🔥24 - Neve branca e flores azuis
A notícia de que Diana havia reivindicado seu nome chegou aos ouvidos do mundo inteiro. Heide ainda se mantinha presa dentro do castelo. Alguns diziam que o que ela fazia era refazer estratégias de guerra na esperança de não ser derrotada.
Os países enviaram cartas para Ruhig exigindo explicações. Outros enviaram cartas ao próprio Rei Branco. A sala de guerra estava repleta de cartas sobre a mesa ao qual o rei abriu uma a uma pessoalmente e as leu. Diana, Veridiana e Zeeba aguardavam sentados à mesa oval, ajudando Kiran a organizar as cartas.
— E então, Majestade? — Zeeba perguntou analisando uma das correspondências.
— Estão furiosos. Não a reconhecem como rainha. Outros dizem que o legado Drachen não existe mais, entre outras coisas.
— Isso é ruim, se não a reconhecem, não se aliaram à nossa causa. Pior, pode começar uma guerra contra nós. — Veridiana segurava o queixo pensativa.
— Isso é preocupante. — Zeeba cruza os braços e dá um suspiro pesado.
— Olha, não se preocupem com isso agora, continuem o treinamento de vocês e a se prepararem. A Heide poderá nos atacar a qualquer momento. — Todos se levantam para sair — Você não Diana. Quero que fique, precisamos conversar.
Diana girou sobre os calcanhares e voltou até o rei que acenou para que ela se sentasse diante dele. Ele recostou na sua poltrona e massageou as pálpebras e deu um suspiro pesado.
— Eu sabia que isso ia acontecer. — Ele disse se lamentando.
— Eles não me aceitariam assim tão fácil. E pelo que falaram minha ancestral não era assim tão querida.
— Calandiva foi incrível. Ela uniu nossos povos quando tudo parecia perdido. E... — Kiran segurou as mãos de Diana que estavam sobre a mesa. — Eu acredito que você fará o mesmo.
Diana curvou levemente as sobrancelhas e ficou olhando para o rei acariciar suas mãos delicadamente. — Você deposita muita fé em mim, e eu não sei se posso fazer tudo isso que acredita que posso fazer.
— Diana, eu te procurei a minha vida toda. A minha família te procurou. Quando todos acreditavam que Sangue de Fogo era só uma lenda, nós fomos até o fim para encontrar você e mostrar ao mundo que você é real.
Diana soltou as mãos do rei, e se levantou. — Eu preciso ir... se não se importar.
— Claro.
Diana saiu da sala de guerra sem olhar para trás. Não que ela tivesse medo, ela só não se sentia pronta. Era informação demais.
(...)
Missai passava a maior parte do tempo em seu laboratório, coletando amostras e fazendo análises. Ela conseguiu a amostra de sangue de Diana com certa dificuldade porque a pele da ex-soldado estava ficando mais resistente. Ela olhou pelo microscópio e deu um passo para trás com o que viu. O sangue brilhava como lava e quando ela foi checar a temperatura parecia que estava fervendo. Ela pegou um pouco do líquido entregue por Veridiana e pingou sobre o sangue, que depois voltou ao normal. Porém aos poucos o sangue voltava à sua composição normal. Algum tempo depois, Missai ouviu alguém se aproximar.
— Você praticamente mora nesse laboratório. — Egon disse se aproximando devagar.
— Eu preciso encontrar uma cura para a maldição engel.
— Não sabia que era tão boa com isso.
— Eu também não. Ficar aqui nos últimos cinco anos me ajudou muito. Aprendi com os melhores. A tecnologia de Eiseges Tal é muito avançada.
— Fico feliz. Talvez eu devesse ter ficado aqui com vocês também.
— Não, Egon. Você fez o que seu coração mandou. — Missai disse com a voz firme sem tirar os olhos do que fazia.
— Você costumava ser mais gentil comigo.
— Passaram cinco anos Egon. Eu não sei mais quem é você direito.
— Eu ainda sou o mesmo Missai, só que menos bobo.
— Eu não acredito.
— Missai... o que aconteceu com o que você sentia por mim?
— Então, você sempre soube? — Missai parou o que fazia e voltou a encarar o loiro.
— Eu... meio que sabia. A Kara me confirmou uma vez.
— Ahhh.
— Podia ter me dito antes.
— Para que? Não faria diferença. Como não faz agora.
— Missai...
— Egon, eu não vou cobrir o buraco que a Mia deixou. Não é a mim que você ama e idolatra. É a Mia. E um homem pela metade, eu não quero.
O som da bengala de Zoe batendo no chão encerrou a conversa que ficava inflamada. Egon se afastou sem dizer nada e saiu do laboratório.
— Atrapalhei alguma coisa?
— Não Zoe. Chegou na hora certa.
— E aí? O que descobriu?
— O sangue dela brilha e ferve como lava.
— Uou.
— Mas o engraçado é que quando você joga o antídoto ele volta ao normal, porém assume uma composição ainda diferente.
— Deixa eu ver... — Zoe olha pelo microscópio e franziu a testa.
— Que foi?
— Pega uma amostra de sangue contaminado de untote.
Missai pega um frasco e deposita sobre a lâmina uma gota e coloca no microscópio. Zoe ergueu as sobrancelhas e ficou um tempo pensando.
— O que foi?
— Olha isso. — Zoe pede a Missai que obedece.
— Espera. Parece com o da Diana.
