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🔥29 - Sabor amargo de arrependimento

A chegada de Klaus movimentou o QG dos Lobos Negros. O nome do Cão de Guerra era bem conhecido, ele querendo ou não. Nos primeiros dias eles ficaram isolados dos demais para uma "adaptação", a pedido de Mia. Algo que Samir foi contra. Já fazia bastante tempo que eles estavam tendo divergências.

Mia se preparava para dormir naquela noite, observando a cidade de sua janela, a cidade parecia caótica e calma ao mesmo tempo. Assim como a própria Mia. Samir chegou devagar no quarto e sentou-se na cama olhando para a mulher. O eisegeano soltou um suspiro pesado e encostou na cabeceira da cama.

— Manter o cão de guerra aqui é uma loucura.

— Eu sei o que estou fazendo. — Ela disse tirando a calça e ficando somente com uma camiseta.

— Pode saber, mas eu ainda acho que manter ele aqui é uma loucura. Deveria matar ele de uma vez e mandar a cabeça para a Sangue de Fogo como aviso.

— Não.

— E além de tudo, você ainda por cima espalhou por toda parte que ele é seu aliado.

Mia virou-se para Samir com o olhar furioso e se aproximou do homem a passadas largas. — Eu sei o que estou fazendo!

— A Sangue de Fogo vai vir até aqui! Vai vir buscar o que é dela!

— Ele não é dela!

— Eles eram um casal, fugiram daqui juntos, acha que ele será leal a você?

— Acha que sou tão burra assim?

— Eu só acho que deveria pensar direito, Mia.

— Se for para ficar questionando as minhas ordens, sugiro que repense seu lugar aqui.

— Meu lugar? — Samir se levantou indignado e se aproximou da mulher. — Como assim o meu lugar?

— Eu sou a líder, Samir. Eu decido o que é melhor. Se preferir pode voltar correndo para o seu reizinho.

— Ele pelo menos me ouvia. — Samir virou as costas e seguiu para a saída do quarto.

— Onde você vai? — Mia perguntou em tom autoritário.

— Para algum lugar longe de você.

— Eu ainda sou a líder!

— Você não me deixa esquecer isso!

Samir saiu do quarto irritado e passou por Ygritte que ainda acenou para o homem, mas ele simplesmente a ignorou. A ruiva viu o homem se afastar e depois seguiu para a direção contrária, até o quarto de Cairo. O soldado abriu a porta meio sonolento.

— Ygritte? O Jonas está no quarto. A gente se vê outro dia.

— Eu preciso conversar com você. Mas não pode ser aqui.

— Me espere do lado de fora, já to indo.

Ygritte saiu do QG tentando despistar os demais. Ela andar por aí não era novidade, mas todo cuidado era pouco. Ela saiu do QG, tirou um cigarro e um isqueiro do bolso e acendeu. Deu uma tragada e jogou fumaça para cima. Algum tempo depois, Cairo se aproximou da mulher, escorou na parede e pediu a ela o cigarro.

— E então?

— Samir e Mia estão brigando. — Ela disse sussurrando.

— Você está espionando? O que eu disse para você sobre isso?

— Eu estou buscando minha sobrevivência. Tudo que eu puder saber sobre essa mulher pode ajudar.

— Eu entendo que você queira que ela pague por tudo que ela fez, mas é perigoso.

— Cairo, eu não tenho mais medo. Eu tenho ódio. E eu vou usar esse ódio para acabar com a raça dela.

— Então por que não vai atrás de Heide de uma vez?

— E ser torturada outra vez? Não. Além do mais, Heide está em desvantagem, principalmente com a fuga do cão de guerra.

— E o que pretende fazer, ruiva?

— Eu não sei ainda, mas vou pensar em algo. Quem sabe nós dois não damos o fora daqui e vamos para um lugar tranquilo?

— Tá, mas cuidado. — Cairo jogou a bituca no chão e apagou com o pé. — Tenho que ir. Antes que Jonas venha atrás de mim.

— Eu já entro.

Ygritte viu Cairo se afastar e em seguida olhou para os lados e caminhou em direção ao QG. Foi muito rápido, antes que ela pudesse entrar alguém tapou sua boca com a mão e ela pode sentir a faca em seu pescoço.

— Calada, ou eu corto sua garganta.

(...)

Samir subiu para o terraço ainda nervoso com Mia. Parece que cada vez mais a relação dos dois ficava estranha e difícil. Até mesmo o contato físico era raro e quando acontecia ela parecia estar pensando em qualquer outra coisa.

Não que para ele também não estivesse ruim, mas ele ao menos tentava.

