Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

🔥 42 - Forasteiras

Diana firmou o olhar em meio à neblina de Bitterhold. Uma cidade de pequeno porte que parecia ter parado no tempo. Ela firmou Mia nas costas e continuou andando pelas ruas de pedra. Os olhares dos moradores que ainda estavam nas ruas se voltaram para ela, que evitou encarar na mesma intensidade, estava muito longe de casa para caçar briga.

— Miranda? — Ela sussurrou para a mulher que lutava para manter a consciência. —Não dorme, tá?

— Eu...

— Tá acordada?

— Unhum... — Mia murmurou. Diana firmou ela ainda mais contra seu corpo e continuou até um edifício que tinha uma placa: Temos vagas.

Diana continuou andando até a entrada da pensão e empurrou a porta devagar. Ela deu uma olhada pelo local. As paredes eram adornadas com papeis de parede florais desbotados, em tons de marrom e verde. O chão rangia sob os pés com suas tábuas de madeira gastas pelo tempo. 

No canto da cantina, a mulher de cabelos brancos e rosto marcado pelas rugas organizava os pratos com uma expressão de descontentamento permanente. Seus olhos, que pareciam ter visto uma vida inteira de mudanças, agora apenas refletiam a monotonia do cotidiano. Ela resmungava baixinho enquanto mexia nos talheres, o som de suas palavras quase se perdendo no ar denso da cantina.

Sentado em uma mesa de madeira maciça, um homem lia o jornal local, os óculos pousados na ponta do nariz. Ele ajeitava os óculos de vez em quando, focado nas notícias do dia. O som das páginas sendo viradas era o único ruído que interrompia o silêncio pesado da sala.

Do lado de fora, a neve caía incessantemente. As árvores, desfolhadas pelo inverno rigoroso, eram silhuetas escuras contra o céu cinzento. O vento frio soprava, fazendo os flocos de neve dançarem em espirais. 

Os móveis, robustos e simples, mostravam sinais de uso intenso, com arranhões e marcas. O ambiente, meio decadente, não parecia muito amistoso e a dona do local não ajudava em nada. 

Ela caminhou até o balcão com um pano no ombro, ajeitando o avental à frente de seu vestido longo de algodão escuro, em um tom de marrom resistente ao desgaste do dia a dia, e olha que já estava pedindo para ser trocado, iria cobrar indenização pelo tempo de uso. O vestido tinha um corte simples, com uma cintura levemente ajustada e uma saia que descia até os tornozelos, permitindo facilidade de movimento.

Por cima do vestido, o avental tinha um tecido grosso, provavelmente de algodão branco ou bege, amarrado firmemente na cintura. O avental estava manchado, as mangas do vestido eram longas, protegendo seus braços do frio constante de Nordwein, e os punhos eram apertados com pequenos botões. No peito do avental, havia um bolso grande onde ela guardava um bloco de papel amarelado e uma caneta.

Ela franziu o nariz adunco e olhou para Diana dos pés à cabeça. A dona da pensão exalava uma aura de autoridade. Seus cabelos brancos estavam bem presos em um coque apertado na nuca, com algumas mechas rebeldes escapando aqui e ali. Sua pele era marcada por rugas profundas, especialmente ao redor dos olhos e da boca. Ela estreitou os olhos pequenos e azuis e abriu a boca curva de lábios finos que pareciam sempre curvados para baixo.

— Não aceitamos mendigos.

— Não somos mendigos. Eu e minha... amiga, fomos atacadas por um urso.

— Urso? — Ela voltou a analisar Diana, vestida com as roupas dos caçadores. — O que duas mulheres faziam soltas por aí? Não tem maridos?

— Nossos maridos... morreram. — Diana era uma péssima mentirosa, e Mia já estava desacordada para ajudar na história. — Atacaram nosso acampamento. O urso... os devorou. Morreram tentando nos defender.

— Hum.

— Eu tenho dinheiro. — Diana tocou os bolsos do casaco e tirou uma algibeira de couro com algumas moedas que pegou dos caçadores. — Eu só quero uma cama, comida e se possível alguma coisa para tratar a perna dela.