— Eu não tô gostando disso. Pega uma amostra sem contaminação de sangue engeliano.
Missai atende o pedido rapidamente e entrega a Zoe. A ex-soldado coloca o sangue no tubo de ensaio, mistura o antídoto e coloca na lâmina.
— Ainda não é isso. — Zoe disse decepcionada. — Eu sempre tive uma suspeita maluca. Uma doença que veio do nada.
Missai ficou pensativa e depois olhou para a amostra de Diana. — Espera. Coloca o sangue da Diana junto.
Zoe mistura o sangue se Diana no tubo de ensaio e coloca na lâmina. Ela olhou pelo microscópio e ficou boquiaberta com o que viu, sem dizer nada apenas apontou para que Missai fizesse o mesmo.
— Porra...
— Isso é a coisa mais louca que eu já vi.
— Vamos contar ao rei, Zoe?
— Ainda não. Vamos fazer mais testes. Não conte a ninguém ainda. Isso pode ser caótico.
As duas ficaram apreensivas, Missai foi até um dos guardas que sempre ficava próximo ao laboratório e disse: — Vou trabalhar até tarde, trancarei a porta. Não deixe ninguém entrar.
[...]
Egon observava Diana com certo desdém de longe de braços cruzados, escorado em um dos pilares que dava acesso à área externa do Palácio. Veridiana tentava ajudar Diana com o treinamento.
— Diana, você precisa dar um jeito de controlar a transformação.
— Eu não consigo. Parece que meu corpo não ajuda.
— Como se transformou das últimas vezes?
— Eu não sei... com raiva?
— Huum. Esse lance de depender da raiva é um problema sério. Você perde o controle todas as vezes.
— Veri, o Kiran não sabe de nada?
— O "Kiran". O que eu disse sobre o respeito? — Veridiana cruzou os braços e ergueu a sobrancelha direita.
— Ele disse para chamá-lo pelo nome. Eu tentei chamar ele de majestade. — Diana disse erguendo os braços.
— Tá. Falaremos sobre isso mais tarde. Mas respondendo a sua pergunta, ele não sabe. A família sabia sobre a teoria. A prática tem que ser com alguém que de fato participou e acompanhou uma sangue de fogo.
— Vocês me acompanharam boa parte, as fúrias.
— Não era sempre que você demonstrava poder. Parando para pensar era como se estivesse sempre...
— Medicada?
— Sim.
— A Heide me dava um remédio. Todas as manhãs. Tinha um gosto floral e era vermelho.
Veridiana se lembrou do antídoto que Babayaga a entregou. — Entendi. Elas te controlavam com esse remédio.
— Às vezes dobravam a dose. Principalmente em dias de missão.
— Caramba. Eu vou passar isso para a Missai e a Zoe.
— Tá. Vamos continuar. Depois tenho que ir até o Zaion, ver as armas que ele conseguiu vindas de fora.
Egon ainda observava o intenso treinamento das duas. Veridiana e Zeeba construíram uma estrutura grandiosa para auxiliar Diana. Quando Veridiana se afastou. Egon se aproximou de Diana com os braços cruzados.
— Quer alguma coisa? — Diana respondeu meio desconfiada.
— Nada demais.
— Quer uma revanche?
Egon trancou o maxilar e olhou para baixo e depois encarou Diana sério. — Acha mesmo que pode unir todas as províncias? — o tom de voz do loiro fez Diana fechar o semblante.
— Não sei.
— Essa luta toda, pode acabar em nada. No fim todos podemos morrer e jamais chegar ao nossos objetivos.
— Nossa! Você é tão otimista! — Diana disse de forma sarcástica.
— Olha, Sangue de Fogo...
— Diana.
— O quê?
— Meu nome é Diana, caso não saiba.
Egon apertou os lábios e descruzou os braços fechando os punhos. — Diana. Você ficou um bom tempo vivendo sua vidinha em Sonnig, longe de toda essa confusão. Enquanto lutamos sem parar. Muitos amigos meus morreram. Eu vi o caos. E agora você vem e acha que pode resolver tudo?
— Acha que eu quero isso aqui? Lutar por gente que nem conheço que apostaram tudo em mim?
— Somos insignificantes para você?
— Não, mas eu preferia mil vezes estar numa fazenda no meio do nada com o amor da minha vida! E sabe onde ele está agora? Morto! Eu daria tudo por isso! Se eu pudesse não ser a Sangue de Fogo, eu não seria! — A voz de Diana começou a embargar. — Eu estava sim vivendo a minha vidinha mais ou menos e estaria lá até hoje. Mas a guerra chegou até mim. E eu também perdi muitas pessoas naquele dia.
Diana começou a chorar ao se lembrar de Klaus. Ainda doía, mesmo que ela tentasse evitar. Egon engoliu seco ao perceber que a dor do luto ainda estava presente na vida dela.
— Eu quero ser livre, Diana. Mas eu quero ter certeza de que você está fazendo o certo.
— Eu não sei. Vai ver tô fazendo tudo errado. Eu só tô agindo da forma como ele agiria. Klaus era o homem mais honrado que conheci, e me amou mesmo eu sendo cheia de falhas como eu sou. Com as mãos imundas de sangue e morte de pessoas inocentes. Não me veja como uma santa Egon. Sou apenas uma mulher repleta de erros e arrependimentos.
— Isso faz de você tão honrada quanto ele. — Egon disse com a voz baixa. — Faça sua parte Diana, estarei de olho em você.
