, mesmo que a luz fosse pálida naquele dia. As cúpulas, revestidas de ouro, refletiam um esplendor que contrastava com o céu cinzento. O edifício, em si, era feito de tijolos vermelhos, cujas paredes estavam decoradas com complexos detalhes em branco.

Padre Ezequiel sempre admirava os arcos altos que adornavam a entrada principal, com suas pinturas vibrantes de ícones religiosos. O interior da igreja também não decepcionava. As colunas, robustas e detalhadamente esculpidas, davam suporte à estrutura massiva. A iconóstase, uma parede ornada com ícones sagrados e dourados, separava o altar do resto.

Os vitrais, grandes e coloridos, filtravam a pouca luz que entrava, criando um espetáculo de cores no chão de pedra. Cada um dos vitrais narrava uma passagem diferente da história sagrada, e Padre Ezequiel frequentemente parava para admirar as intricadas cenas ali representadas. Como se aquilo lhe desse conforto. Era estranho quando ele pensava onde estava e em como foi sua vida.

O chão era coberto por tapetes grossos e luxuosos, que ajudavam a conter o frio que se infiltrava pelas paredes de pedra. O cheiro de incenso impregnava o ambiente. No altar a estátua enorme de um homem coberto por um capuz com o corpo enrolado por uma serpente. O interior da Igreja estava frio e vazio, exceto pelo eco dos seus passos reverberando nas paredes de pedra.

Padre Ezequiel fez o sinal da glória e da criação de Erste tocando no pingente de asas de dragão por baixo da roupa, como fazia todas as manhãs, e caminhou até o altar. Lá, ajoelhou-se e murmurou uma prece silenciosa, pedindo forças para enfrentar mais um dia naquele lugar sombrio.

Os pensamentos do padre foram interrompidos pelo som de gemidos distantes. Parecia alguém em agonia. Ele seguiu devagar tremendo até a parte do confessionário. Ao chegar, o padre Ezequiel hesitou por um momento. Os gemidos continuavam, agora mais claros e angustiantes. Ele abriu lentamente a porta que dava acesso ao confessionário e encontrou a figura de duas mulheres. Uma de olhos dourados, marcados por olheiras profundas, a outra deitada no chão quase morta, coberta de sangue com feridas abertas, tremendo e gemendo de dor sem parar. Uma era engeliana. Era raro ver eles em Nordwein.

— Quem são vocês? — perguntou o padre, sua voz tremendo levemente.

— Eu... eu... eu preciso de ajuda — A mulher de olhos dourados estava desesperada. Ambas estavam terrivelmente machucadas.

— O que aconteceu, filha?

— Só... ajuda ela, por favor...

Padre Ezequiel não hesitou mais. Ele se ajoelhou ao lado da mulher ferida, examinando suas feridas com cuidado. O sangue manchava suas mãos, mas ele não se importava.

— Precisamos levá-la para um lugar seguro. — disse ele, olhando para a mulher de olhos dourados. — Ajude-me a levantá-la.

Com esforço, eles conseguiram erguer a mulher ferida e a levaram para uma pequena sala atrás do altar, onde o padre guardava suprimentos médicos. Deitou a mulher numa mesa que cobriu com uma das cortinas e depois começou a limpar e tratar as feridas com mãos experientes, murmurando preces enquanto trabalhava.

A pequena sala atrás do altar era um ambiente esparso, mas cuidadosamente organizado, refletindo a meticulosidade do padre Ezequiel. As paredes de pedra fria, parcialmente cobertas por tapeçarias desgastadas, contavam histórias de tempos passados, em sua maioria do deus Elend.

No canto da sala, prateleiras de madeira robusta armazenavam uma variedade de suprimentos médicos. Havia frascos de tintura de iodo, rolos de gaze, bandagens de linho e potes de unguentos preparados com ervas medicinais. Ao lado, uma bacia de cerâmica com água limpa e toalhas brancas estava pronta para ser usada.

A mesa onde deitaram a mulher ferida era simples e funcional, feita de madeira escura e coberta apressadamente com uma cortina improvisada. Velas bruxuleantes iluminavam o ambiente, lançando sombras dançantes nas paredes. No ar pairava o aroma penetrante de ervas secas e incenso, que ajudava a mascarar o cheiro metálico do sangue.