A mulher olhou desconfiada para Diana e depois desviou o olhar para o homem sentado à mesa no canto da pensão. Ela olhou de novo para Diana e para a algibeira e a pegou das mãos da mulher que lutava contra as dores e câimbras constantes. Ela tirou as moedas, as colocou sobre o balcão e contou as certificando uma por uma.

— Dá para três dias, no máximo. A comida inclusa, os medicamentos eu posso ver o que consigo. 

— Obrigada.

— Aqui está a chave, quarto 200, no fim daquele corredor, tem duas camas de solteiro.

— Muito obrigada. — Diana pegou a chave aliviada.

— Vocês têm que tomar cuidado. Tem um dragão à solta por aí. 

Diana engoliu seco e encarou a mulher. — Dragão?

— É. — O homem no canto com o jornal disse sem tirar os olhos do papel. — Foi visto sobrevoando nosso país recentemente, malditos dragões! Pensei que haviam sido todos extintos da face da terra.

Diana observou o homem e depois abaixou a cabeça, ela apertou a chave na mão, forçou um sorriso e olhou para a mulher. — Obrigada por avisar, ficarei atenta.

Ela apertou o passo seguindo para o quarto e destrancou a porta com dificuldade. O local tinha as paredes revestidas com papel de parede floral, ligeiramente desbotado, em tons de bege e verde. Ao centro, duas camas de solteiro de madeira escura ocupavam a maior parte do espaço. Os colchões eram grossos e cobertos por colchas de lã, tecidas à mão em padrões tradicionais. A cabeceira das camas era ornamentada com entalhes simples, mostrando sinais de uso e desgaste.

No canto do quarto, havia uma lareira de tijolos, um tapete grosso de lã estava posicionado em frente à lareira. Ao lado, uma pequena cadeira de balanço de madeira. O ambiente era iluminado por uma luminária de mesa antiga, com uma cúpula de vidro colorido.

Ela deitou Mia sobre a cama e deu uma olhada na perna. A ferida parecia ter aberto, o sangue já estava escurecendo ao redor da ferida. Diana rasgou a calça e começou a despir a engeliana com urgência. Em seguida, a enrolou num cobertor enquanto ela iria providenciar um banho para lavar os ferimentos e não ter risco de infecção. Ela tirou o excesso de roupas que vestia, a calça, os sapatos e ficou apenas de camiseta. Seus pés não estavam muito melhores do que quando atravessou o deserto. Mas talvez um escalda pés ajudaria.

O banheiro, adjacente ao quarto, era igualmente simples. A banheira de ferro fundido, com a pintura branca um pouco descascada. As torneiras de metal mostravam sinais de ferrugem. As paredes do banheiro eram revestidas de azulejos brancos. Ao lado da banheira, havia um pequeno espelho oval, com uma moldura de madeira envelhecida, pendurado acima de uma pia de porcelana branca. O chão era coberto por ladrilhos geométricos em preto e branco. 

Ela ligou as torneiras e deixou a água quente enchendo a banheira. Logo em seguida a dona da pensão bateu na porta avisando sobre o remédio. Ela o deixou na porta e Diana pegou assim que viu que a mulher havia se afastado. Em seguida, pegou Mia no colo e levou para a banheira, e a colocou na água morna.

— Acorda. — Diana deu uns tapinhas no rosto de Mia que murmurou. — Vamos, não dorme! Mantenha-se acordada.

— Onde... — Mia abriu os olhos ainda zonza. 

— Estamos seguras... Mais ou menos. Devia ter te colocado na água fria, para baixar essa febre. Mas vou cuidar dessa ferida primeiro. — Diana passou uma esponja de forma delicada sobre o ferimento da perna de Mia.

— Você... — Mia disse abrindo um sorriso e tocando o rosto de Diana. — É muito bonita.

— Obrigada?

— Tipo, muito bonita. — Mia se aproximou de Diana, que estava ao lado da banheira e tocou os lábios dela com delicadeza. — Olha essa boca.