Egon se afastou da morena com um leve sorriso no rosto e uma sensação de alívio. O maior medo do loiro era de estar apoiando alguém tão ambicioso quanto Mia e continuar cometendo os mesmos erros. Depois ele foi até seus aposentos, sentou-se diante da mesinha de seu quarto, pegou um papel, escreveu uma longa carta e depois foi até o quarto de Missai e jogou por baixo da porta. Pela primeira vez na vida, ele decidiu que iria viver sua vida e se desprender de Mia para sempre. Mesmo que seu coração ainda estivesse queimando de amor por ela.
Quando Missai chegou ao laboratório, morta de cansaço, já eram duas da manhã. Ela iria virar a noite, mas Zoe pediu que ela fosse descansar. A mulher entrou em seus aposentos e notou um papel dobrado com as letras meio esgarranchadas com seu nome. Ela se abaixou, pegou a carta e começou a ler.
"Missai, primeiramente peço perdão pela letra. Eu aprendi a ler e escrever não tem muito tempo e ainda escrevo mal pra caramba.
Olha, eu quis te dizer muitas coisas para você desde que te reencontrei. Mas, eu acho que eu nunca fui bom de lábia. Sempre fui tímido e bobo. Eu passei os últimos quatro anos preso pela mulher que mais amava. E eu tive muito tempo para pensar. Muito mesmo. Eu resisti a cada vez que ela ia lá e pedia para que eu mudasse de ideia, a cada chantagem emocional. Sabe por quê Missai? Porque eu pensava em como a pessoa mais íntegra e honrada que eu conheço agiria. Você.
Você sempre foi boa, nobre, justa. Eu sempre vi qualidades em você. Te considerava como uma bússola moral, até que um dia eu te deixei para trás para seguir alguém que eu pensava que nunca ia me fazer mal. Até ela me jogar numa cela e me deixar lá apodrecendo.
Eu acredito no que é certo. Que podemos ser livres sem matar pessoas inocentes e impor nossas ideias para ninguém. Acredito que não há nada mais valioso do que o bem estar das pessoas que amamos. E eu sacrifiquei o "amor" que eu tinha por isso.
Eu não vou mentir para você, eu amo a Mia. Mas acho que não é essa Mia de agora, cruel e impiedosa. Eu amo uma Mia, que eu acreditava que adormecia em algum lugar e que um dia ela apareceria e me diria para fugirmos para longe juntos. Mas ela nunca veio. Cada vez ela se afunda na escuridão e não há amor no mundo que a resgate desse lugar. Eu demorei muito tempo para entender isso. Mas quatro anos acho que foram suficientes.
E sabe o que mais me dói? Saber que você me amou tanto tempo em segredo. Que me escutou choramingar pela Mia como um cachorrinho. Eu, que jamais mereceria o amor de uma mulher como você. E me sinto tão honrado por isso.
E eu queria tentar Missai. Queria mesmo. Saber como é ser amado de verdade por alguém tão maravilhoso como você. Eu queria sentir seu cheiro, o toque de sua pele, ouvir o meu nome sendo dito por seus lábios de forma tão carinhosa quanto você dizia.
Eu queria e quero. Talvez seja tarde demais. Mas eu esperarei por você. Como você esperou por mim, mesmo que inconscientemente.
Com amor,
Egon."
Missai abaixou a carta ainda segurando firme em suas mãos sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto. Ela releu a carta mais uma vez emocionada e andou de um lado para o outro eufórica pensando no que fazer. Ela se perguntava se deveria acreditar naquela carta, naquelas palavras. E se tudo fosse mentira?
Ela respirou fundo, e sem pensar muito ela saiu de seu quarto andando apressada. Não olhou para horário, nem pra mais nada. Parou na porta do quarto de Egon e ficou hesitante com a mão erguida prestes a bater. Ela pensou um pouco e acabou abaixando a mão. Talvez fosse melhor desistir. Antes que ela saísse de perto da porta, ela ouviu o destrancar e o girar da maçaneta e a porta se abriu. Egon olhou para Missai com um sorriso leve no rosto tão ofegante quanto ela. Pelo olhar desperto dele naquela hora da manhã ela teve certeza que ele estava aguardando que em algum momento ela lesse a carta e fosse até ele.
— Você... — Ele olhou para a carta na mão dela. — Leu?
— Seu idiota. Como pode me dizer essas coisas depois de todos esses anos? — Missai dizia com a voz abafada entre o sussurro e o choro preso na garganta tentando não olhar para o homem que estava sem camisa.
— Entra. Vamos conversar aqui dentro, antes que alguém desperte e pergunte o que está acontecendo.
Missai hesitou por um momento, mas acabou entrando meio sem graça. Ela ficou de costas para ele sentindo a respiração cada vez mais acelerada. Sentia como se o coração estivesse prestes a sair pela boca.
— O que significa tudo isso Egon?
— Eu pensei que tivesse sido claro.
— Como pode me provar que não é mentira?
— Não posso. Tenho que contar com a sua boa vontade.
Ele deu mais uns passos na direção dela e se curvou bem próximo de seu ouvido. Egon era um homem alto, um contraste com Missai, que era bem baixinha.
