Capítulo 32 Sempre tem como piorar
ATENÇÃO!
ALERTA DE GATILHO! (MENÇÃO A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA) NADA EXPLÍCITO, MAS É BOM AVISAR.
Eu sempre fui boa em oferecer conselhos às minhas amigas, mas, ironicamente, quando se tratava de mim, tudo se tornava mais complicado. É fácil observar a situação dos outros e acreditar que temos as respostas certas, mas quando somos nós a vivenciar as dificuldades, a realidade é bem diferente. Eu caí nas armadilhas da indecisão, que me levavam rapidamente ao encontro do arrependimento. Tinha tanto medo de me perder que não percebi que já havia me perdido, e que se não abrisse os olhos, me afundaria cada vez mais. Uma vez, ouvi alguém dizer que o arrependimento é um professor rigoroso, e eu definitivamente não queria fazer parte dessa turma.
"Todos nós temos inseguranças e medos, mas não podemos fugir deles. Você sabe o que quer; o que falta é coragem para admitir. Isso é o que mais te prejudica. Não espere o arrependimento bater à sua porta para abrir os olhos."
As palavras de Wladimir vieram a minha mente, aumentando a tensão que sentia. Não pensei que a ideia de Ian escolher outra pessoa me causaria tanta dor. Respirei fundo para conter as lágrimas que insistiam em se formar, era uma sensação de vazio, de derrota, nem sei explicar direito. Só conseguia pensar que aquele gosto amargo da desilusão foi causado pelas consequências da armadilha que eu mesma fiz para mim.
— Você pode chamar a minha filha? Eu tenho pressa — disse o homem, impaciente.
— Por gentileza, o seu some? — indagou Ian, mantendo as mãos no bolso, com a postura inabalável.
— Doutor Emanuel Teixeira — ele respondeu, com um toque de arrogância em sua voz.
— Tudo bem, doutor Emanuel, mas eu gostaria de ter uma palavra com o senhor antes — disse Ian, sem se deixar abalar por aquela tentativa de intimidação.
— Escuta aqui, cigano, eu não tenho nada a discutir com um tipo feito você. Chame logo a minha filha e faça o favor de nunca mais encostar nela!
— Que tipo eu sou, doutor? — Ian perguntou, agora usando um tom desafiador. — O senhor pode me responder?
— O tipo que eu jamais aceitaria como genro. Agora, se não se importa, tenho pressa.
— Em primeiro lugar, o senhor respeite a minha casa! — Ian exclamou, seu tom de voz era firme, mas ainda assim, inalterado. Os dois homens de preto deram um passo à frente, mas o pai da donzela em perigo levantou a mão, fazendo com que recuassem.
— Você tirou a minha filha de dentro da casa dela desafiando as ordens da mãe, que tentava educá-la. Sou advogado, e minha equipe pode arruinar sua vida por muito menos do que isso, sabia?
— Eu não tirei ninguém de lugar nenhum, e não tenho medo de ameaças. — Ian manteve a postura firme, desafiando o olhar do homem à sua frente.
— Eu tirei!
Todos os olhares se voltaram para trás, onde Ivan estava parado, de braços cruzados, seu semblante carregado de uma seriedade que cortava o ar como uma lâmina afiada.
— O quê? — eu e Carmencita exclamamos em uníssono. Ian me lançou um olhar rápido, como se estivesse decifrando o que se passava em minha mente. Senti minha expressão se suavizar, enquanto um misto de alívio e esperança começava a tomar conta de mim.
O homem balançou a cabeça, enquanto um sorriso debochado se formava em seus lábios. — É pior do que eu pensava — ele disse, olhando Ivan dos pés à cabeça. — Me chame Karen, eu tenho pressa.
Ivan avançou alguns passos, parando diante do homem, que o encarava com um olhar de desdém, como se estivesse diante de uma criatura inferior.
— Antes, gostaria de ter uma conversa rápida com o senhor — disse o cigano, com uma voz firme que emanava confiança. Sua postura ereta e decidida deixava claro que não se deixaria intimidar pela presença ameaçadora diante dele.
— Não tenho paciência para conversas inúteis, garoto! — retrucou o homem, sua voz grave transbordava prepotência. Ele se inclinou para a frente, e as veias do pescoço pulsavam com intensidade, como se estivesse prestes a explodir. — Chame minha filha imediatamente!
Carmencita avançou um passo, mas Ian imediatamente gesticulou para que a mãe recuasse. Meu coração disparava ao testemunhar a cena, como se estivesse prestes a saltar do peito. Temia que aquilo pudesse culminar em uma briga ainda mais intensa ou, pior, em uma tragédia.