— Quem fez isso com vocês? — perguntou ele, tentando entender a gravidade da situação.

— Os soldados do Imperador — respondeu a mulher de olhos dourados com a voz cheia de amargura. — Eles nos caçaram por toda a região.

Padre Ezequiel sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele sabia que ajudar aquelas mulheres poderia significar sua própria condenação, mas não podia abandoná-las. Ele havia feito votos, ele seria uma pessoa melhor. Tinha que ser uma pessoa melhor.

— Vocês estão seguras aqui, pelo menos por enquanto — disse ele, tentando transmitir confiança. Embora soubesse que se tratando de Nordwein, isso não significava nada. — Vou fazer o que puder para protegê-las.

— Obrigada... — murmurou a mulher que parecia ainda estar com o olhar de quem estava em alerta. Padre Ezequiel conhecia aquele olhar. Era alguém pronto para matar quem quer que fosse. Ele pensou em como elas tinham entrado ali com as portas todas trancadas, mas não fez perguntas naquele momento.

— Vou arrumar algo para você comer, pode descansar um pouco.

— Não vou sair do lado dela.

— Claro... — Ele engoliu seco e passou as costas das mãos na testa suada. Notou o olhar da mulher nas tatuagens em seus braços, mas ela provavelmente preferiu fingir que não viu.

Padre Ezequiel continuou a tratar das feridas, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Enquanto trabalhava, ele orava silenciosamente, pedindo forças e orientação. A fé que ele pregava todos os dias agora era sua única esperança de salvar aquelas vidas. A alma daquela mulher estaria salva, ou imersa em pecados?

— Não confio em você. — A mulher de olhos dourados disse sem qualquer hesitação. Estava tão perto dele que dava para sentir sua respiração. Talvez fosse melhor ter fingido que não ouviu as duas ali e ter chamado os soldados. Algo o dizia que um passo em falso ali lhe custaria sua vida.

— Eu entendo. Mas garanto que não tenho a intenção de fazer mal a vocês. — Ezequiel limpava as feridas de Diana com cuidado, eram ferimentos graves que faziam o padre questionar como aquela mulher ainda estava viva. Talvez elas fossem as forasteiras de quem todos estavam falando. Mas ele não sabia se de fato queria saber sobre isso.

— Ela vai sobreviver? — Era mais uma ordem do que uma pergunta.

— Não posso garantir. Os ferimentos são muito graves.

— Ela parecia imortal. — A mulher tinha o olhar fixo na enferma sobre a cama improvisada.

— Infelizmente nenhum de nós é.

Os olhos da mulher percorreram o local. — Por que tem tantos medicamentos aqui?

O padre deu um suspiro trêmulo e olhou para a mulher engeliana. — Nordwein não tem tanto acesso à saúde aos mais necessitados. Muitos vêm aqui me pedir ajuda.

— Quer que eu acredite que é nobre e benevolente a esse ponto? Ninguém nesse lugar de merda é! Todo mundo aqui quer nos matar, nos esfolar... nos estuprar!

— Nem todos são assim. As pessoas só aprenderam a se defender. Mas não julgo você. Como confiar em um país que cultua o deus da calamidade?

— Não é só por isso que não confio em vocês.

— Eu posso... ao menos perguntar o nome da senhorita? — Ezequiel tirou uma agulha da maleta de primeiros socorros e aqueceu a porta na vela e passou uma linha espessa pela agulha.

— Mia.

— Sou padre Ezequiel. O pároco desta igreja.

— Pensei que as igrejas de Elend fossem mais assombradas.

— São as mais limpas na verdade. Há tanta opulência que chega ser um exagero. Uma ironia ao deus da miséria e da calamidade. — O padre passou a agulha no ferimento aberto na barriga de Diana e começou a costurar. A enferma soltou um murmúrio e depois girou a cabeça para o outro lado. — Preciso que pegue mais água e toalhas limpas.

— Onde?

— As toalhas estão no armário. Ali atrás tem uma barrica de água limpa. Pode pegar essa bacia e enchê-la por favor?

