🔥44 - A caçada
Diana olhou para todas as direções. Não havia muitas alternativas. Os soldados nordweanos estavam as cercando por todos os lados. Mia segurava firme o braço de Diana já temendo a captura dos soldados. O medo de ser torturada outra vez como havia sido torturada pelos caçadores tomava conta dela. A dona da pensão ainda apontava para elas.
— Que vamos fazer? — Mia perguntou apreensiva.
— Não dá para combatê-los com você assim. A sua perna não se curou totalmente.
— Não temos tempo de pensar em muita coisa.
Diana olhou para uma possível rota de fuga e a única coisa que veio a sua mente foi pelo telhado. Mas colocar Mia nas costas só diminuiria suas chances de fuga. A multidão estava se aglomerando na rua. A rainha então respirou fundo e olhou para Mia que estava aflita.
— Eu vou distraí-los e você corre entre a multidão.
— Mas e você? — Mia perguntou segurando firme o braço de Diana.
— Eu vou ficar bem. Precisamos desviar a atenção. Saia da cidade que depois eu te encontro.
— Entramos nessa juntas, sua cretina!
— Eu luto melhor sozinha, não posso colocar você nas costas, te proteger, lutar e fugir!
— Se eu não tivesse desse jeito, poderia te ajudar.
— Eu sei. Mas mantenha-se viva, ainda posso precisar de você para sair dessa merda de lugar.
Mia assentiu ainda receosa e ajeitou o chapéu e começou a andar entre a multidão. Diana se abaixou, pôs as duas mãos no chão, deu um suspiro longo e num impulso saltou para cima de uma das casas. Quem viu não acreditou, era como se ela estivesse flutuando.
— ALI ESTÁ ELA!
A movimentação dos soldados começou de forma desenfreada, tiros, gritos e muita euforia entre a população. Diana estava tentando se adaptar com o vestido que mais atrapalhava do que ajudava. Ela parou por um segundo e rasgou o vestido de fora a fora, até o meio da coxa, deixando as longas e torneadas pernas à mostra. Sem o incômodo da saia longa ela começou a correr pelos telhados escorregadios.
Quando saltou de uma segunda casa para a outra, viu um grupo de três soldados olhando em sua direção. Num movimento rápido, ela caiu sobre um deles, segurou o rifle do soldado que ainda estava em posse dele, apontando para cima e com facilidade, desarmou o homem. Ela segurou o rifle e apontou para o segundo soldado e atirou em sua testa. O terceiro estava atirando na direção dela enquanto ela tentava fugir. Ela se escondeu atrás de uma carroça de feno e olhou para o homem de esguelha. Quando ele atirou, ela se escondeu e deu uma olhada no fuzil. Um fuzil de assalto operado a gás com capacidade para até 30 balas de calibre 7,62x39mm. Fabricadas ali em Nordwein e espalhadas pelo mundo. Krieg e Elend fizeram mesmo um bom trabalho.
Diana o retirou do compartimento e, contando rapidamente, percebeu que ainda restavam algumas balas. Fechou o carregador de volta ao fuzil com um estalo firme e ajustou a arma no ombro e virou-se de barriga para baixo e rolou na direção dos soldados e começou a disparar. Sempre teve uma mira boa, embora sua preferência fossem as lâminas.
Foram 15 disparos e ela escutou o clique indicando que a munição já havia acabado. E mesmo assim, ela havia conseguido abater com precisão apenas 7 soldados, ainda tinham pelo menos mais uns 20 em outros pontos da cidade. Ela se posicionou atrás da carroça mais uma vez e correu até o segundo soldado abatido e verificou o corpo. Pegou uma faca, mais munição e uma pistola semiautomática.
Ela retirou o carregador e deu uma olhada na munição. Tinha 8 balas, ainda estava cheia. Dava para o gasto. Diana pegou o coldre do soldado e o amarrou ao redor de sua cintura, de modo que a pistola ficasse facilmente acessível em seu quadril. Com o vestido rasgado até a altura das coxas, o coldre preso à cintura permitia que ela se movimentasse com rapidez e agilidade, pronta para qualquer situação que pudesse surgir. O couro preto contrastava com o tecido rasgado do vestido.
— Soldados! Ela está aqui! — A população não estava disposta a ajudar. Ela saltou novamente para o telhado e continuou correndo. Os soldados correram atrás dela, no chão, alguns tentando atirar. Era difícil acertar um alvo em movimento, ainda mais quando ele era mais rápido do que gostariam.
Diana continuou correndo pelos telhados, sentindo o corpo esquentar absurdamente, ela puxou a manga da blusa e viu as veias avermelhadas brilhando sob a pele. Precisava encontrar um lugar seguro para se esconder e planejar seu próximo movimento, respirar fundo e se acalmar, se transformar ali naquele momento só pioraria sua situação. Ela rezou a todos os deuses que ajudassem a se controlar. Os soldados estavam determinados a capturá-la, e ela não podia se dar ao luxo de ser pega.
Ela avistou uma pequena abertura em um dos telhados e, sem hesitar, saltou para dentro. O interior era claro, iluminado pela luz do dia que filtrava através das janelas empoeiradas, mas oferecia um breve momento de alívio. Diana respirou fundo, tentando acalmar seu coração acelerado.
Com o fuzil em mãos, ela se moveu silenciosamente pelo espaço, procurando uma saída. Encontrou uma escada que descia para um andar inferior e começou a descer, cada passo cuidadosamente calculado para não fazer barulho. Quando chegou ao andar de baixo, percebeu que estava em uma antiga oficina, cheia de ferramentas e equipamentos abandonados. Para a sorte dela, não havia ninguém ali
Diana rapidamente vasculhou o local, encontrando uma barra de ferro que poderia ser útil. Ela a pegou e a colocou no cinto. O som de passos se aproximando a fez congelar por um momento. Os soldados estavam perto. Ela se escondeu atrás de uma grande bancada de trabalho, segurando o fuzil com firmeza.
— Ela entrou aqui! Arrombem a porta!