Ele respirou fundo e voltou para dentro do QG, se demorasse demais provavelmente ela faria uma cena tão grande que o deixaria desconfortável e cansado. Exausto na verdade. Kiran era complicado, mas nunca chegava a tanto. No fim, Samir sentia que ele seria sempre o cara que faria as vontades de líderes mimados e problemáticos.

Ele bateu de leve na porta, abriu devagar e entrou no quarto de cabeça baixa. Mia olhou para ele e disse sem se levantar da cama. — Passou o chilique?

— Eu só queria que você me ouvisse.

— Mas sabemos que eu estou certa, né?

— Claro, meu amor.

— Samir, somos eu e você. Não tem mais nenhum lugar que você possa ir. Kiran quer te punir por sua conduta. E nenhuma outra província vai querer se aliar a você. Já que você traiu o seu melhor amigo e seu rei.

— Sim.

— Agora vem, vamos deitar. Amanhã quero que feche uns acordos para mim. E ainda tenho que ter uma conversa amigável com o Klaus. Temos tanto a conversar!

— Claro, meu amor. — Samir engoliu seco e se deitou na cama ao lado de Mia, mas naquela noite mal conseguiu dormir. A mente dele reviveu cada momento até ali desde que conheceu Mia. Tinha um gosto amargo de arrependimento.

No dia seguinte, Samir acordou cedo apesar que a noite tinha sido ruim. Mal havia dormido. Ergueu o corpo na cama e olhou para o lado, Mia já havia se levantado. Eisenhower estava com um clima muito quente. Nenhuma novidade para a época do ano. Seu corpo estava suado, ele pensou logo num banho. Eiseges Tal era frio em todos os dias do ano, ele ainda achava estranho viver num clima quente. Mas era bom não ter que ficar empacotado o dia todo.

Samir era um homem bonito, disso não havia dúvidas. Ele sempre estava sendo observado por mulheres e até mesmo por homens. Os cabelos estavam ainda maiores, tinha a pele agora bronzeada, os olhos castanhos eram sedutores. Ele vestiu a camiseta preta marcando os braços e uma calça da mesma cor e calçou as botas, arrumou o cabelo num coque e depois saiu do quarto.

Ele caminhou pelo corredor e passou por uma das jovens que era membro dos Lobos Negros. Cat era jovem, não devia ter nem 20 anos. Havia se juntado à causa no dia da queda do portão de Graben. Uma guemeisana loira, baixinha, filha de um lorde local que sempre foi rebelde. Ela sorriu para o homem e acenou insinuante e abriu a porta do almoxarifado. Ele entendeu o recado e seguiu para o local olhando para os lados e trancou a porta atrás de si.

Não demorou muito tempo, em questão de minutos ela estava com as pernas entrelaçadas na cintura dele segurando o armário com as duas mãos para cima enquanto ele se movimentava bruscamente. A blusa da moça erguida até em cima, deixando os seios redondos e rosados à mostra. Ele segurava firme na cintura dela. Não que ele gostasse de trair a Mia, mas ele não era de ferro. Mesmo as mulheres temendo a fúria da Loba, nenhuma delas resistia ao olhar encantador e a gentileza de Samir Zaran. Quando terminaram, a moça já vestida deu mais um beijo em Samir e depois mordeu o lábio inferior.

— Sou louca por você. O dia que estiver cansado dela, estaria aqui sempre para você.

— Sabe que tenho meus motivos.

— Além dela, é só eu? — Não era. Mas ele não destruir o coração da moça. — Sinto você tão solitário e carente. Eu posso ser tudo para você.

— E sou muito grato, meu anjo. Mas a Mia precisa de mim.

— Eu te amo, Samir.

A moça saiu sem ouvir um eu também. Mas nem era necessário, Samir era o tipo de homem que ilude uma pessoa com meia dúzia de palavras. E com aquele rosto e corpo bonitos era mais fácil ainda. Kiran dizia que ele seria um político nato. Conquistaria massas sem esforço. Mas ele sempre preferiu os bastidores.

Em seguida, ele saiu do local e foi até o escritório de Mia. Ela já estava falando alto e gesticulando sem parar. Ele entrou, preparou um chá e sentou-se afastado da conversa. Samir alisava a xícara de chá enquanto ouvia uma discussão de Mia com um de seus soldados. Nada de novo até então. Discutir era o esporte favorito dela. Ninguém havia aceitado muito bem que ela havia recebido o Cão de Guerra como seu aliado e ainda espalhasse aos quatro ventos. Mas ele estava cansado de debater, já fazia muito tempo que ela fazia tudo o que ela queria.

Não era nada disso que ele tinha planejado. Não era mesmo. Mas para Mia todo tanto de poder ainda era pouco. Nunca era suficiente. Era uma necessidade de controle absurda. E ele não sabia mais o que fazer.

