🔥46 - O preço do poder
Veridiana saiu da festa desnorteada e foi direto para o hotel, pediu a Amina que avisasse Kiran que ela não poderia comparecer à recepção. Havia tanta coisa em sua mente. Saber que o homem a quem tanto abominava poderia estar a poucos metros dela lhe dava calafrios.
Ela olhava o frasco amarelado em suas mãos e pensava se tudo aquilo era mesmo verdade e em porque ela acreditou numa mulher que acabou de conhecer. Seus pensamentos foram afastados quando ouviu Kiran abrir a porta. Ele olhou Veridiana sentada numa cadeira de frente para a janela de pernas cruzadas.
— Eu... — Ele disse se aproximando e tocando seus ombros. — Sinto muito que tenha passado por isso. Jamais imaginei que o homem a quem se referia era o General mais influente de Vermogen.
— Ninguém sabe de seus gostos por adolescentes negras. — Veridiana apoiou a mão na testa. — Eu queria ter sido mais forte. Mal tive coragem de olhar para Heide, quem dirá para ele.
Kiran se abaixou diante dela e segurou a sua mão olhando em seus olhos. — Eu prometo que jamais permitirei que aquele homem faça mal a você de novo. Te dou minha palavra.
— Obrigada por tudo meu rei.
Kiran se levantou e deu um longo beijo em Veridiana. — Queria poder te comer agora, está deslumbrante com esta camisola.
— Não pode, meu rei. Infelizmente. Embora a proposta seja extremamente tentadora. Temos que nos preparar para a reunião de amanhã.
— Nem me lembre disso.
— Rainha Amina acha que Diana não vai se safar.
— Eu gostaria de dizer que ela está errada. Mas ela não está.
— Vamos dormir... — Veridiana segurou firme as mãos de Kiran. — Amanhã será um dia longo.
— E não bastava ser longo. Tinha que ser caótico e turbulento. Enfrentar vários governantes gananciosos e que se acham os donos da verdade. Que podem decidir o destino de uma nação inteira enquanto comem caviar e bebem as bebidas mais caras do mundo.
— Seja como for, majestade, temos de nos preparar. Se eles decidirem e você se opor, seremos alvo de várias nações furiosas.
— Eu sei disso, Veri, e isso é o que mais me aterroriza. E quanto a você?
— O que tem eu?
— Vai ter que vê-los amanhã.
— Estarei preparada. Nem que eu tenha que esconder para sempre esses sentimentos dentro de mim. Minha vida vale bem mais que isso. Eu tenho meu valor. — Ela queria dizer: Gesundheit me escolheu, mas ela achou melhor não dizer nada. O dia seguinte já seria muito complicado.
(...)
As reuniões em Ruhig costumavam ser demoradas. Eram dias de votação e várias ementas a serem discutidas. Entretanto, quando Heide e Herman pediram pela reunião, exigiram o máximo de urgência contra um inimigo que eles tinham em comum: Diana.
Veridiana e Kiran chegaram cedo ao Grande Salão de Mármore de Ruhig, onde os governantes se reuniam. Ela estava com as mãos geladas. O encontro com Heide e Klinsmann a aterrorizava e sentia o estômago doer só de pensar. E como se não bastasse, eles foram os primeiros que ela viu.
Heide arregalou seus olhos azuis ao vê-la atrás de Kiran e Klinsmann ergueu uma das sobrancelhas. Dava para ver sua boca aberta embaixo do grande bigode. A rainha Faustus deu passadas largas na direção de Veridiana, mas sua passagem foi impedida por Kiran.
— O que ela está fazendo aqui? — Heide esbravejou para Veridiana que se manteve firme com as mãos para trás dentro de seu uniforme militar impecável. Quem a via de fora não imaginava tudo que ela sentia naquele momento. A perna dela tremia involuntariamente a cada olhada de esguelha que ela dava para o general que a devorava com os olhos.
— É a minha conselheira, Heide. Veridiana Nwangi. — Kiran disse entre os dentes apertando as mãos de punho fechado.
— Conselheira? — Heide deu um riso fraco e sarcástico. — Faz ideia de quem é essa mulher? Das coisas que ela já fez?