Ela ouviu o forçar da porta em três batidas, na terceira a porta de madeira se estilhaçou. Os soldados entraram na oficina, suas vozes ecoando pelo espaço. Ela esperou até que um dos soldados se aproximasse o suficiente e, com um movimento rápido, saiu de seu esconderijo e o derrubou com um golpe preciso da barra de ferro.
Os outros soldados se viraram, surpresos, e Diana aproveitou a oportunidade para disparar contra eles com o fuzil. Dois tiros rápidos e precisos, e os soldados caíram no chão. Mais soldados viriam, então precisava sair dali rapidamente.
Diana correu para a porta dos fundos da oficina e a abriu, saindo para uma rua estreita. Ela olhou ao redor, tentando decidir para onde ir. O som de gritos ao longe indicava que os reforços estavam a caminho. Diana começou a correr novamente pelas ruas estreitas de Bitterhold, os soldados estavam por toda parte.
O calor estava quase insuportável, mesmo com a neve caindo sobre ela. Ao se virar em uma esquina deu de cara com mais soldados. Deu dois passos para trás e se escondeu atrás de um conjunto de barris e esperou o momento certo para agir. Três soldados apareceram na esquina, ela se levantou rapidamente e disparou uma rajada de balas, abatendo dois dos soldados instantaneamente. O terceiro tentou reagir, mas ela o atingiu antes que pudesse apontar sua arma. Ela olhou o carregamento do fuzil, estava sem balas.
Com os soldados fora de seu caminho imediato, Diana continuou sua fuga pelas ruas labirínticas da cidade. Ela precisava encontrar uma rota segura para sair de Bitterhold ainda teria que encontrar Mia. Enquanto corria, memorizava o mapa mental da cidade, por onde já havia passado, procurando o caminho mais rápido e seguro.
Finalmente, avistou a saída da cidade, uma velha ponte que se estendia sobre um rio gelado. Diana sabia que precisava atravessar aquela ponte, mas havia guardas de plantão dos dois lados. Ela se abaixou atrás de um muro baixo, observando os movimentos dos soldados. Não tinha tempo a perder.
Esperou até que a patrulha estivesse suficientemente afastada, então se moveu rápido e silenciosamente. Quando chegou à metade da ponte, os guardas perceberam sua presença e começaram a atirar. Diana se abaixou e revidou com a pistola, acertando dois guardas antes de se mover novamente.
Com o caminho parcialmente livre, Diana correu o mais rápido que pôde até o final da ponte. Passando pelos guardas caídos. O som que ouvia-se de Bitterhold era de caos. Ela correu para fora da cidade e se escondeu atrás de um arbusto e se concentrou no cheiro de Mia. Ela não estava longe.
Diana respirou fundo, tentando controlar a respiração acelerada enquanto se escondia atrás do arbusto, olhando seus braços com as veias realçadas. O caos de Bitterhold ainda ecoava ao longe, mas ela precisava manter o foco. Concentrou-se no cheiro de Mia, sentindo a familiaridade.
Com movimentos silenciosos e cuidadosos, Diana começou a se mover na direção onde sentia a presença de Mia. O terreno irregular e coberto de neve dificultava a caminhada. Após alguns minutos de busca, finalmente avistou Mia à distância, escondida entre as árvores, observando atentamente os arredores. Diana fez um sinal com a mão, e Mia a reconheceu instantaneamente.
— Você está bem? — perguntou Mia, seu rosto exibindo um misto de preocupação e alívio.
— Estou. Mas precisamos sair daqui rápido. Eles ainda estão nos procurando — respondeu Diana, tentando manter a calma.
Mia assentiu, concordando. Juntas, começaram a mover-se rapidamente pela floresta, mantendo-se próximas ao chão para evitar serem vistas. Enquanto avançavam, podiam ouvir os sons de soldados se aproximando, seus passos e vozes cada vez mais próximos. Diana olhou para Mia e fez sinal para que fizesse silêncio e depois continuaram a andar até se afastarem o suficiente da cidade.
— Temos que continuar. Vamos por ali — disse Mia, apontando para um trilho escondido que levava mais fundo na floresta.
— Vamos — respondeu Diana.
Elas seguiram pelo trilho, afastando-se cada vez mais de Bitterhold. Caminharam exaustas pela floresta, os pés afundando na neve e o frio penetrando em seus ossos. O sol se escondia atrás das nuvens, tornando o ambiente ainda mais sombrio. Cada passo parecia mais difícil que o anterior, mas elas não podiam parar. Enquanto caminhavam, Mia observou as veias realçadas no pescoço de Diana, brilhando em um vermelho intenso, quase como lava. Preocupada, ela perguntou:
— Diana, o que está acontecendo? Essas veias...
Diana suspirou, sem fôlego. — Isso não é nada bom. Toda vez que eu me transformo, as veias ficam assim. É como se meu corpo estivesse em brasa.
Mia balançou a cabeça, alarmada.
— A última coisa que precisamos agora é que você se transforme. Aqui, no meio dessa floresta? Isso seria desastroso.
Diana fechou os olhos por um instante, lutando contra a dor que começava a se espalhar.
— Eu sei disso, Miranda. Mas não consigo controlar. É algo que acontece quando meu corpo é levado ao limite da exaustão e da raiva.
— Era só o que nos faltava... Seria bom achar um lugar para descansar.
— Nem sabemos onde estamos, Miranda.
Elas continuaram caminhando, com Mia ainda mancando da perna ferida. Apesar da dor, ela agora conseguia andar sozinha, o que já era um progresso.
— Talvez Erste tenha dó de nós.
— Duas filhas da puta assassinas? Acho pouco provável.
— Rainha do otimismo. — Mia disse revirando os olhos.
— Sou realista.
Depois disso continuaram apenas andando. Quando o cansaço e a fome começaram a tomar conta de seus corpos. O silêncio da floresta era interrompido apenas pelo som dos passos trôpegos e das respirações pesadas. Elas não sabiam por quanto tempo mais conseguiriam seguir, mas uma coisa era certa: não podiam parar. A sobrevivência dependia de sua resistência, não sabiam até onde os soldados as seguiram.