Diana ficou imóvel. Apenas olhando a engeliana acariciar seus lábios com a ponta dos dedos de forma delicada. A febre devia estar muito alta a ponto de fazer a famigerada loba delirar. Era só nisso que ela pensava.

— Dá vontade de te beijar. — Mia disse ainda olhando os lábios dela. Depois seu olhar dourado percorreu pelo rosto da mais alta. Em seguida, ela segurou o rosto de Diana com as duas mãos e selou um beijo nos lábios dela. A rainha estava paralisada, não conseguia mexer um músculo. Mia se afastou um pouco e encostou a cabeça no ombro de Diana. — Maldita. Eu odeio você.

— Você está delirando... eu vou cuidar da sua perna e depois te dar um remédio. A mulher rabugenta vai trazer algo pra gente comer.

Mia ergueu a cabeça e Diana pode ver as lágrimas nos olhos dela. — Eu sou uma pessoa muito ruim.

— Vamos sair dessa banheira. Já deu para limpar bem a ferida.

— Toma banho comigo! — Mia ergueu a camiseta de Diana e tocou o seio dela. — São mais macios do que eu imaginava.

— Se contenha, mulher! Que febre estranha é essa?

— Vamos embora para um lugar bem longe? Só eu e você? Eu cuidaria de você! Não precisaria lutar e nem fugir! Eu cumpriria meu papel! Cuidar da Sangue de Fogo! Eu seria sua para sempre.

— Você não está falando coisa com coisa. — Diana passou o braço pelas costas dela e embaixo das pernas e a ergueu da banheira. Mia abraçou seu pescoço fortemente e colocou o rosto no ombro dela.

— Eu sou uma pessoa ruim. Todo mundo me odeia. Eu vou arder no fogo de Fegefeuer por toda a eternidade. Eu sei disso. 

— Eu também vou.

Diana deitou a mulher na cama e a enrolou nos cobertores. Depois lhe deu o remédio e cuidou do ferimento na perna. Mia ainda estava chorando de forma silenciosa cobrindo o rosto com as duas mãos.

— Aqueles miseráveis. Eles... droga!

Diana enfaixou a perna dela com os curativos que a dona da pensão tinha levado. — Não pensa nisso, tá. Já passou. Estão todos mortos.

— Nunca mais quero que um homem me toque na vida, sinto nojo só de pensar.

— Nem todos são iguais. Alguns são mais cretinos que os outros.

— Eu tô me sentindo um lixo! Meus amigos morreram, eu quis fazer o que achava melhor para todos nós, onde foi que eu errei? Todos viraram as costas para mim! Samir está comigo por qualquer coisa, menos amor! Eu não consigo amar o Egon como ele me ama. Eu prendi ele por cinco anos! A Ygritte... droga!

— Para de pensar nessas coisas.

— Eu joguei ela num galpão com um monte de soldados! Ela foi estuprada, e depois a forcei a se prostituir. Eu sou um lixo de ser humano!

— Você é mesmo. — Diana disse se levantando e ficando ao lado da cama de Mia.

— Mas eu tinha meus motivos! Ninguém entende isso.

Diana deu um suspiro e olhou para a engeliana delirando e chorando sem parar falando sobre arrependimentos. Se ela fosse falar sobre isso, ficariam ali a noite toda. A quantidade de pessoas que morreram por suas mãos e não importava quanto tempo passasse, sempre haveria um rastro de destruição por onde ela passava. Ela ouviu alguém bater na porta e caminhou devagar até lá e escorou na porta segurando a maçaneta.

— Quem é?

— Dorotheia. Trouxe comida e algumas roupas.

Diana abriu a fresta da porta e viu a mulher rabugenta com um carrinho de comida. Ela abriu a porta dando passagem e pegou o carrinho com a mulher, nem se lembrava a última vez que tinha comido direito. O cheiro a fez lembrar que estava faminta.

— Obrigada.

— Aqui estão algumas roupas. Moças de família usam vestidos. — A mulher ergueu uma sobrancelha e Diana entendeu o recado. Não sabia se isso era bom ou ruim no fim das contas. 