— Peço por gentileza que a trate com respeito, ou esqueço nossa etiqueta e faço um escândalo aqui. — Kiran disse encarando Heide e depois olhando para Klinsmann. — Ou quer que todos aqui saibam que o seu general gosta de mocinhas negras engelianas?
— Isso é uma grande mentira desta mulher! — Klinsmann disse avermelhando o rosto e ajeitando o colarinho do uniforme.
— É verdade e você sabe, general. E te aviso de antemão que seu sonhar que você cogitou chegar perto dela eu te quebro em dois e nem ligo para o posto em que nós dois estamos!
Klinsmann sentiu o olhar ameaçador de Kiran o atravessar e deu dois passos para trás e depois nem sequer olhou para Veridiana. Mas no fundo ele pensava que ela já estava velha demais para o padrão que ele gostava. Heide viu o olhar de Kiran e deu um riso nasal e balançou a cabeça.
— Então é isso? Uma vez Fúria, sempre fúria, não é Veridiana? Eu mandei elas buscarem você, mas quando descobri que estava sobre os cuidados dos lobos negros, deixei você lá. Não valia a pena uma guerra por alguém como você. Depois de todos esses anos, pensei que estivesse morta. Mas veja só onde você está! De lanchinho de general, para lanchinho de um rei!
— Meça suas palavras, majestade. Eu não sou uma criança e não permito que se refira a ela desse jeito.
Heide olhou para Kiran com desdém. — Eu tinha tantas esperanças com você e veja o que se tornou. Me lembra Edmond. Vocês tinham o mesmo fetiche em comer putas engelianas.
— Sua...
— Majestade! — Veridiana interrompeu Kiran antes que ele continuasse a dizer. — A reunião começará em breve. Não se preocupe em defender alguém como eu. A rainha tem total direito de expressar como se sente.
Kiran se afastou de Heide sob seu olhar enfurecido e seguiu para dentro do grande salão. Veridiana não disse nada. Mas sentia dentro de seu coração uma sensação de alma lavada. Nunca se imaginou sendo defendida daquela maneira.
Quando entraram no local, ela ficou de boca aberta com a dimensão do local. O salão de reuniões foi preparado com grande atenção aos detalhes, projetado para impressionar e acomodar dignitários de várias nações. Era um espaço imenso, com paredes altas pintadas de branco puro, adornadas com colunas gigantescas de mármore.
Os assentos haviam sido dispostos em estilo de teatro, ou talvez mais precisamente como em um coliseu, criando uma disposição circular ao redor do centro do salão. As cadeiras eram feitas de madeira escura e estofadas em couro. Cada assento proporcionava uma visão clara da mesa central, onde os principais representantes se reuniriam para discutir os tópicos mais críticos.
No centro do salão, uma grande mesa oval de mármore branco destacava-se, iluminada por um lustre de cristal pendente do teto abobadado. A mesa era cercada por cadeiras ornadas, reservadas para os líderes e dignitários mais importantes. Um sistema de áudio de última fora integrado discretamente, garantindo que cada palavra dita na mesa principal pudesse ser ouvida claramente por todos os presentes. Uma tecnologia de Eiseges Tal.
Ao redor da mesa central, dispostas em níveis que ascendiam gradualmente, estavam fileiras de assentos adicionais. Esses assentos eram destinados aos demais representantes, conselheiros e observadores, criando uma atmosfera de inclusão e participação. Tapetes luxuosos cobriam o piso de mármore, abafando os sons de passos e adicionando uma sensação de conforto ao grande salão.
Detalhes decorativos, como vasos de cerâmica, estátuas de mármore e frisos esculpidos, adornavam o espaço. Grandes janelas arqueadas deixavam entrar a luz natural, que se misturava à iluminação suave dos candelabros e luminárias estrategicamente posicionadas.
Kiran ocupou o assento com seu nome e Veridiana sentou-se ao seu lado. Os olhares de desaprovação dos demais governantes se voltavam para a engeliana sentada ocupando um cargo tão importante. Quando todos os representantes estavam a postos, Annalise Winterhart, a presidente de Ruhig, entrou devagar e sentou-se na mesa ao centro ao lado de alguns representantes de seu país.