Haviam caminhado o dia todo sob a neve que caía incessantemente, seus corpos exaustos e congelados pelo frio. O sol já se punha no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e púrpuras, quando avistaram uma cabana no meio da floresta. Mia, vendo a construção ao longe, expressou sua preocupação.
— Já estou cheia de cabanas... Quem sabe o que pode haver lá dentro? Bitterhold nos ensinou que não se pode confiar em ninguém.
— Não sinto cheiro de ninguém vivo lá dentro, nem morto.
Mia deu uma risada curta. — Não sei se fico feliz ou irritada com uma frase dessas.
À medida que se aproximavam, a cabana revelava mais detalhes. Era uma estrutura simples, construída com troncos de madeira escura e pesados, cobertos por musgo e neve. O telhado inclinado estava praticamente branco, devido à camada espessa de neve acumulada. As janelas, pequenas e retangulares, estavam embaçadas pelo frio, mas não havia sinal de luz ou movimento lá dentro. A porta da frente era robusta, feita de madeira maciça e reforçada com barras de metal enferrujadas. Ao redor da cabana, o terreno estava coberto por arbustos secos e alguns troncos caídos, criando um cenário de abandono e desolação.
Uma pequena varanda coberta oferecia proteção contra a neve, e havia um balde de ferro virado de cabeça para baixo ao lado da porta, talvez usado para coletar água da chuva em tempos passados. Os degraus de madeira que levavam à entrada estavam gastos e escorregadios, cobertos por uma fina camada de gelo.
Diana e Mia trocavam olhares, pesando suas opções. Com a escuridão se aproximando rapidamente, sabiam que precisavam de um lugar seguro para passar a noite. Apesar de tudo, a cabana parecia sua melhor esperança de abrigo. Com cuidado, Diana empurrou a porta, que rangeu levemente antes de se abrir, revelando o interior escuro e frio da cabana. A luz fraca do final da tarde entrava pelas pequenas janelas embaçadas, revelando um ambiente simples.
O chão era de tábuas de madeira, coberto em alguns pontos por tapetes antigos e desgastados. No centro do cômodo principal havia uma lareira de pedra, embora estivesse apagada e coberta de cinzas frias, sugerindo que não havia sido usada há algum tempo. Em cima da lareira, uma prateleira estreita exibia alguns objetos decorativos esquecidos, como velhos castiçais de metal e uma pequena escultura de madeira, um homem encapuzado com uma serpente envolta em seu corpo.
À direita da entrada, uma mesa de madeira robusta, com marcas de uso e manchas de líquidos derramados, estava cercada por algumas cadeiras desalinhadas. Sobre a mesa, havia alguns utensílios de cozinha e uma vela derretida, que parecia ter sido deixada ali em algum momento de urgência.
No canto esquerdo, uma cama simples, mas arrumada, com cobertores pesados e um travesseiro macio, oferecia um convite silencioso para descansar. Ao lado da cama, um baú de madeira estava parcialmente aberto, revelando roupas de inverno e alguns objetos pessoais, como um livro de capa dura e uma caixa de metal pequena.
Diana abriu o livro e franziu o cenho. — Um livro de orações?
— Parece que Nordwein cultua o deus Elend.
— O deus da miséria e da calamidade?
— O próprio.
— Essa gente é estranha. — Diana colocou o livro de volta ao lugar e coçou o nariz. A cabana tinha um cheiro de madeira envelhecida e ar estagnado. Elas se moveram cuidadosamente pelo espaço, certificando-se de que não havia nenhuma ameaça escondida.
Encontraram uma pequena cozinha no fundo da cabana, com um fogão antigo e uma pia enferrujada. Alguns potes e panelas estavam empilhados de maneira desorganizada, e prateleiras de madeira exibiam poucos mantimentos – principalmente conservas e alimentos secos. Diana fechou a porta atrás de si, verificando mais uma vez o ambiente antes de finalmente relaxar os ombros.
— Tem pelo menos roupas quentes. – Mia disse abrindo o baú. — Nada que não cheire a mofo, mas melhor que essas drogas de vestido.
— Parece que tem uma banheira velha ali. Lenha no entanto... vamos ter que queimar livros e móveis.
— Eu retiro a cinza da lareira e coloco uma panela que vi ali.
— Tem água encanada pelo menos? — Diana perguntou pegando os livros.
— Tem, mas os canos estão congelados. — Mia disse girando a torneira.
— Que maravilha... pega a neve lá fora então.
— Para que precisa de um banho? — Mia disse franzindo as sobrancelhas.
— Klaus me mata se descobrir que deixei de tomar banho quando tive alternativa. Além do que precisamos de água para beber também.
— Estou com fome. Andamos o dia todo e estamos só com a refeição da pensão daquela velha miserável.
— Vi umas conservas ali. — Diana disse apontando para o armário.
— Fazer o quê?
— Me ajude a cobrir as janelas com as roupas que não formos usar.
— Para quê?
— Para que não vejam luz aqui.
— E a lareira? Se eles se aproximarem só nos resta fugir. — Mia disse separando as roupas.
— Verdade...
— Sabe a distância que andamos?
— Não tenho a menor ideia. Mas não sinto cheiro de nada próximo.
— Esse seu olfato ajuda bastante.
— A visão, audição, paladar. Tudo foi ficando melhor a cada transformação. — Diana disse abrindo os armários. — Vai lá pegar a neve que vou acender a lareira, deve ter algum fósforo por aqui.
Mia suspirou e foi pegar a neve do lado de fora, enchendo uma panela com a substância gelada. Voltou para dentro e colocou o recipiente na lareira, enquanto Diana começava a rasgar algumas das páginas dos livros para usar como combustível inicial. Ela pegou um dos móveis mais leves e o arrastou para perto da lareira, quebrando partes dele para usá-las como lenha.
Enquanto a neve começava a derreter na panela, Diana se dirigiu ao baú e puxou algumas das roupas quentes. Apesar do cheiro de mofo, elas eram uma bênção comparadas aos vestidos que estavam usando.
— Acho que vamos precisar de mais neve — disse Diana, olhando para a quantidade de água que estava se formando na panela.
— Deixa comigo — respondeu Mia, saindo novamente.