Ele gostava dela. Gostava de verdade. Mas depois de alguns anos parecia ter esfriado. Ela já não se importava com ele como antes. Na verdade, talvez ela nunca tenha se importado. Ela passava a maior parte do tempo planejando, ou acordada com medo de ser atacada durante a noite.

E com a traição de Egon e Kara, tudo ficou pior.

Ele se levantou tentando fugir do barulho cansativo da discussão e foi até o único lugar tranquilo naquele inferno. O terraço do QG. Uma vista incrível, apesar de todo o clima de destruição e caos. Graben parecia uma cicatriz em Eisenhower. Ele sempre teve essa sensação quando parava para observar aquela cidade. Ele tirou do bolso um cantil de um destilado que havia ganhado de um dos soldados. O homem disse que era feito de arroz e que havia trago consigo de Quelle. Ele colocou o cantil na boca e sentiu o gosto levemente fermentado e fez uma careta. Não era a bebida mais gostosa que havia bebido.

Depois ficou um bom tempo sentado no chão olhando a cidade que parecia uma mãe pedindo socorro para ajudar seus filhos. Ele devia ter imaginado que Mia ia longe demais. Devia ter pensado a respeito de tudo isso. Mas agora era tarde demais. Ele ouviu passos vindo em sua direção e olhou por cima dos ombros Ygritte se aproximar e sentar ao seu lado.

— Posso beber o que está bebendo? — Ela disse apontando para o cantil. Samir deu uma olhada na mulher. Os cabelos curtos mal cuidados, o olhar triste e vazio. As inúmeras cicatrizes nos pulsos. Não era preciso ser muito esperto para saber o que ela estava sentindo e passando. Ele era cúmplice disso.

— É um vinho de arroz. Pelo menos foi o que Kamado me disse.

— Acho que bebi uma vez com um cliente vindo de Quelle.

— Não é muito gostoso.

— Não mesmo. — Ela disse depois de dar uma longa golada.

— Em que posso te ajudar, Ygritte?

— A gente nunca conversou, né? Estava sempre nas sombras da Loba... Esse título combina com ela, né? Predadora nata. Furiosa.

— Eu estava sempre muito ocupado, como você deve perceber. Eu cuido de rotas de navios, de contagem de armamento.

— Quase como um secretário. — Ygritte deu uma risadinha de canto.

— Sério que você não tem mais nada para fazer? A Mia não te deu uma tarefa?

— Nós negociamos recentemente. Estou praticamente aposentada.

— Nossa, que bom pra você. — Samir disse revirando os olhos.

Ygritte fixou o olhar numa barraca com uma família de sete pessoas onde antes era o muro que dividia Graben e Pantheon e soltou um suspiro pesado. — Você achou mesmo que ela ia mudar alguma coisa?

— O que? — Samir virou seu olhar para Ygritte que dessa vez não estava com o mesmo ar zombeteiro de sempre.

— Eu não vou mentir, eu vi você sozinho e vim porque eu sempre quis te perguntar uma coisa. Por que a Mia? Um homem nobre, conselheiro do rei mais rico de todas as províncias, larga tudo para ir atrás de uma forasteira qualquer que você nem conhecia? Isso não entra na minha mente e eu já tentei entender.

— Onde quer chegar, Ygritte? Não tenho tempo para joguinhos.

— Eu que te pergunto. Onde você pensou que isso daria? Não é possível que você não esteja vendo o mundo ruir ao seu redor. — Ygritte aponta para a cidade.

— Eu vejo. Mas eu sempre soube que haveria sacrifícios.

— Mentiroso. Nem você acredita nessa merda que você tá falando.

— O que quer que eu diga, Ygritte? Que eu estou feliz em ver todo esse caos? Eu sou de uma Província onde a criminalidade é quase zero.

— Vai me dizer que foi por amor? Por amor à Mia? Nem ela mesma se ama. Ela quer provar a todo custo que ela consegue. Que ela é forte e não é mais a engeliana suja do lado de Graben.

— Você anda com a linguinha bem solta. — Samir disse olhando ao redor para ver se não estavam sendo ouvidos. Estavam sozinhos, mas todo cuidado era pouco.

— Eu achei que você seria um general de braço firme. Um homem diferenciado que ia fazer e acontecer. Só que você não passa de um pau mandado da Mia. Um cachorrinho.

— Saia daqui antes que eu mesma jogue você daqui de cima, Ygritte. — Samir disse em tom ameaçador.

— Fique à vontade. Só me poupa o sofrimento de ter que fazer isso sozinha.

— Como ousa me chamar de pau mandado? Eu fui o conselheiro do Kiran desde os 16 anos! Eu ajudei ele a firmar negócios vantajosos para Eiseges Tal! A minha família serviu aos Zafir por anos! E eu iria servir ao Kiran até o dia da minha morte! — A raiva presente na voz de Samir fez Ygritte engolir seco, mas seu olhar era de curiosidade. Jamais tinha visto ele daquele jeito. O homem sempre ponderado e calmo.

