Capítulo 28 Encurralada
Cheguei no quarto em meio a uma crise de ansiedade que me consumia. As paredes pareciam se fechar ao meu redor, enquanto tentava controlar minha respiração acelerada e aquele desespero como se meu coração fosse explodir a qualquer momento. Por sorte a patroa ainda não havia retornado da cidade, e os rapazes estavam trabalhando, assim pude me esconder sem ter que explicar meu nervosismo.
"Deixe meu Ian em paz, ou essa foto e mais umas que tirei, vão parar nas mãos do conselho."
Aquela frase ecoava em minha mente como uma tortura cruel. Não sei de onde ela havia tirado tanta raiva ao ponto de querer me prejudicar daquela forma, eu não pedi para o Ian se envolver com meus problemas. As coisas foram acontecendo e tomando proporções gigantescas, fugindo ao meu controle. Era angustiante perceber que a mágoa de outra pessoa se voltava contra mim, como se eu fosse responsável por um enredo onde nunca desejei ser a protagonista. Eu escolhi me jogar nos braços do Samuel, mesmo sabendo das consequências, mas, não escolhi me apaixonar pelo Ian ao longo do caminho.
— Beba isso — disse Soraia, me entregando um copo com água fresca. Ela me encontrou chorando no quarto, depois de me procurar nos arredores da casa. — Se a Vívian pensa que vai ficar assim, está muito enganada — continuou, completamente irritada depois de ouvir o motivo do meu desespero.
— Ela já tem motivos demais para me odiar. Não quero dar mais um — murmurei, apreensiva.
— Ela precisa aprender uma boa lição, garota insuportável!
— Não Sô. Eu não quero me meter em mais problemas. A Vívian tem razão: não posso ficar com nenhum dos dois.
— Vai dar ouvidos as sandices dela?
— Não são sandices, eu entrei por um caminho que qualquer que seja minha escolha; pessoas inocentes serão afetadas. Não se trata apenas de mim e meu futuro, mas de uma comunidade inteira que pode pagar o preço.
— E só agora você viu isso? Natacha, acorda: de início pode haver um atrito, mas em algum momento as coisas terão que se acertar. Não é de interesse, nem da fazenda, nem da comunidade, cortar laços — ela comentou, esperançosa.
— Se a Vívian entregar aquelas imagens ao conselho estou perdida.
— Se ela entregar as imagens ao conselho, o Ian ainda pode decidir se quer ficar contigo, deixe de sofrer por antecedência!
— Acontece que eu já fui longe demais com Samuel. Mesmo que Ian me aceite, a menos que o Samuca tenha muita maturidade para entender minha escolha, teremos que deixar a fazenda. E se eu fugir com Samuel, as consequências serão piores, eu... eu me meti em um beco sem saída.
— Acha que comigo vai ser diferente? Para nossa história não terminar em conflitos, o conselho precisaria aceitar quebrar uma regra muito antiga, e duvido que façam isso. Não é permitido a união entre uma cigana e um gadjô e ponto final.
— Eu soube que tem outro cigano interessado em mim. Se eu aceitar me casar com ele, não haverá motivos para um rompimento de laços. Com o tempo Ian e Samuel esquecem essa história e todos seguirão suas vidas.
— Como se fosse simples. Mas me diz aí esperta: vai fazer o que com a prova do lençol?
— Digo que foi um gadjô lá no sul. Ninguém precisa saber que foi o Samuel.
— Uma mentira para encobrir outra? — Soraia me encarou de olhos semicerrados. — Você. Está. Fugindo!
— Eu já tinha decidido conversar com os dois. Ia falar primeiro com Ian, abrir meu coração e dizer que estava disposta a assumir o compromisso com ele, caso fosse correspondida. Não queria que ficasse comigo só para me proteger, tem muita coisa em jogo. Depois falaria com Samuel, e enfrentaria as consequências, mas a Vívian me encostou contra a parede e agora não sei mais o que fazer.
— A Vívian não pode decidir o futuro da sua vida, entenda!
— Não, mas pode fazer um estrago muito grande com as imagens que tem em mãos.
— Vamos voltar para nossa casa, e você vai dar um jeito de se afastar dos dois até que consiga pensar melhor em tudo isso. Sem decisões precipitadas!