Diana aproveitou o tempo para acender o fogo e começou a aquecer a cabana. O calor era reconfortante e ajudava a aliviar um pouco do cansaço que sentiam. Enquanto Mia voltava com mais neve, ela pegou algumas das conservas no armário e abriu-as, encontrando frutas em calda, vegetais em conserva, além de algumas latas de feijão. Não era um banquete, mas era melhor do que nada.
— Vamos comer isso por enquanto — disse Diana, entregando uma lata aberta para Mia. — Precisamos manter nossas forças.
Elas se sentaram perto da lareira, saboreando a comida simples e o calor que começava a preencher a cabana. Mia olhou para Diana e as veias vermelhas em seu pescoço, ainda preocupada.
— Diana, o que vamos fazer se você começar a se transformar? — perguntou Mia, a voz cheia de preocupação.
Diana respirou fundo, sentindo a dor pulsante em suas veias.
— Vou tentar me controlar, mas preciso que você fique alerta. Se algo der errado, você precisa sair daqui e encontrar um lugar seguro.
Mia assentiu, embora a preocupação ainda estivesse estampada em seu rosto. — Dói?
— Mais do que imagina. Parece que estou queimando de dentro para fora.
— Por isso chama de Sangue de Fogo? — Mia deu uma risada sarcástica.
— Basicamente. — Diana deu uma colherada no feijão e fez uma careta enquanto tentava engolir a massa gelada que estava em sua bochecha.
Mia deixou a lata de lado por um momento e se virou para Diana. — Posso tocar em você?
— Dependendo de onde, pode. — Diana olhou para Mia desconfiada.
— Não, é que você parece quente.
— Estou mesmo. Pode sentir.
Mia tocou o rosto de Diana e parecia estar em estado febril. A pele estava tão quente que nem pareciam estar num frio abaixo de zero.
— Por isso o banho?
— A neve ajuda também, mas ficar pelada lá fora não está nos meus planos. E o banho é mais relaxante.
— Mais seria bom em água fria, não?
— A água quente é para você... — Diana disse dando mais uma colherada no feijão. — Parece que esse povo aqui só come feijão.
Mia sentiu as bochechas esquentarem e desviou o olhar para a lareira. A água finalmente começou a ferver, e Diana utilizou a banheira velha para preparar um banho rápido. Mia ainda mancando da perna, ajudou como pôde, enquanto pegava mais neve para derretê-la.
— Já dá para você tomar um banho. — Diana disse apontando para a velha banheira.
— Eu vou pegar mais neve. Para colocar na banheira depois para você.
— Tá.
Depois de um tempo, Mia finalmente se permitiu relaxar um pouco na água quente. Era um pequeno luxo, mas fazia uma diferença enorme. Enquanto isso, Diana se mantinha atenta, vigiando a porta e as janelas da cabana.
— Não precisa ficar o tempo todo vigiando. — Mia disse para Diana, enquanto terminava o banho.
— Todo cuidado é pouco.
— Em todo caso já estou saindo. Vou encher a banheira com toda a neve que conseguir.
Mia saiu da banheira e se enrolou em alguns panos que achou no baú e depois se vestiu. Os sapatos mantiveram os que já estava usando, mas pelo menos pôde vestir uma calça e um casaco quente. Ela saiu e começou a trazer neve para dentro da casa.
— Vamos, Diana, tira a roupa e entra na banheira.
Diana se levantou tentando ignorar a dor que sentia por todo o corpo e começou a tirar o incômodo vestido. Mia se aproximou dela tentando ajudar a companheira de viagem e pode ver as veias esparramadas por todo corpo como raízes de lava, quente, vibrantes e avermelhadas. A pele parecia pegar fogo e estava começando a ficar difícil de tocar. Ela ajudou Diana a caminhar até a banheira e ficou observando a rainha deitar-se na água já bem resfriada pela neve. O corpo ao entrar em contato com a neve fez um efeito de resfriamento e ela pode ver a sensação de alívio no rosto de Diana.
Diana afundou lentamente na água gelada, sentindo o alívio imediato enquanto a temperatura fria começava a neutralizar o calor intenso de suas veias. A dor começou a diminuir, embora o desconforto ainda fosse evidente em seu rosto. Mia observava atentamente, pronta para ajudar com qualquer coisa que precisasse.
— Melhor? — perguntou Mia, preocupada.
— Melhor... — respondeu Diana com um suspiro de alívio, fechando os olhos por um momento enquanto deixava o frio da água acalmar seu corpo. — Não precisa fazer isso, Miranda.
— Você me manteve viva quando nem eu mais queria. É o mínimo que posso fazer.
— Gratidão, Miranda? Isso é novidade.
— Não sou um monstro mal agradecido.
— Sei...
— Não sou! — Mia retrucou com as sobrancelhas franzidas.
— Não disse nada.
— Já conheço seu sarcasmo, Diana!
Enquanto Diana se banhava, Mia continuou a trazer neve para dentro da cabana, derretendo-a em uma panela para ter mais água disponível. Ela precisariam de água não apenas para o banho, mas também para beber. O som da neve derretendo no fogo era quase relaxante.
Depois de algum tempo, Diana começou a sair da banheira, secando-se com os panos que Mia havia encontrado no baú. Vestiu-se com as roupas quentes que encontraram, sentindo-se um pouco mais confortável.
— Precisamos descansar — disse Diana, enquanto se acomodava perto da lareira. — Temos que estar prontas para seguir em frente amanhã.
Mia assentiu, sentando-se ao lado de Diana. Elas compartilharam o pouco de comida que tinham, aproveitando o calor do fogo. O dia havia sido longo e exaustivo, mas estavam gratas por pelo menos terem encontrado um abrigo seguro, mesmo que temporário. Talvez Erste estivesse mesmo olhando por elas.
— Esse lugar é horrível. Todo mundo aqui parece que mata qualquer coisa que se mexer... ou estupram... — Mia disse cabisbaixa tentando afastar os pensamentos negativos.
Diana olhou para o fogo, suas veias haviam aliviado de leve e não sentia tanta dor quanto estava sentindo antes.
— Não tem muita diferença de onde viemos.
— Nisso você tem razão.