— Acontece que ela disse que não quer voltar para casa — disse Ivan, avançando alguns passos e parando mais perto do homem, que o observava com um olhar feroz.
"Estou preocupada com a Karen, ela não tem se entendido bem com o padrasto, outro dia ele quase a agrediu. Aquele homem dá medo."
"Sério? Que horror, mas a mãe dela aceita?"
"A mãe diz amém a tudo o que ele faz, se você ver o que ele faz com ela dentro de casa. O homem é um burro xucro, nem sei como suporta."
"Nossa, isso é preocupante."
"Mais do que você pensa; a Karen percebeu que ele tem agido de modo estranho com ela."
"Estranho como?"
"Estranho do tipo que ela precisa trancar a porta do quarto para dormir."
Meus pensamentos foram até aquele dia em que Bruna me confidenciou suas preocupações coma amiga. Um frio intenso percorreu minha espinha ao imaginar que o padrasto poderia ter feito algo a ela, para que resolvesse fugir assim.
— Ela é menor de idade e você... — começou o homem, mas suas palavras foram silenciadas por uma voz mais grave e autoritária se sobrepôs à dele.
— Algum de vocês é do conselho tutelar? — indagou Eduardo, posicionando-se ao lado de Ivan, com os olhos intensamente fixos no homem à sua frente.
— E você quem é? — o homem respondeu, com um sorriso cínico se formando em seus lábios.
— Carlos Eduardo Pontes, primeiro-tenente da polícia militar e atual delegado da 15ª DP da cidade de São Paulo — Eduardo disse, com uma postura tão rígida quanto a dele.
— Nem é a sua jurisdição para estar se metendo — o homem riu com desdém.
— Se o senhor preferir, podemos conversar de advogado para advogado. Também sou formado em Direito, embora não atue na área, possuo um bom entendimento das leis do Código Penal. Outra opção seria eu ligar para a delegacia local e resolver essa situação de uma vez, o que me parece mais adequado, considerando que sua postura indica que não está aqui para um diálogo amigável — respondeu Eduardo, mantendo a voz controlada, apesar da tensão que pairava no ambiente.
— Esse cigano iludiu a minha filha! — O homem expirou com os lábios apertados, enquanto fixava o olhar em Ivan, como se estivesse à beira de uma explosão.
— Se acalme, Emanuel — disse um dos homens que o acompanhava, tentando parecer discreto. — Assim vai perder a razão.
Ele respirou fundo, ajeitou a gola da camisa com o rosto banhado em suor, e um olhar que não escondia seu descontentamento com o rumo da conversa.
— Karen é menor de idade, acabou de completar dezessete anos. Ele a seduziu com promessas vazias e a persuadiu a fugir. O que o senhor, como delegado, sugere que eu, enquanto pai, deveria fazer?
— Eu não iludi ninguém, o senhor me respeite! — Ivan avançou um passo, mas Ian rapidamente colocou a mão firme em seu peito, forçando-o a recuar.
— Vai encarar, moleque? — a voz do homem soou como um rosnado, impregnada de desprezo.
— Não me chama de moleque! — Ivan respondeu, semicerrando os olhos. — Sou um homem que tem um nome, e sua cara feia não me intimida!
— Quem é você para se dirigir a mim dessa forma, cigano? — o homem avançou, com ares de ameaça, mas Ian e Eduardo, que trocavam algumas palavras a um passo atrás, reagiram como um relâmpago, posicionando-se firmemente ao lado de Ivan, que permaneceu inabalável.
— Se você tocar em meu irmão, vou perder meu réu primário! — disparou Ian, cerrando os punhos.
Meu coração, que já estava disparado, se acelerou ainda mais ao me lembrar de sua explosão na noite do meu sequestro. Ian sempre foi muito controlado, quase nunca se metia em confusões, mas quando o tiravam de seu eixo era difícil segurar.
— O senhor é um homem estudado e bem posicionado na vida, deve ser frustrante ver que sua filha se interessou por alguém como eu, tão simples, não é? Mas quero que saiba que, mesmo sendo um peão, trabalho duro todos os dias para construir uma vida digna e cheia de valores — disse Ivan, com a voz firme, embora um leve tremor deixasse transparecer seu nervosismo.
— A Karen nem tem idade para saber o que quer da vida cigano!
— Ivan! Meu nome é Ivan, e não me ofende ser chamado de cigano. Sinto um profundo orgulho da minha etnia, doutor advogado.