— Se tentar algo com ela, eu mato você.

Mia lançou um último olhar ameaçador ao padre antes de se dirigir ao armário. Ezequiel continuou a costurar as feridas de Diana, concentrando-se em cada ponto, suas mãos experientes trabalhando rapidamente. Ele sabia que o tempo era crucial. Os soldados do imperador não demorariam a aparecer.

Enquanto Mia enchia a bacia com água limpa, ela não podia deixar de pensar na ironia de estar confiando em um padre de Nordwein. Mas a situação desesperadora exigia medidas desesperadas. Embora ela nem achasse que ele se parecesse com um padre. Era alto, forte, tinha tatuagens pelo corpo. Tinha um porte militar. Talvez fosse um infiltrado. Ela voltou com a bacia e as toalhas, entregando-as ao padre.

— Aqui está — disse ela, ainda desconfiada.

— Obrigado — respondeu Ezequiel, sem desviar o olhar de seu trabalho. Ele limpou cuidadosamente as feridas de Diana, aplicando unguentos e bandagens. A cada movimento, ele murmurava preces, pedindo pela recuperação da jovem.

Diana soltou um gemido baixo, mas não acordou. Mia observava cada movimento do padre, pronta para intervir se necessário. No entanto, ela começou a perceber a dedicação e a compaixão nos olhos de Ezequiel.

— Você realmente se importa com as pessoas, não é? — perguntou Mia, sua voz suavizando um pouco.

Ezequiel parou por um momento e olhou para ela.

— Sim, eu me importo. Todos merecem compaixão e ajuda, independentemente de onde vêm ou o que fizeram. É isso que a verdadeira fé ensina.

Mia ficou em silêncio, refletindo sobre as palavras do padre. Talvez, apenas talvez, houvesse esperança em Nordwein, mesmo em meio à escuridão.

— Ela vai precisar de descanso e cuidados constantes — disse Ezequiel, terminando de tratar as feridas. — Fiquem aqui o tempo que precisarem. Vou fazer o possível para mantê-las seguras.

— Precisamos sair daqui. Deste país de merda. Tudo aqui parece louco. — Mia disse ainda olhando para Diana desacordada. — Eu achei que ela estava morta.

— Me espanta ela não estar.

— Padre, eu... sou uma engeliana e ela é a mulher dragão que todos temem.

— Não preciso saber de nada. Estou ajudando vocês porque é o certo. Porque é o que Erste quer que eu faça.

— Pensei que fosse um padre elendiano.

— Tenho que ser se quiser sobreviver. Mas meus votos e meu coração eu dediquei tudo à Erste. Vou deixar vocês aqui, qualquer coisa me chame.

Mia ficou pensativa. Aquela altura não tinha muito tempo para elaborar planos mirabolantes ou traçar estratégias. Teria que confiar a vida dela e de Diana a um desconhecido. Ela queria ter cuidado ela mesma de Diana, mas mal conseguia cuidar de si mesma. Sentia dores por todo corpo, incluindo na perna que tinha sido quebrada antes, e que ainda não tinha se curado completamente.

Os soldados haviam espancado as duas poucas horas antes do circo do imperador. Diana era resistente, mesmo que presa nas correntes de dragão ela tentava lutar e se soltar, mas isso não impediu os soldados de bater nelas com toda a força que tinham. Além da sessão de tortura, deitaram elas numa maca, cobriram com um pano e jogaram água em cima do nariz e boca. Ela ainda se lembrava da sensação de sufocamento.

Mia tinha o olho inchado, roxo, um corte no lábio, vários hematomas pelo corpo. Arrancaram-lhe um dedo e algumas unhas, mas misteriosamente os mesmos cresceram de volta depois da estranha aparição das criaturas das sombras. Assim como parte de seus hematomas mais graves haviam desaparecido.

Ela as sentia por toda parte. Como uma extensão de seu próprio corpo e mente. Tudo parecia estranho, seus sentidos estavam mais aguçados. Ela encostou numa cadeira ao lado da mesa onde Diana estava e cruzou os braços, seu corpo ainda tenso parecia relaxar aos poucos. Pelo menos Diana ainda estava viva. Seus olhos começaram a pesar e mesmo que ela lutasse contra, acabou adormecendo.