— Você se arrepende? — Diana perguntou olhando fixamente para o fogo.
Mia riu fraco pelo nariz e depois ficou um tempo pensativa. — Você não?
— Todos os dias.
— Será que vamos sair dessa merda? Ou morreremos as duas aqui nesse inferno congelado?
— Lutarei até o fim para que não.
— E depois? Se sobrevivermos?
— Eu não sei... — Diana disse suspirando. — Voltamos para onde paramos e continuamos nossa guerra.
— Nossa guerra... Agora parece até ridículo quando dito em voz alta.
— Você começou esta guerra.
— Não fui eu. — Mia disse encarando Diana. Podia ver o verde cada vez mais intenso de seus olhos e desviou o olhar. — Foi a Heide. Eu só tentei sobreviver.
— O que foi? — Diana disse ao perceber a reação de Mia.
— Seus... olhos mudam de cor? — Mia disse olhando para baixo tentando não mostrar seu rosto corado para Diana.
— Nunca reparei isso. Mas os seus mudam, né? Entre âmbar e dourado. Ficam mais dourados quando está com raiva e quando está mais tranquila eles ficam num suave tom de âmbar.
Mia sentiu o coração bater cada vez mais acelerado. Sentia uma sensação esquisita no estômago como se seus órgãos estivessem revirando ou se milhares de borboletas estivessem voando dentro dela. O seu rosto queimava como se estivesse com febre. Ela encarou Diana sentada ao lado dela olhando para o fogo de forma despretensiosa. A mulher tinha traços tão fortes e delicados ao mesmo tempo. Que fazia Mia se perguntar se ela fazia ideia do que ela causava nas pessoas.
Mia sentiu o desespero em meio àquele turbilhão de pensamentos quando se deu conta do que sentia. Não podia ser verdade. Aquele sentimento não era real. Seus lábios tremeram e ela olhou para o fogo da lareira mais uma vez enquanto lutava para voltar a respirar normalmente. Diana notou sua inquietação e olhou para ela sem entender nada.
— Que foi, mulher?
— Eu devo estar ficando louca. — Mia deu um sorriso em meio às lágrimas que caíram sem ela nem ao menos perceber.
— Este lugar é um inferno mesmo, mas olha... — Diana tocou o queixo de Mia com o indicador e ergueu o rosto da mulher na direção dela. — Vamos sair dessa.
Mia não pensou muito naquele momento. Ela queria experimentar a sensação de se jogar de verdade em algo desconhecido. De pensar em algo que não fosse estratégias, mortes e arrependimento. No impulso ela colou seus lábios nos de Diana que ficou imóvel sem saber como reagir.
Por um momento, o mundo parou para Diana. Ela sentiu o calor e a intensidade do beijo de Mia, e uma enxurrada de emoções tomou conta dela. Não era algo que ela esperava, mas a sinceridade no gesto dela fez seu coração bater mais rápido. A confusão misturou-se com algo mais, algo que não conseguia definir imediatamente.
Quando o beijo terminou, Diana olhou nos olhos de Mia, percebendo a vulnerabilidade e a dor refletidas ali. Sentimentos conflitantes lutando entre si. Ela engoliu em seco, sem saber exatamente o que dizer.
— Miranda... — começou Diana, a voz suave, ainda lutando para encontrar as palavras certas.
Mia desviou o olhar, envergonhada, mas logo encontrou coragem para falar em meio à lágrimas. — Não precisa dizer nada. Não me deixa mais envergonhada do que já estou. Acho que foi esse lugar, essa situação... tudo tão intenso. Eu só queria me sentir viva por um momento, e você... você me faz sentir isso. Por alguma razão muito estranha. Isso é tão errado! Somos mulheres! Esquece essa maluquice!
Diana respirou fundo, tentando processar tudo. Elas estavam em uma situação desesperadora, e talvez fosse isso que tornava tudo tão confuso. Mas a verdade era que Mia havia tocado algo dentro dela que ela não sabia que existia. Era empatia? Surpresa?
— Não tem nada de errado em seus sentimentos. Eu só... não esperava por eles. Quer dizer, aquele dia você estava delirando.
— Vai ver ainda estou...
— Não diz isso... eu não sei o que pensar.
— Como soube que amava o Klaus? — Mia disse se encolhendo e abraçando as próprias pernas.
— Conversando com alguém sobre amor. Tom me disse como era o amor que até então era desconhecido para mim. Ele falou sobre como a gente se sente quando ama alguém.
— E o que ele disse?
— Amor vem como uma brisa leve, imperceptível. Você só vai perceber em nuances. O jeito que alguém te olha, a forma que você sente quando estão juntos. Você quer ver essa pessoa bem a qualquer custo, quer estar com ela o tempo todo. Quer viver toda a sua vida com ela... Eu queria viver toda a minha vida com Klaus. Eu quero...
— Aí você foi lá e se declarou para ele?
— Sim, mas antes disso Tom disse que ia me ensinar o amor se eu quisesse. Eu fiquei em dúvida. Aí corri para o quarto do Klaus e disse a ele que o amava e que alguém queria me ensinar o amor, mas eu queria aprender o amor com ele. Daí, Klaus recusou meus sentimentos.
— Isso aí é bem a cara dele.
— Mas eu como sempre, não consigo pensar antes de agir, fui para o quarto do Tom e me entreguei para ele. Klaus ficou cinco anos sem falar comigo.
— Que rancoroso. Embora, eu não possa falar muito sobre isso.
— Depois a gente se acertou. Eu já tinha terminado com o Tom. Transei com o Klaus uma única vez.
— Sério? — Mia olhou para Diana surpresa.
— Ele não gosta de ser tocado. Ficamos juntos no dia antes da batalha de Santer. A gente se tocou, beijou e tudo mais. Mas... o sexo mesmo foi uma única vez.
— E como você sabe que ama ele? Se esse sentimento não é só uma ideia fixa?
— Ele me ama também. Disso eu tenho certeza... ou eu tinha.
— Eu tenho certeza disso. Ele realmente te ama, mas e você? — Mia se ajeitou encostando na parede perto da lareira onde estavam. — Você fala de sentimentos de uma forma estranha. Tudo em você é 8 ou 80.