Annalise Winterhart era a personificação da dignidade e elegância, características que marcaram sua liderança em Ruhig. Em seus cinquenta e poucos anos, ela exalava uma presença imponente, combinada com uma serenidade que inspirava confiança e respeito. Possuía traços bem marcados, com uma pele clara e um ligeiro rubor que lhe conferia um ar saudável. Seus olhos eram de um azul profundo, penetrantes e observadores. Seus cabelos, de um loiro dourado, estavam sempre impecavelmente arrumados, geralmente presos em um coque baixo e elegante. Os poucos fios prateados que começavam a aparecer apenas realçavam sua beleza.
O nariz fino e reto e os lábios bem delineados, que raramente exibiam algo além de um sorriso discreto, completavam seu rosto harmonioso. A postura de Annalise era ereta e graciosa, refletindo tanto sua formação quanto a disciplina que mantinha em sua vida pessoal e profissional. Era casada há 20 anos com um nobre de Ruhig com quem tinha 3 filhos.
Seus trajes eram sempre escolhidos com cuidado, refletindo sua posição de autoridade e seu gosto impecável. Optava por roupas formais e elegantes, muitas vezes em tons neutros como cinza, azul-marinho e branco, que destacavam sua sofisticação. Joias discretas, como brincos de pérola e um colar simples, complementavam seu visual sem jamais parecer ostentoso.
Veridiana pensava que assim provavelmente era o padrão exigido para um lugar como Ruhig que beirava a perfeição. Ou pelo menos era o que eles queriam passar.
Annalise Winterhart acenou para um de seus conselheiros para que começasse. O homem alto, calvo, de rosto vermelho, aparentando estar na casa dos 60 anos, se levantou e se aproximou do instrumento que Kiran disse a Veridiana que se chamava microfone.
Veridiana observou a peça de longe com um olhar curioso. Feito de metal, o microfone possuía uma construção robusta. A base era larga e aparentemente pesada, a cabeça do microfone era envolta em uma grade de metal polida com fendas horizontais.
— Boa tarde a todos os governantes, das nações de: Ruhig, Vermogen, bem como sua província independente, Eiseges Tal, Ilha Drachnnest, Quelle, Ilha de Meerenge, Dichte, Sonnig, Fernes e Wurzen. Lamentamos a ausência de Nordwein. O assunto que vamos tratar hoje foi um pedido do primeiro-ministro de Sonnig, Herman Becker, e da rainha Heide Claudia Faustus, atual regente de Vermogen. Ambos tiveram seus países lesados pelo ataque terrorista de Diana Betina Rosalie Herbet Drachen, que teve sua legitimidade reconhecida meses antes, a pedido do Rei Kiran Abraham Nikolai Zafir, ao qual a desposou pouco tempo depois. Depois do ataque a Santer, que deixou centenas de mortos. Há pouco tempo, ela atacou Eisenhower em sua forma de dragão ainda maior do que a anterior e incendiou dezenas de casas e fugiu. O paradeiro da rainha consorte de Eiseges Tal é desconhecido.
Annalise franziu o cenho e depois olhou para suas anotações e acenou para que o homem prosseguisse.
— Gostaríamos de ouvir os envolvidos, começando por Herman Becker. — Ele acenou para o primeiro ministro de Sonnig que caminhou elegantemente até o centro do salão.
— Boa noite a todos aqui presentes. Eu gostaria de dizer a vocês que eu não me sinto bem fazendo isso. Muito pelo contrário. Depois de mais um século descobrimos a existência de uma herdeira Drachen, que todos sabemos ser a herdeira legítima do trono de Vermogen, mas... o que ganhamos? Destruição.
Kiran tinha os punhos fechados olhando para o hipócrita Herman Becker e se perguntando quanto Heide deveria ter oferecido a ele para se vender daquela forma. Que promessas ela havia feito. O primeiro-ministro continuou.