— Fala daquele rei branco com tanto respeito. Por que o abandonou? Por que o traiu?

— Eu não o traí! Eu só não concordava com as ideias dele. — Mencionar o nome do rei deixou Samir desconfortável. Ygritte estreitou os olhos.

— Claro que o traiu. Deixou Eiseges Tal no meio da noite, com uma parte do exército dele, armamento...se isso não for traição, eu não sei mais o que é.

— Eu vou sair de perto de você antes que eu faça uma besteira. — Samir disse se levantando.

— O que foi? A verdade dói? Que no fundo você tem inveja do rei? Que você quis o lugar dele? Que você o odeia?

— E EU VOU FAZER O QUÊ AGORA? QUER QUE EU DIGA QUE ESTOU ARREPENDIDO? SIM, EU ESTOU! — O grito saiu abafado pelo choro preso na garganta. Samir sentiu o corpo pesado e sentou-se ao lado de Ygritte novamente e escondeu o rosto entre os braços que ele apoiou sobre os joelhos. A ruiva ficou em silêncio olhando para Samir chorando de soluçar.

— Eu... nossa! Também não precisa chorar.

— Vá logo correndo e conte para todo mundo. — Samir apoiou a palma da mão na testa.

— Não direi nada. Eu só não esperava isso.

— Acha que não sinto arrependimento? De pensar em quantas pessoas inocentes morreram no processo?

— E você achou que ninguém morreria? Que ela seria gentil? Faça-me o favor!

— Eu só queria ir para o mais longe dele que eu pudesse. Daquela obsessão que ele tinha por essa Sangue de Fogo. Eu achei que essa lenda ridícula não ia dar em nada.

— Aí quando você viu que era real se arrependeu? — Ygritte deu uma risada fria.

— Eu nunca quis trair o Kiran. Eu queria que ele entendesse que era uma loucura. Quando me aliei a Mia e ajudei ela, pensei que ele perceberia que não existia outra saída! Tem ideia de como são as coisas lá? Povo rico que não liga para nada, sabia que existe um lugar afastado do centro chamado Vale dos Porcos? Eles mantêm aqueles burgueses na boa vida enquanto eles não tem quase nada! Quase igual Graben mesmo!

— E a Mia foi sua melhor aposta?

— Eu cometi um erro.

— Um erro que custou muitas vidas. Belo conselheiro você é. Diz com orgulho que serviu a família Zafir e na primeira oportunidade enfiou uma faca nas costas do seu rei.

— Fiz isso para protegê-lo! Ele vai se destruir aliando a essa Sangue de Fogo! Se casou com ela e colocou um alvo bem no meio das suas costas!

— Mesmo assim eu estaria com ele até o fim!

— Falou a espiã! Quem você pensa que é para vir me dar lição de moral?

— Eu não trairia um amigo.

Samir deu uma risada sarcástica e depois olhou debochado para Ygritte. — Você estava disposta a ferrar todo mundo, Ygritte. Mas esse nem é seu nome, não é?

Ygritte sentiu a garganta queimar e os lábios tremerem. — Meu nome é Damares. Ygritte era a minha companheira de quarto. Nós chegamos na casa Flor juntas. A mãe dela a abandonou e eu fugi da casa onde eu ficava. Pantheon sempre pareceu um mar de rosas, mas só para quem tinha muito dinheiro. Nem todo guemeisano nasceu em berço de ouro. Eu perdi a minha mãe muito cedo e fiquei num abrigo com a madame. Um jeito chique de falar escravagista que é o que a Mora era. Abrigava crianças de todo lado, menos engelianos, ela dizia que eram podres . A gente apanhava umas três vezes por dia. No mínimo. Daí, quando eu tinha uns doze para treze anos ela me vendeu para a Casa Flor. Aí eu conheci a verdadeira Ygritte. Os cabelos dela eram longos e dourados. Olhos verdes claros. Sorriso doce. A moça mais linda que eu conheci. A gente se apoiou quando nossa virgindade foi vendida e tirada à força, a gente curava as feridas uma da outra quando os clientes batiam na gente, ou a dona da casa. Chorávamos juntas durante a noite e nos abraçávamos para esquentar do frio. Eu a amava mais que tudo na vida. Na verdade nunca amei ninguém como ela.

— Nossa que tocante... — Samir revirou os olhos.