— O que quer dizer, Miranda? Seja mais clara. Estou cansada demais para pensar.
— Ele te recusou, você deu para esse Tom. Ele foi dado como morto, você deu para o rei. Eu às vezes fico me perguntando o quanto você realmente entende de sentimentos. Parece que ainda não entende de fato o que você sente.
— Eu realmente não sei. Mas eu sei o que sinto pelo Klaus. A ideia de perder ele me apavora. Me desespera. Eu quis morrer quando pensei que ele estava morto, minha vida não tem graça nenhuma sem ele... — Diana disse embargando a voz.
— Eu entendo. Parece que é amor, afinal. — Mia disse encolhendo os ombros.
— É amor... mas eu sinto que preciso da aprovação dele o tempo todo. É como se ele fosse a pessoa em quem devo me espelhar para ser uma pessoa melhor, porque ele é a melhor pessoa que conheço.
Mia entendia em partes. Por muito tempo ela pensou assim de Samir. Que ele era uma pessoa em quem se espelhava. Também tinha Egon e seu olhar ingênuo sobre o mundo, mas com ele o sentimento nunca foi o amor que ele esperava dela.
— Sinto muito por te fazer essas perguntas. — Mia disse ajeitando o cobertor sobre seu corpo. — Eu só queria entender meus próprios sentimentos.
— Acha que me ama? — Diana perguntou jogando a perna de uma das cadeiras no fogo.
— Eu não faço ideia do que estou sentindo. Eu só sinto uma vontade louca de beijar sua boca e tocar seus seios.
— Então você me deseja sexualmente, Miranda? — Diana disse em tom debochado.
— Por favor, não me deixe mais envergonhada do que já estou.
— Várias semanas num inferno gelado muda as pessoas. E pensar que você queria me matar. Agora quer pegar nos meus peitos, sua safada?
— Não zombe dos meus sentimentos, sua ridícula!
Diana tirou o cobertor de cima de seu corpo e tirou o casaco que vestia deixando a camisa que vestia à mostra. Ela delicadamente puxou a barra de dentro da calça e começou a desabotoar sobre o olhar atento de Mia que mal respirava. A camisa de algodão azul clara já bem descorada marcava bem os mamilos de Diana que parecia arrepiados, provavelmente por conta do frio. Pelo menos era assim que Mia preferia pensar. Diana abriu a blusa e deixou os seios rosados à mostra e se virou de frente para Mia, ambas ainda sentadas no chão.
— Pode tocar.
— O quê? — Mia corou o rosto instantaneamente e ficou desconcertada. — Tá maluca?
— Disse que queria tocar. Vai em frente!
— Tá me deixando constrangida! Eu acabei de dizer que nem sei direito o que sinto!
— Aproveita. Eu poderia estar de péssimo humor e querendo te matar. Mas eu estou muito cansada para isso.
Mia hesitou sentindo o rosto queimar cada vez mais. Ela se recusava a sentir aquilo. Mas parecia que cada vez mais estava difícil controlar. Ela olhou para Diana com as sobrancelhas franzidas.
— Se contar para alguém, eu te mato.
— Vamos nos matar de qualquer jeito. Vamos aproveitar enquanto ainda estamos em paz. Pode ser a sua única chance. — Diana disse erguendo uma sobrancelha.
— Está se divertindo com isso, né?
— Estou sim. Demais!
Mia soltou um suspiro profundo e levou a mão direita ao seio de Diana. A sensação de poder tocar era mais satisfatória do que ela imaginava. A pele quente e macia, em seguida sua outra mão tocou o outro seio, os mamilos foram enrijecendo conforme ela foi tocando o que deixou Mia ainda mais empolgada.
Diana mantinha seu olhar fixo em Mia que estava até tremendo ao tocá-la. A engeliana tinha os olhos naquele momento de uma cor acobreada intensa o que fez Diana perceber que a cor realmente mudava conforme suas emoções.
Mia queria tocar em cada centímetro do corpo dela e achava interessante que do pescoço para baixo ela não tinha um único pêlo, mas que as sardas eram esparramadas por seu corpo de uma maneira muito sexy. O desejo tomava conta do corpo da engeliana. Tudo que ela tentou suprimir estava saindo tudo de uma vez. Ela percebeu naquele instante que até conhecer Diana nunca havia sentido nada de maneira tão intensa. Nem com Samir. Tudo parecia automático. Mas ali não. Desejava Diana, desejava a ponto de querer matar qualquer um por causa dela.
Ela se moveu rápido e montou sobre o corpo de Diana ainda com as mãos sobre os seios dela e a deitou no chão. A rainha não teve muita reação. Estava cansada demais para se debater e os dias em Nordwein também não foram fáceis para ela. Se recusava a pensar em qualquer coisa naquele momento. Deixaria o arrependimento para depois. Queria ver até onde Mia iria chegar.
A engeliana por sua vez queria tocar Diana em cada lugar que pudesse e ver o rosto dela corado cada vez mais. Queria ouvir o arfar dela, seu corpo arrepiar. Mas ela queria comandar Diana, guiar ela, mostrar a ela o quanto podia lhe dar prazer.
— A gente vai mesmo fazer isso, Miranda?
— Não me nega isso. Eu... quero sentir algo de verdade. Longe de toda aquela bagunça de Eisenhower. Nunca vou contar para ninguém, eu te prometo. Mas... me deixa só... Merda! — Mia cobriu o rosto tentando esconder as lágrimas. — Eu gosto do seu cheiro, do quanto você é destemida, gosto da forma que me olha, gosto até da forma como pronuncia meu nome. Você cuidou de mim como ninguém nunca cuidou antes! Eu estou ficando louca com tudo isso que tô sentindo! Se disser para mim que quer ficar aqui para sempre, eu fico com você! Vou para qualquer lugar que você quiser, eu mataria qualquer um por você! Mas... lá no fundo eu sei, que quando pisarmos em Vermogen, seremos inimigas de novo. E isso me deixa aterrorizada, porque eu não sei se consigo te odiar de novo. Eu tinha tudo planejado. Era só matar você e seguir com meus planos. Ser alguém no mundo, fazer a diferença, subjugar meus inimigos. Por que as coisas tinham que ser assim?