Quando a mulher se afastou, ela trancou a porta e verificou as janelas. Qualquer rota de fuga já ajudava. Estavam no térreo para a sorte delas. Seria fácil fugir se fosse necessário. Depois ela se virou para Mia que cochilava, abrindo os olhos de vez em quando, e seguiu para o banheiro.

Ela tirou o restante das roupas e entrou na banheira com a mesma água que Mia estava. Diana havia se submergido na banheira, sentindo a água quente relaxar cada músculo dolorido de seu corpo. O vapor subia lentamente, envolvendo-a em uma névoa reconfortante. Ela fechou os olhos, permitindo que a sensação de alívio tomasse conta de seus sentidos.

Enquanto a água acariciava sua pele, os pensamentos dela vagavam pelos caminhos tortuosos de seus pecados. Cada erro, cada decisão errada, parecia pesar ainda mais em sua mente. As palavras de Mia, murmuradas anteriormente, ecoavam em sua cabeça. Haveria um lugar para elas no Paraíso ao lado de Mond, ou se estariam destinadas a amargar pela eternidade em Fegefeuer?

Diana refletiu sobre suas ações, os momentos em que escolheu o caminho mais fácil, mesmo sabendo que não era o certo. A culpa a consumia, como uma chama que nunca se apagava. Ela se perguntava se algum dia encontraria redenção, se suas escolhas a condenariam para sempre. Diana sabia que, independentemente do que o futuro reservava, ela teria que enfrentar as consequências de seus atos. 

Ela se levantou da banheira sentindo como se tivesse tirado um peso de seu corpo e se enrolou na toalha. Quando chegou no quarto Mia estava sentada na cama olhando para a lareira. 

— Você me mata do coração! — Diana disse dando um passo para trás. — Quer comer?

Diana caminhou até o carrinho de comida e ficou olhando para Mia sentada na cama completamente paralisada olhando para o crepitar das chamas. 

— Está vendo? — Mia disse com o olhar fixo no fogo.

Diana olhou para a mesma direção que ela e ficou tentando ver o que Mia enxergava. — O que está vendo?

— Você não vê? O fogo está formando imagens. Eu estou vendo um lobo enorme com olhos dourados. 

— Não tô vendo não, agora vamos comer.

Diana puxou o carrinho e colocou entre as duas camas e puxou Mia para que se sentasse diante do mesmo para comer. Ela ainda parecia avoada, aérea. Diana tocou seu rosto e ela ainda parecia com febre, mas estava passando aos poucos. Engelianos eram estranhos na visão dela. A genética deles era naturalmente forte e eles eram os mais difíceis de matar. Ela teve que matar poucos engelianos ao longo da sua vida, mas se lembrava bem do trabalho que davam. Mia era a prova disso.

Ela pegou o pedaço de pão e mergulhou na sopa e entregou para Mia que pegou e ficou olhando para ele por um bom tempo, depois levou à boca e comeu. A melhor refeição de suas vidas em dias. A sopa estava rala, o pão estava seco, a carne estava queimada de um lado, as batatas meio cruas, tinha umas azeitonas pretas e uns aspargos de gosto ruim, mas mesmo assim, elas comeram como se fosse o melhor banquete.

Quando finalmente pode deitar na cama Diana sentiu até um desconforto. Fazia bastante tempo que ela não dormia de forma confortável. Ela olhou para Mia, dormindo na cama do lado e fechou os olhos. 

Fazia dias que não sonhava. 

Estava deitada na cama improvisada da barraca antes da batalha de Santer. Klaus sorria para ela olhando em seus olhos.

— Acordou? 

— Oi...

— Vamos nos arrumar, ou vamos chegar atrasados. — Ele disse sorrindo.

— Não podemos ficar aqui para sempre? Eu e você?

— Podíamos, né?

— Eu acho que depois daqui vai acontecer um monte de coisa. Morte, guerra... vou ficar longe de você.

— Vamos pensar nisso depois, que você acha?

Klaus se deitou sobre ela e começou a beijá-la intensamente. Diana passou o braço nas costas dele e o apertou em um abraço forte ainda o beijando. As suas mãos foram para o pescoço dele e desceram por seus seios...