— Eu não tenho tempo para pensar, aquela garota está disposta acabar comigo, e agora com essa pressão do conselho...
— E daí? O Alejandro ainda não se casou, e depois dele, sou eu. Até a sua vez chegar, você pode estar longe, criando uma adorável coleção de pequenos Samuelzinhos, ou pode estar radiante comprometida com o cigano mais gato que eu já vi.
— Dá para levar a sério? — revirei os olhos, mas não consegui conter o riso.
— Você pode até não ficar com nenhum dos dois e se casar com outro cigano, mas não vai ser por causa de uma chantagem barata. A Vívian que me aguarde!
— O que você vai fazer? — perguntei apreensiva, mas um barulho vindo do corredor me fez ficar sem resposta.
— Meninas?
— Não diga nada a ela, por favor — sussurrei para Soraia, que assentiu. — Aqui no quarto, mãe!
— Está tudo bem? — ela me olhou desconfiada, tomando a benção de Soraia, em seguida repetindo o gesto comigo. — Crístian me disse que estavam a casa, passei lá falar com Alejandro ainda agora.
— Eu me esforcei um pouco e acabei ficando com dor no pé, mas já está passando — respondi, trocando olhares de cumplicidade com Soraia.
— Amanhã seu pai vai concluir a montagem dos móveis. O roupeiro novo já ficou pronto e, em breve, você poderá voltar para casa.
— Que notícia boa! — sorri, de forma sincera. — Já estava com saudades de conviver com minha família.
— Também estamos sentindo a falta de vocês, minhas bagunceiras — minha mãe sorriu, nos puxando para um abraço.
— Que calúnia! Nem somos bagunceiras! — Soraia tentou aparentar indignação, mas acabou rindo em seguida. Era bom estar no abraço acolhedor da minha mãe.
— E o pai, como ele está? — perguntei, me aconchegando no colo de minha mãe, e recebendo carinho no couro cabeludo.
— Está uma pilha de nervos. Mais tarde haverá uma reunião com o conselho sobre alguns problemas da comunidade; esse um dos motivos de eu ter vindo até aqui.
— O que aconteceu? — me levantei, apreensiva.
— O conselho está cobrando uma solução para os jovens em idade de se casar que ainda não tem pretendentes.
— O conselho não tem outro assunto? — Soraia protestou.
— Eles só estão tentando manter a ordem e evitar que nossos costumes enfraqueçam — explicou minha mãe. — O cigano Egon foi até a goiás para acertar os detalhes do casamento e a noiva o rejeitou. Está envolvida com o filho do patrão, um gadjô.
— Mas ela não é de nossa comunidade — disse Soraia, trocando olhares comigo. Eu, claramente pálida, tentava pensar em um possível argumento.
— Não, ela não é, e esse é exatamente por isso que o conselho decidiu acelerar os casamentos pendentes. Eles querem evitar que casos assim aconteçam em nossa comunidade.
— Afrouxar as regras? Nem pensar — falei, mais alto do que gostaria.
— E por que teriam que fazer isso Natacha? — minha mãe me olhou com desconfiança. — Não temos casos de rebeldia em nossa comunidade. Pelo menos, não que eu saiba.
— Isso realmente seria ruim — Soraia estalou os olhos para mim, um gesto que servia como um aviso.
— Seria péssimo, um desgosto imenso para um pai de família. Que nunca tenhamos que passar por algo assim, eu me culparia pelo resto da minha vida por falhar como mãe.
— Mas... — tentei formular uma frase, mas Soraia me interrompeu.
— Mas, a senhora nos educou muito bem — completou ela.
— Eu só queria pedir a vocês duas que não se desviem de nossos costumes. Seu pai e eu, construímos nossa família procurando ser exemplos e seria muito doloroso se acontecesse algo que manchasse o nosso nome.
Uma nova troca de olhares, suspeita, foi seguida de um silêncio mortal.
— Preciso ir, tenho que terminar umas pulseiras para entregar na cidade, e...
— Mãe, quem é o cigano que se interessou por mim? — arrisquei a perguntar.
— Como soube? — ela me olhou, confusa.
— As notícias correm — respondi, tentando soar natural.
— É o cigano Iago.
— Ah, não, o Iago não! — protestei, de forma involuntária. — Ele age como se tivesse nascido no século retrasado.