Ela nunca foi de sonhar muito. Mas desde que havia chegado ali, sonhar havia se tornado frequente. Desta vez era um lugar diferente. Era o deserto de Trochen. Ela estava descalça, usando um vestido frouxo branco, seus cabelos estavam longos e todos os seus ferimentos haviam se curado. Embora o sol estivesse escaldante, ela não sentia calor, nem dor, nem sofrimento. Não sentia nada além de paz. Ela não se lembrava quando fora a última vez que se sentiu tão bem daquele jeito.

De longe ela avistou a silhueta de uma mulher. A mais linda que tinha visto. Tinha os cabelos pretos, cheios, cacheados, o tom de sua pele era ainda mais escuro que o de Mia e tão bronzeado que reluzia ao sol como uma pele de ouro. Seus olhos eram de amarelo vivo, brilhante. Ela usava um sari dourado e vermelho, adornada de várias jóias em seus braços, dedos e orelhas, na cabeça uma coroa dourada que parecia uma cabeça de leão.

Ela andava desfilando pelas areias como se mal tocasse o chão, acompanhada de vários leões. E que cheiro bom ela tinha! Uma mistura de flores, frutas e essências da natureza. Conforme ela ia andando, atrás dela ia ficando um rastro de flores, e o deserto foi ficando verde e foi cobrindo-se de uma água cristalina.

Mia olhou para baixo com medo da água, mas debaixo de seus pés ainda era sólido. Em questão de segundos todo o deserto era um extenso lago em meio a um vale verde e abundante. A mulher extremamente alta se aproximou de Mia e não lhe causava medo ou espanto, muito pelo contrário, lhe dava segurança.

— Miranda Kamadeva, que prazer finalmente falar com você. — A voz da mulher parecia uma melodia suave e tranquilizante.

— Quem é você?

— Eu já tive muitos nomes, mas aqui neste mundo, vocês me conhecem como Tier.

— A deusa dos animais?

— Sim.

— Não pensei que um deus fosse tão grande.

— Dois metros e meio. Sou a mais baixinha dos irmãos. — Tier deu uma piscadinha. — Wohlstand tem mais de três metros.

— Onde... — Mia olhou ao redor. — Estamos?

— Aqui é o Deserto de Trochen antes da maldição de Wohlstand. Uma lástima, né? Era um dos lugares mais bonitos de Welt. — Ela apontou para o norte com seus dedos longos e unhas douradas. — Ali tinha uma cachoeira de águas cristalinas.

— Eu... morri?

— Não, não. Ainda não. — Tier sorriu de forma reconfortante. — Eu vim saber se gostou do presente que lhe dei.

— Presente? — Mia perguntou confusa.

— Sempre tive muito apego aos engelianos, eram a descendência do meu amado Wohlstand. Eu não nego, que sempre foi meu favorito. Eu teria me casado com ele, se ele não tivesse escolhido Elise, mas mesmo assim desejei sua felicidade acima de qualquer coisa. Dei aos seus descendentes um presente especial. Eles invocavam animais gigantes, você deve ter ouvido falar sobre isso alguma vez na sua vida.

— Sim senhora.

— Vindos direto de meu lar, Geist. Onde as almas das criaturas repousam antes de sua evolução e onde novos animais surgem. Mas depois do que aconteceu com Elise e Wohlstand, ele recusou o presente e disse que seu povo não era mais digno.

— Eu pensei que vocês fossem apenas lendas!

— Toda lenda tem um pouco de verdade, querida. Wohlstand amaldiçoou a terra e se trancou em seu palácio. Um lugar grandioso e dourado, bem acima deste deserto. Invisível aos olhos humanos. Ele não é visto há séculos, nem mesmo por nós, seus irmãos. Mas eu via todo o sofrimento de seu povo. Então, eu presenteei alguém em segredo. Depois de muito tempo. Mas desta vez tinha que ser mais discreto, mais sutil. Os homens deram o nome de Zaklina. Um invocador das sombras.

— Invocador das sombras?