Seios?

Diana abriu os olhos no mesmo instante. Estava com os lábios grudados nos de Mia que estava montada sobre ela do jeito que veio ao mundo. Diana se virou sobre a mulher e a imobilizou segurando seus braços.

— O que você está fazendo? — Diana disse assustada, olhando para Mia com as bochechas coradas olhando para ela com desejo.

— Eu quero você...

— Quer nada! Essa febre sua é sinistra!

— Me deixa tocar em você, beijar você...

— Que fogo é esse gente?

— Eu até te ch.... 

— Não! — Diana tampou a boca de Mia. — Nem termina essa frase, é estranho pra caralho! Vai dormir!

— Mmmm — Mia murmurou algo e Diana tirou a mão da boca dela para que ela pudesse falar. — Só se você dormir comigo, bem agarradinha comigo.

— Por favor, eu espero que amanhã você volte ao normal, a mesma rabugenta mal amada e mal agradecida de sempre.

Diana pegou a camiseta que ela estava usando antes e rasgou uns pedaços e amarrou as mãos e os pés de Mia que sorria mordendo o lábio. — Tô adorando isso...

— Mas que porra! Para andar não consegue, né, sua safada? Agora para vir com esse fogo até monta em cima da gente!

— Te amo! 

— Eca! Vira pra lá sua cretina! E vê se melhora!

Diana ficou de costas para Mia encolhidas na cama de solteiro. A noite estava quase chegando ao fim, só mais umas horas para poder pelo menos descansar. Já não bastava tudo que passou nos últimos dias, ainda tinha que lidar com a febre mais maluca que ela tinha visto. 

Quando a manhã clareou o quarto, Mia finalmente acordou lúcida. Ela abriu os olhos e deu uma olhada onde estava. Não se lembrava nem de ter chegado até ali. Diana estava sentada na cadeira de balanço em frente à lareira usando um vestido de algodão e linho de mangas compridas na cor azul escura e os cabelos presos num coque mal feito.

Mia tentou se mover, aí notou seus braços e pernas amarrados.

— Que? Por que eu tô amarrada? — Ela olhou para si mesma. — E nua? Hey! Eu to falando com você!

Diana virou o rosto para Mia e soltou um suspiro aliviado. — Graças a Erste! Você voltou ao normal.

— Que? Me desamarra, queria aproveitar para me matar enquanto dormia? Onde estou?

Diana se levantou arrastando o vestido longo e caminhou até a companheira de quarto e tirou uma faca da bota. Mia arregalou os olhos, mas Diana apenas cortou as tiras de pano.

— Aquele vestido marrom ali é para você. Veste e se arruma de um jeito que pareça uma moça de família.

Mia passou a mão no punho e olhou a perna enfaixada e depois olhou para o vestido horroroso que Diana vestia. 

— Vai me explicar o que está acontecendo ou não?

— A dona da pensão nos deu esses vestidos. Parece que as moças daqui não usam calças.

— Que merda. Deviam ter arrumado um com um tecido melhorzinho pelo menos. E olha esse corte? É tenebroso. Até eu faço um vestido melhor.

— Você costura, Miranda? 

— E muito bem, tá? Faço tudo à mão. — Ela apoiou uma das pernas no chão e começou a se vestir. — Vai me falar por que eu estava amarrada, ou não?

— Você não vai querer saber... — Diana disse encostando na parede e cruzando os braços.

— Eu estava amarrada, lógico que eu quero saber!

— Você não se lembra mesmo de nada?

— Do que especificamente eu me lembraria?

— Vamos ver... você toda melancólica falando sobre arrependimentos e contando quase todos os seus podres... que mais? Ah! A parte mais interessante! Você me beijou, falou que eu era bonita, queria me agarrar a todo custo!

Mia deu um sorriso sarcástico e desacreditado. — Conta outra! Eu? Você está sonhando comigo!

— Acordei com você em cima de mim completamente pelada com a língua dentro da minha boca.

— Eu jamais faria um absurdo desses! Ainda mais com você!