— Nossa, filha, não fale assim. Ele é um rapaz trabalhador, sério, respeita fielmente nossos costumes, e...
— A Nat tem razão, mãe — interrompeu Soraia. — O Iago é muito insuportável. Feio como se tivesse nascido pelo avesso e se acha o irmão perdido do Brad Pitt.
— Mas beleza não é tudo, Soraia — minha mãe tentou justificar, lutando para sufocar o riso que escapava diante da sinceridade de minha irmã.
— Ah, mas mesmo assim, ele é excessivamente sistemático, parece um burro xucro. Tudo é na base do coice. A Natacha não vai se casar com aquele seboso — Soraia torceu o nariz.
— Amém — concordei, sentindo-me aliviada por não estar sozinha nessa opinião.
— Então que o Ian se apresse, o Ariel em breve estará chegando para tratar os detalhes do casamento, e os olhares se voltarão para Natacha — disse minha mãe, antes de se despedir e nos deixar ali, com uma expressão de desespero, como se o apocalipse estivesse prestes a acontecer.
***
Entre todas as situações desafiadoras que enfrentei, ser chantageada por uma das nossas foi, sem dúvida, a que mais me decepcionou. Vívian nunca teve uma boa aceitação entre as garotas do acampamento e frequentemente se envolvia em confusões. Com uma lábia impressionante, ela sempre conseguia manipular as pessoas e transformar a situação a seu favor, utilizando as fraquezas alheias como armas. E pensar que, naquele momento em que o conselho estava decidido a restaurar a ordem na comunidade, eu lhe dei exatamente a munição que ela precisava.
— Que não seja mais confusão — murmurei ao abrir a porta da sala do Ian, que havia me chamado.
Para minha surpresa, a sala estava vazia. Apenas um buquê esplêndido de rosas vermelhas descansava sobre sua mesa. Achei estranho, não me atrevi a mexer, mas fiquei muito curiosa.
— Ah, Nat, eu te chamei porque...
— Caio! — em um impulso, abracei o loiro de olhos azuis que entrou na sala com Ian. Desde a noite em que Venâncio me sequestrou, eu não tinha mais falado com ele. Nem consegui agradecer. — Obrigado por tudo o que você fez por mim.
O rapaz correspondeu ao meu abraço de forma tímida e logo se afastou, trocando olhares com Ian, que observava aquela cena em silêncio.
— Natacha, esse é o Eduardo, irmão do Caio.
O rapaz correspondeu ao meu abraço de forma tímida e logo se afastou, trocando olhares com Ian, que observava a cena em silêncio.
— Como? — perguntei, observando o loiro alto parado à minha frente. Os mesmos olhos, corte de cabelo, barba, estilo de roupa, físico, tudo. Não era possível que fosse outra pessoa. — Isso é uma brincadeira?
— Não — respondeu o rapaz, esboçando um sorriso tímido. — As pessoas realmente nos confundem.
— Uau! Deveriam usar uma placa de identificação — falei com um sorriso surpreso.
— Nunca precisamos disso — ele sorriu em resposta. — Eu trouxe essas flores para você.
— Para mim? — olhei para Ian como se buscasse sua aprovação. Ele assentiu de maneira natural, fiquei ainda mais confusa. — Por quê?
— Não são minhas, são de um amigo.
— Ok, isso está estranho. Eu não posso aceitar.
— Vou explicar: essas flores são do Rodrigo, um grande amigo. Ele teria vindo comigo, mas contraiu dengue e precisou ser hospitalizado, lá no Rio de Janeiro.
— E por que alguém de tão longe me mandaria flores?
— Sente-se Natacha. Precisamos conversar — disse Ian, com um semblante sério.
— O que eu fiz?
— Estas flores são como um agradecimento, pois você ajudou a prender o sequestrador da irmã do Rodrigo, o meu amigo.
— Venâncio? — perguntei, aflita. — Ela está bem?
Ian me olhou com compaixão, antes de apertar a minha mão, que suava frio.
— Ela faleceu há dez anos.
— Dez anos? — exclamei, sentindo um frio na barriga.
— Entre aquelas fotos que você tinha salvo, estava uma onde a irmã dele aparece, e isso serviu como prova de que ela foi realmente traficada. O Venâncio confessou, antes de morrer, que foi ele quem trouxe a garota da Bahia para São Paulo. E também foi ele quem a deixou nas ruas, quando ela não teve mais serventia no prostíbulo.