— Pense como quiser. Continuando: Um dia um cliente passou do ponto. Ele bateu tanto nela que fraturou duas costelas, quebrou o braço e vários ossos do rosto. Além de ferimentos internos. Ela não durou nem uma semana depois disso. Chegou cheia de hematomas, a velha dona da casa estava cagando para nós. Deixou ela à míngua. Quando ela morreu, eu fiquei com tanta raiva que fui até o tal cliente e matei ele. Esfaqueei ela trinta e cinco vezes. Toda vez que lembro disso, eu sinto a mesma satisfação daquele dia. Daí, quando eu pensei que estava perdida, as outras garotas da Casa Flor me ajudaram a fugir. Me disseram para procurar uma tal de Heide, que ela recrutava garotas. Foi ideia dela usar o nome da Ygritte. Desde então eu uso esse nome. Eu usei tantas vezes que às vezes me esqueço de quem de fato sou. O nome dela foi o que me sobrou daquela época. É o que me faz ser forte. Ela era alguém muito melhor que eu.

— Acha que vou cair nessa historinha?

— Não espero que acredite. É a verdade e pronto. Melhor do que eu acreditar que você fez tudo para proteger o rei branco.

— Foda-se você e sua opnião. — Samir disse irritado.

— A única amiga que tive foi a Ygritte. E ela morreu sem que eu pudesse fazer nada. Se eu pudesse teria feito. Mesmo assim eu vinguei sua morte e se aquele porco estivesse vivo, eu faria de novo. E você? O que fez por seu amigo?

Ygritte encarou Samir friamente que ficou sem reação e depois engoliu seco, abaixando o olhar. — Não faça parecer que você também não é cúmplice nisso tudo. Que você também não cruzou os braços e deixou a Mia agir.

— Minhas mãos estão tão sujas quanto as suas. Eu também me arrependo de muitas coisas.

— Somos dois merdas no fim das contas.

— Somos sim. Só que... — Ygritte soltou um suspiro e enxugou o suor da testa com as costas das mãos. — ...ainda dá tempo para você.

— E o que vou fazer, Ygritte? Eu sou um traidor. Traí a pessoa que mais considerava e amava.

— Saia desse inferno. Melhor ser punido com honra pelo rei branco do que ser capacho dela. — Ygritte disse sussurrando a última parte.

— Não sei se consigo olhar para ele depois de tudo.

— Eu deveria ter feito diferente. Morrer era menos vergonhoso. Ao invés disso, deixei ela fazer o que queria. Eu fui fraca. Ser torturada pela Heide seria mais honroso. Faça o certo, Samir. Ou você vai ser contaminado por ela. E você sabe disso.

— Ela não escuta. Eu tentei! Muitas coisas eu quis evitar! Como o massacre em Wüstental!

— Nunca foi intenção dela te escutar.

— Eu não posso deixar ela... não agora. A gente se ama. — Ele disse a última parte desviando o olhar. Era difícil falar aquela frase depois do que tinha feito naquela manhã.

— Samir, você sabe que isso nunca foi amor, né? Quando ela achar que você não serve mais, ela te chuta que nem cachorro. Você não viu os olhos dela brilhando por causa do Cão de Guerra? Ele é mais interessante agora. Saia desse inferno, Samir. Recupere o resto de dignidade que existe em você. — Ygritte se levantou e caminhou em direção à saída do terraço. Samir a olhou por cima dos ombros.

— E você, Ygritte?

— Eu ainda tenho que purgar os meus pecados. Vou fazer isso por ela, pela Ygritte. Eu tenho pensado nisso nos últimos cinco anos.

Samir viu a ruiva sair e depois soltou um suspiro pesado. Queria poder voltar no tempo, quando ainda dava tempo de impedir tudo isso. Mas era tarde demais para isso.

(...)

Já haviam se passado alguns dias desde que chegaram ali. Klaus ouvia Mia dizer sobre os planos de guerra com um receio que mal conseguia esconder. A mudança de garota ingênua para uma líder de guerra foi tão drástica que ele teve dificuldades em entender e aceitar. Ela falava sobre as conquistas que teve com orgulho, como a tomada de Pantheon. Ele mantinha-se de ombros encolhidos escorado na parede sobre o olhar atento de um grupo de soldados dos Lobos Negros. Phill tamborilava os dedos na mesa discretamente.

— É isso. Fico muito feliz que tenha se juntado a causa, Klaus. Pensei que estivesse do lado da tal Sangue de Fogo, já que parece que fugiram juntos.

— Ela já seguiu a vida dela, né? Já que agora ela é a rainha consorte de Eiseges Tal.

— Uma rainha usurpadora. Mais uma na verdade. Bom, eu tenho que conversar com os líderes das alcateias. Ainda tenho que planejar a tomada de Lavafluss. Antes que uma das duas faça primeiro. Descanse mais um pouco Klaus, esteve preso por muito tempo.

— Obrigado, Mia.