— Eu não criei minha filha para viver errante por aí, se associando a um bando de desocupados que enganam as pessoas.
— Esta é a casa dos meus pais — Ivan disse, gesticulando com os braços abertos e as palmas voltadas para cima. — Em breve, construirei a minha própria, com o suor do meu trabalho. Aqui, ninguém vive errante, não senhor.
— E também não enganamos ninguém — acrescentou Ian, firme. — Não compreendo essa arrogância. Afinal, todos nós caminhamos para o mesmo destino: a sete palmos sob a terra.
— Diante da morte, seremos julgados de maneira igual, independentemente do status ou da riqueza que acumulamos em vida — completou Ivan. — O senhor realmente acredita que possui um passe livre para o paraíso?
— Eu não tenho que acreditar em nada, não vim aqui para levar sermão de um pirralho que pensa que é gente. Eu sou muito diferente de você moleque!
— Eu sei. O senhor é um racista que me olha com desprezo, como se ser pobre e cigano fosse um erro. Mas aquela mulher ali — Ivan apontou para sua mãe, que o observava com surpresa, sorrindo com orgulho. — Ela e meu pai me ensinaram que respeitar os outros não é uma escolha, é uma obrigação. Então, sim, eu sou diferente de você porque jamais trataria nenhum ser humano em cima dessa terra com indiferença.
A conversa se arrastava, e Ian, apesar de sua impaciência, decidiu não desafiar a autoridade do irmão, mesmo sendo o filho mais velho e responsável pela família na ausência do pai. Eduardo observava a cena com uma expressão severa, enquanto eu admirava a coragem de Ivan. Destemido, ele não se deixou intimidar pela arrogância daquele gadjô que o encarava com um olhar repleto de preconceito.
— Você desonrou a minha filha e ainda quer que te respeite, meu rapaz?
— É exatamente aí que o senhor se engana; nunca tive nenhum contato mais íntimo com sua filha. Minhas intenções são legítimas, e Karen está ciente de que só a tocaria dessa forma após nosso casamento. Pode ser que eu não seja a escolha ideal para ela, mas sou a pessoa que ela decidiu amar. É tão difícil compreender isso?
— O pirralho fala bonito, mas eu tenho mais o que fazer. Onde está a Karen?
— Estou aqui, pai! E não vou voltar para aquela casa!
Karen se aproximou, com um olhar profundo que revelava o quanto havia chorado. Ivan a abraçou, surpreendendo o homem e a todos nós com sua coragem e determinação diante da situação.
— Filha, eu vim aqui porque estou preocupado e...
— Se o senhor realmente estivesse tão preocupado, teria conversado com ela para entender por que não quer ficar em casa — Ivan apertou ainda mais seu abraço, como se ali fosse o único lugar seguro para ela.
— Ainda nem saiu da fralda e acha que pode me ensinar a ser pai, seu merda?
— Eu não tenho que ensinar nada a ninguém. Mas se quiser aprender um pouquinho te apresento meu pai. Um homem íntegro que nos ensinou coisas que, pelo visto, o doutor não aprendeu.
— Estou falando com minha filha, moleque!
— Chega, pai! Agora é sua filha, não é? — Karen se soltou do abraço do cigano e encarou o pai.
— Não admito que me desrespeite desse jeito!
— É um pouco tarde para querer assumir um papel que você abandonou para ficar com sua outra família; e não estou me referindo apenas à minha mãe.
— Está sendo injusta, Karen — ele retrucou, baixando o tom de voz. — Éramos jovens e não tínhamos juízo, eu...
— Injusta? Onde você estava nos Natais da minha infância? Nas datas comemorativas? Nas minhas apresentações escolares? Onde você estava quando precisei de conselhos e de proteção? De um colo de pai? Meu irmão teve tudo isso, mas eu não. Para você, eu era apenas um valor a menos no seu salário.
— Não fale assim, minha filha, eu moro longe e...
— Qual é a minha cor favorita, pai? E o meu estilo de música, a minha comida preferida? Você sabe ao menos o que me causa alergia? Minha mãe sabe, mas você estava ocupado demais para descobrir.
— Poxa, filha, também não é assim. Nossas vidas tomaram um rumo diferente, eu precisava trabalhar e...
— Qual foi a última vez que você me deu um abraço? Que disse que me ama? Responde pai! Qual foi a última vez que você sentou comigo para perguntar como eu estava? Depósito bancário não supre a ausência, nem cura as feridas de uma vida inteira de abandono.