— Valha-me! E a polícia prendeu os responsáveis?
— Alguns, mas os cabeças ainda estão soltos. No entanto, estão na mira dos federais. Não vai demorar muito até que sejam capturados.
— Corro riscos?
— Embora não possamos descartar essa possibilidade, achamos pouco provável, pelo menos neste momento. Eles são muito astutos, estão com um federal que não apenas atrapalhou seus esquemas, mas também prendeu um deles aqui. É claro que a polícia vai ficar de olho em cada movimento estranho por essas bandas.
— Mas e se eles vierem? A Pérola nunca mais apareceu e...
— Vamos cuidar de você — Ian apertou minha mão, tentado me tranquilizar.
— Você não viria aqui só para me trazer um buquê de rosas e dizer que não corro riscos; poderia ter ligado. Então quero saber o que mais está acontecendo.
— O Caio está desaparecido desde ontem. Temos sérios motivos para acreditar que foi pego por eles como uma forma de vingança.
— O Caio? Mas, ele... Isso é sério?
— Natacha, eu só estou te contando essas coisas porque Ian me garantiu que você manteria sigilo sobre essa conversa.
— Sim, mas...
— Calma — Ian interveio, apertando ainda mais a minha mão. — Primeiro ouça tudo o que ele tem a dizer, depois veremos como agir diante da situação. Você ão está sozinha.
— Da última vez que me envolveram em uma investigação policial, eu tive o cano gelado de uma arma em minha cabeça. Ainda sinto o pavor de ser arrastada de uma forma bruta até a mata e de todo o terror que vivi.
— Eu sei que foi difícil passar por tudo isso — disse Eduardo. — Não queria ter que te fazer reviver essa dor, mas preciso realmente de sua ajuda.
— Mas eu já disse tudo a polícia, não sei no que mais poderia ajudar.
— É uma investigação extraoficial, não precisa ficar nervosa. Vou te fazer algumas perguntas, e se e permitirem gostaria de olhar a cabana do Venâncio. Quem sabe não surge um fato novo.
Um misto de apreensão e curiosidade me atingiu. Eu não sabia se podia colaborar com mais alguma coisa, mas tinha muito medo de voltar a ser um alvo. Eduardo me fez reviver aqueles momentos de tensão, mas era tão calmo para conversar que acabei não me sentindo tão mal quanto me senti quando tive que prestar depoimento na delegacia.
— O Caio vai ficar bem? — perguntei, olhando para a palma de minhas mãos, que estavam cruzadas sobre minhas coxas, tremendo devido a minha inquietude.
— A polícia está cuidando de tudo.
— Você também é policial?
— Sou delegado.
— Uma família de policiais, e ainda pegaram seu irmão. Eu pensei que não mexessem com a polícia.
— Meu pai é coronel das forças armadas, e isso não impediu que levassem o meu irmão. E minha namorada.
— Sua namorada?
— Sim, ela foi levada há alguns dias. O Caio tentou se infiltrar, mas devido à falta de contato, acreditamos que tenha sido pego. É de extrema urgência desmantelar essa quadrilha.
— Vou pedir auxílio aos anjos para que sua namorada fique em segurança.
— Eu te dou a minha palavra de que ajudarei no que estiver ao meu alcance para colocar os responsáveis atrás das grades.
— Se o Caio foi ajudar sua namorada, eu confio que vai conseguir trazê-la em segurança. Os dois ficarão bem, precisam ficar — murmurei com lágrimas nos olhos.
— Amém — ele respondeu, também com os olhos marejados.
Eu olhava para aquele jovem à minha frente e via o desejo de justiça em seu olhar. Ele me contou que sua namorada tinha deficiência visual e que, provavelmente, havia sido sequestrada como uma forma de retaliação por estarem investigando a facção. Eduardo exibia um brilho tão intenso em seus olhos que era evidente o quanto amava sua escolhida. Quem me dera poder viver um amor assim, tão profundo...
— Posso ir? — perguntei, levantando-me.
— Não se esqueça de que não pode contar a ninguém o que conversamos aqui — disse Eduardo, e eu assenti. — Para todos os efeitos, sou o Caio.
— Tem certeza de que não é mesmo ele? — perguntei com um sorriso. Mas já havia notado que esse era mais tímido e reservado.