— Missai... — Ele sussurrou no ouvido dela, a fazendo arrepiar. Ela fechou os olhos tentando resistir aos sentimentos que pareciam sair a qualquer momento. Ela negava a si mesma que o amava todos os dias. Ele tocou no ombro dela a virando para ele, a mulher tinha as bochechas coradas e ela sentia um calor tão grande que nem pareciam que estavam na cidade mais gelada do mundo. — Eu... quero tentar. Com você.
— Tenho medo de que parta meu coração.
— Eu quero morrer antes disso acontecer. Eu prometo que serei sincero. Você merece isso. Se... ainda achar que um homem como eu é digno de você.
— Eu te amo. E não consigo mais esconder isso.
— Não esconda.
Ele segurou o rosto dela com as duas mãos e selou um beijo nos lábios de Missai. A mulher apaixonada se rendeu a Egon. Ele a beijava com fervor, lascívia e desejo e aos poucos foi despindo as roupas de Missai. Ela segurou as mãos dele devagar.
— Eu nunca fiz isso.
— Se achar que é cedo demais, eu paro aqui mesmo.
— Não! Esperei tempo demais. — Missai voltou a beijar Egon e permitiu que o homem a despisse por completo.
Naquela madrugada, ela se entregou ao homem que sempre amou em segredo. Sem pensar no que viria depois. Isso pouco importava naquele momento.
(...)
Diana estava se esforçando ao máximo. O treino dela era intenso e depois ela ainda buscava informações na enorme biblioteca do Lila Palast e nos documentos de Kiran. Mas não haviam respostas para sua pergunta: Como controlar o poder?
Kiran também buscava respostas. Afinal a trégua que eles estavam tendo enquanto as três partes daquele confronto curavam suas feridas não ia durar para sempre. Ele então pensou na única pessoa que poderia ajudar. O homem saiu apressado de seu escritório e gritou por seu lacaio.
— Finick!
— Majestade... — O homem veio correndo na direção de seu rei.
— Mande Zeeba preparar um dirigível.
— Sim, Majestade.
— E onde está Diana?
— Creio que em seus aposentos senhor.
Kiran seguiu rapidamente até o quarto de Diana e bateu, a mulher abriu a porta e ficou surpresa ao ver o rei naquela hora da tarde, que normalmente era um homem muito ocupado.
— Sim?
— Eu quero te levar a um lugar, esteja pronta em dez minutos.
— Onde vamos?
— Quero que conheça uma pessoa.
Diana ficou confusa, mas mesmo assim obedeceu ao rei e se vestiu rapidamente e foi até a área externa onde o rei a aguardava. Sem muitas explicações, ele a guiou até o dirigível.
— Vamos naquela coisa? — Diana perguntou eufórica.
— Sim. Você vai amar. Vamos.
Os dois entraram seguidos de soldados, A aeronave começou a sobrevoar Eiseges Tal. Diana ficou encantada ao ver a imensidão branca vista de cima. Depois de algum tempo de viagem, ela viu o rio que dividia as duas províncias. E do outro lado as terras vulcânicas, com um clima totalmente diferente. A viagem não foi muito demorada mas deu para ela apreciar a viagem com coisas que nunca tinha visto. Enquanto isso, Kiran admirava a mulher que tinha os olhos brilhando.
— Aquilo é uma vila? — Ela disse apontando para baixo.
— Lavafluss. Ali ao fundo o vulcão, dizem que Erste repousava ali. Outros dizem que ele está em Drachnnest. — Kiran disse passando o braço pelas costas de Diana.
Quando o dirigível parou, ele estendeu a mão para que ela descesse acompanhada dele. Do lado de fora, os moradores curiosos se aproximaram para ver a aeronave com o símbolo de Eiseges Tal. Valdrer, que também havia ido com o rei, desceu primeiro sendo cumprimentado por todos os moradores.
O grupo seguiu para onde Bardra estava sob os olhares curiosos dos moradores. Diana, entretanto, parecia ouvir alguém chamar seu nome. Ela olhou para o enorme vulcão no fundo da aldeia e ficou um tempo pensativa. Depois ela seguiu o grupo.
Valdrer ao avistar a anciã sentada, se ajoelhou diante dela e beijou sua mão.
— Grande Bardra.
— Sem formalidades Valdrer.
— Eu sinto muito não ter vindo antes.
— Tudo bem, meu filho. — Bardra ergueu o olhar para o rei Kiran e para Diana que o acompanhava meio desconfiada. Ela acenou para que um de seus netos a ajudasse a se levantar.
— Não se incomode Bardra, por favor. — Kiran disse gentil.
— Não é todo dia que recebo um rei em minha casa. É uma grande honra, Rei Branco.
— Acho que é umas das poucas pessoas que de fato me chamam assim.
— Eu vi você nascer. Fui eu quem te deu essa alcunha. A que devo a honra de sua visita ilustre meu rei? Embora eu saiba que se trata da bela mulher que está ao seu lado.
— Sim. — Kiran se virou para Diana com o olhar doce. — Essa é a Diana, Bardra.
— A Sangue de Fogo.
O burburinho começou no local. A maioria incrédula de estar diante de uma lenda viva.
— Diana, essa é a Bardra. Ela é a líder dessa província, estamos em Lavafluss. As terras vulcânicas.
— Se aproxime, menina. — Bardra disse acenando para Diana que se aproximou e se ajoelhou diante da anciã. Bardra tocou o queixo de Diana e ergueu seu rosto delicadamente e olhou nos olhos dela. — Sim... Uma sangue de fogo. Olha esses olhos. Verdes pálidos e cristalinos. Eu tenho um dom menina, dado a mim por Erste. Eu vejo muito além do nosso tempo, apenas olhando em seus olhos. Você gostaria de saber?