— Mais de... — Herman levou a mão aos olhos fingindo secar uma lágrima. — Mais de 200 mortos. Homens, mulheres, crianças, idosos. Nosso herói, General Moretz, se sacrificou para nos proteger. E quando pensei que a fera estava morta, descubro que ela fez o mesmo em Eisenhower. Não teremos paz enquanto ela estiver à solta. Eu peço a vocês encarecidamente, que pensem a respeito.
— E o que o senhor propõe? — Annalisse disse com uma voz grossa de quem fumava um maço de cigarros por dia.
— Diana Drachen deve ser considerada uma criminosa de guerra, uma terrorista. Que em qualquer nação que ela pisar a justiça será feita e que todo aquele que apoiar a terrorista deverá ser considerado culpado. E proponho que Sonnig, juntamente com Vermogen, tenhamos o direito de fazer justiça.
Annalise olhou para o homem por cima dos óculos e franziu ainda mais a testa. — Quer causar uma guerra, primeiro ministro?
— Uma vez, nossas nações se juntaram e tiramos Calandiva Drachen do poder, talvez seja hora de fazermos de novo. Levar essa terrorista para ter a justiça pelas centenas de mortos e todo o estrago que ela causou.
— E quanto ao fato de que Heide Faustus é na verdade, uma usurpadora? Que matou seu próprio irmão e assumiu o trono?
— Eu deveria deixar que a rainha mesmo respondesse a essas perguntas, mas acho que é doloroso demais para uma dama como ela vir até aqui falar sobre seu irmão morto. Irmão esse que foi o fundador das Fúrias, o grupo de assassinos que aterrorizava todo o submundo de Vermogen. Diana, tendo um caso com o famoso Cão de Guerra, Friedrich Klaus Hoffman matou a família real e fugiram para Sonnig e só depois descobri que aqueles dois estavam dentro do meu país.
— Segundo registros, os dois faziam parte de seu exército.
— Uma falha enorme de Moretz. Eu jamais permitiria se soubesse.
— Há alguns minutos atrás, o senhor o chamou de "herói". — Annalise disse franzindo ainda mais as sobrancelhas.
— Isso não invalida o que ele foi. Sabemos como as Drachen's têm fama de sedutoras e traiçoeiras. Ela conquistou o coração de gelo do Grande Rei Branco. — Herman olhou para Kiran que tinha o rosto num vermelho vivo. — Ele fez dela sua esposa.
— Então, basicamente, o senhor alega que Diana Drachen fez tudo isso manipulando os homens? Francamente primeiro-ministro! E não há uma pessoa dentro desta sala que não saiba que as Fúrias são criação de Heide Faustus! — Annalise disse escorando o braço na mesa e encarando Herman.
— Excelentíssima Presidente, a Rainha Heide não é a culpada aqui. Nunca houve denúncias em seu nome quanto à legitimidade de seu trono. Mas... Diana Drachen sim.
— De fato, mas usar isso para causar uma guerra é um absurdo. Além do mais, a mulher encontra-se desaparecida. Ela tem direito a julgamento justo, com ela estando presente nesta sala! Vir até aqui, convocar todas as nações para dizer inverdades é uma completa falta de noção. Vermogen sofre um caos desde o golpe a Edmond Faustus. A mulher conhecida como... — Ela olhou para o papel. — Loba, fragmentou Eisenhower, centenas de pessoas famintas e moribundas nas ruas e chegou até mim recentemente a notícia que a doença engeliana se alastrou pelas ruas de forma avassaladora. E a preocupação de vocês é com uma única mulher?
— Uma mulher que se transforma num dragão como Calandiva se transformava.
— São apenas lendas, Herman Becker. É preciso muito mais do que isso.
— Temos testemunhas!
— Dela se transformando? — Annalise disse com as sobrancelhas erguidas.
Herman parou de falar e ficou olhando para Heide que tinha os braços cruzados e estava tão vermelha que as veias da testa estavam realçadas.
— Não.
— De fato, as lendas dizem que os Drachens tinham esse estranho poder. Mas como eu disse: lendas. Sabemos que foi um dragão que destruiu ambos os lugares, mas trazer ela aqui sem uma prova concreta dela realmente se transformando torna a situação complicada.
Heide se levantou neste instante e pediu a palavra. Annalise olha para a rainha por cima dos óculos e acena para que ela começasse a falar.