— Não sou, e ainda tenho esperança de virmos juntos até aqui para trazer notícias de Pérola.
— Que assim seja — declarei ao deixar a sala.
— Nat, espera! — chamou Ian, correndo para me alcançar.
Senti um frio na barriga ao perceber sua aproximação, mas meus olhos logo se fixaram em Vívian, que estava sentada ao lado de Brenda no gramado, a poucos passos de nós.
— Aconteceu mais alguma coisa? — perguntei, aflita.
— O Alejandro me contou há pouco que definiu a data do casamento com Ariane para o início do próximo mês.
— Ah, sim, isso é uma boa notícia. Uma preocupação a menos na cabeça do meu pai.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Ian perguntou à prima, que ouvia atentamente nossa conversa.
— Fui até a colônia com a minha mãe, e ela me deixou passear um pouco com a Brenda. O Wladimir vai me dar uma carona.
— Evite ficar transitando entre os peões — disse Ian, a Vívian que revirou os olhos.
— Eu não sou esse tipo de garota, primo — retrucou ela, com um tom desafiador.
Sabia que aquela provocação era direcionada a mim. Não consegui conter a revirada de olhos que se seguiu, acompanhada de um profundo suspiro.
— Seu pai me procurou para conversar sobre minhas intenções para contigo e...
Olhei para Vívian, que balançou a cabeça negativamente, um sinal claro de ameaça. Meu instinto era ignorar aquele aviso, mas sabia que ela tinha o poder de controlar a situação naquele instante.
— Não gostaria de falar sobre isso agora — murmurei, incomodada com olhares insistentes.
— A questão é que estou sendo pressionado e não posso prolongar essa situação por muito mais tempo. Expliquei a ele que, devido aos últimos acontecimentos, preferiria aguardar até que se recuperasse. Com todo esse abalo, você não conseguirá aproveitar o momento como realmente merece.
— É que... — mais uma vez, recebi um olhar ameaçador, que vinha das costas de Ian. Entendi que não adiantava lutar contra. Não naquele momento. — É que eu não quero te envolver em meus problemas e...
— Natacha não me parece feliz com essa ideia — comentou Vívian, como se fizesse parte daquela conversa.
— Há poucos dias, tive uma arma carregada apontada para a minha cabeça. Vivi uma cena de terror que me persegue em sonhos, lembranças, em tudo. Acho que tenho o direito de superar meus traumas em paz — retruquei, com a voz firme. Mas Vívian apenas sorriu, como se estivesse se divertindo ao me ver naquela situação.
— Eu concordo plenamente — interveio Ian. — Foi por isso que disse ao seu pai que gostaria de esperar até o casamento do seu irmão. Até lá, espero que você possa refletir sobre tudo isso e me dê uma resposta.
— Então, a resposta... — engoli em seco, desviando o olhar para Vívian, que balançava o celular no ar com um sorriso malicioso. — Eu preciso de um tempo para respirar, Ian.
— Desculpe. Não quis te pressionar e...
— Você está sendo tão pressionado quanto eu. Não precisa passar por isso, pode escolher uma cigana menos complicada — respondi, lutando para conter a angústia que se intensificava dentro de mim. Aquela garota parecia uma sombra, me ameaçando sem que ele se desse conta.
— Ok, Natacha. Não sei o que está por trás da sua reação, mas respeito o seu espaço. Se mudar de ideia, por favor, me avise — ele disse, virando-se e se afastando, claramente chateado.
— É bom ter medo — Vívian comentou, passando ao meu lado com Brenda. A união delas era como uma bomba prestes a explodir: uma queria me afastar do Samuel, enquanto a outra almejava o mesmo em relação ao Ian. E eu? Eu só desejava que uma sucuri as engolisse de uma vez.
— Sorria agora, imbecil. Antes que você consiga me passar uma rasteira, vou encontrar uma maneira de te derrubar desse pedestal — respirei fundo, contendo a vontade de desbancar com um soco aquele sorriso provocador. Estava encurralada, mas essa dívida ainda seria cobrada. Ah, como eu iria cobrar!
Natacha não tem mesmo sorte. Como será que vai se livrar dessa nova confusão?
Sinta-se à vontade para dar um conselho a nossa ciganinha atrapalhada.
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