— Sim...
— Eu vejo um caminho árduo e tempestuoso. Porém também vejo honra e glória. Terá que tomar decisões difíceis. Trará a noite para quem almejava o sol e trará o sol para quem nunca saiu da noite. E seu nome será mencionado em cada canto desse mundo, seja por bem, seja por mal. Eu também vejo uma tristeza tão profunda. Uma ferida que parece nunca cicatrizar. Mas saiba, criança, que um dia essa dor irá passar. Eu prometo a você.
— Obrigada. — Diana disse com os olhos rasos de lágrimas. — Mas eu sinto que ainda não estou pronta.
— Na hora certa, você estará.
— Bardra — Kiran disse se aproximando — Eu preciso saber se você sabe como controlar o poder de Diana
— Infelizmente não. Mas eu ouvi lendas. De que um dragão dorme dentro daquele vulcão. O dragão seria o próprio Erste. Dizem que quando Wohlstand amaldiçoou nossas terras, Elend, o deus da calamidade e governante de Fegefeuer, junto com o deus da guerra aprisionou Erste dentro do vulcão para que eles pudessem fazer o que quisessem em nosso mundo. Por isso nosso mundo mergulha no caos. Wohlstand ainda está em seu Palácio dourado, cheio de rancor a milhares de anos. É o que minha avó me contava. É só o que tenho para lhe falar sobre isso.
— Tudo bem Bardra. Teremos que descobrir de outro jeito. — Kiran disse decepcionado.
— Eu sinto muito. Diana, querida, dê uma volta em Lavafluss. Aqui não é tão encantador quanto Eiseges Tal, mas garanto que o clima é bem mais agradável.
— Aqui parece um forno. — Kiran disse fazendo um beicinho.
— Aproveitem e saiam todos, quero ficar a sós com o Rei. — Bardra disse acenando para que saíssem. Quando finalmente ficaram sozinhos ela se virou para Kiran. — Eu vi algo sobre você. Quer saber?
— Quero. Ela... será minha?
— Você fala do corpo ou do coração?
— Quero fazer dela minha rainha. Quero amá-la. E não aceitarei outra.
— Kiran, ter o corpo é uma coisa. Mas saiba que ela sempre terá outro em seu coração. O cão de guerra.
— Ele está morto. Não tem porquê eu me preocupar com um homem morto.
— Tem elos que nem mesmo a morte pode quebrar. Lembre-se disso.
— E com relação ao futuro de nosso mundo?
— Isso eu não consegui ver. Ainda está escuro, como uma nuvem de tempestade.
— Obrigado, Bardra. — Kiran disse sério.
— Não ouviu o que queria?
— Você sabe que não. Eu vou chamar eles para irmos embora. Até mais.
— Não podemos ter tudo, Rei Branco. Às vezes ganhamos o que precisamos, não o que queremos.
Kiran saiu cabisbaixo e chamou seus companheiros de viagem para irem embora. Valdrer pediu alguns minutos e foi se despedir de Bardra. Que dessa vez estava na porta de sua casa escorada numa bengala.
— Bardra... eu tenho que ir. Ainda deu tempo de prestar homenagem nos túmulos simbólicos da minha família.
— Você parece feliz Valdrer. Vejo em seus olhos.
— O que vê para mim Bardra?
— Parece que as nuvens tempestuosas se foram e o sol está brilhando outra vez. Ainda deseja vingança?
— Se eu disser que não estaria traindo minha família? Lembro-me que me disse que deveria vingar os filhos da lava.
— Eu estava errada. Pode parecer surpreendente para alguém que vê além do tempo, mas eu estava errada. Não se deixe levar pela vingança. Garanto a você que a pessoa que fez isso se arrependeu mil vezes e ainda se arrependerá mais. É a guerra Valdrer, uma pena que foi sua família, mas eles cumpriram seu papel. Saiba que onde estiverem querem sua felicidade. Não se sinta mal por isso. Siga em frente.
— Obrigado Bardra.
Bardra viu o grupo se afastar e entrar no dirigível. A população de Lavafluss acenava para Diana com alegria e esperança. A velha Bardra sorriu e disse para si mesma:
— E assim nasce uma heroína. Uma lenda. Uma rainha.
(...)
O dirigível pousou em Eiseges Tal já a noite. Quando o rei pôs os pés em seu Palácio, Finick veio apavorado em sua direção.
— Senhor! Majestade!
— O que foi Finick? Você vive apavorado.
— O conselho deseja uma reunião urgente com o senhor.
— Agora?
— Dizem que é um caso de vida ou morte.
— Mas que coisa. Diga que já estou indo.
Kiran sabia que quando o conselho solicitava uma reunião coisa boa não viria. Ainda mais depois da informação jogada para o mundo da existência de uma Drachen. Kiran mal chegou e já foi direto para a reunião. O conselho formado pelos clãs que fundaram Eiseges Tal era composto por doze membros, a maioria já mais velha. Os conselheiros estavam todos sentados aguardando o rei e se levantaram para reverenciá-lo. Kiran sem muita conversa, sentou-se diante do conselho e com o ar arrogante de sempre começou.
— Espero que seja mesmo importante essa reunião. Tenho muito o que fazer.
— Majestade... eu creio que o senhor saiba do alvoroço que roda o mundo inteiro. — Um dos conselheiros começou a dizer.