Klaus e Phill seguiram lado a lado sendo acompanhados de perto por soldados Lobos Negros. Eles pararam em um dos quartos onde os dois dividiam e entraram discretamente. Klaus abaixou disfarçadamente e fingiu pegar algo no chão, enquanto Phill sentou-se na cama.

— Estamos sendo vigiados. — Klaus disse sussurrando.

— Isso era óbvio.

— Quando você disse que era para virmos para cá, não disse que seria pela porta da frente.

— Viu o tamanho do exército dela? Foi uma aposta.

— Muito arriscada inclusive. Vamos.

Klaus seguiu para fora dos aposentos sendo seguido por Phill e seguiram caminhando pelo QG. Pela forma dos soldados agirem eles sabiam que não iriam sair dali tão fácil. Lobos Negros por toda parte, todos fortemente armados.

Eles andaram por todo o local olhando cada detalhe. Buscando uma rota alternativa, ou qualquer falha que pudesse ajudar. A ideia era observar o máximo que podiam e bolar uma estratégia para sair de Eisenhower em segurança. A jornada pelo deserto não seria uma tarefa fácil.

Klaus e Phill se separaram. O cão de guerra seguiu para a área onde as Alcateias normalmente ficavam e viu Mia de longe dando instruções para os soldados. Os olhos dourados da mulher se fixaram nele e um sorriso fino surgiu em seu rosto. Em seguida, ela saiu de onde estava e foi até o baixinho que tentava disfarçar a tensão naquele momento.

— Klaus, nem acredito que esteja aqui. — Ela disse sorridente acompanhando Klaus pelos corredores.

— Foram muitos anos, né?

— Quer tomar um chá? Você gostava de chá, né?

— Ainda gosto muito na verdade.

— Vem. — Mia acenou para Klaus e eles foram para um quarto pequeno, que antes era o depósito do antigo Fórum. Havia uma cama de solteiro, uma mesa com duas cadeiras, um fogão pequeno e uma chaleira. Mia acenou para que Klaus se sentasse enquanto ela começou a preparar o chá.

— Aqui é um...

— Eu tentei recriar o local onde eu morava.Venho aqui para pensar. Aqui pelo menos não me deixa mal, como na minha antiga casa. Parece que tudo lá me lembra minha mãe.

— Eu sinto muito.

— Tá tudo bem. — Ela esquentou a água e preparou o chá em duas xícaras de porcelana branca e sentou-se diante de Klaus e ficou encarando o líquido verde por um bom tempo.

— Sabe que não confio em você, né?

— Sei.

— Se você pisar fora da linha, eu vou matar você e todos os outros.

— Sei disso também.

— Sei que a tal Sangue de Fogo era sua mulher. — Mia ergueu o olhar dourado para Klaus que mantinha a postura firme diante dela.

— Sim. Ela era. — Klaus disse sem mudar sua expressão, embora por dentro seu coração até doesse quando nome dela era citado.

— O que ela tem de tão especial? Parece que todo mundo que se aproxima dela fica enfeitiçado.

— Eu não sei te dizer. Para mim foram muitas coisas.

— Entendo... Será que o Egon e a Kara também tem muitas coisas que gostam nela? — Ela encostou na cadeira e soltou um suspiro pesado. — Normal, né? Ela é uma rainha. Tem sangue nobre. Não é como eu. Uma engeliana imunda e pulguenta de Graben.

— É a lider de um Exército grandioso. As pessoas te respeitam.

— Elas me temem. É diferente. Mas... ela não. Diana... Ela, todo mundo ama. Idolatra.

— Cada uma de vocês tem algo para se destacar.

— Por que escolheu a mim, Klaus? Se a mulher perfeita está em Eiseges Tal rodeada de tantas pessoas? Incluindo aliados meus. Ex-aliados, na verdade.

— Ela se casou com outro, enquanto eu estava preso. Ela agora é uma rainha, não precisa mais de mim. Mas eu vejo que você precisa.

— Sabia que eu gostava de você? Antes de tudo isso? Eu achava você diferente de todos os ridículos que conheci. Mas não tivemos tempo de nos conhecer direito.

— Uma pena mesmo.

— Mas ela tomou meu lugar. De novo. Ela está sempre no meu caminho. Está sempre um passo à frente. Como uma rainha e eu o lacaio. Eu caminhando atrás dela sempre dois passos atrás. Ela teve tudo! Até mesmo o homem que eu desejei. — Mia dizia de forma sincera, por mais que Klaus ainda desconfiasse dela. Havia rancor em sua voz, raiva, tristeza e decepção.

— Ela também não teve uma vida muito fácil. — Klaus disse tomando cuidado com cada palavra. Dependendo do andar da conversa, ele teria que agir rapidamente.

— Mesmo? O que ela fez nos últimos cinco anos? Além de trepar com você?

— Estávamos em guerra, com untotes.