— Realmente, não dá para basear em lendas. Mas e se eu dissesse que ela queimou centenas dentro de uma igreja? O assassinato ao meu primo Yan Faustus. As pessoas viram ela em meio às cinzas. Eu realmente criei as Fúrias como forma de defender o governo do meu irmão que sempre foi falho, mas eu infelizmente perdi o controle dela. Jamais planejaria a morte do meu primo. Fazem ideia da quantidade de pessoas que ela matou? Como ela invadiu o QG dos Lobos Negros e matou a sangue frio dezenas de pessoas? Não é preciso um dragão para que ela mate.
— E o que sugere, Rainha Heide?
— Eu sugiro que permita que ela seja presa e julgada neste salão por seus crimes de guerra. De fato, não sabemos onde ela está, mas não vai demorar até ela aparecer outra vez. Realmente, como disse, as Fúrias me pertencem, eu a criei como uma filha, mas nunca pude controlar esse desejo de matar que ela sempre teve. A senhora entende, como mãe, como é difícil ver nossos filhos caminhando para um lugar de destruição. — Heide chorava e Kiran a observava de longe querendo ir até lá e esganar seu pescoço até ver o brilho da vida saindo de seus olhos. — Eu nunca quis nada disso, mas ela é incontrolável. Eu mesma me ofereço para ser julgada aqui, porque ela também é minha responsabilidade.
Annalise tirou os óculos e colocou sobre a mesa e ficou pensativa por alguns instantes. — Bem, façamos o seguinte: Diana Betina Rosalie Herbet Drachen, a rainha consorte de Eiseges Tal, deverá se apresentar por livre e espontânea vontade à essa corte para julgamento. Entretanto, se for denunciado à corte a recusa da mesma em se entregar, dará o direito que as nações de Sonnig e Vermogen tomem as medidas necessárias para trazê-la para julgamento. Como a mesma está desaparecida, fica a cargo de que qualquer uma das nações que a vir trazê-la para julgamento. Está aberta a votação!
Os representantes no salão de reuniões se entreolharam, murmurando entre si, enquanto ponderavam sobre a proposta de Annalise. A gravidade da situação era evidente, e a atmosfera no salão estava carregada de tensão. Veridiana podia ver o desespero nos olhos de Kiran.
— O que vamos fazer? — Veridiana disse sussurrando.
— Rezar à Erste que Diana apareça e que a gente pense num plano logo.
— Eu apoio a proposta da Presidente Annalise — declarou um dos governantes, rompendo o silêncio. Outros seguiram, expressando suas concordâncias ou levantando questões. A votação prosseguiu, e a decisão foi tomada em pouco tempo. Como esperado, apenas Amina e Gabriel foram contra.
— A proposta foi aprovada — anunciou Annalise, sua voz firme ecoando pelo salão. — Que todos os esforços sejam feitos para localizar Diana Betina Rosalie Herbet Drachen e trazê-la a esta corte.
Kiran se levantou rapidamente e sussurrou para Veridiana. — Vamos embora daqui.
O rei branco não aguentava nem mais um minuto dentro daquele salão. Tudo que sentia era uma raiva latente e uma repulsa ainda maior daquele bando de hipócritas. Ele entrou numa das salas de espera do salão e caminhou de um lado para o outro.
— Se acalme, meu rei. Vamos dar um jeito.
— Como, Veri? Estamos ferrados!
— Eu vou pegar uma água e já volto, mas por favor se acalme.
Kiran viu Veridiana sair e sentou-se numa das cadeiras estofadas da sala de espera, por sorte todos estavam ocupados discutindo no grande salão e ele podia ao menos ouvir seus pensamentos. Ele ouviu a porta destrancar.
— Foi rápido, Veri. — Ele ergueu a cabeça e o brilho sumiu de seu rosto.
— Não é a "Veri". — Heide fez as aspas com os dedos. — Precisamos conversar.
— Não tenho nada para falar com você.
— Tem sim.
Kiran se levantou e caminhou na direção de Heide e apontou o dedo para ela. — Estou farto de sua hipocrisia!