— Isso mesmo. A escuridão será sua aliada, junto com os espíritos dos animais de Geist. O primeiro eu presenteei em Nordwein, um dos descendentes de um dos irmãos Boris: Alexander. Eu queria que a guerra em Nordwein tivesse terminado de uma maneira mais amistosa, mas infelizmente isso não foi possível. Quando Alexander morreu, não deixei que sua linhagem continuasse com meu presente, então o tomei de volta. Aguardando o momento certo, a pessoa certa.

Mia deu um riso de nervoso pelo nariz e desviou o olhar da deusa e balançou a cabeça negativamente. — Não pode estar falando sério. Eu? De todas as pessoas do mundo, resolveu dar este presente para mim?

— Sim, você será a segunda. Parabéns!

— Senhora, eu não sou digna de tal presente! Matei pessoas inocentes, fiz coisas abomináveis.

— E será julgada quando chegar a hora, por minha mãe, Mond. Mas eu não estou aqui por seu passado e sim por seu futuro. Para que quando chegue a hora, você use este presente para fazer o que é certo.

— Eu não tenho confiança em mim para isso, eu... não sou uma pessoa boa.

Tier envolveu o rosto de Mia com as enormes mãos e acariciou seus cabelos. A engeliana fechou os olhos sentindo as lágrimas escorrerem quentes em seu rosto.

— Querida, não importo o caminho tortuoso que você vai trilhar, no final seu coração fará a escolha certa. E como pode dizer que não é uma pessoa boa? Não foi a raiva que aflorou seu presente, foi o amor. Lembre-se sempre disso. — Tier deu um beijo demorado na testa de Mia e depois olhou para ela sorrindo. — Eu, Tier, a deusa dos animais de Geist, dou a você Miranda, este presente. Use-o com sabedoria. As sombras variam de forma, mas lobos negros sempre combinaram mais com você. Algum dia nos veremos de novo, até lá, este presente pertence a você. Até que um próximo zaklina surja. Talvez quando chegar esse dia, não seja mais necessário presentear mais ninguém.

Tier caminhou de volta na direção do sol, deixando o local florido ser um deserto outra vez. O clarão cegou Mia que acordou num salto. Estava assustada, mas sentia uma sensação boa. De paz.

(...)

Os dias passaram devagar. Cinco dias parecia uma eternidade para Mia. Ainda mais com Diana naquela situação. O padre Ezequiel trouxe roupas limpas para as duas e comida. Os ferimentos de Diana estavam demorando a cicatrizar. E a vontade de sair logo dali só aumentava.

Mia às vezes ouvia a pregação do padre. Nunca tinha ouvido um culto na vida. Mesmo que aquele fosse uma mistura de elendiano com ersteano. Quando o culto terminou, alguns minutos depois, com a igreja já vazia, o padre foi até onde elas estavam. Ezequiel estava assustado, pálido, ainda com as roupas do culto.

— Os soldados estão nas ruas à procura das fugitivas.

— Você nos entregou? — Mia caminhando na direção do homem já pronta para atacar.

— Não! Jamais faria isso. Eu só acho que devem sair do país o quanto antes. Logo estarão invadindo casas e comércios. E não vão demorar nada até chegar aqui.

— E como faremos isso? Diana ainda está desacordada!

— Eu posso pensar em algo, conversar com alguém no porto. Tenho alguns conhecidos. Talvez algum contrabandista que dê para pagar um bom dinheiro e mandar vocês para lá.

— Se estiver mentindo, padre, eu vou fazer sofrer tanto que vai desejar nunca ter nascido.

— Eu te dou minha palavra.

Mia assentiu mesmo desconfiada. Não tinha muitas opções naquele momento.

— Ok.

— Eu vou sair, não abram a porta de maneira nenhuma. Para ninguém!

— Tá.

— Talvez eu dê sorte e ache o Mathias no porto hoje.

— Mathias? — Mia já tinha ouvido esse nome, mas seria coincidência demais ser a mesma pessoa.

— É, um contrabandista. Se não for ele, tentarei outro.

— Boa sorte.

— Erste está sempre comigo.