— Não, eu não sei. Me diga Lord Dmitry.
— A existência de uma Drachen é algo que muda toda a estrutura do nosso país, além de comprometer nossas relações exteriores.
— O que ela pode causar? É apenas uma jovem mulher que mal sabia da existência de sua família. — Kiran retrucou.
— Majestade, Calandiva foi uma rainha odiada no mundo inteiro, ter uma descendente dela aqui em Eiseges Tal é colocar um alvo em nossas costas!
— O que querem dizer pelo amor de Erste? Sejam claros!
— Uma mulher como ela só acaba com o respeito que conquistamos. A Família Drachen era da nobreza, hoje é apenas uma sombra do que um dia foi! As pessoas não a aceitaram como rainha!
— Ela é a herdeira legítima do trono que Heide Faustus usurpa!
— Uma assassina! — Uma das conselheiras gritou. — Se não querem dizer, eu digo. Uma assassina. Queimou 150 pessoas numa igreja. Existem testemunhas.
— Dobre sua língua, Lady Ernest, ou mandarei cortá-la. — Kiran disse sério, encarando a mulher.
— Se ao menos fosse uma nobre de verdade! Uma rainha consorte ou uma princesa! Os demais países a aceitariam melhor. Hoje mesmo ela sendo uma Drachen, ela ainda é ninguém! Não tem dinheiro, posses ou títulos!
Kiran respirou fundo e deu um murro na mesa que fez todos se calarem imediatamente. Kiran poderia ser gentil na maior parte do tempo, mas não havia um conselheiro em seu juízo normal que não temesse a fúria do rei Branco.
— Se alguém mais ofender a Diana, eu mandarei decapitar. — Ele se levantou e começou a falar com tom de voz sério. — O que incomoda vocês é só um título? É isso? Ela não tem valor mesmo que ela vença uma guerra sozinha?
— É uma mulher perigosa e...
— Calada Lady Ernest. Eu não mandei você falar. — Os olhos azuis cristalinos olharam para a Lady que começou a tremer. — Pois bem, eu darei um jeito.
— O que fará, Majestade?
Kiran saiu andando pisando firme deixando todo o conselho num silêncio ensurdecedor. Todos ali sabiam que ele era decidido e muito teimoso. O rei ordenou que os guardas não deixassem ninguém sair até ele voltar. Kiran foi até o quarto de Diana e bateu insistentemente até a morena abrir a porta.
— Desculpa, eu já estava deitada.
— Posso entrar, Diana?
— Claro. — Diana deu passagem ao rei que estava numa postura que ela ainda não tinha visto. Sério.
— Eu vou ser direto, Diana. — Ele se virou para ela e a encarou e depois se aproximou mais dela. — Quero que seja minha esposa.
— O que? Esposa? — Diana perguntou surpresa.
— Isso.
— Como assim? Eu... nem conheço você direito.
— Só no papel. Uma formalidade. Para que você seja vista com outros olhos pelo mundo e nós conseguirmos aliados.
— Mas nós não precisamos de aliados, precisamos?
— Sim, precisamos. É melhor ter o mundo a nosso favor do que contra nós.
Diana não queria um casamento com ninguém que não fosse Klaus. Estava disposta a ficar o resto da vida sozinha. Mas ele não estava mais ali, naquele momento tudo era sobre política e sobre poder.
— Preciso responder agora?
— Sim.
— Eu... aceito então?
— É o mais viável, Diana. Prometo que nunca farei nada que não queira. É apenas um papel e mais nada.
— Eu aceito. — Diana disse cheia de receios e desconfiança. Já havia passado por tanta coisa, que diferença faria um casamento?
— Ótimo. Vou pedir alguém para vir te arrumar.
— Como assim? Me arrumar?
— Para o casamento.
— E quando vamos nos casar?
— Hoje.
Kiran saiu sem dar mais explicações a mulher que cada vez ficava mais confusa. O rei chegou na sala do conselho e os encarou com desdém.
— Senhores, arrumem uma roupa bem bonita. Vocês têm um casamento para irem.
— Casamento? De quem?
— O meu e de Diana Drachen.
— O que?
— Ficou maluco?
— Temos mulheres mais adequadas.
— Majestade isso é um ultraje.
Kiran não deu ouvidos às reclamações. Apenas se virou para Finick com um sorriso no rosto. — Providencie tudo Finick, peça que alguém deixe ela ainda mais linda o mais rápido possível, chame o bispo e o escrivão. O casamento será hoje.
— Sim, Majestade. Mas o bispo deve estar dormindo.
— Derrube ele da cama se for preciso. Quero ele na catedral de Sturm o mais rápido possível. Para ontem! Vamos Finick! RÁPIDO!
— Sim, Vossa Majestade!
Os preparativos para o casamento se tornaram um verdadeiro caos em Eiseges Tal. Funcionários acordados no meio da noite, alguns convidados e testemunhas improvisados. Os conselheiros estavam revoltados e ninguém entendia nada.
— Como assim um casamento? — Zoe perguntou ao ser acordada por Zeeba. Que havia sido despertado por Zaion e por aí vai.
— É. Hoje, agora na verdade. Na catedral.
— Vai casar com quem? — Veridiana surgiu atrás de Zoe ainda de pijama.
— Diana Drachen. Que é o nome oficial dela agora. Isso tá virando um circo.
(...)