— Não grite comigo! Você escolheu isso! Não cansa de me envergonhar? A Diana, a Veridiana, esse seu pau escolhe as minhas Fúrias? É algum tipo de trauma de infância?
— Heide Faustus, cale essa maldita boca e me deixe em paz.
— Eu vou te dar mais uma chance! Vê o quanto me importo com você? — Heide disse abrindo os braços. — Eu vou te dar a chance de me entregar a Diana. Eu nem vou pedir aquela engeliana. Eu quero só a Diana. Me entregue ela e deixo sua pronvinciazinha de merda lá quietinha, como sempre foi. Sempre nos demos bem, né? Vocês quietos naquele lugar gelado tocando a vidinha de vocês regada a ouro. Era pouco para você?
— E acha isso justo? Sermos uma província auto suficiente que obedece à Vermogen. — Kiran lembrou-se de Samir naquele instante. — Minha família trabalhou duro para fazer de Eiseges Tal o que é hoje.
— Sua família? — Heide disse com deboche. — Você ignora fatos importantes nessa sua fala.
— Heide, eu não vou entregar a Diana. Farei dela a rainha legítima, coisa que você não é.
— Então prepare para ver tudo queimar! Porque eu usarei todo o poder de fogo que eu tiver!
— Não me ameace! — Kiran encarou Heide com as pupilas dilatadas. — Eu sou um Zafir!
— VOCÊ É UM FAUSTUS! — Heide gritou furiosa batendo em seus próprios braços. — Negue o quanto quiser, negue até acreditar que é verdade, mas você é um Faustus! Sangue do meu sangue! Eu te carreguei no ventre, eu pari você! Eu sou a sua mãe!
— Pode ter parido, gerado, feito o que for, mas a minha mãe é e sempre será Aldebaran Zafir!
— Eu sou sua mãe! EU SOU! — Heide chorava de forma sincera pela primeira vez em muito tempo. Um choro sentido e preso na garganta. — Você teria sido o maior rei que Vermogen teve, o maior!
— Eu não me importo com nada disso, foi você que não quis ser mãe do filho do homem que você odiava. Não adianta correr atrás do prejuízo agora, nunca te aceitarei como mãe. Nunca!
Heide se aproximou de Kiran e segurou seu rosto com as duas mãos. — Eu te amo. Me negue o quanto quiser, mas eu tive meus motivos. Você foi bem criado, nunca lhe faltou nada.
— Realmente, não faltou. Então nessa conta, você sempre sobra.
— Algum dia terei o prazer de ouvir você me chamar de mãe?
— Nunca. Você não é nada pra mim. É só a mulher que me gerou. Nem meu nome você escolheu... — Kiran tirou as mãos dela de seu rosto e se afastou.
— Não quero batalhar contra você... — Heide disse com amargura na voz. — Você não. Entregue a maldita Diana e eu esqueço tudo isso. Podemos recomeçar do zero, eu torno sua província uma nação independente.
— Não.
— Por que você nunca escuta? Faça o que eu digo!
— Não. — Kiran disse secando uma lágrima solitária. — Sabe, quando eu soube que Aldebaran não era minha mãe de verdade, eu quis muito te conhecer de verdade. Mas depois que vi a pessoa podre que você é, eu sinto vergonha de dizer que temos o mesmo sangue.
Heide segurou o choro, os lábios tremendo sem parar e os olhos rasos de lágrimas. — Eu sinto muito que as coisas tenham sido desta maneira. Que é assim que tudo vai acabar. Mesmo assim, farei de tudo para que você fique vivo e bem, pode me tratar como um monstro, mas eu te amarei enquanto eu viver. Eu só queria que você entendesse que nesse mundo caótico em que vivemos, a lei que prevalece é a do mais forte e eu lutarei por um mundo melhor em que você me aceite e me chame de mãe.
— Vá embora. Eu aguardarei você em Eiseges Tal com tudo que eu tiver.
Heide saiu da sala secando as lágrimas e logo em seguida Veridiana entra com um copo de água com o olhar assustado e depois se vira para Kiran que tinha os olhos vermelhos e as lágrimas desciam em seu rosto.
— Porra... a Heide é a sua mãe?
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