— Sei. Eu sinto muito, Klaus. Mas não vou confiar em você. Seus olhos brilham quando fala sobre ela. Ainda a ama e eu tenho certeza de que jamais a trairia. Na primeira oportunidade vai enfiar uma faca nas minhas costas como todos eles.

— Então, por que não me mata logo? Já que tem tanta certeza disso. — Klaus encarou Mia com as sobrancelhas franzidas.

— E perder a oportunidade de ver a Sangue de Fogo cara a cara?

— E como tem tanta certeza que ela vai me aceitar como moeda de troca? Ela pode simplesmente ignorar tudo.

— É o que vamos descobrir.

— Foi por isso que mandou avisar aos quatro ventos que eu estava aqui? Está pagando para ver?

— Eu soube por algumas fontes que vocês eram muito próximos. Só não sabia que ela era sua mulher. Minha ideia é esperar ela entrar em contato e pedir que você volte. Ou me pergunte se você está preso aqui. Podemos negociar.

Klaus abaixou o olhar e levou a xícara à boca e deu um gole no seu chá, já morno naquele momento. Ele ficou um tempo em silêncio observando a folhinha boiando no líquido verde. Depois depositou o recipiente sobre a mesa e voltou seu olhar entediado para Mia.

— Diana não negocia. Aliás, eu nem sei se ela sabe o que isso significa. E seria muita prepotência da minha parte achar que ela vai arriscar a atual posição dela por um mero ninguém como eu. Ela se deita com um rei. E além de tudo, ela ateou fogo na minha direção. Como confiar nela?

— Eu vou matar ela, Klaus. É bom que saiba disso.

— Estamos em guerra.

Mia se levantou e caminhou em direção à saída, mas antes se virou para Klaus e disse olhando fixamente em seus olhos. — Eu gostava de você Klaus, sempre foi um homem decente. Mesmo depois de tudo, ainda te admiro. Queria ter sido amada por alguém como você. Pode tentar me enganar o quanto quiser, seus olhos te entregam toda vez que eu digo: "Diana"... Sortuda do caralho.

Mia saiu do quarto e quando a viu longe o bastante, Klaus soltou os ombros tensos. A ideia de Phill era a pior de todos os tempos.

(...)

Mia seguiu para seus aposentos, tirou as roupas e se olhou nua no espelho. Marcas de cicatrizes eram como capítulos de uma longa história. Ela entrou na água e ficou na banheira por mais de uma hora pensando em Diana e na raiva que tinha dela sem nem ao menos a conhecer. Ela olhou no relógio de mesa sobre a cômoda. Samir estava atrasado. Ela se vestiu e sentou-se na cama e depois viu um pequeno papel dobrado embaixo de seu travesseiro. Ela desdobrou e viu a letra de Samir e soltou o corpo na cabeceira da cama. Nenhuma carta ao menos, era um bilhete apenas escrito:

"Eu não posso mais, vai ter que seguir sozinha de agora em diante. Eu me diverti bastante. Espero que encontre aquilo que tanto procura.

Com amor, Samir"

Mia sentiu os lábios tremerem e depois jogou o papel sobre a cama. — Nem ao mesmo foi uma despedida. Babaca.

Mia ficou imóvel na cama até adormecer. O sono repentino e sem sonhos a fez dormir profundamente por quatro horas na mesma posição. Ela acordou com gritos vindo de fora do QG e ergueu o corpo assustada, se vestiu, calçou as botas e seguiu para o local de onde vinha o barulho. Ela bateu a mão nos interruptores. Nada. Viu um dos soldados correndo para fora e o segurou pelo braço.

— Que está acontecendo?

— Cortaram a energia!

— Que?

— Estamos sendo atacados.

A movimentação no QG começou. Mia correu na direção dos aposentos de Klaus. Sem dúvidas era obra daquele cão de guerra. Ela esmurrou a porta e o rosto entediado de Klaus surgiu.

— Mia? O que houve? — Klaus perguntou desconfiado. Dentro do quarto, Phill dormia profundamente na outra cama.

— Eu... achei que... não é você?

— Não estou entendendo. Há algo que eu possa ajudar?

— Estamos sendo atacados.

Klaus franziu o cenho e fechou a porta e deu dois sopapos no tio que acordou assustado. — Que?

— Levanta! Parece que estamos sendo atacados.

— Heide?

— Provavelmente.

Klaus e Phill saíram apressados do quarto. Mia estava dando ordens aos soldados que tentavam diminuir a escuridão com lanternas e tochas.

— Quantos são? — Mia gritou para um dos soldados.

— Não sabemos ainda! Os vigias foram abatidos. A luz foi cortada, deve ser um grupo grande, mas devem ser bons em se esconder.

— Mas que droga! Protejam as entradas! E mande grupos para as alas mais importantes. Localize os líderes das alcateias!