Diana não sabia como responder a tudo aquilo. Talvez fosse a primeira vez que ouvia uma declaração de amor com tanta intensidade. Sem que ela tenha corrido atrás, ou precisou cumprir um papel. Mia estava tão vulnerável que ela mal a reconhecia. Diana ergueu o corpo e ficou escorada com as duas mãos para trás e depois se endireitou e segurou a cintura de Mia.
— É bom fazer direito. E como você mesmo disse, ainda somos inimigas. E eu nunca fiquei com nenhuma mulher, então seja gentil e paciente.
— Eu também não... — Mia segurou o rosto de Diana e lhe deu um beijo que desta vez foi correspondido. Ela sentia tanta vontade daquele beijo que parecia devorar os lábios de Diana. Ela se levantou e tirou as próprias roupas e depois ajudou Diana a terminar de se despir e depois realizou uma vontade imensa que estava desde que a conheceu, sugou seus mamilos rosados com desejo. Depois desceu beijando a barriga dela até a virilha e a puxou abrindo suas pernas de leve.
Parecia que tinha feito aquilo a vida toda, ver Diana daquele jeito a deixava ainda mais encantada pela beleza dela. Seu rosto vermelho, os lábios entreabertos, os olhos fechados, a forma como estava úmida. Mia tocou a vagina dela com as pontas dos dedos de forma delicada contornando a forma de seus lábios, depois seus dedos alcançaram a abertura e ela pressionou dois dedos dentro dela o que a fez arfar.
— Vai devagar aí, Miranda...
Com a outra mão Mia abriu os lábios de forma delicada e começou a passar a língua e depois começou a chupá-la. Quando percebeu que Diana estava em êxtase, puxou a rainha para perto de si e montou sobre o corpo dela, se encaixando perfeitamente entre as suas pernas e começou a se movimentar sentindo o contato da intimidade molhada dela em contato com a sua. Não se lembrava de ter sentido tanto prazer em toda a sua vida. Quando ela chegou ao êxtase, sentiu o corpo inteiro tremer.
Ela se deitou ao lado de Diana que parecia alheia a tudo aquilo. Para ela era apenas um sexo qualquer, mas para Mia significava muito mais do ela imaginou. A engeliana olhou para o teto cheio de teias de aranha e mordeu o lábio inferior gravando em sua memória cada detalhe daquela noite.
— Parece feliz, Miranda.
— Estou sim.
— Fez um bom trabalho. — Diana deu um sorriso satisfeito olhando para Mia de soslaio.
— Se disser que foi ruim, eu mato você.
— Mata nada. Você me ama....
— Deixa de ser convencida! São só meus sentimentos confusos...
— Sei... — Diana disse sarcástica.
Mia ficou pensativa por um instante. — Acho que eu quero transar mais com homens. Toda vez que penso nisso, eu fico apavorada.
— Tenta esquecer essa merda. — Diana disse apoiando as mãos embaixo da cabeça. — Eles tiveram o que mereceram.
— Nunca te agradeci por isso. Se não fosse por você, eu estaria morta.
— Não precisa agradecer. Logo você vai esquecer tudo. Até mesmo as besteiras que fizemos aqui.
Mia sentiu uma lágrima discreta escorrer e olhou para o rosto da rainha sobre a luz da lareira. — Como se fosse fácil esquecer você.
Diana olhou para Mia e viu o brilho em seu olhar. Nunca foi boa em lidar com pessoas, mas olhando para ela podia ver a sinceridade, não era nem de longe a mulher arrogante que conheceu. Ela deu uma risada.
— Quer dormir de conchinha?
— Lógico que não. — Mia disse se levantando e se vestindo. — E se contar para alguém, eu te mato.
— Não quer que ninguém saiba que você me chupou? Vai abusar de mim e não vai me assumir?
— Claro que ninguém pode saber! Já pensou? Eu estou fora de mim, tá? Quando sairmos daqui tudo volta ao normal.
— Se você diz...
Para Diana certamente não faria diferença. Não havia espaço para outra pessoa em seu coração além de Klaus, mas para Mia, tudo depois de Nordwein seria diferente. As duas se acomodaram para dormir, ouvindo os sons do vento e da neve lá fora. A noite avançou lentamente, com o calor da lareira mantendo-as aquecidas. Quando o primeiro raio de sol da manhã começou a iluminar a cabana, elas se levantaram, prontas para seguir em frente, sem tocar no assunto da noite anterior. Embora Diana tenha notado uma certa alegria em seu rosto.
Partiram da cabana ao amanhecer, envolvidas em roupas quentes. O frio da manhã era cortante, por mais que Diana estivesse sentindo mais calor que frio dentro daquelas roupas. Queria tirar tudo aquilo, mas só chamaria mais atenção. Uma pessoa que não sentia o frio abaixo de zero de Nordwein era algo muito suspeito.
A neve sob seus pés rangiam enquanto caminhavam pela densa floresta. Diana havia encontrado um mapa na cabana onde estavam. A próxima cidade seria Ravenholm. As árvores altas, cobertas de neve, formavam um labirinto natural que dificultava a orientação. O ar estava pesado e úmido, e a visibilidade era limitada pela neblina que se erguia do solo congelado. A cada passo, Mia lutava contra a dor em sua perna ferida, mancando ligeiramente, mas estava bem melhor do que estava antes. Diana, por sua vez, ainda sentia o desconforto do queimor das veias em seu corpo.
Após horas de caminhada, o sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu com cores avermelhadas. O caminho se tornava cada vez mais difícil à medida que a neve aumentava de profundidade. Em alguns trechos as pernas afundaram até o joelho.
Conforme avançavam, a paisagem ao redor começava a mudar. As árvores densas da floresta gradualmente davam lugar a colinas mais suaves, onde ruínas antigas se misturavam com construções mais recentes. A presença humana começava a se tornar mais evidente: trilhos de trem abandonados, carros enferrujados e estruturas militares desativadas pontuavam o terreno.