— Eu nunca te abandonei, filha.
— Sua casa é bonita?
— Está sendo cruel, Karen — agora os olhos do homem estavam imersos em lágrimas que ele se esforçava para segurar.
— Cruel é saber que a pessoa que deveria me defender prefere me criticar. É mais fácil apontar meus erros do que sentar comigo e descobrir porque eles existem?
— Não precisamos discutir isso aqui, na frente de estranhos.
— Esse estranho sabe tudo sobre mim; ele me conhece melhor do que você — sua voz, antes trêmula, agora se transformava em um choro profundo, fazendo minhas lágrimas caírem em empatia. — Ele me ouve, ri das minhas palhaçadas e enxuga minhas lágrimas. Esse cigano, que o você tanto julga, me ama tanto que me trouxe para cá, para me proteger daquele monstro que me atormenta e que faz minha mãe... que decepção, pai.
— Está reclamando por conta dos castigos? Ele te criou, tem o direito de te educar.
— Se soubesse a mágoa que eu sinto cada vez que me diz isso. Eu te liguei aquela vez e teve a capacidade de me dizer que as surras que levou do seu pai te fizeram o homem que é hoje. É isso que você pensa? Por que as minhas só me deixaram traumas.
— Só no seu mundo que bater significa educar — Ian, balançou a cabeça indignado.
— Umas boas palmadas não fazem mal a ninguém, é bíblico — disse ele, em uma tentativa fracassada de se justificar.
— Não acredito que está dizendo isso, pai — Karen, falava e seu queixo tremia, era de dar pena aquela situação. — Aquele cara faz da minha vida um verdadeiro inferno, ao ponto de eu querer pôr um fim a tudo isso, enquanto você vive a sua vida perfeita com sua esposa e filho, me mandando respeitar o homem que me cria! Bela maneira de educar um filho!
— Não exagera Karen, eles te botam de castigo por que você não obedece!
— Você sabe como dói uma surra de cinto? Não dói só na pele não; dói na alma. Essas marcas que eu tenho que em minhas pernas vão sumir daqui a uns dias, mas essa que ficou aqui dentro, vai me acompanhar pelo resto da minha vida.
— Marcas? — o homem a olhou desconfiado. — Ninguém me disse nada sobre surra de cinto ou algo do tipo.
Karen levantou até a altura da coxa a saia que usava, e havia várias marcas roxas. Em seguida fez o mesmo com a camiseta, suas costas exibiam mais marcas daquela tortura disfarçada de corretivo. Os olhos do pai se arregalaram, assim como os nossos.
— Foi sua mãe que fez isso? — ela assentiu com a cabeça. — Por quê?
— O homem que me cria e tem o direito de me educar, me encontrou conversando com o Ivan ontem a noite no banco da igreja da colônia. Ele passou reto, mas quando chegou em casa brigou com minha mãe. Ele bateu nela, e ela descontou em mim.
— Não acredito no que estou ouvindo!
— O Ivan, ouviu meus gritos, entrou em casa e me tirou de lá. Por isso estou aqui, e se me obrigar a voltar para casa, te garanto que nunca mais me verá na vida!
— O senhor tem certeza de que não quer entrar para conversar? — Ian perguntou, ao ver o homem estava a ponto de ter um ataque cardíaco.
— Eu não sabia que estava passando por essas coisas, minha filha.
— É claro que não! Você age como se só tivesse um filho — as palavras da garota estavam impregnadas de mágoa e rancor. Era impossível não se comover com sua dor.
— Eu sinto muito Karen, juro que não sabia...
— Sente? Só que essa lágrima que escorre do seu rosto, esse arrependimento, não vão mudar o que passou. O tempo não volta pai.
— Talvez seja tarde para isso, mas... eu te peço perdão — o homem tentou se aproximar da filha, que deu um passo atrás, não permitindo contato físico. — Eu quero que me conte tudo, esse abuso não vai ficar impune.
— Sinta-se à vontade para usar meu quarto para a conversa — Ivan finalmente cedeu. — Estarei na sala, aguardando.
— Vocês podem me esperar aqui — disse ele aos homens que o acompanhavam, enquanto seguia para dentro da casa, acompanhado de Ivan e sua filha.
— Nossa, eu achei que essa confusão ia acabar em pancadaria — comentou Juliana, que apareceu do nada, e só consegui reparar que estava vestindo uma camiseta enorme e bermuda masculina.