— Será a Heide?

— Certamente, mas estou surpresa por ela tentar uma abordagem destas depois de tanto tempo.

— E quanto a mim, Mia? — Klaus perguntou, se aproximando da líder.

— Eu preciso de você vivo, mas não confio em você. Fique ao meu lado por garantia, assim me certifico que não fará nada.

— Certo.

— Vamos para o andar de cima. — Mia disse saindo apressada para sua sala. De cima ela teria a visão do que acontecia lá fora e poderia tentar uma abordagem diferente. Eles entraram na sala e fizeram uma barricada na porta com uma cadeira e uma cômoda pesada. Phill olhava para Klaus desconfiado. Ele conhecia Heide, uma estratégia dessas não parecia ser obra da rainha, mesmo que ela tivesse as fúrias, ela não arriscaria suas melhores armas contra um exército tão grande. Ela ainda tinha que se manter viva. Seria o rei branco? Não, ele provavelmente viria do alto com seus dirigíveis e faria uma entrada mais triunfal.

Mia foi até a janela e olhou ao redor do QG, não havia nada. Nenhum sinal de um grupo, ou de soldados. Ela ficou apreensiva. Já fazia muito tempo que ela não sentia aquela sensação. Suas mãos estavam trêmulas, o suor frio escorria pelas costas. Isso era... medo?

— Não tem ninguém lá fora. Eles já estão aqui dentro. Como isso pôde acontecer? — Mia disse apreensiva para Klaus que estava vigiando a porta junto com o tio.

— Talvez tenham cortado a energia e estão escondidos aguardando para atacar e...

Sons de disparos começaram no andar de baixo, gritos de horror dos soldados. Mia estava sentindo o coração bater rápido e a respiração a falhar. Ela parecia ter se esquecido como se respira. O que estava acontecendo? Ela era a Loba! Não tinha medo de nada, nem de ninguém.

— Eu vou proteger a porta e o Klaus, a janela. — Phill disse se aproximando da barricada.

— Merda! — Mia sentia uma tensão tomar conta de seu corpo, os pelos dos braços eriçados. Um calafrio percorria seu corpo.

Os sons de tiros cessaram. Do lado de fora Klaus viu as alcateias correndo na direção do QG, os que estavam na linha de frente foram atingidos por uma explosão. Armadilhas?

— O que está acontecendo? — Mia gritou para o cão de guerra.

— O QG está cercado de armadilhas.

— O que? — Mia se aproximou da janela.

Um segundo grupo se aproximou do QG, ao se aproximarem da porta acionaram uma segunda armadilha, quatro membros das alcateias tiveram a cabeça decepada. Mia franziu a testa e deu dois passos para trás. Klaus ainda observou o restante se aproximar desconfiado da porta e tentar abrir todas as portas e gritar: Está trancada por dentro, vamos arrombar! Um primeiro estrondo, um segundo estrondo e no terceiro o estrondo veio da porta da frente da sala de Mia.

— Estão aqui! — Klaus gritou para Mia. — Temos que sair pela janela, tem alguma rota de fuga aqui?

— Não... — Mia estava parada de olhos arregalados para a porta que continuava a ser forçada do lado de fora.

— Temos que te tirar daqui! — Klaus gritou para a mulher que mantinha-se imóvel.

— Não vou a lugar algum. Eu não vou fugir com medo!

— Você é a líder, pessoas estão morrendo por você lá fora! — Phill gritou para a mulher que pegou uma arma e se preparou para o combate. Klaus soltou um suspiro pesado e pegou uma espada e se pôs ao lado dela.

Quando a porta se estrondou mais uma vez, o impacto partiu a cômoda no meio, quebrou a cadeira em vários pedaços, a porta se quebrou e soltou-se do batente. Como uma explosão. Mia apontou a arma para a porta e prendeu a respiração. Do escuro um par de olhos esverdeados surgiu, junto com uma respiração que parecia vapor e fumaça. Os passos firmes de uma pessoa alta e logo em seguida uma silhueta feminina. Phill atirou na mulher, mas a bala ricocheteou. Ela nem olhou para ele, seu olhar estava fixo em Mia.

Klaus deixou a espada cair quando finalmente percebeu quem estava na porta. E disse num sussurro.

— Diana...

— Você deve ser a Loba. — Diana disse com os dentes cerrados para a mulher que agora estava à frente de Klaus.

— Você...? — Mia disse ainda com a arma apontada para Diana.

— Eu vou te dizer só uma vez, sai de perto dele, ou eu vou mostrar para você dores que você jamais imaginou que sentiria.

Mia firmou os olhos e viu a imagem da mulher nitidamente, e pela primeira vez na vida, ela soube o que realmente era estar apavorada.

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