— Disse que eu era bonita... que a minha boca dava vontade de beijar. Queria até me dar uma linguada. — Diana pôs a ponta da língua para fora e a balançou de uma lado para o outro. Mia ficou com o olhar arregalado e com o rosto corad9. Se tivesse um buraco para se enfiar dentro naquele momento, ela entraria e não sairia nunca mais. Tinha que ser mentira.

— Isso nunca aconteceria.

— Sou uma péssima mentirosa, você saberia se eu estivesse mentindo.

— Não pode ser... Eu...

— Você estava com febre. Deve ser coisa de engeliana. A genética diferentona. Disse até que me amava.

— Isso é... Não... Não é possível.

— Agora vamos, temos que andar pela cidade. A velha também me arrumou uma bengala. Se perguntarem se somos amigas, nossos maridos morreram quando fomos atacadas por um urso. Vai ser difícil disfarçar sua identidade por causa dos seus olhos, mas a gente evita conversar, mantenha a cabeça baixa o máximo que puder. 

— Eu não posso ter feito isso com você! Eu te odeio! Eu ia querer te beijar? E você também é mulher! Eu não gosto de mulher, eu gosto de homem!

— Já esteve com uma mulher antes? 

— Não.

— Então como sabe que não gosta?

— Essas coisas a gente sabe!

— Sei... se você diz... Agora vamos logo! — Diana virou as costas e abriu a porta. 

— Me ajuda a abotoar essa droga de vestido! 

 A rainha girou sobre os calcanhares e fechou a porta e foi ajudar Mia. O vestido tinha botões pequenos que era necessário um pouco de paciência para vestir. Como ela precisava esperar Mia acordar, conseguiu vestir com calma por incrível que pareça. Seus dedos quentes tocaram as costas de Mia, que fechou os olhos ao imaginar que ela tinha feito mesmo aquilo. Beijar Diana era mesmo algo tão absurdo assim ou era seu inconsciente aparecendo numa hora inoportuna?

— Eu não vou levar para o coração. — Diana disse abotoando o oitavo botão do vestido. — Estava delirando.

— Eu fiz mesmo isso?

— Fez. Pior que fez. Parecia uma gata no cio. Falando um monte de coisas ao mesmo tempo. — Diana fechou o último botão e depois virou Mia para si. — É só um beijo. Não foi nada demais. Tá, você tocou meio seio também e acho que se eu tivesse deixado, você tinha feito mais coisa. Mas... estamos num lugar estranho só eu e você, é normal a gente perder um pouco a sanidade.

— Já disse o que acho da sua empatia. Seja como for, eu não aceito... — Mia parou de falar no instante em que Diana selou um beijo na boca dela.

— Viu? É só um beijo. Agora pode falar que eu que te beijei. Agora vamos.

Mia ficou sem reação. Ficou parada olhando para Diana abrir a porta e seguir para fora do quarto. Quando ela teve forças, ela saiu do lugar se apoiando na bengala ainda tentando entender tudo que estava acontecendo. Sentia as orelhas queimarem, o rosto, sentia como se tivesse mil borboletas no estômago. Sentia-se uma completa idiota.

As duas passaram pela entrada da pensão e viram alguns hóspedes tomando café da manhã. Elas sentaram-se à mesa redonda sendo observadas de soslaio por todos ali. Um homem careca com porte militar, o homem do jornal do dia anterior, e uma mulher que parecia uma artista, usando um vestido vermelho com luvas de veludo e chapéu espalhafatoso.

Dorotheia colocou o desjejum sobre a mesa e sussurrou para Diana. — Se você duas forem um casal, não deixe ninguém perceber.

Diana assentiu com a cabeça e continuou a observar o local. Quando terminaram a refeição, elas se aproximaram do balcão onde Dorotheia estava.

— Nós gostaríamos de dar uma volta na cidade. — Diana disse com a voz baixa.

Dorotheia mexeu embaixo do balcão, tirou duas sacolas de tecido e entregou para a rainha.

— Estão fazendo compras. A mulher que está com você é sua criada, não é fácil explicar esses olhos dourados por aí. Use esse chapéu para parecer um pouco mais rica.