O padre saiu da igreja, colocou um chapéu e um casaco e começou a andar pelas ruas de Frotsheimer. As ruas estavam desertas e silenciosas, exceto pelo som distante do mar batendo nas rochas e por soldados fazendo ronda. O padre Ezequiel caminhava com passos rápidos, o casaco apertado contra o corpo para se proteger do frio cortante.

Ao chegar ao porto, Ezequiel olhou ao redor, procurando por qualquer sinal do contrabandista. Havia conhecido Mathias numa época de sua vida que ele lutava para esquecer. Quando ele era um trambiqueiro qualquer que ia de cidade em cidade aplicando golpes e enganando as pessoas. Até que um dia, depois de um evento quase morte, quando ele foi descoberto por um homem perigoso e apanhou até quase morrer, ele decidiu que ia mudar de vida. E começou a estudar para padre.

Como era de Ruhig, ele seguia as doutrinas de Erste, e começou a fazer trabalhos missionários por todo Welt. Até que chegou em Nordwein e teve que se adaptar para não ser morto pelo governo. E assim era sua vida desde então. Até ver aquelas duas mulheres na igreja, implorando por ajuda. Ele iria ajudá-las nem que sua vida dependesse disso.

O lugar estava movimentado, com marinheiros e comerciantes cuidando de suas tarefas diárias. Ele avistou um grupo de homens perto de um navio e se aproximou, tentando parecer o mais discreto possível.

— Mathias está por aqui? — perguntou ele a um dos homens, tentando esconder a urgência em sua voz.

O homem olhou para ele com desconfiança, mas depois de um momento, assentiu.

— Está no navio ali — disse ele, apontando para um barco ancorado mais adiante. Não era o famoso Açoite dos Mares, era um navio diferente, um cruzador militar com a bandeira de Ruhig. Ele franziu o cenho e se aproximou devagar do navio.

Um homem negro, alto, com porte militar o abordou antes mesmo que subisse a bordo. Padre Ezequiel olhou para o homem e encolheu os ombros olhando discretamente para dentro do navio procurando por Mathias.

— Onde pensa que vai? — A voz do homem dava mais medo que sua presença imponente.

— Mathias está nesse navio?

— O que um padre elendiano quer com Mathias?

Ezequiel se preparou para responder, mas viu uma mão tocar o ombro do grandalhão e de trás dele surgir a imagem de um homem baixo, olhos azuis, cabelos pretos com o corte degradê mais impecável que ele tinha visto. O baixinho olhou para ele e depois para o grandão.

— Se começar uma briga aqui, nós estamos ferrados, seja mais gentil e vamos ver o que o padre tem a dizer.

O homem olhou para o padre e depois revirou os olhos dando passagem ao mesmo que passou pelos dois com as pernas trêmulas e seguiu sendo acompanhado por eles. Depois de um tempo de espera avistou o contrabandista vindo de baixo do navio.

— Klaus, eu olhei os suprimentos e talvez dê para... — Mathias parou bruscamente quando viu o padre como se tivesse visto um fantasma. — Seu filho da puta, pensei que estivesse morto!

— É bom te ver também, Mathias.

— Que faz aqui, Ezequiel? — Mathias terminou de subir as escadas e seguiu na direção do padre. — Virou padre?

— Sim. Um padre missionário.

— Contra outra, Ezequiel! — Ele olhou para os dois ao lado do padre. — Klaus e Oregon, estão diante do maior trambiqueiro de Ruhig.

— Essa vida ficou para trás, meu amigo.

— Vou fingir que acredito em você. Em que posso te ajudar?

— Eu preciso de um favor... Um caso de vida ou morte. Eu pago o preço que for para isso.

Mathias ficou sério ao perceber a expressão do padre. Conhecia Ezequiel muito bem, realmente havia verdade em seus olhos. O contrabandista deu dois passos para frente olhando para os lados.

— Pode dizer, se estiver ao meu alcance...

— Preciso que tire duas mulheres deste país, urgentemente.

Klaus arregalou os olhos e sentiu o calafrio percorrer seu corpo inteiro. Tocou o ombro do padre e perguntou antes mesmo que Mathias perguntasse.

— Que mulheres?

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