Tudo aconteceu tão rápido que o Palácio inteiro teve que se movimentar para entregar o casamento solicitado pelo rei. A catedral de Sturm ficava ao lado do Lila Palast e tinha uma das arquiteturas mais lindas daquela cidade. Haviam várias janelas e pinturas nas paredes dos doze deuses de Welt. Ao fundo um altar com vidraças coloridas, e uma estátua de Liebe, a deusa do amor. Os bancos de madeira maciça de um lado e de outro e ao centro um tapete azul.
Kiran estava no altar vestindo uma farda real na cor branca e dourada e usando a coroa que pertenceu a seu pai com o símbolo da família Zafir. O bispo estava ao fundo com a coroa que seria entregue à rainha consorte tremendo e apavorado. Junto do escrivão que também não estava em seu melhor dia.
O burburinho na catedral foi interrompido quando os músicos começaram a tocar a marcha nupcial e a noiva surgiu na entrada. A mulher que havia a preparado estava acenando para onde ela deveria ir e gesticulando como deveria andar.
Diana estava usando o vestido que pertenceu à mãe de Kiran. Um vestido branco de saia volumosa, com decote ombro a ombro e mangas longas. Totalmente cravejado de cristais. E com detalhes em dourado. O véu era tão longo que tinha que ser ajeitado a todo tempo pelas damas. O cabelo dela foi preso num coque elegante já preparado previamente para receber a coroa. Diana tinha uma maquiagem leve, e o olhar assustado. Carregando um buquê de flores azuis que elas custaram arrumar naquele horário.
Kiran tentou conter a alegria que estava sentindo. Por mais que fosse um casamento por interesses políticos, ele não poderia conter a emoção em ver Diana vestida de noiva. Ele se aproximou dela, beijou o dorso de sua mão e a acompanhou até o altar. Diana estava tão tensa que parecia ter se esquecido como respirava. O bispo fez a celebração. Ouviu o "sim" dos noivos, chamou a noiva para frente dele, pediu que ela se ajoelhasse e depois ergueu a coroa.
— Pelo poder dado a mim, eu declaro Diana Betina Rosalie Herbet Drachen Zafir a rainha consorte de Eiseges Tal. — E depois a coroou. A coroa de ouro branco e diamantes parecia ter sido feita para Diana, mas também era da mãe de Kiran. Uma das muitas que ela tinha. — Pode beijar a sua esposa, Majestade.
Kiran molhou levemente os lábios e selou um beijo discreto nos lábios de Diana. O rei tinha os olhos brilhando diante da agora esposa. Extravagante como sempre, Kiran ainda deu uma festa mesmo que seu casamento tenha sido à meia noite. Receberam os cumprimentos. Diana mal sabia o que pensar, tudo parecia tão confuso em sua mente. Quando ela conseguiu se afastar de todos do grande salão e tomar um pouco de ar, Veridiana acompanhou.
— Você está bem, Diana? Ou... Majestade...?
— Que? Majestade? — Diana respondeu confusa.
— É uma rainha agora. A rainha consorte de Eiseges Tal. Devo admitir que essa jogada do Kiran me surpreendeu, por mais óbvia que pareça.
— Eu, uma rainha... Nossa. É absurdo ouvir isso em voz alta.
— Você é de linhagem real. Não é tão surpreendente assim.
— O que o Klaus diria?
— O Klaus está morto, Diana. Aceite e siga em frente. O rei é um homem lindo e é completamente obcecado por você. Tenho certeza que ele está tão feliz que mal cabe dentro daquele salão.
— É só no papel. Uma formalidade política ou algo assim.
— Tá... vamos ver até quando. Mas eu no seu lugar não perderia chance. De um jeito ou de outro ele é seu marido agora. Vai ser bom para você descarregar toda essa energia. Relaxar um pouco. Além do mais, se o conselho souber que o casamento não foi consumado, eles podem querer respostas.
— E como eles ficam sabendo disso?
— Essas paredes têm ouvidos e olhos Diana.
— Não sei se posso.
— Você é virgem? — Veridiana perguntou sarcástica.
— Óbvio que não.
— Então pronto. Vá lá e dê para aquele homem até não poder mais.
— Mas...
— Deixe o Klaus descansar Diana. Já se passaram seis meses. Além do mais, ele não sairá do seu coração. Você ainda o amará, assim como eu amo a minha Val.
Diana mordeu o lábio inferior e não respondeu mais nada. Ficou pensando nas palavras de Veridiana. Quando a festa terminou, já quase quatro da manhã, o casal subiu para os aposentos reais. Os empregados começaram os preparativos da noite de núpcias que Diana ainda nem sabia se existiria ou não. Uma das serviçais começou a tirar o vestido de Diana. Kiran notou o desconforto da rainha e ordenou.
— Saiam todos!
Os serviçais saíram rapidamente após a ordem do rei. Kiran olhou para Diana que estava constrangida.
— Tudo está acontecendo tão rápido. – Ela disse olhando para baixo.
— Você pode voltar para seus aposentos, se assim desejar. Tudo isso é mera formalidade.
— Veridiana disse que as paredes daqui tem olhos e ouvidos.
— Ah, isso é verdade.
— E que eles podem questionar a validade do casamento.
— Sim. Eles podem.
Diana engoliu seco e tomou a decisão mais difícil até então. A de seguir em frente. Ela ergueu o olhar para Kiran e se aproximou mais dele, até a distância entre eles não passar de um palmo.