— Por que está me ajudando? — Diana disse ao pegar o chapéu de tecido azul escuro com detalhes florais.

— Quem sabe? Mas... — Ela se aproximou mais das duas e disse quase inaudível. — É o que Erste quer que façamos. Mas não diga o nome dele por aqui. Aqui é Elend quem faz milagres. Sei que não são daqui.

— Para onde fica Frostheimer? — Diana perguntou, enquanto isso, Mia olhava para os outros por cima dos ombros.

— Norte. Mas é bem longe. A pé vai levar uns 20 dias de caminhada.

— Quê? 

— Fica do outro lado do país.

— Que merda!

— E é só o que posso fazer, precisam deixar a minha pensão hoje mesmo. Tenho amor à minha vida.

Diana soltou os ombros pesadamente e olhou para Mia que franziu o cenho. 

— Vamos logo, ficar aqui só piora nossa situação.— Obrigada Dorotheia.

— Por nada. Gostaria de ajudar mais... — Dorotheia olhou para o homem no canto lendo o jornal. — Mas eu não posso.

— Já ajudou muito.

Diana e Mia saíram da pensão apenas com a roupa do corpo, um chapéu, uma faca na bota de Diana e uma sacola de tecido. Não tinham mais nada, nenhum centavo sequer. E a dona da pensão tinha dito que dava para uns dois dias. 

As ruas eram de pedras irregulares. O lugar estava sempre coberto de neve, e os flocos brancos caíam suavemente. As pessoas caminhavam apressadas, envoltas em seus casacos pesados e cachecóis grossos, deixando para trás rastros na neve acumulada. Mas seus olhares sempre se voltavam para as duas.

Os olhos de Mia tiravam qualquer chance de passar despercebida.

À medida que andavam pelas ruas, elas viram as barracas com pouquíssimas coisas à venda, não havia ostentação, nem opulência. As luzes dos postes de ferro fundido, lançavam um brilho amarelado nas calçadas de pedra, criando sombras dançantes que acompanhavam o movimento das pessoas. Mesmo durante o dia, nunca parecia que estava claro o suficiente em Nordwein. O som das conversas ecoava pelo ar frio, misturando-se com o som distante das carruagens.

Diana segurava o braço de Mia tentando ajudar a mulher que ainda sofria para caminhar.

— Temos que dar um jeito de sair daqui. — Diana disse sussurrando. — Não somos bem vindas aqui.

— Vamos logo.

A cidade não eram tão grande, em questão de minutos elas conseguiriam sair da cidade e seguir rumo ao norte. Pelo menos era o que pensavam. Quando dobraram a esquina já podiam ver a floresta de árvores mortas que indicava a saída da cidade. 

— Merda!

Cercando a cidade um grupo de soldados. A farda era um casaco pesado de lã de cor verde-oliva, com botões de metal alinhados verticalmente na frente. O casaco tinha uma gola alta. As calças eram também de lã, com um corte reto, em um tom correspondente ao casaco. Os sapatos eram robustos, feitos de couro resistente. Os soldados também usavam um chapéu distintivo, de pele com orelhas. Além de uma faixa de couro. Não precisava ser muito esperto para saber o que eles procuravam.

Diana apertou o braço de Mia e olhou ao redor buscando uma saída, para todo canto que olhava havia soldados fortemente armados.

— Vamos voltar. — Quando Diana se virou havia mais soldados. 

— Estamos cercadas. — Mia disse tentando se manter firme sobre a perna machucada.

Diana abaixou a cabeça e continuou andando em meio às pessoas nas ruas. Segurou firme a mão de Mia e seguiu para frente olhando as barracas como se estivesse mesmo fazendo compras. Mia olhou de soslaio e viu o homem da pensão, o que lia o jornal conversando com um dos soldados e apontando para as duas e ao lado dele Dorotheia, a dona da pensão.

— Ela nos entregou...

— Que? — Diana olhou na direção que Mia olhava e viu Dorotheia apontando para o guarda, descrevendo em detalhes as duas forasteiras.

— Merda...

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro