Capítulo 31 Praga de cigana
Caminhei apressadamente, com o coração acelerado. Era hora de desabafar meus sentimentos; se não o fizesse agora, talvez nunca tivesse coragem novamente. Ao chegar ao barracão, encontrei a porta fechada e as luzes apagadas. Entretanto, a janela estava entreaberta, permitindo que a luz da lua, combinada com o brilho de um poste, iluminasse a mesa onde Ian estava concentrado em seu trabalho. Ele estava sentado de costas, em um banco de madeira rústica, concentrado em suas mãos enquanto confeccionava um cabresto com uma corda vermelha. Quando me viu, seu semblante sereno se transformou em uma expressão de surpresa.
— Natacha? O que você está fazendo aqui? — exclamou, levantando-se abruptamente ao me ver se aproximar.
— Há uma festa acontecendo lá fora. Considerando a porta fechada, a luz apagada e a hora avançada, você...
— Eu precisava ficar sozinho.
Meu coração disparou, ecoando em meus ouvidos como um tambor frenético. Queria recuar, fugir daquele momento, mas minhas pernas pareciam paralisadas. A mente dizia para sair, mas o corpo queria permanecer. Assim, fiquei ali, encarando-o em um silêncio carregado de tensão.
— Eu... — engoli em seco, lutando para recuperar a coragem que desapareceu assim que nossos olhares se cruzaram.
Meu rosto ardia, e não sabia se o calor vinha do álcool ou da ansiedade de estar tão perto dele. A verdade é que, se eu decidisse virar as costas e fugir, poderia estar abrindo mão da única oportunidade que tinha de fazer a coisa certa. Com Samuel, as coisas eram mais simples; ele sempre ditava as regras, e eu me acomodava na segurança de segui-las. Mas com Ian, tudo era diferente. Nunca sabia o que esperar dele, e essa imprevisibilidade é o que me motivava a encarar o desafio.
A forma como ele sorria, sua postura decidida diante das situações, a maneira como seus olhos brilhavam quando falava de algo que amava, tudo isso me atraía como uma mariposa para a luz, mesmo sabendo que poderia me queimar. Eu queria abrir meu coração de verdade, botar para fora tudo que o sentia, mas as palavras que eu desejava pronunciar ficavam presas na garganta, aterrorizadas pela possibilidade de estragar tudo. O medo de que ele se cansasse de mim, da minha indecisão e me ignorasse me afligia; encarar o seu desprezo seria algo insuportável, especialmente vindo de alguém tão importante em minha vida como Ian.
— Se não vai dizer nada, então vá para casa Natacha — disse ele, firme, me dando as costas e voltando a sua tarefa.
— Eu vim conversar com você. E não me mande embora, por que eu não vou — falei decidida.
Ele passou uma das pernas para o lado de fora do banco como se montasse um cavalo e me encarou.
— Não podemos ficar sozinhos aqui, amanhã...
— Amanhã? Não, amanhã não! — me sentei a sua frente na mesma posição, segurando sua camisa com força. — Estou exausta de tentar fazer tudo certo e, mesmo assim, tudo dar errado! Não aguento mais essa sensação que me consome!
— Você está dizendo coisas sem sentido — retrucou ele, encarando as minhas mãos, sem a menor tentativa de afastá-las, antes de me olhar nos olhos. — É melhor ir para casa, não quero que nos vejam aqui sozinhos.
— Tem medo de ser visto com uma cigana traidora do seu povo? — perguntei, com um sorriso provocador nos lábios enquanto puxava sua camisa, encurtando a distância que nos separava.
— Você está com cheiro de vinho. Quem te deu bebida?
— Apenas tomei alguns goles com a Soraia, mas não estou bêbada. Tenho plena consciência do que estou fazendo — respondi, enquanto uma onda de calor se intensificava a cada troca de olhares.
— Não deveria ter bebido. Foi um erro.
— Eu. Não. Estou. Bêbada! — enfatizei, mantendo-me firmemente agarrada à sua camisa. Não queria soltar, e ele também não parecia incomodado com isso, já que não afastou as minhas garras.
— Você realmente vai querer me convencer de que está sóbria? Olha como está se comportando! — Ele fixou o olhar novamente em minhas mãos antes de retornar ao meu rosto, que ardia como se estivesse em chamas.
— Eu não estou bêbada, Ian, é sério. Só consegui reunir coragem para... Se eu tiver que ir embora, quero levar uma lembrança sua.
— Não estou te reconhecendo — ele disse, afastando-se de mim e virando as costas. Ajustou a postura, apoiou os cotovelos na mesa, cabisbaixo.
— Não sabia que era o tipo de homem que negava fogo, Ian.
— O que foi que você disse? — ele se virou rapidamente para me encarar. — Como seu...
— Como meu? — o desafiei com um sorriso, ao me aproximar, ficando em pé a sua frente, enquanto ele ainda sentado me encarava com a respiração descompassada.
— Você me respeita, Natacha! — finalmente falou.
— E você, me dê um motivo para nunca mais te esquecer, porque eu vou embora daqui, idiota! — falei, segurando seu rosto entre minhas mãos.
— Eu não tenho que te dar nada, se decidiu ir embora, então vá!
— Você está me rejeitando por causa dela, não é? Sua amiga vai dormir na sua cama hoje?
— E se for? Você passou todos esses dias com Samuel e eu nem cobrei nada. — Seus olhos se estreitaram. — O que você quer de mim?
— Eu quero você, droga! — Em um impulso, puxei-o pela camisa com tanta força que os poucos botões que ainda estavam abotoados saltaram longe.
Ian respirava irregularmente me encarando. Sei que estava mais solta pelo efeito da bebida, mas sabia exatamente o que fazia, apenas externei o que reprimia; eu já não tinha mais nada a perder.
— Quase acreditei, Natacha — ele respondeu, me encarando de uma forma intensa.
— Idiota! — resmunguei me sentando em seu colo e o beijando de uma forma desesperada, que ele prontamente correspondeu.
Nossos lábios se moviam com uma intensidade que fez meu coração acelerar. A sensação do seu corpo sob mim, quente e firme, fez com que a tensão da noite se dissolvesse em um desejo incontrolável. Suas mãos deslizaram pela minha cintura, segurando-me com firmeza, enquanto eu tentava acabar com qualquer espaço que restava entre nós.
O cheiro dele, uma mistura de madeira e algo que era exclusivamente Ian, me envolveu. Eu queria mais, e sabia que ele também queria. A maneira como seus dedos se enroscaram em meu cabelo me fez estremecer. Afastei-me por um momento, nossos rostos ali tão próximos que podia sentir a respiração dele em minha pele. O olhar nos olhos dele era intenso, quase possessivo, aquilo era a perdição da minha vida.
— Você sabe o que está fazendo comigo? — ele sussurrou, seu tom era uma mistura de provocação e desejo.
Sorri, como se pudesse sentir a adrenalina correndo em minhas veias. Em resposta, pressionei meus lábios contra os dele novamente, mais ferozmente. Nossos corpos se moviam em harmonia, e cada toque parecia acender uma chama que eu não sabia que existia. As mãos dele passaram para dentro do meu decote tocando a pele nua, mãos enormes firmes, que me fizeram esquecer tudo ao nosso redor.
— Tão perfeita — murmurou, passando o nariz pela minha orelha, antes de beijar a curva do meu pescoço. — Eu não posso te tocar assim.
— Não pare — pedi, quando sua mão deslizou de dentro do meu cropped para minhas costas.
— Não me tenta, Natacha — ele me encarou apertando minha cintura de modo que sentisse o tamanho do seu desejo por mim. — Você não vai me fazer perder a cabeça, cigana.
— Eu quero queimar minhas fichas todas de uma vez — falei, respirando pesadamente, olhando em seus olhos.
— Não comigo — ele me afastou, se levantando e ajeitando sua roupa, antes que eu terminasse de tirar.
— Por que brinca com meus sentimentos, Ian? — Perguntei, com a voz embargada, me virando de costas. Não queria vê-lo ir embora, já bastava a humilhação de ser rejeitada de uma forma tão estúpida.
Ele ficou em silêncio por um breve instante, então se aproximou novamente.
— Você vem atrás de mim por que ele não te causa o mesmo efeito que eu, não é? — perguntou, me puxando pela cintura, colando seu corpo em minhas costas, sussurrando em meu ouvido: — Ele não acende essa chama quando te toca.
— Convencido — resmunguei, enquanto sua mão deslizava suavemente pelo meu colo, até alcançar meu pescoço. Ele segurou minha cabeça com firmeza, virando meu rosto para que nossos olhares se encontrassem. Seus dedos firmes contornavam a lateral do meu rosto, e o polegar acariciava minha boca de maneira provocante. O olhar que ele me lançava, acompanhado de um sorriso malicioso, me deixava ainda mais atiçada.
— Eu sei exatamente como deixar uma mulher em chamas, Natacha. Não sou ingênuo a ponto de me deixar enganar, então não pense que não percebo suas reações. Fico louco quando te vejo mordendo os lábios ao me observar distraída, sua respiração acelerada quando minha mão toca sua pele assim — Ian mordeu os lábios, me encarando enquanto subia a mão lentamente pela pele nua de minha coxa, parando muito perto de onde eu queria que chegasse. — Eu posso ir muito além, tocar o seu corpo todo, e te fazer minha, só minha. Duvido que você queira estar com mais alguém depois que eu te levar para a minha cama e te mostrar todos os motivos para não querer sair dela.
— Você se acha tanto assim? Não sou só eu que estou ardendo de desejo aqui — sorri, enquanto levava a mão até sua nuca, esfregando meu corpo contra o dele, ainda de costas, ansiando por eliminar aquela barreira de tecido que nos separava.
— Eu nunca disse que não te desejava — ele respondeu, me afastando.
— Vai fugir agora? — o desafiei, encarando aquele olhar que me fazia sentir nua.
— Eu não, quem vai fugir é você — afirmou, cruzando os braços à minha frente.
— Não tenho outra saída, não entende? Estou sendo pressionada, e...
— Eu já disse que te assumo, mas antes vai ter que terminar tudo com ele.
— Aonde vai? — perguntei quando se afastou.
— Vou tomar um banho gelado — ele respondeu, olhando para mim por cima do ombro. — Amanhã te envio a camisa para você consertar.
— Peça para sua amiga "Ju" consertar isso — protestei, contrariada.
— Você que fez, você conserta!
— Ian, espera!
— Se eu ficar aqui mais um minuto, vou te jogar naquela mesa e mostrar se sou homem de negar fogo, então não. Não vou fazer algo do qual me arrependerei. Vá para casa, Natacha!
— Volta, por favor!
— Eu vou para a minha casa, e você vai para a sua! E isso não é um pedido!
— Idiota! — protestei ao passar por ele, esmurrando seu peito com força, enquanto ele me encarava com firmeza.
— Enquanto estiver com ele, não vou te tocar mais — avisou, virando-se na direção oposta. — E se apresse, porque posso me cansar e procurar outra pessoa.
— Cavalo!
— Cavalo, sim; touro, jamais! — respondeu ele, desaparecendo na escuridão.
***
Olhei para aquele barracão vazio, onde apenas os ecos do meu choro ressoavam, e me senti a pessoa mais idiota do mundo. Encarar a verdade não era fácil: no auge da minha covardia, eu me agarrei a um deles, esperando que o outro pudesse me amparar caso tudo desse errado. Percebi o quanto fui egoísta.
— Natacha? O que você está fazendo aqui? — perguntou Wladimir ao me encontrar sozinha, debruçada sobre a mesa cheia de ferramentas. — Você está chorando?
— Eu sou uma idiota — respondi, endireitando a postura e limpando as lágrimas com a palma da mão. — Uma estúpida egoísta que merece vagar sozinha por aí.
— Nossa — ele murmurou, sentando-se ao meu lado.
— Não me olhe com pena, por favor. Já basta esse sentimento que está me corroendo por dentro — pedi, levando a mão ao peito, sentindo meu coração apertado. — Pode não parecer, mas não estou me fazendo de vítima. Eu realmente sou uma imbecil.
— Eu não sei exatamente o que dizer, pois não conheço toda a situação, mas quero que você saiba que não te considero uma imbecil. E definitivamente não acho que você esteja se vitimizando.
— Quando eu era criança, sonhava com um casamento lindo, filhos e uma vida repleta de felicidade. Mas tudo mudou quando me mandaram para o sul. Conheci uma realidade que parecia tão distante dos meus sonhos.
— Pura ilusão — disse ele, balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Eu sei, mas na época minha visão era bem diferente. As meninas da minha idade saíam, conheciam rapazes e se relacionavam sem se preocupar com compromissos. Elas dançavam, bebiam e se divertiam, eram tão confiantes, donas de seus próprios passos e eu... eu me sentia tão diferente delas.
— Não podemos nos guiar pelos outros, Nat. Tenho certeza de que em todos sabiam aproveitar essa "liberdade".
— Não — concordei, lembrando-me de Paola, a garota de quinze anos que abandonou a escola ao engravidar. O avô da criança assumiu as responsabilidades do pai, incluindo o pagamento da pensão alimentícia e qualquer outra assistência necessária. O jovem já estava em um novo relacionamento antes mesmo do nascimento do filho.
Contei essa história ao Wladimir, assim como a da outra menina que se envolveu com drogas e acabou no juizado de menores após ser pega ajudando seu namorado traficante. A irmã dela tinha uma reputação duvidosa, pois costumava colecionar namorados. Na semana em que deixei a cidade, ela se envolveu em uma confusão: a esposa de um dos homens com quem ela saía a encurralou em um beco, cortou seu cabelo e a espancou.
— Então, a vida dos gadjôs não é tão colorida assim, não é mesmo? — Wladimir sorriu timidamente.
— Não, realmente não é — respondi, retribuindo seu sorriso enquanto limpava a lágrima que escorria pelo meu rosto. A verdade é que nunca tinha parado para observar esse lado; apenas absorvi o que me era conveniente. Típico de jovens imaturos. — Voltei cheia de ideias que só me levaram a um emaranhado de problemas e agora... o que faço da minha vida, Wlad?
— Sei que não é o mais adequado, mas... posso te dar um abraço? — ele pediu, me pegando de surpresa.
— Sim — respondi, e logo me vi envolvida em um abraço terno e acolhedor.
— Você não é uma imbecil, Nat. Você é uma garota linda que caiu nas armadilhas da vida.
— Eu faço tudo errado — murmurei, olhando em seus olhos.
— Não deixe a indecisão te cegar, Natacha — ele disse, segurando meu rosto entre suas mãos e me encarando. — Todos nós temos inseguranças e medos, mas não podemos fugir deles. Você sabe o que quer; o que falta é coragem para admitir. Isso é o que mais te prejudica. Não espere o arrependimento bater à sua porta para abrir os olhos.
— Obrigado — beijei seu rosto e me levantei. — Você é um rapaz de ouro, Wlad. A Pérola há de voltar, e então vocês poderão ser felizes.
— Não sei se ela vai voltar, Nat. Mas estarei aqui esperando. Não vou escolher outra cigana. Nesta vida, ou em outra, eu sei que vamos nos reencontrar, e darei a ela todo o amor que guardei durante esse tempo em que nos separaram.
— Não perca as esperanças — disse, oferecendo-lhe um último sorriso antes de sair.
Conversar com Wladimir foi uma experiência surpreendente. Eu realmente não esperava isso, mas a conversa me trouxe um alívio inesperado. Não queria voltar para casa aos prantos, tendo que explicar o que havia acontecido.
Caminhei cabisbaixa, refletindo sobre tudo o que ouvira, e cheguei à conclusão de que deixar Samuel seria a melhor decisão para mim. Embora sua companhia me fizesse bem e, apesar das desvantagens, houvesse a possibilidade de construirmos uma vida juntos, eu sabia que ao lado de Samuel, eu estaria sempre à sombra de algo que nunca poderia se tornar real. Ian não era apenas uma opção; ele era a resposta que eu buscava em cada canto da minha alma.
— Natacha? — chamou Juliana, trombando comigo próximo à minha casa. — Você viu o Ian? Sabe onde ele está?
— Por que eu deveria saber do Ian? — respondi, sentindo um misto de ciúmes e frustração.
— Ele me mandou uma mensagem dizendo que queria falar comigo — disse ela, olhando na tela de seu celular. — Ah, está em casa. Você está bem? Parece que estava chorando.
— Estou ótima — respondi, mantendo os olhos semicerrados. — Não deixe o homem esperando.
— Eu hein!
Enquanto ela se afastava, só conseguia imaginar a cena: Ian em casa, de toalha, os cabelos molhados com gotas d'água escorrendo por aquele peito musculoso, esperando por ela em seu quarto.
"Tomara que broche!", pensei, tentando afastar a onda de ciúmes que subia pela minha garganta, enquanto ia rumo a minha casa. Sorte a dele que essa história de praga de cigana seja pura lenda!
***
Aquela noite foi interminável; não consegui dormir, atormentada por pensamentos intrusivos que me impediam de encontrar paz. Ao amanhecer, decidi que precisava procurar o Ian e contar a ele tudo o que não consegui dizer na noite passada. Queria olhar em seus olhos e confessar que estava pronta para deixar o Samuel para trás e construir uma vida ao seu lado, não apenas por uma tradição, mas porque o amava de verdade.
— Natacha, que bom que você acordou mais cedo! Tenho essas pulseiras prontas. Você poderia levar na Carmencita para mim? — perguntou minha mãe assim que entrei na cozinha naquela manhã. O sol mal havia começado a se erguer acima dos montes, iluminando suavemente o ambiente.
— Eu te amo, mãe! — respondi com um sorriso, enquanto pegava a caixinha de suas mãos e saía apressada.
— Ei! Você não vai nem tomar café? — minha mãe perguntou, sorrindo, enquanto me olhava pela janela da cozinha.
— Tomo com ela! — acenei à distância. Eu não ia desperdiçar aquela oportunidade que a vida jogou em meu colo.
Cheguei na casa de Carmencita e ainda no quintal já senti o cheiro de pão fresco e café. Ela abriu um sorriso ao me ver, e logo me convidou para sentar à mesa enquanto os filhos se arrumam para o trabalho, mas mau começamos a conversar e o som de palmas ecoou pela cozinha, nos chamando a atenção. Carmencita me olhou surpresa antes de seguir até a porta; pelo visto, eu não era a única visita inesperada do dia.
— Bom dia. — Ela respondeu, com um semblante confuso, como se tentasse entender aquela situação.
— Eu vim buscar a minha filha — ele disse, usando um tom de voz firme e autoritário.
— Sua filha? — Carmencita franziu o cenho, pensativa. O homem no meio do gramado exibia uma postura intimidante, mas seus capangas, imponentes e silenciosos, eram ainda mais ameaçadores.
— Sim, a minha filha! — Ele avançou um passo, e senti meu coração acelerar. — Ela não dormiu em casa essa noite, e eu sei que está aqui.
— Ian! — Carmencita chamou, e seu tom me fez estremecer.
"Ele mandou uma mensagem dizendo que queria falar comigo."
Minhas pálpebras se abriram em choque, e a respiração se tornou irregular ao relembrar que, após me dar um ultimato avisando que poderia procurar outra pessoa, ele tinha enviado uma mensagem para Juliana.
— Me chamou? — Ian apareceu na porta, com os cabelos ainda molhados, como se tivesse saído do banho há poucos instantes, enquanto abotoava a camisa.
— Ele veio buscar a filha dele! — O tom de voz de Carmencita deixava claro que ela já estava ciente da presença de outra mulher nesta casa, e isso apertou ainda mais meu peito.
— O senhor deseja entrar para conversar? — perguntou Ian, colocando as mãos nos bolsos e erguendo a postura de forma desafiadora.
— Olha, senhor... — começou a dizer Ian, mas foi interrompido.
— Escute, jovem, viajei a noite inteira para resolver isso. Estou cansado e estressado, então não me faça perder a paciência ainda mais.
— Parece que o senhor não está aberto ao diálogo. E se não ter dormido a noite é motivo para toda essa irritação, então estamos no mesmo barco!
Olhei para Ian, que se mantinha firme diante do estranho à sua frente. O homem, embora mais baixo, não se deixava intimidar. Seus olhos brilhavam com uma fúria intensa, como uma tempestade prestes a desabar, pronta para arrasar tudo ao seu redor.
Um frio intenso percorreu minha coluna, como se um gelo cortante me atravessasse, paralisando meu corpo que tremia involuntariamente. Minha mente estava em um turbilhão de emoções, e eu não sabia se meu medo vinha da possibilidade de alguém se machucar ali ou da ideia de que Ian havia dormido com ela, depois de me dar esperanças. A forma como ele encarava o pai dela, um homem cujos olhos pareciam arder com raiva, me dizia que a fila andou e eu fiquei para trás.
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