— Eu acho que devemos consumar o casamento. Mas quero que saiba que não sou mais virgem.
— Bom, eu também não... então... tá tudo certo.
— Me disseram que isso era importante para eu ser adequada.
Kiran deu uma gargalhada, que fez Diana perceber que ele ficava bonito em qualquer situação. Um homem lindo de fato. Ela não sabia se eram os olhos, que pareciam ler tudo que ela pensava, ou o sorriso levemente malicioso quando olhava para ela ou o corpo forte e musculoso.
— Para mim você é mais que adequada. E se me permite que quero começar logo isso. Não estou resistindo a olhar para você tão perto de mim.
— Começamos do jeito errado. Normalmente os casais se conhecem, se apaixonam, e depois se casam. Eu mal conheço você. Nem sei das coisas que gosta. Agora estou casada com você, prestes a...
— Você não quer? – Ele tocou o rosto dela delicadamente. — Ficar comigo aqui hoje?
— Eu...
— Eu farei o possível para que seus dias comigo sejam felizes. Te farei a rainha mais amada deste mundo.
Kiran deu o próximo passo. Beijou Diana com fervor e paixão. Algo que ele já desejava há muito tempo. Desde que Diana havia chegado ali, ele havia dispensado todas as acompanhantes e não desejou ninguém além dela. Com destreza o rei foi tirando o vestido repleto de camadas e logo o corpo torneado e musculoso de Diana surgiu. Ele olhava para ela com paixão e devoção ao mesmo tempo. Depois, ele tirou as próprias roupas, Diana observou o corpo forte do rei e tocou em seu peitoral firme e depois continuou beijando o agora seu marido.
Kiran a deitou na cama, e posicionou-se sobre ela e toda a paixão que tinha por ela foi usada naquele momento. O rei se movia com vontade, paixão. Diana se deixou levar, mesmo que sentisse em seu coração que estava traindo Klaus. Diana descobriu naquela noite que o rei Kiran era mesmo bom em tudo que fazia. O albino sabia exatamente onde tocar, o que fazer, e dar prazeres que Diana nunca pensou em sentir. Quando eles terminaram, o rei a deitou sobre seu peito e beijou o alto da cabeça dela e depois a envolveu num abraço apertado. O sentimento podia não ser recíproco, mas depois daquele momento, Kiran teve certeza que amava Diana como nunca imaginou amar ninguém em toda a sua vida. Diana, entretanto, sentia seu coração partido e cheio de arrependimento, como se tivesse traído Klaus, o homem que mais amou na vida.
Quando o homem finalmente adormeceu, ela se levantou da cama, vestiu uma camisola e seguiu para os seus aposentos e trancou a porta. Ela encheu a banheira e com urgência tirou toda a sua roupa e entrou na água e começou a se limpar ferozmente. As lágrimas escorriam em seu rosto, enquanto ela tentava conter o soluço sentido. Sentia-se suja, imunda. Sentia-se uma traidora. Será que Klaus a perdoaria onde estivesse? Será que ele viu tudo?
Ela abraçou as próprias pernas e ficou ali por mais algum tempo, mas ela sentia que não havia água suficiente que lavasse a imundície de seu corpo e nem de sua alma.
(...)
Os pingos de água que vinham do teto caiam sem parar sobre um balde que fazia um barulho constante. As paredes mofadas e rabiscadas deixavam o lugar ainda mais desagradável. Um cômodo quadrado três por três com um feixe de sol que vinha de cima. O som das ondas batendo nas rochas era desagradável e era o único barulho diferente dos guardas batendo nas celas.
O homem barbudo, de cabelo grande e com o corpo bem mais magro do que era antes passava a maior parte do tempo sentado num canto da cela desagradável. Não havia nem um colchão para se deitar sobre a cama de pedra desconfortável. Ele nem sabia que dia era, ou que mês.
Ouviu um dos guardas conversando e rindo seguindo na direção da cela onde estava. Ele respirou fundo, certamente iria levar mais uma sessão de surras diárias. O guarda se aproximou da cela com um sorriso debochado no rosto e um jornal na mão.
— Bom dia flor do dia. — O guarda disse debochado.
—...
— Você é sempre caladão.
— Se vai me bater comece logo. Tenho mais o que fazer.... — o homem disse entediado.
— Não, eu hoje vim te machucar de outro jeito. — O guarda jogou o jornal dentro da cela com um sorriso desagradavel no rosto. — Sabe ler né?
O prisioneiro olhou com certo desdem, e pensou em hesitar, mas caminhou devagar até o jornal e o pegou do chão.
— Quer que leia para você? — O prisioneiro disse debochado.
— Quando você veio para cá, a rainha nos disse que você tinha uma namorada. Uma namorada muito famosa.
O prisioneiro encarou o guarda com ódio e depois olhou para a manchete no jornal.
REI KIRAN ZAFIR CASOU-SE ÀS PRESSAS COM DIANA DRACHEN, QUE AGORA É A NOVA RAINHA CONSORTE DE EISEGES TAL.
O prisioneiro começou a tremer de raiva, revolta e surpresa. Todos os sentimentos de uma vez. O homem que passou os últimos meses se remoendo para saber se a amada estava viva, agora estava ali lendo a notícia do casamento dela.
— Que foi? Cão de Guerra? O grande Major Klaus Hoffman não sabia que a namoradinha estava dando para outro há 6 meses?
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