Finalmente, após um dia inteiro de marcha exaustiva, avistaram os contornos de Ravenholm ao longe. A cidade erguia-se como uma fortaleza de pedra, com suas torres medievais e muros robustos contrastando com elementos industriais. O frio parecia menos intenso à medida que se aproximavam, mas o cansaço das horas de caminhada era palpável.
Ao entrarem na cidade, Diana e Mia precisavam ser discretas. Elas se moviam com cautela, observando os guardas e a população local, buscando um lugar seguro onde pudessem se abastecer de comida e armamentos sem chamar atenção indesejada. A arquitetura gótica predominava, com edifícios de pedra cinzenta, janelas arqueadas e telhados íngremes cobertos de neve.
Portões de ferro fundido, adornados com intrincados desenhos de dragões e figuras mitológicas, marcavam a entrada principal da cidade. Guardas em uniformes militares, com longos casacos e chapéus de pele, patrulhavam as ruas pavimentadas.
As ruas de Ravenholm eram estreitas e sinuosas, ladeadas por construções de pedra que abrigava tanto comerciais quanto residenciais. Lanternas a óleo pendiam das paredes, fornecendo uma iluminação suave e tremeluzente. As fachadas das lojas eram decoradas com sinais em cirílico, vendendo de tudo, desde alimentos básicos até armamentos. Barracas de mercado exalavam o cheiro de pão recém-assado e sopa quente.
No centro da cidade, uma grande praça de pedras irregulares abrigava uma estátua imponente de um líder militar desconhecido por ambas, sua expressão severa olhando para os habitantes que passavam. Ao redor da praça, edifícios governamentais e administrativos, com bandeiras vermelhas e símbolos, lembrando a todos da presença constante do estado.
Ao lado da praça principal, uma catedral gótica se erguia majestosa, suas torres atingindo o céu. O som dos sinos ecoava pela cidade, misturando-se com o ruído distante de máquinas e veículos militares. Pequenas torres de vigia e postos de controle pontuavam as ruas, reforçando a vigilância constante e a atmosfera de desconfiança.
Armazéns e fábricas, construídos com tijolos vermelhos e cobertos de neve, lembravam os avanços industriais e a presença militar na cidade. Trilhos de trem cortavam a periferia de Ravenholm, conectando-a ao vasto território controlado pelo regime, enquanto tanques enferrujados e caminhões militares eram vistos estacionados em pátios de transporte.
Elas se aproximaram furtivamente da praça de Ravenholm, observando com cuidado o aglomerado de pessoas em torno de um oficial que fazia um anúncio. O homem, vestindo um uniforme militar, falava com uma voz alta e autoritária, garantindo que todos na praça ouvissem sua mensagem.
— Uma mulher instaurou o caos em Bitterhold! — bradou o oficial mostrando o retrato falado de Diana, elas se encolheram tentando se misturar no meio da multidão. — Ela é procurada viva ou morta. Qualquer um que a vir deve entregá-la ao imperador Boris para que seja executada segundo as leis de Elend. E que todos aqueles que ajudarem as fugitivas serão considerados igualmente culpados e serão executados em praça pública.
Diana trocou um olhar preocupado com Mia. A situação era ainda mais perigosa do que haviam imaginado. Elas precisariam ser extremamente cuidadosas para não serem reconhecidas ou capturadas. Elas sentiram o pavor crescendo dentro de si enquanto escutavam o oficial na praça. A ideia de serem caçadas e executadas era aterrorizante, e a multidão ao redor apenas aumentava a sensação de claustrofobia. Trocaram um olhar cheio de medo e decidiram se afastar o mais rápido possível daquele lugar.
Com passos rápidos e furtivos, começaram a se mover pelas ruas de Ravenholm, sempre atentas aos soldados e aos olhares curiosos dos habitantes. Sentiam-se como presas em um terreno hostil, e a tensão no ar era quase palpável.
Ao virarem uma esquina, chegaram a uma segunda praça, ainda mais sombria que a primeira. No centro dela, um enorme esqueleto de cabeça de dragão dominava a vista, seus ossos maciços e detalhados contrastando com a arquitetura ao redor. Diana parou abruptamente, seus olhos arregalados de horror.
— Por Erste... — sussurrou Diana, incapaz de desviar o olhar do esqueleto.
Mia, sentindo o medo de Diana, segurou-a pelo braço.
— Diana, precisamos continuar. Não podemos ficar aqui.
Diana assentiu lentamente, ainda abalada pela visão do dragão. O medo que sentia era quase paralisante, mas sabia que não podiam se dar ao luxo de fraquejar naquele momento. Elas continuaram a se afastar, seus corações batendo freneticamente. Atravessando as ruas e becos, elas procuravam desesperadamente por um esconderijo, enquanto a cidade de Ravenholm se mostrava cada vez mais opressiva. O esqueleto do dragão era um lembrete constante de que estavam em território perigoso, e a missão de sobreviver parecia cada vez mais difícil.
Enquanto percorriam as ruas, avistaram um esconderijo promissor: uma velha padaria abandonada, com suas janelas cobertas de pó e teias de aranha. As portas de madeira, desgastadas pelo tempo, ofereciam uma oportunidade de se esconderem. Mia apontou empolgada para o local.
— Ali! Podemos nos esconder ali! — disse Mia, puxando Diana na direção da padaria.
Mas antes que pudessem se abrigar, o som de um disparo agudo de flecha ecoou pelas ruas. Diana sentiu uma dor aguda atravessar sua barriga e caiu de joelhos, levando a mão ao ferimento. O sangue começava a escorrer entre seus dedos, a expressão de dor evidente em seu rosto.
Mia olhou apavorada, os olhos arregalados de medo e desespero. Quando se virou para ver de onde veio o tiro, avistou uma senhora já de idade avançada, em pé na entrada de um beco, segurando uma besta. A velha exibia um sorriso tenebroso, revelando dentes amarelados.
— Bem na mosca... isso é feito de dente de dragão, vá para o inferno, mulher dragão! — disse a velha com uma voz rouca e triunfante.
Mia sentiu o pânico tomar conta dela. Aquela foi a primeira vez que ela viu Diana sangrar.
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