O olhar gélido de Carmencita para a garota revelou que ela não a havia notado antes e, claramente, não estava contente com sua presença.
— Elas dormiram no meu quarto, e eu e Eduardo ficamos com Ivan no dele — explicou Ian, percebendo o olhar furioso de sua mãe sobre ele.
— Por isso essa madrugada ouvi vozes femininas vindo de lá. Eu juro que queria te esganar! — disse Carmencita, dando um tapa no braço do filho. — Arranco seu couro se fizer minha casa de motel. E vocês, venham tomar café! — Ela caminhou até a porta. — Vocês dois aí de preto, também!
— Eita, que família de gente brava! — Juliana assobiou, de olhos arregalados, antes de seguir a mãe de Ian.
Meus pais nos castigavam, davam broncas que nos induziam a refletir, mas nunca recorreram a surras com cinto ou qualquer outro objeto para nos educar. Desde cedo, aprendemos que a violência física não deve ser considerada normal, nem uma forma aceitável de correção. Na casa de Karen, a situação era bem diferente. Ela nos contou que o padrasto agredia a mãe e a traía constantemente.
Com os olhos cheios de tristeza, também revelou que, ao testemunhar uma dessas traições, ele começou a perseguí-la injustamente. A mãe, por sua vez, não denunciava as agressões e escondia o que sofria, mais por depender financeiramente dele do que por amor. Karen tinha medo de pedir ajuda e que algo pior acontecesse, pois já tinha presenciado ameaças graves dentro de casa.
— Eu queria pedir desculpas a senhora, dona Carmencita — disse doutor Emanuel, logo depois de se reunir com a filha e posteriormente Ivan, Ian e Eduardo, para resolver aquela situação. A presença do policial ali foi muito importante para acalmar os ânimos e agora eles já conseguiam conversar pacificamente. — Eu não poderia chegar aqui daquela forma em sua casa e...
— Tudo bem, o senhor estava defendendo sua filha — disse ela, lhe servindo uma xícara de café. — É uma pena que um lar que deveria ser um abrigo, acabou se tornando um campo de batalha.
— Me sinto mal por tudo isso, eu realmente não sabia que ela estava passando por tanta coisa. É difícil admitir em voz alta, mas falhei muito como pai. Eu deveria ter sido mais presente.
— O importante é que o senhor enxergou a tempo de mudar essa realidade — afirmou a cigana, com um sorriso. — O que vai fazer agora?
— Karen não quer que eu denuncie a mãe, mas não posso deixar as coisas ficarem como estão. Mesmo sendo influenciada pelo marido, ela tem sua parcela de culpa e precisa entender isso. Vou entrar com o processo de emancipação quanto antes, mas ela realmente não quer voltar para casa.
— Ela pode ficar aqui, eu cuido dela — respondeu a cigana. — O quarto da minha filha não é ocupado desde que... Sua filha vai ficar bem aqui.
— Vou levá-la até a cidade, precisa fazer o corpo de delito, e depois vou até sua casa buscar suas coisas. Poderia deixá-la em um hotel de confiança, ela não quer ir comigo para a capital, mas acredito que também não seria uma boa ideia.
— Eu cuido dela para o senhor, e não se preocupe, meu filho a respeitará.
— Depois de tudo o que vi aqui hoje, eu não tenho dúvidas disso. A senhora e seu marido estão de parabéns, criaram bons homens — afirmou ele olhando para Ian, quando Ivan se aproximava ao lado de Karen.
— Mãe, avise o pai para adiantar seu retorno, teremos um casamento em breve — disse ele, olhando para a garota com um sorriso bobo e um olhar apaixonado.
Em meio a toda aquela confusão, não consegui falar a sós com Ian. Mas fiquei feliz por tudo ter se resolvido da melhor maneira possível; os dois se amavam e mereciam ficar juntos. Finalmente, parecia que as coisas estavam começando a se organizar.
Deixei as pulseiras sobre a mesa e voltei para casa, onde encontrei Soraia completamente descabelada, sentada no sofá. Minha mãe estava em pé, bufando como um touro enfurecido, enquanto Vívian chorava, com o olho e o queixo roxos, marcas avermelhadas na bochecha, os braços arranhados, o cabelo desgrenhado e a roupa rasgada.
— Vai me dizer por que bateu nela, Soraia, ou vou ter que arrancar isso de você à força? — perguntou minha mãe, praticamente espumando pela boca como um cão raivoso.
"Eita, agora a casa cai!", pensei, com os olhos arregalados, tapando a boca que estava aberta. Sempre tem como piorar!
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